Quem se lembra do inferno dos Poodles?

Foi um bom trabalho, com muitas vidas salvas. Mas foram também quatro anos de angústia, pela lembrança dos que ficaram.

Sabíamos que os problemas não estavam resolvidos e que, mais cedo ou mais tarde, uma nova bomba estouraria.

E essa bomba chegou através de um novo pedido de socorro. Dos 20 que deixamos, um casal de Pinschers não estava castrado e sabíamos que em pouco tempo os 2 inteiros se multiplicariam.

Quando interrompemos os trabalhos, lá pelos idos de 2013, ainda havia muito por fazer, mas a morte de um menino chamado Chipinho havia nos fechado portas e janelas. Com isso, não sabíamos o que se passava naquele lugar, mas nunca deixamos de imaginar.

Quatro anos depois, as feridas já haviam fechado. Um novo pedido de socorro ecoou, para uma coleção com quase 50 cães, entre velhinhos, adultos, filhotes de todas as idades, inclusive por nascer.

E a vida, sempre ela, nos presentearia com alguns reencontros. Alguns daqueles que ficaram continuaram ali, esperando o nosso retorno. Nós nos atrasamos um pouco. Pra ser preciso, mais de 4 anos. Esse foi o tempo de espera para aqueles que ficaram.

Além deles, mais uma geração inteira de novos lobinhos, todos com peso entre 2 e 4 quilos, minúsculos e igualmente negligenciados e carentes de tudo.

E foi impossível não entrar ali procurando aqueles que ficaram.

O primeiro reencontro foi com uma lobinha de apenas 2 quilos que, na época, demos o nome de Pepezinha. Ela foi vacinada, castrada, passou por uma grande faxina, mas teve que ser devolvida ao lugar onde não deveria ter nascido.

As lembranças daquele passado estavam ainda registradas nas nossas histórias antigas, nas fotos de uma crosta de pelo embolado e na imagem da criança, durante e depois do banho, em um daqueles mutirões que aconteceram lá na Cão Viver.

De tão pequenina, achávamos, na época, que ela fosse novinha, talvez ainda filhote.

Mas, quando a reencontramos quatro anos depois, o que vimos trouxe de volta toda a angústia desses últimos anos.

A carinha era a mesma, mas agora mais triste que antes, mais cansada e quase totalmente branca por causa da idade, uma idade que nem imaginávamos que estivesse tão adiantada.

Estava também embolada, mas menos do que da outra vez.

Fomos recebidos com latidinhos finos, mas nada de agressividade. Ela não conheceu colo e cresceu sem saber o que é o afeto entre homens e lobos.

Reencontramos também uma menina que, na época, estava amamentando e acabou ficando por lá. Chegou a ser castrada e vacinada, mas foi só o que pudemos fazer por ela na ocasião.

Hoje a reencontramos mais velha, mais triste, mais suja, mais destruída.

Não foi muito educada comigo. Talvez não tenha me perdoado por te-la deixado ali. Tampouco eu me perdoei.

Ela nasceu naquele inferno, onde vivia também a sua mãe, que teve melhor sorte, sendo resgatada naquele primeiro trabalho em 2013 e tornou-se a mascote do SPA Animal. No último Natal, chegou a fazer a campanha de adoção, junto com nossa Dudinha.

A Princesa faleceu no início desse ano, alguns meses depois de protagonizar nossa campanha de Natal.

E, para preencher o vazio que ficou, ninguém melhor que uma das filhas que ela deixou no mundo, e que tivemos a sorte de conseguir resgatar nesse novo trabalho.

Naquela ocasião, em 2013, não tivemos a força necessária para provocar as mudanças tão necessárias. Fizemos o que nos foi possível fazer, e sabemos que não foi suficiente.

Dessa vez, havia alguém mais qualificado para o trabalho. A vida tem seus métodos para colocar as pessoas certas, nos lugares certos.

E, para a sorte daqueles lobinhos, quem estava ali pra resgatá-los parecia enxergar bem mais que os olhos humanos poderiam mostrar.

Como da outra vez, havia lobinhos tristes, maltratados, mal cuidados, embolados e doentes.

Como em 2013, desta vez tínhamos também fêmeas prenhas, mães amamentando, com crianças de colo, com meninos arteiros, com adolescentes revoltados e muitos velhinhos, destruídos pelos anos.

E, também como da outra vez, havia um tutor pouco receptivo. De um total de quase 50 cães, havia uma disposição inicial de entregar apenas 9, dos mais velhinhos e debilitados.

Tudo indicava que seria mais uma temporada de muito estresse, de negociações cansativas, de brigas e choros contidos, de sofrimento e dor para todos os lados.

E foi aí que entrou em ação a amiga Vera, que ali estava atendendo a um chamado.

Usando os braços nem tão fortes e um poder de convencimento como poucas vezes se viu, envolveu o tutor daqueles animais e, em apenas 90 minutos, tínhamos tirado dali todos os filhotes, todas as fêmeas prenhas, todos os animais não castrados, todos aqueles que, de alguma forma, nossos mentores escolheram pra deixar o inferno.

Ao final, ficaram por lá 5 cães, já castrados.

Um a um, fomos recolhendo os cães, enquanto a Vera se encarregava de “cuidar” daquele senhor tão apegado aos animais, mas que, como mágica, parecia ter se transformado bem ali na nossa frente.

Muitos anjos estavam ali. Parecia ter sido organizada uma “força tarefa” a agir em dois planos.

Sabíamos, entretanto, que o resgate seria apenas o primeiro passo de um grande projeto, destinado a recolocar almas inocentes no caminho evolutivo do qual foram desviados.

O resgate foi feito, mas com ajustes ainda por realizar, já que 9 animais deveriam ser devolvidos depois de castrados. Teríamos algumas semanas pra mudar isso e, mais uma vez, essa transformação ficou a cargo daqueles mais qualificados.

A pior parte viria depois do resgate, pois havia ali sintomas clínicos bem evidentes da batalha que travaríamos daquele dia em diante.

Muitos animais estavam doentes. Não teríamos, como desejávamos, um monte de cãezinhos felizes e saudáveis pra mostrar. Não teríamos a fila de pretendentes que um evento assim é capaz de mobilizar.

Dessa vez, teríamos quase 50 adoções especiais. Os adotantes que vierem precisam entender que não estarão adotando, mas resgatando vidas. Faremos a faxina inicial, tiraremos deles a dor, pois nada é mais urgente. Mas, ficará muito por fazer e que deverá ser assumido pelos adotantes. Essa é a ajuda que precisamos.

No transporte dos animais, contamos com a preciosa ajuda da Virgínia, do Taxi Dog, que, entretanto, fez muito mais que transportar os animais.

Entendemos logo porque ela estava ali. A força tarefa que havia sido organizada no outro plano tinha colocado o nome dela na lista.

Os cães, já estressados e assustados com o ambiente onde viviam, foram amontoados em caixas de transportes, o que pra eles era mais sofrimento.

Mas, neste caso, um mal necessário. Precisaríamos tirá-los dali o quanto antes. E tinha que ser todos de uma só vez.

A vida de sofrimento estava chegando ao fim, mas claro que eles ainda teriam um período de angústia e dor pela frente, em razão dos procedimentos e tratamentos vindouros.

Apesar do estresse da viagem, eles pareciam saber que algo estava mudando e que seria pra melhor.

Como internar quase 40 cães? Onde colocar 40 vidas e conseguir alguém com disposição para ajudá-los? Não poderíamos colocá-los em um canto qualquer. Precisávamos de alguém comprometido, que os recebesse com a disposição de transformar a vida de cada um deles.

E, mais uma vez, pudemos contar com a amiga Lucinédia, do SPA Animal, que sempre assume a parte mais difícil em todos os trabalhos de mais complexidade que assumimos.

Chegaram assustados, amedrontados e muito cansados. Eles não tinham energia, sequer, para sair da caixa de transporte.

Pareciam temer a vida e tinham todos os motivos pra isso.

Aos poucos, um a um, eles foram saindo. Tímidos, com o pedacinho de rabo que sobrou posicionado entre as pernas, mas ainda assim cheios de disposição para recomeçar.

Os anjos ainda estavam ali, e continuarão ajudando nos próximos dias.

Alguns mais corajosos que saíam primeiro, depois de investigarem o novo ambiente, voltavam para a caixa, como se chamassem os amigos.

Pareciam dizer: _Podem vir. É diferente aqui.

Eles passaram a vida escondendo do mundo. São alguns poucos Poodles e muitos Pinschers, mesticinhos de Chiuaua, York e outros, todos minúsculos, com tamanhos entre 2 e 4 quilos.

Todos eles tinham os rabinhos cortados, pois o tutor fazia, pessoalmente, a caudectomia, assim que nasciam, na tesoura, sem anestesia.

Tirava deles, antes mesmo de abrirem os olhos e verem o mundo, o direito de abanarem o rabinho e demonstrarem alegria e adoração pelos donos.

Mesmo com o incentivo dos corajosos que saíram primeiro, a maioria não se atreveu a deixar a caixa de transportes e, mais uma vez, tivemos que intervir, tirando um a um.

E só depois que todos estavam ali, investigando e conhecendo o novo ambiente, foi possível reparar no estado daqueles animais.

Os peludinhos são sempre os piores. Não só em razão do pelo embolado, mas também por serem os mais velhos e mais adoentados.

Alguns logo cuidavam de conhecer os aposentos e experimentar a ração mais gostosa que já comeram na vida.

Do outro lado do novo território, outros mantinham-se encolhidos num canto, buscando a proteção do grupo.

Eles são lobos, mas agiam como presas. Mantinham-se em grupo pra despistar os predadores ou para garantir, individualmente, maior chance de escapar.

Embolaram-se num canto, à sombra de uma parreira de uvas, o que foi pra eles o primeiro contato com o verde.

Não era possível, naquele momento, pensar no tamanho de nossas pernas. Não dava pra fazer contas, pra conferir orçamentos e colocar tudo na ponta do lápis. Era preciso agir e depois pensar no que fazer.

A tosa era urgente e nos restava rezar para que, por baixo daquele pelo embolado e fétido, encontrássemos cãezinhos de colo, bem dóceis e saudáveis.

O primeiro atendimento aos “embolados” foi dado pelos amigos da Consulveter. E fica registrado nosso muito obrigado à Dra. Fran e toda a equipe.

Alguns casos não precisavam de tosa e os desafios que teríamos estavam todos ali, estampados pra quem quisesse ver.

Claro que faremos exames, mas a Leishmaniose estava ali, com todos os seus sintomas.

Talvez ele não sobreviva, mas a eutanásia não será opção. Não resgatamos esses animais pra escolher qual merece viver e qual precisa morrer. O pequeno Luck, que mais tarde ganhou o nome de Pudim, de apenas 4 quilos, parecia acreditar que a segunda chance não virá para todos.

Cabia a nós mostrar que ele estava errado e que todos, inclusive ele, teriam uma chance. Eles são lobinhos muito evoluídos. Vieram ao mundo pra dividir o ninho com os donos e pra aprender sobre afeto e amizade (Na verdade, vieram pra ensinar).

E, num mundo de tanto desamor, não podemos desperdiçar anjos. Então, retiramos o Luck da caixinha, o colocamos no colo e dissemos a ele: _Você terá o melhor tratamento e vai se recuperar. Não vamos desistir, mas queremos que você faça sua parte e lute pela vida.

O tempo e atualização dessa nossa primeira história vai indicar os caminhos.

Pudim. Em busca de um amigo

E são muitas as histórias a contar. Nem todos foram fotografados. Pelo menos duas mães ainda com crianças de colo ganharam aposentos separados.

São duas Pinschers bem miúdas, com seis lobinhos mamando, com idades de 10 e 20 dias. Eles também tiveram os rabinhos cortados.

Entre as fêmeas prenhas, Lucinha era a que estava com a gestação mais adiantada. Os filhotes devem nascer em uma ou duas semanas.

Mesmo com o ventre recheado, ela não pesa mais que dois quilos e meio.

Seus filhotes serão os primeiros a nascer nessa nova vida. Talvez sejam dois ou três e, ao contrário da mãe e dos outros filhotes que ainda mamam, terão rabinhos bem compridos pra serem expostos ao vento.

Entre os adolescentes, com idades entre 4 e 8 meses, tem uma boa turminha.

Uma das mães, embora já não esteja mais amamentando, ainda fica por ali, cuidando e educando os pequenos.

Eles chegaram desconfiados e assustados, é claro, mas sabemos que filhotes se recuperam muito depressa.

E não demorou muito para que colocassem as garrinhas de fora.

Apenas duas horas depois que chegaram, e depois de encherem as barriguinhas, já estavam correndo e brincando, prontos pra começarem uma nova vida.

A alegria era tanta que eles pareciam nem se lembrar mais do lugar de onde saíram.

E depois de umas três horas, já exaustos de tanto brincar e com os buchinhos bem cheios, foram dormir feito bichinhos de monte.

Eles já estão prontos para adoção e já podem seguir novos caminhos.

E, pra contrariar a sina dos lobinhos pretos, a Leninha foi a primeira a ganhar uma nova mãe. Virgínia foi a candidata a levar a menina pra casa.

E o que pode ser melhor pra uma lobinha que ser adotada por aquela que a salvou?

Carrapicha também tem pretendente. Essa cisquinha pesa menos de 2 quilos e parecia estar prenhe.

Também chegou assustada e ameaçando morder, mas logo se rendeu aos afagos.

Adorou o banho de sol, coisa a que ela não tinha muito acesso, pois o local onde vivia era abafado e escondido. Não havia colo e nem lugar onde pudessem curtir preguiça.

E nem só de quentinho vive uma lobinha. Depois de cozinhar no sol do meio dia, ela procurou uma sombra e colocou o meio centímetro de língua pra fora.

E com tanta fofura, outro não poderia ser o destino dela senão ser espremida até gritar. Talvez tenha nascido naquele cheiro uma amizade para os próximos 20 anos.

E teremos ali lobinhos pra todos os gostos. Dos típicos marronzinhos e dos pretinhos com amarelo, até os mais exóticos.

O trabalho foi árduo e muito intenso. Claro que assistir filhotes brincando é sempre uma alegria, mas só quem recebe de uma só vez 40 cães é que sabe o trabalho que dá, ainda mais quando são todos casos muito especiais.

Com um novo território, claro que as disputas pela liderança da matilha se intensificariam. E foi o que aconteceu. Algumas brigas, alguns rosnados e logo a hierarquia se estabeleceu.

Pra aliviar, nada melhor que alguns brinquedos. Na verdade, eles não conheciam brinquedos. Nunca tiveram um e ficaram bem curiosos com as novidades.

Tínhamos poucos brinquedos pra oferecer e, até que chegue o Natal, eles terão que aprender a compartilhar o pouco que têm.

Claro que será condição, para a adoção, que cada dono se encarregue de dar a cada um deles, brinquedos novos.

Mas, passadas as primeiras horas de aclimatação, precisávamos iniciar a grande faxina.

E o primeiro mutirão foi oferecido pelos veterinários da Bom Garoto! Pet Shop. E, pra evitar o estresse de mais uma longa viagem para os animais, toda a equipe da Bom Garoto se deslocou até o SPA Animal e passou um fim de semana inteiro cuidando dos animais, examinando, medicando, colhendo material e fazendo a triagem inicial.

Foi emocionante assistir a dedicação e o carinho com que aquelas crianças foram tratadas. Ali entendemos que a lista dos nomes para a “força tarefa” era bem mais extensa. Eram vários grupos, cada um destacado para um momento em especial.

Constatou-se então que todos os animais estavam com otite em grau muito avançado, o que lhes causava muita dor. Iniciou-se o tratamento ali mesmo.

Um deles, o Luck, precisou de internação e a Bom Garoto! deu a ele um padrinho chamado Tio Lasmar, que o levou e o internou, com direito a uma segunda chance de verdade.

Além desse atendimento inicial, a Bom Garoto ofereceu, gratuitamente, a castração de todos os animais. Levaram também muitos medicamentos, vermífugos, vitaminas e muita, muita disposição de ajudar.

Não temos palavras pra agradecer a tamanho gesto.

E assim fechamos a semana, uma semana que começou na quinta, terminou no sábado (Menos para o SPA Animal, que avançou domingo afora até emendar com a segunda) e foi a mais longa da história.

Na semana seguinte, será o mutirão de vacinação. E o parceiro da vez será a Cão Viver. A Taís, veterinária da ONG, disponibilizou um dia inteiro para vacinar os cães, e, mais que isso, dando a eles um pouco mais de colo.

A Cão Viver foi a primeira ONG que abriu as portas ao nosso Projeto, quando ainda tínhamos a pretensão de achar que podíamos ajudar de alguma forma. Fica registrado o agradecimento pela parceria de sempre.

Depois da vacina, outros procedimentos eram também urgentes. Muitos dos velhinhos estavam com os dentes em frangalhos, necessitando de limpeza de tártaro e remoção de dentes. Uma delas tinha apenas dois dentinhos que terão que ser removidos. Terá que comer apenas patê, de agora em diante. Outra tinha um dente partido, que seguramente doía sem parar, por 24 horas.

Mas aí, encontramos um amigo, Sr. Justo Antônio Maciel, que assumiu todos os tratamentos dentários de todos os velhinhos. Se cães usassem dentadura ou pudessem fazer implantes, o tio Justo daria também.

Fica aqui o registro e agradecimento ao amigo, por tão preciosa ajuda.

A faxina inicial foi feita e muitos daqueles lobinhos estão prontos. É a hora de dar a eles a chance de recomeçar.

Alguns ainda seguirão em tratamento, lutando pela vida, mas já podemos recolocar alguns deles no caminho evolutivo do qual foram arrancados.

Que fique claro, entretanto, que apesar de todos os cuidados iniciais, estamos aqui diante de quase 50 adoções especiais. Os adotantes precisam entender que muitos deles não estão prontos e saudáveis.

Muitos precisarão de cuidados permanentes, de assistência constante, de acompanhamento médico. Alguns poderão ter recaídas e necessitar de tratamentos e, por isso, não queremos adotantes comuns. Queremos parceiros, dispostos e assumir uma vida em frangalhos.

Muitos deles, sobretudo os mais velhinhos, passaram uma vida inteira de privações. Foram negligenciados até não terem mais forças. Alguns são arredios e precisarão de tempo, paciência e muito afeto pra retomarem o curso da vida.

E, pra dar a essas crianças a verdadeira segunda chance que merecem, inauguraremos, com eles, a nossa feira de adoções itinerante, que já está pronta e prestes a entrar em atividade.

Ainda não temos a data e local do primeiro evento, mas a campanha de adoções já começou.

É tempo de recomeços, de reencontros e de reconstrução de um mundo mais justo, pra todas as formas de vida.

Outros parceiros que se dispuserem a se unir a nós nessa força tarefa, serão muito bem vindos.

ATUALIZANDO: Depois de uma semana, o comportamento arredio que contaminava o bando inteiro começou a ceder.

Alguns já disputavam os poucos afagos que poderíamos distribuir. Infelizmente, era cachorro demais pra poucos dedos.

Eles chegavam a disputar a atenção de qualquer visitante.

Por sorte, não foram poucos os visitantes e, todos que chegavam, eram convidados a entrar e tentar interagir com os cães.

Enfim, eles começaram a acostumar com a presença e o contato humano, graças a uma legião de voluntários anônimos, alguns sem nem desconfiar que estavam sendo “usados” na ressocialização de lobos quase selvagens.

Seguiu-se então uma lambidinha aqui, outra ali, uma mordiscada acolá e, aos poucos, a docilidade que deveria estar presente ali desde o nascimento, começou a aflorar.

Ao final da ressocialização, tínhamos ainda meia dúzia de cãezinhos bem rabugentos. E nesse início, onde os procedimentos e manejos são muitos e necessários, o medo continuará presente.

A sorte é que, entre eles, as demonstrações de afeto se mostram bem presentes. Pareciam querer dizer que eles se bastam e que não precisam de contato humano.

Precisamos esperar o fim dos tratamentos para que eles possam, enfim, ser manejados apenas para ganharem colo e carinho.

Acreditamos que os lobinhos de colo vão aparecer com o tempo.

E alguns já estão ali.

Nova atualização em 30/09/2017.

Outros, infelizmente, jamais serão. Foram aproximadamente 30 adoções em menos de 30 dias. Para a nossa imensa alegria, encontramos apenas adotantes pra lá de especiais, dispostos a tudo.

Apesar de tantas adoções, nossa batalha estava ainda longe do fim. É que, depois que os filhotes, os jovens, saudáveis e dóceis foram doados, ficamos com o resto.

E esse resto eram aqueles que ninguém queria. Alguns arredios e assustados demais, outros com necessidades especiais, outros positivos para Leishmaniose, porém tratados.

Não poderemos levá-los a feiras de adoções e precisamos de adotantes verdadeiramente especiais, dispostos a ajudar a salvar vidas.

Daqueles que sobraram, Marley é um mesticinho muito arredio.

Basta sentir a presença de pessoas que ele corre e se encolhe em um canto, onde permanece tremendo. Parece até prender a respiração pra não ser notado.

Ele é um mesticinho de Pinscher, pesando aproximadamente uns 6 quilos. É muito sociável com outros cães, mas tem pavor de gente.

A adoção pra ele demorou, mas chegou, exatametne como ele merecia:

Marley. Mais um exilado

O Testinho é um pequenino lobinho de 5 quilos, que tem um carocinho na testa. O carocinho chegou a ser removido, cicatrizou, mas ficou um sinal, que será sua marca registrada de agora em diante.

Ele também é bem medroso e não se aproxima com facilidade, salvo para pegar petiscos nas mãos que lhe oferecem. Esse é um sinal muito positivo de que sua socialização está a caminho.

Testinho foi o penúltimo lobinho a ser adotado. Demorou mas valeu cada minuto da espera:

Testinho. Mini adoção especial

Futrica é uma menina que parece dar seta para os dois lados. Ela tem uma orelhinha caída e outra bem apontada para o céu.

Também é medrosa e desconfiada, precisando de donos pacientes, de tempo e de muito carinho pra se socializar.

Naninha é uma Poodle velhinha que tem uma deficiência em um dos olhinhos. É dócil, aceita carinho e tem vida normal. Nada lhe tira a vontade de comer.

É roliça de tão gordinha. Deveria pesar apenas uns 5 quilos, mas já deve ter passado de 7 e nem cintura ela tem mais.

Naninha e Futrica são bem unidas e adoram tomar sol juntas.

A Juju é uma Yorkinha que escapou da castração porque desconfiamos que pudesse estar prenha.

E a suspeita se confirmou. Os quatro lobinhos nasceram esta semana, fortes e saudáveis, todos minúsculos como a mãe.

Cisco é um Pinscher que seguiu em tratamento por muitas semanas. Ele estava entre os mais debilitados. Pra ele, a adoção demorou, e demorou, e demorou.

Demorou tanto que chegou a trocar de nome e passou a ser chamado de Max. Era uma adoção especial, pois ele estava entre os positivos para Leishmaniose.

Ele gosta muito da companhia de outros cães e não dispensa uma toquinha.

O Max acabou sendo adotado pela Luciana, uma das voluntárias que fazem o Projeto O Lobo Alfa existir. Hoje ele se chama Bambi e sempre temos notícias de suas aventuras.

Max. Cisquinho de 2,5 quilos

Por último, o Luck, que teve seu nome trocado e passou a ser chamado de Pudim (Já atende por Pudim), era o mais debilitado de todos.

Além da Babesiose (Tristeza canina) e da Leishmaniose, descobrimos que ele era o lobo ômega daquela matilha e apanhava muito.

Suas orelhinhas cortadas eram resultado dos ataques.

Então, a primeira providência foi separá-lo do bando e mostrar pra ele uma nova vida. Fez o tratamento para a Babésia e, depois de vencida a primeira etapa, iniciou a quimioterapia para se livrar da Leishmaniose.

E nessa nova etapa, ele ganhou algumas madrinhas que fizeram a diferença. Toda a medicação usada no tratamento do Pudim foi fornecido pela OPA Bichos.

O tratamento completo, com todos os exames, ficou a cargo da tia Fran, da Consulveter, onde aliás ele já gosta de ir passear, apesar das agulhadinhas.

O Pudim segue se recuperando, ganhando confiança e autoestima.

Ele continua arredio e bem assustado, mas agora, protegido dos ataques da matilha, mostra-se mais confiante e até atrevido.

Decidiu que nunca mais será lobo ômega. Ele quer ser alfa agora.

O tratamento foi longo, mas ele se recuperou totalmente.

Depois que finalizou o tratamento, foi castrado e recebeu um tanto de vacinas.

Ao final, ele não parecia ser o mesmo lobinho.

Mas é ele, aquele mesmo cisquinho que chegou encolhido, acreditando que, pra ele, a segunda chance não viria.

Hoje está assim, confiante e pronto pra escrever uma nova história.

O Pudim foi o último a ser adotado, exatos 2 anos depois do resgate. Demorou, demorou muito, mas ele venceu. E nós terminamos essa história com o sentimento de dever cumprido.

Outros casos virão, alguns mais fáceis, outros ainda mais difíceis. Mas o que queremos, verdadeiramente, é que histórias assim tenham a força de despertar e sensibilizar. O mundo precisa mudar e essa mudança precisa passar pela transformação humana.

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