Ainda falta muito. Quero um dia ser capaz de entender todos os sinais. Quero poder ver as dificuldades antes mesmo que elas se apresentem. Quero não subestimar a resistência dos outros, nem superestimar minha capacidade de convencimento.

Quando iniciei este trabalho, confesso que achei que seria mais fácil, principalmente depois que recebi da Cão Viver o sinal verde e a disposição para colocar sua estrutura, credibilidade e experiência à disposição para ajudar os animais.

Sei que estes cães precisam de ajuda e que a vida não me levaria ali se não fosse para ajudá-los. Percebo que me preparei pra cada pedra do caminho, mas não achei que fossem tão duras.

Existem muitas questões ali que vou manter em sigilo. Talvez o título inicial que escolhi para as matérias não seja tão sensacionalista e dramático quanto eu mesmo imaginei que fosse.

Sei que o planeta está mudando e confio muito naqueles que operam essas transformações. Mas a angústia é grande demais pra conseguir a serenidade que preciso para esperar as mudanças.

Muito do que vi e vivi nos últimos dias ficará guardado comigo. Sei que não estamos sozinhos e que a linha de ação do Projeto que aprendi a respeitar e defender determina que tudo seja feito com base em princípios cristãos. E assim será, sem denúncias, sem violência, sem ofensas.

Lamento por cada filhote que ali nasceu e por aqueles que estão por vir. Não tive tempo pra garantir a eles o direito de, um dia, poderem se expressar, da forma mais básica na língua dos lobos.

Nunca uma lambida me doeu tanto quando o pedido de ajuda dessa mãezinha. E eu não pude atender, ainda, porque não me foi permitido resgatar nenhuma das fêmeas com filhotes.

Nunca um cãozinho encolhido e tremendo em um canto me causou tanta dor, embora esta seja uma cena muito comum em abrigos de animais. Este é o comportamento esperado da maioria dos recém-chegados.

Mas ali era o ambiente dele, o lugar onde nasceu. Não era só a presença de um estranho que estava provocando tanta insegurança.

Eles são naturalmente arredios e muitos deles precisam ser socializados. Cresceram sem colo, sem brinquedos, sem dormir em sofá ou no travesseiro dos donos.

O tutor tem afeto por eles e se desdobra, mas com tantos animais, é evidente que não consegue dar a eles o que precisam.

O recado que recebi na véspera do dia marcado para mais um resgate foi: “Ele não vai doar nem mais um”.

Lembrando daqueles olhos que ficaram para trás no dia do primeiro resgate, não dava pra seguir por outro caminho que não fosse ignorar o comando. Voltei ao local, com um envelope nas mãos. Dentro dele, as fotos dos primeiros resgatados, de banho tomado, laços e fitas, roupinhas, no colo, etc.

Trinta minutos de conversa e deixei o local com mais cinco cães e a promessa de resgate futuro para os outros.

A Cão Viver já não tinha mais onde colocar cachorro, porque dos 23 iniciais, poucos tinham deixado o abrigo.

O destino deles foi o Spa Lucinédia, que cedeu espaço pra “quantos conseguíssemos resgatar”.

Infelizmente, foram só cinco, quatro machos castrados e uma fêmea, já prenhe, no início da gestação. (Mais tarde descobrimos que ela não estava prenhe).

Olívia foi o nome dado à única moça. Ela ficará na casa da Lucinédia até que possa ser castrada. Que fique muito claro que nenhum cachorro, adulto ou filhote, será doado sem castrar. Portanto, aos criadores de fundo de quintal, por favor, mantenham distância.

Fred é um mestiço de Pinscher com Poodle, de pelo médio. Ele é bem pequenino e pode viver muito bem até em apartamento. Meio assustado, mas já deu pra ver que aprecia um colo.

Mesmo não tendo o pelo muito longo, ele precisava de uma boa tosa, que acabou revelando o Pinscher que se escondia debaixo do casaco.

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O cão peludo maior que aparece na primeira foto acima é um Bichon Frisé de 12 anos de idade. Ele era chamado por alguns vizinhos de “cabeção”.

Na casa da Lucinédia ganhou o nome de Duck. É um cãozinho assustado, é claro, e pouco acostumado com carinho.

Mesmo assim, se aproxima e aceita afago, como se tivesse descobrindo o melhor da vida. Seu pelo estava tão embolado que lhe tirava mobilidade. Ele andava com dificuldade e não sabíamos se eram os bolos em seu pelo ou a idade.

Nada podia ser mais urgente que um banho e tosa. Bichons são brancos e ele tinha o pelo marrom.

O banho revelou muito mais que sua cor original. Mostrou que ali havia um cãozinho gordinho, sociável, carinhoso, carente e, contra tudo o que se pensava, feliz.

Talvez, agradecido seja a melhor definição. Afinal, a grande transformação não veio com o banho, mas no momento em que deu a primeira voltinha pelo pátio na casa da Lucinédia.

Também não tinha nenhuma dificuldade motora. O problema era mesmo excesso de pelo.

Ele também se mostrou muito sociável e deu-se muito bem com a Aisha, uma Poodle pretinha. Eles não se conheciam. Isso porque, quando estávamos a caminho da casa da Lucinédia com os novos cinco resgatados, encontramos uma Poodle pretinha perdida, muito suja e embolada, em uma Avenida próxima à Via Expressa.

Um Poodle a mais não faria diferença. Afinal, a Lucinédia tinha mesmo liberado mais vagas do que tínhamos conseguido resgatar.

A Aisha entrou na turma e deu-se muito bem. Já foi até adotada, entregue aos novos donos depois de castrada.

Por fim, os gêmeos, Guilber e Guilbert, também mestiços de Pinscher com Poodle e seguramente irmãos de ninhada.

São também pequenos, ideais para serem criados dentro de casa. Como são mestiços de Poodle, não soltam muito pelo e podem viver muito bem em apartamento.

Há quem jure de pé junto que sabe diferenciá-los. Não vamos duvidar pra não criar polêmica.

Eles devem tomar banho e serão também tosados, pra tirar os bolos. Aí veremos se serão individualizados.

A escolha dos nomes (Guilbert e Guilber) não foi por acaso. Ambos terão o mesmo apelido. Se fossem mesmo diferentes, seriam Faísca e Fumaça, Debi e Loid ou coisa assim.

Como os machos já estão castrados, receberam a vacina e o vermífugo, passaram por avaliação médica e já estão prontos para começar vida nova.

Eles agora estão felizes, aliviados e exaustos. Um pouco arredios ainda, mas nada que um ou dois dias não resolvam. A Cão Viver dará a eles todo o suporte que precisarem, com vacinas, vermífugo e o que mais for necessário, graças às doações vindas de pessoas que se sensibilizaram com a história e ajudaram com doações em dinheiro.

Todo o dinheiro doado à Cão Viver com a finalidade ajudar os Poodles será usado em benefício deles. Nunca tiveram nada, mas agora terão o melhor da vida.

Estes cinco estão em lar temporário na casa da Lucinédia, mas precisamos lembrar que outros vinte e três estão na Cão Viver. Na verdade, um pouco menos, já que alguns já conseguiram novos lares. Aos poucos, os adotantes vão surgindo.

De todos os cãezinhos mostrados acima, apenas o Gilberto ainda não foi adotado.

http://oloboalfa.com.br/dez13-0091-gil-ele-precisa-de-ajuda/

Contato para adoção: Lucinédia: (31) 7512.7179 / 3049.8454.

E-mail: lucinediafigueiredo@gmail.com

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Para quem chegou agora, eis o link da primeira matéria, contando a história destes e dos outros que continuam por lá. http://oloboalfa.com.br/campo-dos-poodles/

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