Elas eram chamadas de Bolinha e Pipoquinha, nome que lhes foi dado por D. Tereza, que as recebeu ainda no ventre da mãe.
Quando as vi pela primeira vez, no dia em que fiz as fotos da primeira matéria (10/02/2014), ela estava deitada em um comedouro improvisado. Achei que ela estivesse doente e que talvez não sobrevivesse. É que já estamos escaldados com a alta mortandade de filhotes em abrigos muito cheios.
Para a minha surpresa, ela não tinha nada grave e, no dia da vacinação, já estava alegre e saltitante. Foi vacinada, junto com a irmã. As duas eram ainda filhotes, com apenas 5 meses de vida. Chegaram ao abrigo ainda no ventre da mãe, a Lindalva, que ainda vive por lá.
Na primeira feira, no final do dia, esta era a visão que tínhamos das duas, amuadas, esgotadas, acabadas e tristes. Pareciam saber o que aconteceu. Foram devolvidas ao abrigo e, depois, levadas a um lar temporário pra fazer o pós-operatório (castração).
Tentaram a sorte em mais uma feira e, novamente, de volta ao lar temporário. O tempo passou e elas cresceram. Hoje são jovens adultas, já com seus 11 meses de vida.
Nesses 6 meses, desde que as retiramos daquele lugar, elas já foram a meia dúzia de feiras de adoções. Tiveram seus nomes trocados e hoje são chamadas de Milly e Molly. Elas são muito parecidas mas têm temperamentos muito diferentes. Molly se mostra ativa e brincalhona, como qualquer filhote. Milly é uma lobinha muito assustada e não se aproxima com facilidade.
Sabemos que elas nunca sofreram maus-tratos, já que nasceram na casa de D. Tereza, mas a vida em um abrigo não é fácil. Cresceram sem muita atenção, porque ninguém consegue dar atenção a tantos cães. Infelizmente, perderam a infância. Não tiveram a oportunidade de brincar a se socializar.
Molly tem adaptação imediata e garantida, mas a Milly precisará de paciência, carinho e tempo, para aprender o que é ser estimada.
No abrigo, de onde saíram, ficou a Lindalva, a mãe das garotas. Às vezes, ela para e fica olhando pra “sei lá o que”, talvez buscando as lembranças dos dias felizes que viveu com as crianças. Talvez, imaginando se as filhas estarão bem.
Muito triste isso, mas é o preço que os lobos pagaram quando decidiram se tornar nossos amigos. E muitos de nós não reconhecem isso.
Milly e Molly seguem tentando a sorte. Elas são mesmo muito parecidas fisicamente. É quase impossível distingui-las, exceto pelo comportamento.
Já a Lindalva continua no abrigo, junto com outros setenta SRDs de porte médio. Não é mais a mãezinha alegre que brincava com as filhas. A foto abaixo foi como encontramos a Lindalva, da última vez que lá estivemos, pra buscar mais dois sortudos.
Quanto às pequenas, continuam vivendo, confinadas em um canil. São cadelinhas tristes. Já tentamos de tudo pra dar uma chance a elas, mas nunca tiveram pretendentes.
As muitas feiras não têm ajudado. Pelo contrário, só agravam a tristeza delas. O estresse de serem expostas, de verem outros serem escolhidos e de terem que voltar ao canil no fim do dia, tem tirado o pouco brilho que ainda resta nos olhos delas.
A gota d’água foi a última feira, ocorrida no dia 16/08/2014. Mais uma vez, vidas expostas como mercadoria, sendo avaliadas, observadas, ouvindo toda sorte de comentários: “_Prefiro aquele”, “_Olha mãe”, “_Podemos levar?”
E as pessoas acham que são apenas animais, que nem sequer sabem o que fazem ali.
Elas nos olhavam, como se questionassem se precisam mesmo passar por aquilo, de novo.
Infelizmente, não temos a resposta. Queremos o melhor pra elas e, a cada feira, renovamos as esperanças de adoção, que, ao final, se transformam em frustração. O pior de tudo isso é que, não sabemos ao certo se elas são capazes de tanto entendimento ou se apenas captam nossa energia, mas a frustração e a tristeza ficam estampadas nos olhos delas.
A decisão, pelo menos no momento, de cabeça quente, é que elas nunca mais passarão por isso. Feiras nunca mais. Passarão a vida em um canil, se assim estiver traçado o destino delas.
Divulgamos a história delas um sem número de vezes. Nenhum pretendente, sequer. Sabíamos que isso era um sinal claro de que elas tinham destino certo. A adoção demorou, mas veio exatamente como elas mereciam.
Alguém viu a história, sensibilizou-se e decidiu levar as duas, mesmo sabendo que uma delas precisaria de mais tempo e paciência para se acostumar na nova casa e se socializar com a nova família. No dia marcado, as duas acordaram cedo e tomaram banho.
Nunca foi fácil conseguir boas fotos das duas. Uma era agitada demais e a outra só sabia se esconder. Mas naquele dia, em especial, as duas estavam dispostas e tranquilas. Pareciam saber que algo especial estava pra acontecer.
Não era nossa exigência doar as duas juntas. Sabíamos que não seria fácil e, por isso, não poderíamos atrelar os destinos. Afinal, a Milly era uma cadelinha dócil, carinhosa e arteira. Tinha tudo pra ser adotada. Já a Molly, era arredia e medrosa.
Temíamos que, com a adoção da Milly, a pequena Molly cairia em depressão, pioraria o comportamento e ficaria tudo ainda mais arredia. Estava condenada a terminar os dias em um canil. Mas não seria justo com a Milly, impedir que ela seguisse seu caminho. Deixamos tudo a cargo da vida, ou melhor, dos protetores que agem no outro plano.
E aí, os anjos fizeram a parte que lhes cabia. Alguns já vivem aqui, exatamente porque, alguns milagres, precisam ser feitos em terra.
Luma é o nome da nova mãe das meninas.
As primeiras notícias foram aquelas já esperadas. Elas estão assustadas, muito quietas e não quiseram comer. Nada que nos surpreendesse.
O tempo vai curar tudo isso e, em breve, estaremos postando novas fotos e notícias melhores.
Obrigado Luma, por esta dupla acolhida.
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