O foco sempre foi os animais e que a vida se encarregue dos canalhas. Também tenho como regra não esboçar opiniões pessoais e não julgar, mas, pela primeira vez, desde quando me propus a ajudar animais de abrigos e de depósitos como este, de D. Tereza, deixei o lugar com vontade de não voltar mais.

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Procuro filtrar informações e não divulgar as piores cenas, mas em alguns momentos, precisamos de um choque de realidade, para que a sociedade acorde.

Aquilo não é e nunca foi proteção animal. Não há ali ninguém que mereça o título de benfeitor. Com muito favor, vítima do egoísmo e da covardia de uma sociedade inteira.

É insano não ser capaz de enxergar que os animais estão em sofrimento. É preciso colocar freio, contudo não estamos conseguindo ser claros o suficiente.

Então nos resta tentar despertar mais alguns adotantes e, quem sabe, mudar mais alguns destinos.

E, desta vez, mostraremos menos animais, porém tentaremos individualiza-los, contar o pouco que sabemos de cada um deles.

Nessa última visita, minha atenção estava voltada para uma cadela de porte grande.

Estrela tinha me passado despercebida nas primeiras visitas. A primeira vez que a vi foi em setembro. Mesmo dormindo e sem levantar a cabeça, algo me chamou atenção naquela cadela grande e forte. Imaginei que pudesse estar doente, mas D. Tereza explicou que ela estava bem e que apenas estava dormindo.

Ela tem o tamanho e o porte de um Rottweiler. Deve pesar quase 50 quilos. Tem as cores de um São Bernardo, porém de pelo curto.

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Desta vez, ela estava de pé entre os demais. Destacava-se pelo tamanho e pela tristeza estampada em seus olhos.

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Ela me observava de longe, sem esboçar reação, sem demonstrar o desejo de aproximação. Cheguei mais perto e fiz algumas fotos. Ela olhava para a câmera e baixava o olhar, demonstrando desconforto com o que eu fazia.

Desde a primeira vez que a notei, tive o desejo de ajudá-la. Comecei a fotografá-la e notei algo especial em seus olhos. Apesar de todo o sofrimento daquele lugar, Estrela tinha o olhar doce; sofrido, mas doce.

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Eu sabia o que as lentes tinham captado e estava disposto a investigar mais. Uma cadela desse tamanho somente será doada se tiver outros atrativos. O principal deles tem que ser a docilidade.

E como saber se ela morde? Atrapalhe o penteado dela e enfie os dedos em sua boca.

Nesse momento, ela percebeu que eu queria brincar. Foi o bastante pra se aproximar e não sair mais do meu lado. Passou a me acompanhar feito uma sombra durante todo o tempo.

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Pra todo lado que eu andava, cá estava a Estrela, pulando em mim e pedindo atenção.

Claro que disputava meus afagos com o Rubinho, o chicletinho mais grudento daquele território.

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ATUALIZANDO: Estrela adotada.

Rubinho já era antigo conhecido. É o porqueira de um olho furado. O mais dócil e carente de todos ali. Quando encontra quem lhe dá trela, é capaz de passar a vida no colo, apesar de seu porte grande.

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Espero que esta matéria faça algo pela Estrela e também pelo Rubinho e por tantos outros. Todos ali precisam muito de uma nova chance.

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Junto ao Rubinho, nas fotos acima, Raika. A menina chocolate mais doce daquele lugar, depois da Estrela.

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Dessa vez, vi menos brilho em seus olhos. Talvez estejam se apagando. Já dissemos que os cães morrem primeiro pelos olhos, e espero que não seja esse o caminho da Raika.

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Assistimos a outras cenas fortes: rinhas de cães. As brigas fazem parte da rotina e já nem são mais notadas por D. Tereza. Ela parece já ter se acostumado e não se preocupa mais em limpar as feridas e estancar sangramentos.

Eles se ferem sozinhos, que se curem sozinhos. O nome disso é “banalização do mal” e pode afetar a qualquer um de nós.

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Dessa vez, um dos alvos foi um cachorro preto que, durante a agressão, conseguiu se desvencilhar e enfiar a cabeça atrás de uma chapa de ferro, pra proteger o pescoço. Dona Tereza espantou os demais e o salvou de mais mordidas.

Quando ele saiu de seu esconderijo, pude notar que era a Ester.

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Pra quem não se lembra, Ester é aquela cadelinha que, em nossa última visita, estava morando dentro de um carrinho de supermercado.

Chegamos a sugerir que ela tivesse motivos pra não querer sair dali. Dessa vez, pudemos registrar em tempo real os motivos dela.

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ATUALIZAÇÃO: Ester foi adotada.

O fato é que poucos ali têm espaço. Eles não são livres e muitos deles vivem confinados, ou a uma casinha, a um banco, à área debaixo de uma cadeira, de uma cama ou de qualquer outro lugar de onde não podem sair, não obstante a falta de correntes.

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Endira foi um de nossos destaques na matéria de setembro. Ela continua por lá, com o focinho um pouco mais branco e os olhos mais apagados.

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Tentei também fotografá-la novamente. O que registrei foi um menino chamado Rubinho, que parecia querer ficar na frente da lente.

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Esperamos que ela não desista e seja adotada um dia.

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Samuka é o velhinho que não sorri mais. Em setembro, também fizemos um banner especial pra ele, no qual suas cicatrizes eram mostradas.

A intenção era sensibilizar e tentar encontrar alguém que garantisse um resto de vida sem novos cortes.

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Não deu e ele continua lá. As marcas são as mesmas e, ao contrário do que se poderia esperar, seus olhos ainda brilham.

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Ele ainda tem esperança.

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O mesmo não se pode falar do Zezinho, que apenas espera pela morte, confinado a um vão de um armário de alvenaria na sala.

Além de velhinho, ele é cego. Precisava sair dali, mesmo que seja pra morrer no outro dia.

ATUALIZAÇÃO: Zezinho foi adotado.

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Um caso nos chamou atenção. Notamos uma ratinha que não pesa mais que 5 quilos, bem pequenina, escondida debaixo de uma cadeira.

Bambina é o nome dela. Foi resgatada por D. Tereza atropelada, lá pelos lados de Santa Luzia.

Imaginei que bastaria um anúncio pra tirá-la dali. Afinal, fêmea, pequenina e muito bonitinha tem o perfil que muita gente procura.

Foi aí que d. Tereza revelou que a Bambina só pode ser manuseada com cambão. Ninguém consegue encostar a mão nela; a pequena distribui dentes.

Ela vive permanentemente em pânico naquele lugar. Precisa de adotante, mas deverá ser alguém que saiba que precisará de tempo, um bom tempo, pra conquistá-la.

Ela não precisa de adoção. Precisa de resgate, como a maioria dos animais ali.

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Os absurdos não param. Dentro de uma gaiola, há mais de 30 dias, vivem dois irmãozinhos brancos de olhos claros.

Eles são o retrato da agonia. Quando, no início do ano, os filhotes de gatos que viviam na gaiola foram doados, acreditamos que aquele recinto não seria mais usado.

Dona Tereza parece que se apressa em ocupá-lo novamente. Já foram retirados daquela gaiola mais de 30 filhotes. Já não sabemos mais o que fazer.

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Tentamos mais uma vez doá-los. Um dos filhotes foi adotado e o outro ficou sozinho na gaiola, o que tornou a vida dele ainda mais sofrida.

Foi aí que a Geralda, da Brigada Planetária, resolveu intervir e dar lar temporário ao rejeitado tigrinho branco de olhos amarelados.

Contamos com a ajuda do Bruno Pimentel, que prontamente atendeu a um apelo e correu pra retirar o pequeno da gaiola e levá-lo até o novo lar temporário, abreviando em alguns dias o sofrimento dele.

Ele chegou muito magro, faminto, com claros sinais de desidratação e doente. Tinha dificuldade de andar, possivelmente por atrofia muscular, em razão do confinamento.

Por sorte ele é apenas um filhote e filhotes se recuperam muito rápido. Bastaram algumas horas de cuidados e boa ração pra ele se transformar. Já está brincando e correndo por todo lado, em companhia de outros filhotes que dividem com ele o espaço. Também já aprendeu o que é colo e não quer sair dele. Se precisar, usa as unhas pra se fixar. Recebeu o nome de Vitor e está agora para adoção, aos cuidados da ONG Brigada Planetária.

ATUALIZANDO: Vitor adotado.

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Porém a situação dos gatos é muito pior do que dois filhotes em uma gaiola. Eles continuam vivendo no alto de um armário, sem o direito de sequer esticar as pernas. Não vamos rotular, mas bom trato não é.

Tereza IV 25Num dado momento, D. Tereza resolveu jogar pão para os cães no terreiro, para tirá-los de dentro da sala.

Eles se alvoroçaram à espera do petisco. Nesse momento, os gatos começaram também a miar e pedir alguma coisa. Eles também tinham fome.

E aí foi possível notar a hostilidade dos cães em relação a eles. Alguns dos lobos que insistiram em continuar dentro da sala, pulavam nos armários, tentando agredir os gatos.

Eles se encolhem e se assustam.

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No alto da gaiola, uma gatinha branca estava se desmanchando. Senhora Tereza explicou que ela estava doente e que precisaria ser internada.

Não sei há quanto tempo ela está precisando de assistência médica, mas seu estado sugere que ela está doente há muito tempo.

Antes que publicássemos esta matéria, soubemos que ela tinha sido internada e estava em tratamento.

ATUALIZANDO: A Branquinha não sobreviveu. Ela tinha um grave problema no intestino. Não reagiu ao tratamento e veio a óbito.

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Também tivemos notícia do problema. Esta gata já passou por um sem número de internações. É curada e recebe alta médica. Quando volta para a casa de D. Tereza, o problema retorna.

Quando perguntei se ela sabia a razão, a resposta me surpreendeu: _Sim. É porque ela precisa de ração de boa qualidade. A ração que dou aqui é à base de peixe, que é mais barata.

Então ela fica o tempo todo com diarreia.

É preciso respirar fundo e fazer uma pausa, pra não expor comentários.

O fato é que a menina está agora internada e recebendo tratamento vip. Em alguns dias, ela terá alta médica, mas precisamos de um adotante ou lar temporário urgente, pra que ela não precise mais voltar para a casa de D. Tereza nem comer porcaria.

E não acabou. Tem mais e recomendo que apertem os cintos.

Dessa vez, eu sabia que debaixo da cama era o território fixo de alguns cães e insisti pra conhecê-los.

E os primeiros que conheci foram Chica e Baruco, mãe e filho. Segundo d. Tereza, os dois estão “jurados de morte” pelos outros cães. Se saírem do esconderijo, serão atacados.

Desse modo, eles vivem debaixo da cama, 24 horas por dia, há alguns anos. A mãe ainda cuida do Baruco e o lambe todos os dias, para tentar tirar dele o cheiro de urina que pode ser sentido de longe.

Pior ainda: a cama é baixa demais e eles são de porte médio. Suas pernas já estão atrofiando e, em breve, estarão paraplégicos.

Eles são muito assustados e aparentemente agressivos. Contudo temos a absoluta convicção de que só precisam de vida. A agressividade tornou-se meio de vida pra eles. Foi a forma que encontraram para se manterem vivos.

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No quarto onde eles vivem, não são os únicos. Pelo menos mais dois estão também ali, por terem sido igualmente “jurados de morte”.

Yoko é a cadelinha marrom que aparece ao lado direito, na segunda foto abaixo. Ela, pelo menos, estica as pernas, pois fica de pé sobre uma cômoda. Mesmo com a péssima qualidade da foto tirada no ambiente escuro, é possível notar o medo em seus olhos.

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E tem mais.

Em nossa visita anterior, soubemos que o Bidu, aquele mesticinho de Basset que chegamos a levar para a feira da Brigada Planetária no Belvedere, em março deste ano, continuava lá, mas estava refugiado debaixo da cama.

Naquele dia, não tivemos coragem de pedir para vê-lo, já imaginando o que iríamos encontrar. Divulgamos o Bidu usando as fotos do início do ano.

Ele chegou à casa de D. Tereza com apenas 6 meses de vida e hoje traz no focinho esbranquiçado as marcas de uma vida inteira desperdiçada.

Naquela época, seus olhos já refletiam a tristeza e o medo que assolam aquele lugar.

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Desta vez, como insisti para conhecer os cães que viviam debaixo das camas, pedi pra ver o Bidu.

E foi isso que encontramos.

ATUALIZANDO: Bidu adotado.

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Junto com ele, também vivendo debaixo da cama, uma cadelinha chamada Branquinha.

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ATUALIZAÇÃO: Branquinha adotada.

Espero, sinceramente, ter motivos pra continuar indo lá.

Estes animais precisam de resgate com urgência. Precisam mais que muitos outros que ainda estejam pelas ruas. Infelizmente, nossa espécie vem se superando e conseguindo construir verdadeiros infernos na terra.

Não é exagero dizer que alguns desses animais estariam melhor se estivessem na rua. A morte seria muito bem-vinda para alguns deles.

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Contato para adoção:

A ATUALIZAR

O caso é grave e precisa de adotantes, aos montes, mas pedimos às pessoas que não ajam no impulso. Se, após a adoção, algum animal vier a ser devolvido, é para a casa de d. Tereza que eles terão que voltar. Isso não é justo com eles.

A quem desejar ajudar financeiramente d. Tereza, seguem os dados bancários. Optamos por indicar conta de titularidade da própria d. Tereza, sem intermediários. Assim fica mais transparente e fica aos doadores a certeza de que suas doações chegarão ao destino.

CAIXA ECONOMICA FEDERAL / AGÊNCIA – 1746 / CONTA POUPANÇA – 112087-6 / OPERAÇÃO 013

NOME FAVORECIDO: TEREZA CARLOS VIEIRA. CPF N. 763.578.306-82

Pra quem chegou agora e quer conhecer o início da história, eis os links, partes I, II e III:

Não era esse o combinado

Não era esse o combinado. Parte II

Não era esse o combinado. Parte III

Não era esse o combinado.

Quando os lobos se aproximaram de nós, há cem mil anos, nasceu ali um pacto de amizade. As duas espécies evoluiriam juntas, cresceriam juntas, se apoiariam, se protegeriam. Nós não cumprimos o combinado.

Comentários / Mais informações sobre o anúncio devem ser obtidas com os anunciantes, no telefone ou e-mail indicados acima.