A operação foi da Polícia Civil que recebeu a denúncia e cumpriu fielmente o papel que lhe competia. Um mercado covarde e injusto, alimentado pela vaidade e pelo preconceito, sofreu um grande golpe.

Contudo, o fim dele depende ainda do nosso despertar. Não existe comércio sem consumidores.

O fato foi amplamente noticiado nos principais jornais escritos e televisivos.

https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/11/12/interna_gerais,1100681/policia-civil-resgata-caes-de-canil-clandestino-em-ribeirao-das-neves.shtml

Entretanto, as reportagens não foram capazes de relatar o terror daquele lugar.

Debaixo de um telhado de amianto, numa temperatura acima dos 40°, 50 gaiolas, tampadas com papelão. Dentro de cada uma delas havia uma vida, sufocando, chorando, tremendo, sem comida ou água.

A tutora foi conduzida à delegacia e os animais foram apreendidos. Entretanto, onde depositar 50 animais de uma só vez, em condições tão precárias de saúde?

Pior que isso, havia animais em agonia, doentes, precisando de socorro.

Todos tinham otite em grau avançado e ficavam se debatendo e se mutilando, tamanha a dor e o desconforto que sentiam. Dermatites eram generalizadas. Pelos embolados que escondiam feridas provocadas pela falta de ventilação.

Alguns estavam cegos ou com graves úlceras nos olhos, tudo causado pelos maus-tratos daquele confinamento covarde.

Muitos nem se alimentavam mais direito, porque os dentes estavam podres e causando muita dor. A quantidade de tártaro indicava que jamais tiveram acesso a qualquer procedimento médico.

E foi aí que um grupo de benfeitores decidiu se unir. Quem assumiu os animais foram voluntários da OPA Bichos, contando com a ajuda de gente de todo lado, inclusive da própria Polícia Civil.

Toda a parte médica, com atendimento e tratamento para todos os cães, de cirurgias a banhos, tudo foi oferecido pela Consulveter. (Registra-se aqui nosso agradecimento a toda a equipe. Não há palavras pra descrever ou adjetivar o que essa empresa fez. Estes animais nunca tiveram nada e receberam cuidados 5 estrelas. A Consulveter, que conta com 3 unidades, mobilizou grande parte de sua equipe, destacando uma de suas unidades para dar a estes cães o tratamento que precisavam).

Registra-se também a eficiência e agilidade da Polícia Civil na ação. E, após a apreensão, foi a vez do Ministério Público, que foi eficiente nas medidas necessárias que autorizariam os voluntários a castrar, vacinar e encaminhar os animais a lares definitivos e a pessoas dispostas a adotar e salvar uma vida em agonia.

Os casos eram graves, muito graves. Das gaiolas, eles foram transferidos para canis. Ainda está longo do que eles merecem, mas neste momento, nada podia ser mais importante que dar a eles espaço e condições de tomarem sol, de esticarem e exercitarem as pernas.

A tristeza era mesmo contagiante. Eles não conhecem afeto. Passaram a vida enjaulados e sem cuidados. São tristes, muito tristes, como poucas vezes se viu.

Aos poucos, a curiosidade em relação ao que acontece do lado de fora (algazarra de outros cães) tomou conta. As primeiras interações foram também prazerosas. Ali eles começaram a entender que pessoas não são seus carrascos.

Muitas fêmeas estavam com filhotes recém-nascidos e outras já prenhas. Com tantos cios numa mesma época, havia indícios de que eram usados hormônios para sincronizar os cios e produzir filhotes em escala industrial, sobretudo para abastecimento do mercado natalino.

Que ironia! Na época do ano em que mais se abandona animais, criadores produzem ainda mais filhotes para abastecer a um mercado ávido por filhotes de raça.

Ali havia Shih-tzus, Pequineses, Lhasas, Shnauzers, Pugs e outros, todos usados como reprodutores, pra abastecer estabelecimentos que ainda insistem em alimentar essa covardia.

E pra contar histórias, vamos escolher duas personagens: Malu e Bibi.

Malu era o caso mais grave. É uma cadelinha da raça Yorkshire, que tinha uma grave ferida na pata, já necrosada.

Ela recebeu o nome de Malu. É um cisquinho que estava morrendo aos poucos.

O laudo médico esclarece a triste situação e o resultado de tanta covardia.

O otite era a mais severa de que já se teve notícia. Ela ficava todo o tempo se debatendo contra as grades, por causa da dor causada nos ouvidos.

Além disso, dermatites a consumiam por baixo do pelo longo.

Infelizmente, conforme relatado no laudo médico, sua perna não pôde ser salva e foi amputada.

As imagens são fortes, mas necessárias pra mostrar o que as palavras não são capazes de descrever.

Em outro caso grave, esta fêmea abaixo, prenha, com otite severa bilateral e dentes danificados, está cega dos dois olhos. Ela recebeu o nome de Bibi.

No dia do resgate, parecia que não sobreviveria, pois se encolheu em um canto e ali ficou, imóvel, sem saber o que estaria acontecendo.

Talvez, por não enxergar, ela não sabia que agora tinha mais espaço pra caminhar. Ficou todo o tempo deitada em um canto e tremendo de medo, exatamente como ficava dentro de sua gaiolinha.

Infelizmente, foi tempo demais sem tratamento e a cegueira tornou-se irreversível. Seus olhos estavam infeccionados e a infecção já lhe causava outros problemas de saúde. A opção recomendada pelos médicos foi a remoção do globo ocular.

É triste vê-la nessas condições, mas esse é o resultado de uma vida inteira de sofrimento e de exploração. Temos experiência com cães cegos, que têm vida normal e chegam até a correr pela casa, desviando dos móveis.

Contudo, no caso da Bibi, ela nunca conheceu uma casa onde pudesse andar. Talvez, passe o resto da vida num cantinho. Foi só o que ela aprendeu a fazer.

São 50 cães, sendo 42 peludinhos de porte pequeno e 8 Pastores Alemães (4 adultos e 4 filhotes), que eram mantidos também trancados em um forno, que mais parecia instrumento de tortura.

Por absoluta falta de local para receber e abrigar tantas vidas, eles foram entregues a um grupo de voluntários.

Estes voluntários estão hospedando, tratando e custeando com recursos próprios todos os procedimentos urgentes.

Os animais necessitam ser castrados com urgência, pois quase todas as fêmeas estão no cio ou prenhas. Desconfia-se que tenham sido usados hormônios para adiantar cios e produzir mais filhotes.

Todos necessitam de tratamento médico, vacinas, vermífugo e boa nutrição, já que estão também subnutridos.

Abaixo as fotos de alguns dos animais, muitos deles já disponíveis para adoção.

Apesar da tristeza e do fato de que, em alguns momentos, eles se mostram medrosos, o que temos observado é que são dóceis e muito carentes. Viveram a vida inteira sem conhecer afeto com pessoas e agora é que estão aprendendo sobre carinho.

Estão gostando muito. Afinal, eles nasceram pra isso.

Fica, entretanto, o alerta de que não são adoções regulares. Tecnicamente, são resgates. O adotante precisa saber que eles precisarão de cuidados ainda por muito tempo. Deverão ser levados a um veterinário de confiança e dar sequência a tratamentos, calendário de vacinas, etc.

Alguns podem necessitar de tratamentos mais complexos e o adotante precisará se comprometer a proporcionar tudo que eles necessitarem. Afinal, basta de sofrimento e omissão.

Deverá também o adotante assumir os custos da castração e não serão entregues antes do procedimento.

Abaixo, uma galeria de fotos de alguns dos que já podem seguir novos caminhos.

Por fim, e não menos importante, precisamos registrar o agradecimento a tantos voluntários que se desdobraram pra ajudar essas vidas. O SPA animal destacou uma de suas suítes para receber pelo menos 10 animais. Outros voluntários levaram para suas próprias casas.

A Dra. Ana Luiza, médica veterinária que trabalha com ultrassonografia, doou o que tinha de melhor para tantas fêmeas quantas precisassem, para que pudéssemos, pelos menos saber em quais ventres havia lobinhos em formação.

É preciso agradecer também aos tantos padrinhos e madrinhas anônimos, que fizeram questão de participar da história. Já explicamos mais de uma vez que um resgate assim não é trabalho para um só protetor ou para um pequeno grupo. É preciso mobilização e união.

Temos, contudo, a convicção de que cada um deles terá uma vida diferente. Até mesmo a Bibi. Ela vai aprender a caminhar e aproveitar o espaço que lhe for destinado. Não esperamos receber notícias de que ela está correndo pela casa, mas não precisa de tanto. Se ela aprender a buscar o cantinho do dono já será uma grande vitória.

Contato: Aléxia: (31) 9 8492.5344.

E-mail: opabichos@gmail.com / alexia@trendsnet.com.br

Resgate sob responsabilidade da OPA Bichos e seus voluntários.

Comentários / Mais informações sobre o anúncio devem ser obtidas com os anunciantes, no telefone ou e-mail indicados acima.