Alek é um Yorshire de apenas 800 gramas. Ele é pouco maior que um esquilo.

Foi encontrado caminhando por uma calçada, em direção à Rodovia Fernão Dias, há 80 Km de Belo Horizonte.

Estava exausto, sedento e muito assustado. Era pele e osso e tudo indicava que ele não comia direito havia um bom tempo.

Estava sujo, muito sujo, com pelo embolado e um cheiro forte, como se estivesse vivendo com moradores de rua.

Abortamos o compromisso que tínhamos e retornamos para BH, para resolver o problema do menino.

Foi direto para uma clínica veterinária, onde fez exames de sangue e de Leishmaniose. Também tomou banho e passou por uma tosa, na tesoura mesmo, para que não ficasse pelado demais.

Constatou-se que ele tem sequelas de cinomose. Anda levantando as perninhas, como se estivesse marchando. Em alguns momentos, anda em círculo, mas de forma discreta, sem comprometer sua mobilidade.

Notamos também que ele enxerga pouco. Consegue notar a presença das pessoas, é capaz de nos acompanhar com os olhos, mas, ao descer pequenos degraus, ele não percebe o top e pisa em falso.

Ele é frágil demais e treme diante de qualquer tentativa de aproximação. Tudo indica que seus antigos tutores não eram muito cuidadosos no manejo e não entendiam que carinho em um cisco de menos de um quilo tem que ser feito com muito cuidado pra não doer.

Ao deixar a Clínica Veterinária, estávamos diante de um grande desafio. Com 800 gramas e sem enxergar direito, não tínhamos onde deixá-lo.

Nosso anfitrião da vez é o Getúlio, que pesa 13 quilos e é bem estabanado. É claro que não daria certo.

Dentro de casa, nossa mascotinha Duda não é a mais educada e costuma encrencar com forasteiros. No caso do Alek, um desentendimento seria fatal.

Também os degraus de dentro de casa eram um perigo à parte. Como ele enxerga pouco, notamos que ele consegue subir os degraus, mas na descida, pisa em falso e os tombos não foram pequenos.

Então, ele precisaria de espaço limitado e sem a companhia de outros cães. A única solução possível foi um canil.

Como o canil também tem degraus separando a área externa da área fechada e do gramado, tivemos que improvisar rampas com toalhas dobradas, para que ele pudesse subir e descer sem se machucar.

Nada pode ser mais angustiante que ver um cisquinho assim, com apenas 800 gramas, vivendo em um canil.

Por isso é tão urgente que ele tenha logo uma mãe que o receba com o carinho que ele precisa.

Dentro do canil, ele já conhece os degraus, já sabe onde está a caminha, a água e a comida. Como o espaço é limitado, ele se acostumou bem rápido. Ele se adaptou muito fácil e não será diferente em sua nova casa.

Mas não é justo com ele que essa adoção demore. Ele precisa de companhia, pra vencer outros traumas e poder acostumar, de forma definitiva, ao novo ambiente. Mudanças pra ele não são bem-vindas.

Outra característica que notamos é o pavor dele diante do manejo. Não acreditamos que ele sofresse maus-tratos ou que apanhasse, mesmo porque, um cisquinho assim não sobreviveria a um tapa.

Então, não acreditamos que ele apanhasse, mas é certo que seus donos não eram dos mais afetuosos. Ele tem medo da aproximação e, quando segurado por mãos humanas, mesmo que aconchegado no colo, ele esperneia pra se desvencilhar, como se tivesse medo de “carinhos que machucam”.

Contudo, já demonstrou também que está disposto a fazer amizades, desde que não seja pego no colo. Diante de carinho acolhedor (sem tirá-lo do chão), ele usa a linguinha mais que o rabinho. Adora dar lambidinhas nos dedos e no rosto de novos amigos.

É um garotinho bem especial, e vai exigir também uma adoção pra lá de especial. O regime de engorda está sendo feito à base de arroz com carne desfiada, que ele gosta bastante.

Ração também é oferecida, mas mesmo os grãos pequenos precisam ser partidos em 4 ou 6 pedaços, pra ficarem bem pequeninos, mais apropriados ao tamanho da boquinha dele.

Apesar de seus 800 gramas, ele não é filhote. A veterinária estimou pra ele a idade aproximada de 4 anos.

Temos nos esforçado pela adaptação dele. Carinho também não tem faltado, embora ele passe a maior parte do tempo sozinho, o que é muito triste.

Os passeios na grama são sempre regados com muita disposição. Ele chega a ensaiar corridinhas. É curioso, como qualquer esquilinho.

Atende a chamados, o que significa que não é totalmente cego. Notamos que ele nos acompanha com os olhos e percebe claramente quando nos aproximamos.

Se sentamos no chão e o chamamos, ele vem ressabiado, mas disposto a interagir. Estamos aprendendo que a interação com ele exige que nós cheguemos até o chão. Assim é mais confortável pra ele.

Ele tem medo de altura e tudo indica que as quedas já lhe causaram muita dor. Então, camas e sofás não são indicadas pra ele. Colo, só se os donos estiverem sentados no chão. Por isso não poderá ser doado para casas com crianças.

Às vezes, temos a impressão de que ele troca olhares conosco. E olhar alguém nos olhos é um sinal de que essa visão não está muito comprometida. Talvez, esteja prejudicada apenas uma parte do sentido, como se não percebesse profundidade e distância, ou como se tivesse um borrão em uma parte do campo de visão.

Alek é mesmo um cisquinho. Não pode ser doado para casas com outros cachorros, a menos que tenha outros do tamanho dele, ou próximo disso.

Crianças pequenas também não são adequadas pra ele. Uma queda de meio metro pode ser fatal pra uma criatura tão pequena. E ele tem medo de altura.

Queremos pra ele uma mãe especial, com tempo e disposição pra dar atenção, mas sem a agitação de sair à rua. Ele não precisa de passeios.

As sequelas têm tratamento e podem ser revertidas com tratamentos que ainda são esperimentais, com células tronco. Infelizmente, não temos como proporcionar isso a ele, mesmo porque pode ser um tratamento demorado e ele precisa de um novo começo rápido.

Não é justo mantê-lo mais tempo em um canil.

O exame de Leishmaniose deu negativo e o hemograma acusou um pouco de anemia, mas isso já estamos resolvendo com vitaminas e comida farta.

ATUALIZANDO. Alek foi adotado. Lobo depois, passou por uma consulta especializada, onde descobrimos que ele não tem sequelas de cino, mas danos neurológicos congênitos. Também afirmou o vet que ele não é cego como acreditávamos, e que as ausências seriam “convulsões incompletas”.

É um bom exemplo do sofrimento causado por criadores.

O fato é o Alek passará agora por consulta com neurologista, que o acompanhará.

Na nova casa, ele chegou tímido e com medo dos novos irmãozinhos, outros dois Yorkinhos como ele, também resgatados em situação de sofrimento.

Logo o Alek se refugiou no colo que se lhe estendia, o que não impediu que seus novos irmãozinhos viessem saudá-lo.

Assim que se sentiu mais à vontade, resolveu explorar o ambiente e descobriu uma caminha que não era dele, mas que passará a ser compartilhada de agora em diante.

Essa invasão de território foi bem aceita. Apesar de algumas poucas e discretas demonstrações de dominância, a aceitação foi ótima.

Ao final, ele já estava ocupando os braços que sempre deveriam ter sido dele. Parecia confortável e seguro entre aqueles dedos. Deixou claro que estava confortável e seguro, como ainda não tinha demonstrado em nosso território.

Apenas alguns dias depois da adoção, tivemos notícias de que ele já está entrando nas brincadeiras dos irmãos, que inclusive ajudam no resgate dele, quando começa a ter as convulsões.

Os pequeninos percebem o início da crise, vão até ele e o tiram do transe. Nosso cisquinho, finalmente, encontrou seu lugar no mundo.

Obrigado Jaqueline, pela acolhida do garoto. Que ele seja muito feliz, por toda a vida.

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