Era uma vez uma história que começou há muitos anos, mais precisamente em janeiro de 2014.
Dos porões da antiga SMPA, retiramos uma menina que recebeu o nome de Aninha. Uma Poodle com uma orelha arrancada por miíase, uma grave doença de pele autoimune e a mais severa Leishmaniose de que já se teve notícia.
Por mais de dois anos lutamos pela vida dela. Foram mais de 120 seções de quimioterapia, com vários medicamentos diferentes, banhos a perder de vista, um tratamento de ouvido que nunca teve fim.
Nesses dois anos, nós nos afeiçoamos e ela acabou se integrando à nossa matilha. Sempre esteve anunciada para adoção, embora nunca estivesse pronta. Mas foi a forma que encontramos de tentar manter uma distância afetiva, pelo menos.
Infelizmente, mesmo com todo o afeto que lhe dávamos, nunca conseguimos dar a ela o vínculo estreito que ela merecia, porque sua doença de pele a deixava com um cheiro insuportável e não havia banho que resolvesse.
Por aqui, ela tinha direito a caminha macia, que era só dela, e até banhos de Pet Shop de vez em quando, embora esses banhos pouco fizessem por ela.
Ao final, perdemos a guerra para a doença. Quinze dias seguidos de uma hemorragia intensa foram a gota d’água, a nos mostrar que não dava mais.
Perdemos a Aninha, que partiu sem cumprir a etapa que precisava. Ela era uma Poodle, que veio ao mundo pra dividir a cama com os donos, mas nunca teve nada disso.
A Aninha fez parte da nossa história, viveu algumas das nossas expedições e teve uma família, da forma que foi possível.
Quando partiu, prometi a ela que eu estaria atento e que a reconheceria. Combinamos que ela voltaria pintadinha, para que eu pudesse reconhece-la. Eu queria mais que tudo uma segunda chance, talvez pra amenizar a angústia do fracasso.
Pouco tempo depois, ela voltou, mas nossos caminhos não se cruzaram. Ela não precisava mais de mim. Talvez, minha missão tenha sido apenas preparar a volta. Sei que ela vive feliz e amparada, como um dia planejamos que seria.
Mas a tristeza de ter falhado continuou comigo, até avistar em uma Rodovia muito movimentada, uma filhote pintadinha, em pele e osso, tentando beber em uma poça de água.
Era uma cadelinha pequena, com a pele pintadinha como da Aninha original, mas com poucos tufos de pelo. Eu sabia que não era um reencontro, mas mesmo assim, eu precisava daquela segunda chance.
Aquela era a minha segunda chance. Eu teria aos meus cuidados uma mocinha do mesmo tamanho, toda pintadinha e com a pele tomada de sarna.
Abaixei-me na margem do asfalto e chamei por ela, que veio abanando o rabinho, levemente posicionado entre as pernas. Permitiu o resgate sem reação.
Foi acomodada no carro e seguimos viagem. Era domingo e a chegada à Clínica teria que ficar para o dia seguinte.
Naquele mesmo momento, dei a ela o nome de Aninha. Não poderia ser outro.
Preparei pra ela um cantinho, uma água bem fresquinha e muita ração, que ela engoliu com a gulodice de quem estava há dias sem comer.
Se ainda estava viva, foi porque protetores invisíveis a seguraram no acostamento e não deixaram que ela tentasse atravessar a pista.
Ela tinha fome, muita fome. Os ossos quase furavam a pele, já fina e desgastada de tanto se coçar.
Foi impossível não me lembrar da Aninha, aquela que um dia cruzou o nosso caminho, e que não conseguimos salvar. Mas agora tudo seria diferente.
Tinha que ser. Os exames acusaram uma sarna daquelas bem fáceis de tratar.
Ela estava triste, muito triste, como poucas vezes vimos. Os olhos lacrimejavam e parecia ter febre, o que era natural numa condição tão grave.
No dia seguinte, chegou à Clínica Veterinária Alípio de Melo, onde foi recebida com o cuidado de sempre.
Dez dias depois, ela já dava sinais de que dessa vez, a luta não seria tão longa e nem tão penosa.
Aninha, a minha nova Aninha, já me recebia com festa, pulando e ensaiando brincadeiras, embora ainda sem coragem de pular no meu colo.
Ainda assim, era uma alegria grande vê-la brincando. Os banhos e as medicações de pele incomodavam muito e, por isso, ela se mostrava ainda receosa de se aproximar.
Depois de duas semanas, estava ela pronta para a próxima etapa. Castração e vacinação eram urgentes. Afinal, quanto mais rápido ela estivesse pronta para adoção, mais rápido poderia seguir um caminho definitivo.
Com aproximadamente um ano de vida, ela tinha energia de filhote. Ainda era bagunceira e sempre disposta a brincar.
Então, ela será companhia perfeita para crianças.
O regime de engorda foi bem aceito por ela, que parecia querer tirar o atraso de um tempo difícil. Come o dia inteiro e, em poucos dias, já estava bem redondinha.
E com o excesso de peso, principalmente na região da cintura, ela chegou aos 7,8 quilos. Então, é porte pequeno e pode viver muito bem até em apartamento.
Foi castrada e será entregue com vacinação iniciada. Já tinha exame negativo para Leishmaniose, mas repetiu os exames após o tratamento de pelo, pra iniciar a vacinação com a Leishtec.
Hoje está bem mais sociável. É alegre e sempre disposta a aprender novos truques.
Gosta de brincar e está pronta pra aprender as brincadeiras que seus donos se dispuserem a ensinar.
Ela já estava pronta pra começar uma nova história. Estava claro que ela tinha a missão de encher a vida de sua futura família de alegria.
As marcas da dermatite desapareceram com o tempo. O pelo branco e macio acabou encobrindo tudo e revelou uma criança pintadinha. Nem o pelo crescido tirou dela o charme das pintinhas, pois ela tem mesmo a pelagem pintada como a de um dálmata.
Ela é tricolorida, branquinha, com manchas amarelas na face, algumas manchas pretas no corpo e muitas pintinhas espalhadas.
Dois meses depois do resgate, não havia mais qualquer sinal do passado de abandono e descaso.
Aninha estava totalmente recuperada, com todos os exames em dia e vacinação iniciada, inclusive a Leishtec. Também foi castrada e já estava pronta pra começar uma nova história.
Descobrimos que ela ainda era uma filhote arteira e agitada. Só queria brincar em tempo integral. É uma mocinha de porte pequeno, mas agora já pesando 9 quilos. Adora a companhia de outros cães, de crianças e também de gatos.
A adoção pra ela, chegou, como sabíamos que chegaria. Ela chegou em sua nova casa desconfiada, observando tudo e se fingindo de santa.
Enquanto ela ainda tentava se familiarizar com o novo território, chegou pra conhecê-la a Iza, sua irmãzinha.
Chegou cheia de confiança, como se perguntasse: _Que novidade é essa? Mais cachorro?
As duas deram-se muito bem. São dóceis, sociáveis e é só uma questão de tempo pra se tornarem as melhores amigas de infância.
A recepção de seus novos pais era aquela que queríamos pra ela.
No início desconfiada, logo ela entendeu que estava entre amigos. Mais que amigos, Aninha. Essas pessoas são seus pais, aqueles que te prometemos que você teria. O empenho foi grande, com disposição de sentar no chão pra receber e dar as melhores boas-vindas que nossa Aninha poderia receber.
Entretanto, a “cereja do bolo” não estava em casa. Estava na escola e só chegou mais tarde. Seu nome é Sophia e ela já prometeu muito carinho à sua mais nova amiga de infância.
Crianças que crescem com lobos tornam-se adultos diferenciados, em termos de capacidade de amar. E as primeiras fotos que recebemos mostram que a empatia foi imediata. Na verdade, essa empatia está impregnada no DNA das duas espécies. Nós e os lobos viemos ao mundo pra viver histórias assim.
Fica registrado nosso muito obrigado a essa linda família que recebeu nossa pequena. Desejamos que a Aninha seja feliz e que leve alegria à sua nova família. Missão cumprida, agora à espera do próximo que chegar.
Seja feliz, Aninha. E faça aquilo que você veio ao mundo pra fazer: tornar melhores as pessoas que tiverem a alegria de conviver com você. Obrigado pelo tempo que passamos juntos.
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