Bia é uma cadela de médio a grande porte que foi amarrada na porta da SMPA, com a barriga enorme. Em seu ventre, uma matilha inteira crescia.
Ela intencionava escavar uma toca em algum lote vago e ali criar seus filhos. Mas aí, alguém achou que entregá-la na SMPA estaria fazendo bem a ela e aos filhotes.
Precisamos esclarecer que, apesar de todo o empenho de muitos, a SMPA vem passando por graves problemas e não tem estrutura pra proteger animais.
Assim que chegou, conheceu a Kate, uma mãe que havia chegado um pouco antes dela, e que já amamentava uma numerosa ninhada, em uma confortável baia. O Canil é amplo, é lavado todos os dias, tem água fresca e comida em quantidade suficiente.
Mas algo na ia bem com os filhotes da Kete. Um a um eles sucumbiram. A própria mãe, após a partida dos pequenos, se entregou também e já esperava pela morte, quando foi resgatada.
Não era este o destino que a Bia queria para seus filhos.
Os lobos sabem quando estão em perigo, ou quando seus filhotes correm riscos.
Bia parecia saber que seus filhos teriam o mesmo fim trágico. O ambiente estava contaminado. Ali eles não poderiam nascer.
Então, ela fez o que ninguém poderia imaginar que fosse possível. Entrou em trabalho de parto mas não permitiu que ninguém percebesse. Segurou os filhotes e não deixou que nascessem.
Quando soltamos a história da Kete e contamos que lá havia mais uma fêmea prenhe, uma protetora decidiu intervir e a resgatou, oportunidade em que também lhe deu o nome que ostenta hoje.
Assim que chegou à clínica, um ultrasson de emergência revelaria que seu esforço pra salvar os filhotes foi em vão. Eles estavam todos mortos e em decomposição dentro dela, provocando uma infecção severa que quase custou a vida também da mãe.
Foi operada às pressas e passou a receber pesados antibióticos injetáveis. Ficou internada por muitos dias.
Foi salva e parecia ter se conformado, embora continuasse triste. Ela não chegou a ver o rosto de seus filhos, não chegou a aquecê-los, a amamentá-los. Ainda assim, parecia sentir falta de algo, mesmo que ela mesma não soubesse do quê.
Graças à dedicação de seus salvadores, Bia se recuperou muito rápido. Comia bem e recuperava o peso, dia a dia. Estava negativa para leishmaniose e terminando o tratamento para babésia.
Estava pronta para adoção, mas ainda faltava a alegria. Assim que recebeu alta médica, foi transferida para um lar temporário. Na verdade, sua protetora achou que ela merecia mais que um hotel e decidiu dar a ela uma temporada em um Spa.
Assim que chegou na casa da Giovanna, ela foi integrada em uma matilha muito sociável. E foi o que bastou para uma completa transformação. Na verdade, o que provocou tamanha transformação tinha nome: Moisés é o nome de um filhote de porte pequeno, de apenas 5 meses, órfão e último de uma ninhada de quatro.
A Bia se afeiçoou e adotou o menino. Ele já era crescidinho e ela não tinha mais leite mas, mesmo assim, eles se completaram. Ele experimentou o afeto da mãe que lhe foi tirada e ela preencheu o vazio que sentia em seu ventre.
Finalmente, conseguimos flagrar um sorriso. Largo como seguramente já foi um dia, e como não deixará mais de ser.
Com a Giovanna, a interação também foi instantânea. Apenas um dia depois de sua chegada, a Bia já a seguia por todo lado. Se dependesse dela, sua dona também estava escolhida, mas ali é apenas casa de passagem.
Sua fixação pela companhia da Giovanna era tanta que, às vezes, ela esquecia que tinha outras responsabilidades ali e deixava um lobinho emburrado.
Em seguida, retomava seus afazeres, dando assistência ao pequeno. Ele não depende dela, já está com 5 meses de vida e breve partirá para sua segunda chance. Mas ali houve um pacto de mútuo amparo. Melhor seria se os dois pudessem ser adotados juntos, mas o Moisés é um lobinho pra ser criado no colo dos donos, dentro de casa, enquanto a Bia é porte grande, de terreiro.
Além do moisés, uma turma de lobinhos também estava lá esperando adoção. Estes ainda tinham a companhia da mãe, mas com mais de dois meses de vida e ainda mamando, a coitada da mãe já não aguenta mais.
E é aí que entra a Bia. Além de adotar o Moisés, ela assumiu também a função de babá de uma galerinha pra lá de agitada.
O final feliz chegou. Não pôde levar o Moisés mas encontrou outros amigos na nova casa.
Agora, é esquecer de vez o passado e comemorar o presente que a vida lhe deu.
Um resgate de Marisa Venâncio: mvenanciomendes@gmail.com
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