Foi assim, dentro de uma caixa, que esta menina cruzou nosso caminho. Ela não sabia bem o que estava acontecendo, mas seu estado de tristeza nos dizia o suficiente.
Também não sabíamos o que havia dentro daquela caixa. Só a cabeça estava para fora, mas era possível notar que a caixa era pequena para o resto do cachorro.
Talvez não estivesse inteira, mas isso só saberíamos quando a tirássemos dali.
E como se podia esperar, encontramos uma cadelinha de porte pequeno a médio, com o pelo muito embolado e uma enorme ferida, escondida debaixo de uma crosta dura e suja.
Era noite e não havia muito o que fazer naquele momento. Já imaginando uma possível miíase, decidimos dar a ela medicação indicada para o controle de larvas. Se houvesse bichos ali, a medicação lhe garantiria uma noite menos agitada.
Ela estava assustada demais e mostrava a todo o tempo que queria ir embora. Talvez tivesse a esperança de encontrar quem a abandonou.
A ferida não estava em um só lugar. Começava nas costas e chegava à perna. A hipótese era de um provável atropelamento.
Levamos algum tempo e muitos afagos para convencê-la a ficar. Tivemos que prometer a ela uma vida diferente.
Ela parecia ter entendido e aceitou a amizade que lhe oferecíamos.
Para uma primeira noite, uma caminha improvisada em uma caixa de papelão (maior que a primeira, é claro) foi o que conseguimos de melhor pra ela.
Não era nenhum luxo, mas mesmo assim a Bianca parecia bem acomodada.
No dia seguinte, com a luz do dia, pudemos finalmente conhecer melhor nossa mais nova amiga. Seus olhos espressavam uma tristeza poucas vezes vista.
Debaixo daquele pelo sujo e embolado, uma infestação de carrapatos lhe tirava a vontade de brincar, de comer ou de interagir. Sua única preocupação era se coçar.
Quando partimos para a clínica, na manhã do dia seguinte, ela me olhou, como se esperasse um acalanto, ou a promessa de que tudo ficaria bem. Promessa feita.
No dia seguinte, ao visita-la na clínica, assim encontramos nossa menina. Ela parecia não acreditar que aquilo estivesse acontecendo.
Apesar de todos os cuidados recebidos, a clínica não era nada do que ela esperava. Banhos e agulhas não eram exatamente o que ela entendia por “vai ficar tudo bem”. Aquela jaulinha e o colar no pescoço caiam como traição.
Foi retirada da gaiola e precisou de algum tempo pra aceitar meus afagos, que talvez tenham chegado como um pedido de desculpas. Os lobos vivem apenas o presente e não conseguem perceber que alguns desconfortos são apenas um processo.
A tosa revelou uma grave dermatite, provavelmente provocada pela sujeita e umidade no pelo embolado.
Por sorte, nenhuma ferida aberta e nenhuma larva sequer. Antibióticos e anti-inflamatírios trariam o alívio de que precisava.
Dias depois, a Bianca estava melhor. As feridas já estavam secando, ela fez uma bateria de exames, que constataram estar a menina em ótima forma. Foi castrada e iniciou a vacinação.
Ainda estava bem magoada comigo, mas sabíamos que tudo isso ficaria no passado. Assim que tivesse alta médica, ela passaria uma temporada em nossa casa e aí teríamos a oportunidade de dar a ela a nova vida que prometemos.
Bianca vai precisar também de novos donos, o que faz parte da promessa que fizemos, de escolher pra ela os melhores.
Já somos amigos, apesar da decepção inicial.
Na segunda-feira, dia 30/11, ela teve alta médica e veio para nosso território.
Finalmente, pudemos apagar o desconforto dos primeiros momentos e descobrir o que havia por baixo daquele pelo embolado.
Ela chegou por aqui um pouco assustada, até mesmo pela quantidade de cães desconhecidos. Refugiou-se debaixo do carro e ficou por ali, como se tentasse avaliar o território.
Foram apenas alguns poucos minutos pra ela perceber que aquele território não oferecia perigo. E o que descobrimos foi uma cadelinha agitada, muito sociável, que adora brincar com outros cães.
Até a Aninha, uma hóspede permanente que temos aqui, e que costuma ser meio desconfiada, se rendeu aos encantos da Bianca.
A Bianca está, finalmente, pronta para adoção. Está castrada, com todos os exames em dia e já iniciou a vacinação (óctupla e leishtec). É uma cadelinha que precisa de companhia e convívio estreito com os donos, dentro de casa. Não será doada para ficar em terreiro ou canil.
Precisa também de donos que se comprometam a dar sequência ao padrão de vacinação já iniciado.
Bianca é uma cadelinha da paz. É incapaz de qualquer gesto agressivo, seja com pessoas ou com outros cães, nem mesmo pra defender a comida.
Por isso, é muito bem indicada para companhia de crianças pequenas. Ela saberá dividir os biscoitos e brinquedos sem qualquer perigo. Tem energia demais e é muito agitada.
Em um dos nossos passeios livres, ela se soltou e deixou Hanna de língua de fora. Não parava um só minuto.
Tornou-se a melhor amiga da Hanna e, juntas, viveram algumas aventuras.
As brincadeiras são constantes e as bagunças também.
Na sequência abaixo, ela estava conhecendo, pela primeira vez, uma manada de cavalos selvagens que vaga por um território mais ao leste. Na maior parte das vezes, eles não são vistos, pois costumam pastar muito longe das telas que dividem o pasto do território permitido aos lobos.
Com a Hanna, aprendeu a nadar e, claro, uma forma alternativa de se secar e não precisar de banho.
A correria na terra vermelha, logo depois do mergulho, faz parte do ritual deles.
Claro que a tentativa de escaparem do banho nunca dá certo.
Bianca é uma das cadelinhas mais alegres que já passaram por aqui. Estava triste demais no dia do resgate e, segundo quem a encontrou, chorava muito.
Hoje é outra menina.
Na sequência abaixo, experimentando novos sabores. Bianca é o verdadeiro “cão chupando manga”.
Alguns dias depois da chegada da Bianca, recebíamos mais uma criatura, uma filhotinha de apenas 3 meses e cheia de vida e energia. Imaginamos que um filhote arteiro poderia ser um bom passatempo para a Bianca.
E acertamos. Ela adotou a pequena Julia. Brincavam sem parar e sem cansar. Na verdade, a Julinha às vezes se cansava.
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