Este é o Bidu. Foi avistado caminhando cabisbaixo por uma avenida, dorso encurvado, demonstrando sentir muita dor.

Assim que nos aproximamos, ele abaixou a cabeça, aceitando os afagos. Deixou-se capturar muito fácil.

Assim que o pegamos, o mau cheiro indicava algum problema grave. Uma crosta preta nas costas, de sujeira e pelo endurecido, de onde emanava o forte cheiro, indicava onde estava o problema. Em volta da ferida, muitos ovos de mosca, prestes a eclodir.

Isso nos levou a acreditar que, por baixo daquela crosta dura, havia uma bem criada bicheira.

Foi levado a uma clínica veterinária, onde recebeu os primeiros cuidados. A primeira providência seria um banho, para a limpeza da ferida, permitindo-se ver a extensão do problema. Quando o deixamos na clínica, ele nos olhou com olhos de profunda tristeza.

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Assim que a ferida foi deixada à mostra, pudemos ver o que de fato havia acontecido. Nenhum bicho ainda. A crosta preta era sangue seco misturado com sujeira, mas, bichos, não havia nenhum. Os ovos já estavam postos, porém ainda não haviam eclodido. Mais um dia e o estrago estaria iniciado.

Mas a notícia não era totalmente boa. Tratava-se de um corte reto e profundo, de aproximadamente 5 centímetros, indicando que o Bidu fora vítima de uma facada.

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O tempo resolve tudo, mas também expõe os absurdos da insanidade humana. Os primeiros exames de saúde foram ótimos. Fisicamente, o Bidu estava em ótima forma, com hemograma perfeito e exame negativo para Leishmaniose.

Seu estado geral era bom. Mesmo com o pelo longo, não estava muito sujo nem embolado. Em razão do frio, preferimos evitar a tosa. Um bom banho e escovação foram suficientes para deixá-lo no ponto.

A ferida nas costas também estava cicatrizando muito rápido. Ficaria uma cicatriz, mas que não chegaria sequer a ficar visível, em razão do pelo longo.

Tudo caminhava para um rápido final feliz. Mas o tempo nos revelou coisa muito pior que a ferida externa. O comportamento do Bidu indicava que ele tinha vivido, até aquele momento, sendo agredido permanentemente pelos donos. Não conhecia carinho e não confiava em humanos. Não sabia o que era colo.

Poucas vezes resgatamos um cãozinho tão triste. Ainda não tínhamos visto a cor de sua língua, já que até aquele dia não havia esboçado um único sorriso.

Aceitava carinho, mas se aproximava com muito medo, de cabeça baixa e o rabinho entre as pernas, como se esperasse uma agressão.

Só mesmo com conversa doce, chamando baixinho e acariciando, ele começava a se soltar e buscar a companhia humana. Mostrava-se sociável com outros cães. Naqueles de sua espécie, ele sabia que podia confiar.

Por tudo isso, precisávamos encontrar alguém muito especial, que se dispusesse a fazê-lo esquecer o passado.

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Assim que teve alta médica, fomos buscar o Bidu para passar uns dias conosco. Ele teria como companhia a matilha do Projeto O LOBO ALFA, animais treinados para ajudar na socialização de cães abandonados.

No dia anterior, chamamos nossa turma e explicamos a elas que receberíamos o Bidu. Dissemos que queríamos recepção calorosa e comportamento exemplar. Elas nos olharam como se estivessem entendendo tudo. Na verdade, elas demonstram mesmo saber quando estamos prestes a trazer um novo lobinho para a matilha.

No dia seguinte, bem cedo, estávamos na clínica para receber o Bidu. Esperávamos receber o mesmo cãozinho arredio que deixamos lá, uma semana antes. Mas, ao contrário, encontramos um lobinho abanando o rabinho e batendo a patinha, nos chamando pra brincar.

Assim que chegou em casa, recebeu as boas-vindas de humanos e lobos. Sua ferida nas costas já estava curada.

Assim que chegou, cuidou de explorar o ambiente e, claro, marcar o território. Afinal, alguns pontos traziam ainda marcas de certo lobinho de 3 pernas que passou por aqui algumas semanas antes.

O Bidu que chegou em nossa casa já não era mais o cãozinho arredio que foi resgatado. Já dava sinais de alegria e espontaneidade. Conheceu a Hanna, a Estopa, Pintada e Mariana.

A recepção até que foi calorosa, mas o comportamento passou longe do exemplar.  Pior foi que a bagunça teve como cabeça exatamente aquela que deveria dar o exemplo.

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Sem que nós, humanos, fôssemos sequer comunicados, as meninas decidiram dar uma festa pra receber o Bidu. Festa de lobos felizes e equilibrados é com bagunça, correria, latição e coisas do gênero.

Na verdade, eles sabem melhor do que nós como socializar outros lobos. Sabem receber e mostrar, ao modo deles, que os novatos são bem-vindos. Por isso, preferimos não interferir muito e deixar que a natureza se encarregasse.

O resultado foi uma bela confusão, com muita correria e latidos, na qual o Bidu logo quis entrar.

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Em minutos, o Bidu já era parte de nossa matilha. Estava feliz e equilibrado.

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De todo o grupo, ele logo elegeu aquela que seria a sua musa. Encantou-se pela Mari e não saía de perto dela.

Ficava surpreso com as brincadeiras da Estopa e da Hanna, que mais pareciam filhotes recém-desmamados. Também se mostrava disposto a latir na porta da rua.

Passou a noite com a turma, na suíte dos lobos. Estava mesmo feliz.

No dia seguinte, bem cedo, reunimos a turma e contamos a eles que o Bidu estava de partida. Sua nova dona viria buscá-lo. E eles pareciam entender. Pintada e Mariana se aproximaram dele, num gesto de despedida, como se dissessem.

__Seja feliz, amigo, em sua nova casa. Que sejam donos especiais. Sentiremos saudade.

O Bidu parecia retribuir. Não estava apreensivo. Talvez não soubesse o que estava pra acontecer, mas talvez soubesse e era exatamente por isso que estava feliz. Acreditamos que adoções assim não são ocasionais. São conduzidas. Talvez um encontro ou um reencontro de almas estivesse pra acontecer.

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Mas a hora da despedida estava próxima. Algumas horas mais tarde, recebíamos em nossa casa uma turma pra lá de especial. Milena se sensibilizou com a história de vida do Bidu e decidiu adotá-lo. Talvez o tenha reconhecido, talvez tenha sido escolhida pra ele. Só o tempo nos trará as respostas.

Com ela, estava a Jucélia, também apaixonada por cães, a quem cabe a missão de cuidar da matilha. Além das duas mães, os lobinhos Fluppy e Puppy.

Fluppy e Bidu se entenderam de imediato. Passaram a explorar o ambiente, disputando a posição de macho dominante. O Fluppy cuidou de marcar o território, exatamente no mesmo lugar onde já havia uma marca do Bidu.

Desaforo se paga com desaforo. O Bidu não deixou por menos. A linguagem é muito clara: ___Neste território, eu sou o macho alfa. Minha marca fica por cima.

A Puppy é uma cadelinha York muito carinhosa e apegada aos donos. Aproximava-se da Milena e da Jucélia, reivindicando atenção, como se tentasse impedir que dessem atenção ao Bidu. Chegava mesmo a mordiscar a roupa da Milena, pra reivindicar colo. Claro que ela ganhava o que pedia. Afinal, lobos são mesmo manipuladores.

Assim que percebeu que não perderia o colo, relaxou e foi cheirar a grama, com o Bidu e o Fluppy.

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O fato é que o Bidu aprovou seus novos amigos e foi também aprovado por eles. Chegou até a mostrar ao Fluppy como é latir na porta da rua, coisa que ele aprendeu a fazer em apenas dois dias.

Assim que a nova matilha já estava socializada, foi a vez de chamar Hanna e Estopa, pra que conhecessem os novos amigos do Bidu. Pintada e Mariana foram poupadas porque a Puppy estava um pouco insegura e poderia se assustar com cães maiores. Melhor não forçar muito.

No final daquela visita, uma sessão de fotos com toda a família, pra coroar o final feliz que esperávamos poder proporcionar ao Bidu. Ele nasceu no dia de seu resgate. O passado não faz mais parte de sua vida, nem mesmo de suas lembranças.

Dois dias depois, recebíamos as primeiras fotos do Bidu, conforme prometidas pela Milena.

O Bidu foi atendido na Veterinária Amigo Fiel, onde tomou as primeiras vacinas, foi castrado e fez o tratamento dos ferimentos. Deixamos na clínica um cãozinho assustado e arredio e recebemos de volta um cachorrinho alegre, abanando o rabo e batendo a patinha, nos chamando pra brincar.

E, para agradecer à Dra. Telma e sua equipe, o tratamento 5 estrelas que foi dispensado ao Bidu, nada melhor que o mais largo dos sorrisos. Era este o sorriso que esperávamos poder registrar.

Mas a história do Bidu não acabou. Ao contrário, está apenas começando. Ficamos imaginando porque a vida permitiu que ele passasse por tudo aquilo. Não seria mais fácil se ele tivesse sido adotado pela Milena, enquanto ainda era um filhote?

Nós do Projeto O LOBO ALFA acreditamos que o mundo está mudando e que histórias como a do Bidu, do Pingo, das Chiquinhas e tantas outras precisam ser propagadas, para sensibilizar as pessoas e provocar a transformação que precisa ocorrer também dentro delas.

No caso do Bidu, sua história de fato causou comoção. Foi o recorde de acessos em nosso site. Por isso mesmo, o Bidu conquistou muitos e muitos pretendentes. Recebemos inúmeras mensagens de pessoas que se sensibilizaram com sua história, declarando o desejo de recebê-lo e ajudá-lo a esquecer o passado. Os pretendentes vieram de vários lugares. Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Bahia, Rio Grande do Norte, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul e até mesmo de Portugal.

Ele não precisava passar pelo estresse de uma viagem longa. Afinal, muitos pretendentes surgiram aqui mesmo em Belo Horizonte.

Entretanto, precisamos acreditar que tudo o que ele passou não foi em vão. Gostaríamos de convidar cada pretendente, cada um que se sensibilizou e que teve o desejo de adotá-lo, que adote outro cãozinho, aí mesmo em sua cidade. Existem animais tão especiais e tão sofridos quanto o Bidu, espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Feito isso, pedimos que nos enviem as fotos do novo amigo, contando como foi a adoção e a história dele. Gostaríamos de completar esta matéria, contando a história de pelo menos alguns dos lobinhos que ganharam uma segunda chance em função da história do Bidu. Só assim teremos a certeza de que o sofrimento dele não foi em vão.

Só assim saberemos que estamos no caminho certo, que as histórias têm a força que acreditamos e que o Bidu, além de conquistar uma mãe especial, ajudou a salvar outros de sua espécie.

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Pessoas que se sensibilizaram com a história do Bidu, ou que se candidataram à sua adoção, nos enviaram presentes. Decidiram dar uma segunda chance a outros cãezinhos tão necessitados e carentes quanto o Bidu, e com histórias tão sofridas quanto.

O primeiro a ganhar uma segunda chance foi o Billy, um Poodle de 8 anos, resgatado por protetores que atuam na cidade de Vitória. A Michelle foi uma das candidatas à adoção do Bidu.

Por acaso, ela é irmã da Milena e, por isso, nas férias, quando a matilha de Belo Horizonte for passear em Vitória, teremos a oportunidade de ver fotos do encontro entre o Bidu e o Billy.

Outro que mereceu uma segunda chance foi o Léo, um cãozinho que teve dois dedos arrancados com alicate. Havia meses que ele estava vivendo em um abrigo (Cão Viver) aqui em Belo Horizonte.

Já havíamos feito outros apelos pela adoção dele, mas ninguém se interessou. Então, alguém que viu a história do Bidu decidiu adotar outro cãozinho e decidiu procurar em nosso site. Encontrou o Léo e se encantou por ele.

Só podemos agradecer a cada adotante. Sabemos que são pessoas que não estavam pensando em adoção, mas decidiram salvar uma vida por terem sido tocados por uma de nossas histórias.

Foi mesmo com este propósito que nasceu nosso Projeto. Esperamos que Billy e Léo sejam os primeiros de muitos. Temos agora a certeza de que tudo o que o Bidu viveu não foi em vão. Mesmo sem saber e contra a sua vontade, ele ajudará a salvar outras vidas.

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