Não há tristeza maior que encontrar um cãozinho como o Bilico, naquele estado, jogado na rua pra se virar sozinho, como se isso fosse possível.
Nem precisaríamos de especialistas pra saber o que aquele corpinho escondia. Os sintomas da leishmaniose estavam todos ali.
E ele parecia tentar escondê-los, como se soubesse que esse pequeno detalhe pudesse selar seu destino. E ele tinha razão: Possivelmente, foi este pequeno detalhe que o jogou na rua.
Quando fui em sua direção, ele ameaçou fugir. Pedi ajuda a um rapaz que passava empurrando uma bicicleta, que se dispôs a ajudar, cercando-o com a bicicleta para que não corresse.
Assim que me aproximei, ele se abaixou em total submissão, como se aceitasse o que a vida lhe mandasse. Ficou tenso e quieto, mas permitiu que eu o pegasse, sem esboçar qualquer sinal de agressividade.
Chegou em nossa casa muito assustado, com o rabinho entre as pernas.
Ficou por aqui apenas o tempo necessário para beber um pouco de água e seguimos para o veterinário. E, diante do veterinário, mais uma vez lá estava ele, travado, sem esboçar reação.
Quando voltamos da clínica, tentei improvisar pra ele um cantinho bem aconchegante.
Ele examinou, mas não se mostrou muito feliz. Não sabemos como era o cantinho dele, mas sabemos que ele é um cachorrinho que veio ao mundo pra dividir a cama com os donos.
Sabíamos que o que podíamos oferecer era pouco pra ele, mas também sabíamos que essa nova realidade era temporária. Esperávamos que, em breve, ele pudesse partir no colo de uma mãe muito especial, com direito a cama e muito cafuné na hora de dormir.
Quando os resultados dos exames saíram, os médicos vieram cheios de dedos, pra nos dizer que ele era positivo para leishmaniose. Claro que isso não faria nenhuma diferença.
Sem desmerecer os exames laboratoriais, o resultado não foi exatamente uma surpresa. No momento em que o encontramos, já sabíamos que teríamos uma luta pela frente.
Três ou quatro dias depois, Bilico já parecia mais conformado com a mudança de vida.
Ainda percorria a grade da varanda, feito um urso enjaulado, deixando claro que queria voltar pra casa, mesmo que a antiga casa não fosse pra ele tão acolhedora quanto a nossa.
Mas esses anjos têm missões especiais e se conformam muito fácil com o pouco que podemos oferecer.
O tempo passou e ele começava a sinalizar que poderia esquecer o passado.
A primeira vez que Bilico se aproximou e se acomodou no meu colo, foi motivo de comemoração. Ali eu tive a certeza de que nos tornaríamos grandes amigos.
E tive a sorte de estar com a câmera nas mãos, pois tentava obter boas fotos dele.
A adaptação com nossa matilha foi imediata. Hanna, Duda, Estopa, Pintada e Aninha. Até mesmo com a Alice ele fez grande amizade.
Da Alice ele teve que se despedir, pois ela estava em final de preparação e foi doada alguns dias depois de sua chegada.
Os momentos de descontração na varanda foram também importantes pra ele esquecer o passado e entender que tinha uma nova realidade.
Infelizmente, essa nova realidade estava longe da que ele merecia. Não temos como levar para nossa cama todos os lobinhos que passam por aqui.
Mas o Bilico é um carinha da paz e saberá esperar. Sabíamos que algo muito especial o aguardava.
O pelo de suas costas já começava a nascer e esconder a dermatite.
Esperávamos que em breve ele se tornasse um cachorrinho esperto, que corresse e brincasse como um filhote cheio de vida. Mas, talvez não tenhamos essa alegria.
É que o Bilico já está com os seus 5 anos, conforme estimativa do veterinário. Não é um cãozinho jovem e já não tem mais a mesma energia.
De qualquer forma, o tempo revelaria o que já sabíamos: Bilico era um cachorrinho de colo. Se deixasse, ele passava o dia no colo, sob os protestos da Duda.
E o sujeitinho era mesmo folgado. Chegava a dormir durante os cafunés.
Banho não era o que ele mais gostava, mas até que se comportava muito bem. Na hora de se secar, buscava se esfregar nas nossas roupas.
As toalhas eram macias, mas tudo pra ele era motivo pra procurar um colo.
Ele precisou de banhos semanais, por causa da dermatite, e aprendeu muito rápido a se secar sozinho.
O tempo passa e Bilico apresentava melhoras. Respondeu bem às vitaminas e já se mostrava bem mais animado.
Em uma manhã de sábado, decidimos dar ao garoto momentos de descontração. Ele merecia um passeio típico dos lobos, sem coleira, livre como um dia foram seus antepassados.
Sabemos o quanto esses momentos ajudam na recuperação de um lobinho.
E o menino nos surpreendeu. Ele sabia correr. O cansaço bateu, é claro, mas ele nos mostrou naquele dia que ainda poderia voltar a brincar.
Tivemos que ficar atentos a ele. O menino parecia disposto a explorar e poderia ir longe. Com apenas 4 quilos, tínhamos receio de que se machucasse ou fosse confundido com presa natural de algum possível predador.
Aquele passeio serviu também para testarmos se ele já reconhecia o próprio nome. Quando se afastava muito, chamávamos por ele, que prontamente atendia, chegando com o rabinho balançando, fazendo a maior festa.
Correu uma manhã inteira, como não imaginávamos que ele pudesse correr. Teve energia pra acompanhar a Hanna.
Ver suas orelhinhas levantando durante as corridas foi algo especial.
Nem todas as artes ele ficou à vontade pra acompanhar. Hanna e Duda não aprenderam a nadar da noite pro dia.
Este foi apenas o primeiro passeio. Outros virão e, em breve, teremos um lobinho quase selvagem pra mostrar.
Bilico é um cãozinho muito bonzinho. Conhecemos poucos como ele. Parece ser um mesticinho de York com Poodle.
O primeiro diagnóstico de leishmaniose se confirmou. Mas isso não fez nenhuma diferença. Ele teve o melhor tratamento e se recuperou totalmente. Em poucas semanas ele já estava saudável e pronto para conhecer um novo estilo de vida.
Lobinhos como ele estão muito adiantados no processo evolutivo e precisam de convivência estreita com a família, dentro de casa.
Essa proximidade é que permitirá a ele entender a linguagem humana e chegar ao final deste ciclo, quase falando.
Na hora de encerrar o passeio e voltar pra casa, ele não estava feliz.
_Não fique triste, amigo. Voltaremos mais vezes.
O passeio ajuda, mas o tempo também é um santo remédio. Ele é ainda menor que nossa mirradinha Estopa. Os dois deram-se bem.
Ele também apreciava muito os momentos de descontração na varanda, quando podia latir pra tudo que se movesse do lado de fora das grades.
O menino parecia feliz, embora soubéssemos que a caminha que podíamos oferecer era pouco pra ele. Bilico era um cachorrinho pra viver dentro de casa, dormindo no quarto dos donos.
Da Pintada, ele se tornou um grande companheiro. Ela com 30 quilos e ele com apenas 4, mas como tamanho não é documento, eles tornaram-se melhores amigos.
Busca a companhia dela, como forma de se livrar das brincadeiras estabanadas da Bianca, que chegou por aqui depois dele e que já está fazendo história.
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