Não há tristeza maior que encontrar um cãozinho como o Bilico, naquele estado, jogado na rua pra se virar sozinho, como se isso fosse possível.

Nem precisaríamos de especialistas pra saber o que aquele corpinho escondia. Os sintomas da leishmaniose estavam todos ali.

E ele parecia tentar escondê-los, como se soubesse que esse pequeno detalhe pudesse selar seu destino. E ele tinha razão: Possivelmente, foi este pequeno detalhe que o jogou na rua.

Bilico 1

Quando fui em sua direção, ele ameaçou fugir. Pedi ajuda a um rapaz que passava empurrando uma bicicleta, que se dispôs a ajudar, cercando-o com a bicicleta para que não corresse.

Assim que me aproximei, ele se abaixou em total submissão, como se aceitasse o que a vida lhe mandasse. Ficou tenso e quieto, mas permitiu que eu o pegasse, sem esboçar qualquer sinal de agressividade.

Chegou em nossa casa muito assustado, com o rabinho entre as pernas.

Bilico 2

Ficou por aqui apenas o tempo necessário para beber um pouco de água e seguimos para o veterinário. E, diante do veterinário, mais uma vez lá estava ele, travado, sem esboçar reação.

Quando voltamos da clínica, tentei improvisar pra ele um cantinho bem aconchegante.

Ele examinou, mas não se mostrou muito feliz. Não sabemos como era o cantinho dele, mas sabemos que ele é um cachorrinho que veio ao mundo pra dividir a cama com os donos.

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Sabíamos que o que podíamos oferecer era pouco pra ele, mas também sabíamos que essa nova realidade era temporária. Esperávamos que, em breve, ele pudesse partir no colo de uma mãe muito especial, com direito a cama e muito cafuné na hora de dormir.

Bilico 4

Quando os resultados dos exames saíram, os médicos vieram cheios de dedos, pra nos dizer que ele era positivo para leishmaniose. Claro que isso não faria nenhuma diferença.

Sem desmerecer os exames laboratoriais, o resultado não foi exatamente uma surpresa. No momento em que o encontramos, já sabíamos que teríamos uma luta pela frente.

Bilico 5

Três ou quatro dias depois, Bilico já parecia mais conformado com a mudança de vida.

Ainda percorria a grade da varanda, feito um urso enjaulado, deixando claro que queria voltar pra casa, mesmo que a antiga casa não fosse pra ele tão acolhedora quanto a nossa.

Mas esses anjos têm missões especiais e se conformam muito fácil com o pouco que podemos oferecer.

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O tempo passou e ele começava a sinalizar que poderia esquecer o passado.

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A primeira vez que Bilico se aproximou e se acomodou no meu colo, foi motivo de comemoração. Ali eu tive a certeza de que nos tornaríamos grandes amigos.

E tive a sorte de estar com a câmera nas mãos, pois tentava obter boas fotos dele.

Bilico 8

A adaptação com nossa matilha foi imediata. Hanna, Duda, Estopa, Pintada e Aninha. Até mesmo com a Alice ele fez grande amizade.

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Da Alice ele teve que se despedir, pois ela estava em final de preparação e foi doada alguns dias depois de sua chegada.

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Os momentos de descontração na varanda foram também importantes pra ele esquecer o passado e entender que tinha uma nova realidade.

Infelizmente, essa nova realidade estava longe da que ele merecia. Não temos como levar para nossa cama todos os lobinhos que passam por aqui.

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Mas o Bilico é um carinha da paz e saberá esperar. Sabíamos que algo muito especial o aguardava.

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O pelo de suas costas já começava a nascer e esconder a dermatite.

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Esperávamos que em breve ele se tornasse um cachorrinho esperto, que corresse e brincasse como um filhote cheio de vida. Mas, talvez não tenhamos essa alegria.

É que o Bilico já está com os seus 5 anos, conforme estimativa do veterinário. Não é um cãozinho jovem e já não tem mais a mesma energia.

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De qualquer forma, o tempo revelaria o que já sabíamos: Bilico era um cachorrinho de colo. Se deixasse, ele passava o dia no colo, sob os protestos da Duda.

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E o sujeitinho era mesmo folgado. Chegava a dormir durante os cafunés.

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Banho não era o que ele mais gostava, mas até que se comportava muito bem. Na hora de se secar, buscava se esfregar nas nossas roupas.

Bilico 17

As toalhas eram macias, mas tudo pra ele era motivo pra procurar um colo.

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Ele precisou de banhos semanais, por causa da dermatite, e aprendeu muito rápido a se secar sozinho.

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O tempo passa e Bilico apresentava melhoras. Respondeu bem às vitaminas e já se mostrava bem mais animado.

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Em uma manhã de sábado, decidimos dar ao garoto momentos de descontração. Ele merecia um passeio típico dos lobos, sem coleira, livre como um dia foram seus antepassados.

Sabemos o quanto esses momentos ajudam na recuperação de um lobinho.

Bilico 22

E o menino nos surpreendeu. Ele sabia correr. O cansaço bateu, é claro, mas ele nos mostrou naquele dia que ainda poderia voltar a brincar.

Bilico 23

Tivemos que ficar atentos a ele. O menino parecia disposto a explorar e poderia ir longe. Com apenas 4 quilos, tínhamos receio de que se machucasse ou fosse confundido com presa natural de algum possível predador.

Aquele passeio serviu também para testarmos se ele já reconhecia o próprio nome. Quando se afastava muito, chamávamos por ele, que prontamente atendia, chegando com o rabinho balançando, fazendo a maior festa.

Bilico 24

Correu uma manhã inteira, como não imaginávamos que ele pudesse correr. Teve energia pra acompanhar a Hanna.

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Ver suas orelhinhas levantando durante as corridas foi algo especial.

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Nem todas as artes ele ficou à vontade pra acompanhar. Hanna e Duda não aprenderam a nadar da noite pro dia.

Este foi apenas o primeiro passeio. Outros virão e, em breve, teremos um lobinho quase selvagem pra mostrar.

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Bilico é um cãozinho muito bonzinho. Conhecemos poucos como ele. Parece ser um mesticinho de York com Poodle.

O primeiro diagnóstico de leishmaniose se confirmou. Mas isso não fez nenhuma diferença. Ele teve o melhor tratamento e se recuperou totalmente. Em poucas semanas ele já estava saudável e pronto para conhecer um novo estilo de vida.

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Lobinhos como ele estão muito adiantados no processo evolutivo e precisam de convivência estreita com a família, dentro de casa.

Essa proximidade é que permitirá a ele entender a linguagem humana e chegar ao final deste ciclo, quase falando.

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Na hora de encerrar o passeio e voltar pra casa, ele não estava feliz.

_Não fique triste, amigo. Voltaremos mais vezes.

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O passeio ajuda, mas o tempo também é um santo remédio. Ele é ainda menor que nossa mirradinha Estopa. Os dois deram-se bem.

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Ele também apreciava muito os momentos de descontração na varanda, quando podia latir pra tudo que se movesse do lado de fora das grades.

O menino parecia feliz, embora soubéssemos que a caminha que podíamos oferecer era pouco pra ele. Bilico era um cachorrinho pra viver dentro de casa, dormindo no quarto dos donos.

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Da Pintada, ele se tornou um grande companheiro. Ela com 30 quilos e ele com apenas 4, mas como tamanho não é documento, eles tornaram-se melhores amigos.

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Busca a companhia dela, como forma de se livrar das brincadeiras estabanadas da Bianca, que chegou por aqui depois dele e que já está fazendo história.

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A dermatite não desapareceu por completo, mas já temos um lobinho pra lá de especial pra mostrar. Bilico é um espetáculo de cãozinho.

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E tem mais aventuras pra mostrar.

Todo cãozinho, mesmo que tenha nascido e evoluído pra ficar no colo, precisa experimentar momentos de vida livre. Pra eles, essa volta ao passado, revivendo experiências que não tiveram mas que ainda trazem enraizadas no DNA, tem resultados terapêuticos.

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O Bilico não tem resistência para longas caminhadas. Cansa-se muito depressa, mas mesmo assim, não aceita o colo. Faz questão de correr e correr, até não aguentar mais, e depois ainda corre mais um pouco.

Ele estava doente, mas notamos que estes momentos especiais ajudam na recuperação deles.

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Por isso, enquanto esteve por aqui, fez parte de nossa matilha e viveu as delícias da vida de um cachorrinho estimado.

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Bilico, mesmo não sendo mais nenhum filhote, ainda sabe brincar.

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Precisa de donos dispostos a permitirem que ele viva, ainda que tardiamente, a infância que ainda não teve.

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Não é possessivo em relação à ração, mas ninguém toca na bola dele. É bom explicar que ele a defende, mas sem nenhuma agressividade.

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E a prova está aí. Depois do futebol, ele gosta de descansar no colo.

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Vivemos juntos muitas aventuras, até que chegou o dia dele partir, deixando por aqui muita saudade e a certeza do dever cumprido. Outros virão, igualmente carentes e necessitados de afeto.

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Nossa última tarefa seria escolher pra ele os melhores donos do mundo. É só isso, pequeno, o que queremos pra você. Claro que sentiremos saudade e sabemos que, pra você, será mais um abandono.

Mas assim é a vida.

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Tínhamos um belo lobinho pra oferecer, mas seria uma adoção especial. Não esperávamos que ele tivesse uma fila de pretendentes. Mas nenhum cachorro precisa de uma fila de pretendentes. Bilico precisaria de apenas um, mas que valesse muito.

Por mais que tenhamos feito por ele desde o resgate, ele passaria em nossa casa apenas alguns meses, suficientes apenas para se recuperar e terminar o tratamento.

Já na casa do adotante, ele passará o resto de vida que ainda tem. Se esta escolha não for acertada, nada do que fizemos por ele terá valido. Essa consciência, cada adotante precisa ter. Adoção é compromisso e responsabilidade, e fazemos questão de enfatizar isso.

No caso do Bilico, as expectativas eram as melhores. A mensagem que recebemos da Isabel dizia que queria receber o nosso pequeno lobinho prateado, que em sua casa já tinha outro cãozinho do tamanho dele e dois gatos. Explicou também que ele teria livre acesso dentro de casa, e que dormiria no quarto dela.

E foi assim que ele partiu, em uma tarde de sábado, levando na mala uma caixa do remédio que ele precisará tomar pelo resto da vida, um protocolo de vacinação apenas iniciado e o pre-agendamento de alguns exames.

Encontrou na nova casa um lobinho muito esperto e brincalhão, do mesmo tamanho dele, chamado Ninhon.

Bilico adotado 1

O Bilico sempore foi sociável com outros cães, mas o que ele gostava mesmo era de companhia humana, mais precisamente de colo. E neste caso, ele terá uma mãe em tempo integral.

Bilico adotado 2

Começou o dia se acomodando no sofá, bem ao lado do colo que logo será dele.

Bilico adotado 3

Foi vigiado bem de perto pelo novo irmãozinho, que fazia de tudo pra chamar o Bilico pra brincar.

O Ninhon foi bem educado e sabe como receber um amigo em casa. Neste caso, é mais que um amigo. Eles serão irmãos, para sempre.

Bilico adotado 4

Não demorou muito para ele relaxar e abrir um sorriso.

Bilico adotado 5

O empenho do Ninhon para que Bilico se sentisse em casa foi grande.

Sabemos que, para um cão adulto, cada mudança de casa é um abandono. É certo que ele se sentirá, novamente, abandonado, dessa vez por seus protetores. Mas o carinho que receberá na nova casa e a dedicação quase integral da Isabel farão com que ele esqueça rápido e sinta que a mudança foi pra melhor.

Vamos sentir saudades, é claro, como sempre. Toda despedida é triste, mas temos que pensar no melhor pra ele, e também para os próximos que virão.

Bilico adotado 6

Ele ainda estava se acostumando com o colo quando surge uma nova criança, detrás de um armário.

Sofia é o nome da gatinha amarela. Ela chegou ressabiada e curiosa. O Bilico, por sua vez, sentindo a presença de uma linda gatinha, decidiu se apresentar.

Não se aproximaram totalmente. Ficaram se olhando de longe, como se perguntassem: _Ei! Quem é você?

Bilico adotado 7

E como se quisesse se antecipar e responder à pérgunta que nem era pra ele, o Ninhon correu ao encontro da Sofia e pulou sobre ela, fazendo festa.

Ele queria mostrar ao Bilico que os gatos ali são amigos, e que a vida é uma festa, todos os dias.

Bilico adotado 8

E foi assim que este pequeno lobinho prateado cruzou nosso caminho. Chegou e partiu, tão rápido que quase não conseguimos desfrutar de tão especial companhia.

Mas ele está agora no lugar que deveria. Nossa casa foi pra ele apenas um capítulo. Capítulo importante, é claro, mas apenas um capítulo.

A vida te espera, amigo.

Bilico adotado 9

A você, Isabel, nosso muito obrigado pela acolhida do pequeno Bilico.

Por favor, faça dele um cãozinho feliz. Ele é um lobinho em avançado estágio evolutivo. Precisa de convício estreito com os donos, e de muito afeto. Só assim ele cumprirá a etapa para a qual veio ao mundo.

Está em suas mãos a responsabilidade de fazer com que o resgate do Bilico tenha, de fato, transformado a vida dele.

Bilico

OLA FVS

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