Esta cadelinha, extremamente dócil e carinhosa, foi abandonada prenha, no bairro Castelo, já nos dias de parir.

Guiada por seus instintos, buscou refúgio em um lote vago, onde poderia cavar uma toca que servisse de abrigo para os pequenos.

Embora domesticados e totalmente dependentes de humanos, os cães ainda trazem alguns instintos da vida livre. Em filmes é possível ver a diferença entre uma toca cavada por uma matilha de lobos selvagens e os precários buracos preparados por uma cadela em desespero, buscando amparar sua cria.

No primeiro caso, as tocas mais parecem cavernas. Os locais são escolhidos levando-se em consideração a posição do sol, dos ventos e até da topografia do terreno, pra evitar alagamentos.

Já entre os cães, só a vontade de amparar a cria é semelhante. Os buracos escavados por cadelinhas prenhas são precários, rasos, sem a mínima condição de habitação, normalmente na parte mais baixa do terreno, local propenso a alagamentos.

Não sem motivo, raros são os filhotes que sobrevivem, se não forem amparados e protegidos por humanos.

A Bonitinha, como vem sendo chamada, aprendeu rápido como pedir carinho e comida em alguns prédios próximos de seu “esconderijo”. Por sorte, encontrou quem a alimentasse, o que não surpreende, já que, no caso dela, com essa carinha de pidona, seria fácil conseguir ajuda.

Mais que alimento e água, de tão carinhosa e carente, conseguiu ajuda pra construir um “palácio”. (Palácio, se comparado com o buraco que ela saberia escavar).

Este é o abrigo preparado com a ajuda humana, e onde seus filhotinhos viriam a nascer.

Lobos não deveriam nascer assim, mas por hora, foi o melhor que se pôde fazer.

Mais que adotantes para a Bonitinha e para os filhotes que estavam por nascer, ela precisava com urgência de um lar provisório. Um lugar com cama quente e seca, onde os pequenos pudessem  estar verdadeiramente amparados.

Onde pudessem crescer sentindo o carinho e a proteção de mãos humanas. Aos lobinhos modernos, não basta o calor das lambidas da mãe. Eles precisam de calor humano. Evoluíram pra isso. Dependem da proteção e da intervenção humana, tanto quanto dependem do colostro de sua mãe.

Só assim terão a oportunidade de se tornarem adultos. Só assim poderão cumprir a missão para a qual virão ao mundo: Amar e idolatrar seus donos.

A ajuda veio a tempo. Em uma madrugada, nasceram 7 filhotinhos, todos muito espertos e saudáveis. No mesmo dia, alguém se sensibilizou com a história e ofereceu abrigo provisório a toda a família.

Hoje estão todos amparados, dormindo em uma cama quentinha e macia, muito diferente daquele esconderijo improvisado.

Depois de 14 dias, a Bonitinha já estava mais confiante na vida. Esbanjava alegria e saúde, exibindo orgulhosa seus sete anões, que cresceriam fortes e amparados. Mostrava-se uma mãe dedicada e cuidadosa.

Mas, com todos os cuidados e mimos que recebeu desde o resgate, claro que não seria diferente.

Os pequenos estavam crescendo fortes e saudáveis. Nasceram  duas meninas e cinco meninos. Seriam entregues aos adotantes quando completarem 45 dias.

Abaixo, algumas fotos dos pequenos, já com os olhos abertos. São as estrelas da festa. Nasceram programados pra trazer alegria a várias famílias.

Foram entregues às novas famílias a partir do dia 06 de Junho de 2011, já vermifugados e com a primeira dose da óctupla.

A expectativa era de que ficassem de porte médio, como a mãe. Com 20 dias de vida, já estavam muito espertos e brincalhões.

E segue a evolução dos pequenos… 25 dias.

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Completaram 30 dias. Brindaram com vermífugo. A festa de comemoração foi grande. Até brinquedos ganharam.

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Aos 45 dias, chegou a hora da despedida. Eles partiram pra escrever sua própria história. Todos foram adotados por ótimas famílias.

Já a Bonitinha, mesmo com todo o cuidado, uma infecção nas mamas retardou um pouco mais o desfecho de sua história. Um período de internação, castração, vacinas e pronto. Estava ela pronta pra mais uma etapa. Mas não podia ser um adotante qualquer. E não foi.

Ela merecia um castelo. E a vida sabia disto.

Mas castelos, para os lobos, não são de pedra ou concreto. Castelos são imaginários. É terra, água e ar. É espaço, liberdade e uma equilibrada matilha.

E foi isto que ela teve. Foi morar em um sítio muito bonito, com muito espaço, companheiros de sua espécie e até uma linda garotinha, chamada Ana Julia, que já chama a Bonitinha de Lessie.

Embora não seja de sua época, algo a reportou a uma história famosa, de uma cadela que acompanhava seu dono em aventuras pelo campo. Não tão famosa, mas tão bela quanto a Collie do filme, ela tem feito jus ao novo nome. Tem se mostrado uma excelente cadela de trabalho, chegando mesmo a ajudar na lida com o gado e com os demais serviços do campo, além de ser a melhor proterora do mundo para sua nova amiguinha.

Já está completamente adaptada, mostrando que nasceu para essa vida. O passado não mais faz parte, sequer de suas lembranças.

Claro que jamais esquecerá que foi mãe. As sete maravilhas se espalharam pelo mundo, estando, cada um, contando uma nova história. E que sejam histórias tão felizes quanto a de sua mãe.

Lessie, para seus novos companheiros humanos, mas eternamente Bonitinha para a protetora que a socorreu, e a quem terá sempre a oportunidade de agradecer.

Alguns diriam que ela teve “uma segunda chance”. Mas não importam as definições. A vida, pra ela, começou agora.

Quanto aos filhotes, também estão bem. Abaixo, fotos do Cabral, um dos filhotes. Tem uma vida feliz e equilibrada, conforme se pode ver pelas fotos. De acordo com a protetora que nos enviou as fotos, ele é questionador e não cala por nada.

Assim deveriam viver os Lobos.

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