Este cãozinho estava há um bom tempo esquecido lá na SMPA. As pessoas chegam, escolhem, na maioria das vezes não agradam de nenhum, mas nunca sequer olharam pra ele.
Ele é jovem ainda e muito arredio e medroso. Ainda não aprendeu o que é ser um cãozinho de estimação.
A primeira vez que o fotografei foi em Janeiro de 2013, quando estive pela primeira vez na SMPA. Naquela ocasião, eu o apelidei de Cabeludo ou Cabeluda, já que não sabia sequer se era macho ou fêmea.
Naquela ocasião, ele parecia feliz, apesar de estar vivendo ali. Foi vacinado dias depois na campanha de vacinação, e continuou por lá, sem ser visto.
Voltou a ser fotografado em Março, pela Carla do SOS Bichos, no dia do mutirão de tosa. Naquele dia, Poodles mais cabeludos mereceram mais atenção.
Em abril, voltei a encontrá-lo na SMPA, quando lá estive pra mais uma matéria que visava intensificar as adoções.
Neste dia, ele já estava triste. Não era mais o mesmo.
Dias depois, uma feira de adoções na Tinti Vet viria a mudar seu destino. Cinco vagas foram abertas para animais da SMPA.
Eles chegaram para a feira parecendo penetras em festa granfina. Enquanto os outros se mostravam felizes, sociáveis e bem tratados, os animais da SMPA mostravam a triste realidade de um abrigo lotado e sem muita estrutura física, material e humana.
Não vamos entrar em detalhes, mas eles não estavam em condições de participar de uma feira de adoções. A protetora Lucinédia Figueiredo decidiu doar seu tempo e disposição para ajudar algumas daquelas almas. Recebeu os cinco animais da SMPA em sua casa, deu-lhes um bom banho e fez o que foi possível, pra tentar melhorar a aparência deles.
Dos cinco animais, três foram adotados e, por milagre, exatamente aqueles que menos condições teriam de conquistar adotantes comuns. Mas naquele dia, não eram adotantes comuns que estavam ali.
Ainda assim, Brancão, que foi depois chamado pela Lucinédia de Pitter, e o pobre Cabeludo não conquistaram ninguém. No fim da feira, era hora de colocá-los de volta no carro e devolvê-los para a SMPA.
Mas aí, o coração de protetora comprometida não permitiu. Com dois cães médios debaixo do braço, Lucinédia os levou para sua casa.
O Pitter foi adotado no dia seguinte e devolvido quatro dias depois. Já o cabeludo continuaria por lá, esperando a oportunidade de encontrar donos especiais, que se disponham a socializá-lo e ensiná-lo o que é ser um lobinho de estimação.
As fotos abaixo já foram feitas na casa da Lucinédia. Nos primeiros dias, ele se mostrou arredio e com medo de estranhos. Escondia-se na casinha e permanecia escondido.
Quando me aproximei para as fotos, ele me olhava de soslaio, desconfiado de tudo. Se me aproximava, tentando interagir, afagando-o o pelo e as orelhas, ele se mostrava receptivo. Não saía da casinha, mas aceitava com gosto os afagos.
Ele precisava mesmo de alguém especial em sua vida, que lhe desse tempo, paciência e muito carinho, para ensiná-lo a confiar em nossa espécie. Não sabemos o que ele passou antes de chegar ao abrigo.
Alguns dias depois, descobrimos que a tristeza dele tinha nome: Babésia, também conhecida como tristeza canina. Enquanto esteve na casa da Lucinádia, ele se tratou, fez amigos e reencontrou velhos amigos. Nas fotos abaixo, o reencontro com o Raposo, velho amigo da SMPA, que foi resgatado pela Lucinédia dias depois.
A manifestação de afeto entre eles foi contagiante. Mas não havia tempo pra trabalharmos uma adoção conjunta. Afinal, além deles, outros duzentos cães tão especiais quanto esperavam uma oportunidade igual.
Cabeludo foi adotado e tem agora um amigo chamado Paulo, de quem esperamos receber sempre fotos e notícias. Restava-nos torcer pra termos acertado na escolha. Que você seja feliz amigo, e que sua história sirva de exemplo pra ajudar a salvar outros cães tão especiais quanto você, que passam a vida esperando por uma adoção que nunca chega.
O Raposo, que foi companheiro do Cabeludo por anos e com quem criou um forte vínculo de amizade, também ganhou uma nova chance. Eles seguiram caminhos diferentes, mas seguiram, exatamente como mereciam.
Algumas semanas depois, recebemos as primeiras fotos do Cabeludo, já na nova casa. Obrigado Paulo, por tão especial acolhida.
Alias, o nome “Cabeludo” foi escolhido por nós. É nome provisório e nada adequado, mas precisamos de nomes que nos permitam identificar rapidamente o cão. Mas é claro que, depos da adoção, ele ganharia um novo nome, escolhido só pra ele. Bonny foi o nome que ganhou, junto com a nova casa e novo amigo.
Um resgate de Lucinédia Figueiredo: lucinediaf@r7.com
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