Houve um tempo em que aves de rapina não despertavam a cobiça de ninguém. Afinal, não cantam, não vivem em gaiolas, não têm penas coloridas.
Mas, desde que decidiram chamar de esporte (ou de arte) a escravidão dessas criaturas, pra serem exibidas como troféus e em apresentações de tortura, surgiram os criadores legalizados e, atrás deles, os traficantes, como alternativa mais barata.
Ninhos de gaviões e corujas estão sendo saqueados país a fora, pra satisfazer a vaidade de gente que ainda não entendeu que o mundo está mudando.
E para cada lambança humana, uma turma vem atrás pra fazer a faxina e tentar consertar as coisas.
Essa é a tarefa dos veterinários e biólogos do IBAMA e IEF, no combate ao tráfico e à criação ilegal de animais silvestres. Virá o dia em que eles poderão também combater os criadores “legalizados”, já que a sacanagem é a mesma. Mas, por enquanto, sigamos com o que é possível fazer.
A cada soltura, sempre há algumas aves de rapina. Alguns acidentados em áreas urbanas, outros apreendidos de criadores ilegais ou do tráfico.
Cangoo é um Gavião Carcará que deixou a gaiola de transporte cambaleando, como se estivesse embriagado. Claro que a viagem foi longa, mas o estrago maior vinha do tempo de escravidão.
Uma ave de rapina magestosa, um predador moldado por séculos de evolução, caminhando feito uma galinha pelo terreiro (Nada contra as galinhas) era uma cena angustiante, pra dizer o mínimo.
Queríamos que ele nos apresentasse a imponência de suas asas, a agilidade e força tão necessárias para a vida livre.
É claro que uma soltura assim, quando acontece, é porque ele já passou pela avaliação em um Centro de Triagem e já está em condições de ser reintroduzido.
Mas nosso desejo de vê-lo livre, bem adaptado e em plenas condições de se virar sozinho, era grande demais pra nos conformar com um caminhar.
Por sorte, o Cangoo estava apenas descansando e recuperando o fôlego.
Bastaram alguns minutos e ele nos mostrou o que queríamos ver.
Ele ganhou o céu, exibindo a força e a vontade de ser livre.
Junto com ele, naquele dia 21 de julho de 2017, duas corujinhas Caburés e uma Buraqueira também ganharam a liberdade.
Da gaiola de transporte para um telhado próximo.
Dali, para o interior de uma mata, onde a luz do sol não chega com tanta incidência e onde ela poderá descansar, até o cair da noite.
Só há uma forma de impedir que espetáculos tão covardes se repitam. Basta não prestigiar, não aplaudir.
Sem platéia, os palhaços não têm pra quem se exibir.
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