Não é fácil voltar com a coleira e a roupinha pra casa… Chegou o momento, amigos… e Deus me permitiu estar junto com ela até o final. Eu prometi isto a ela…e nunca… nunca em 19 anos, ela dormiu fora de casa. Todo o tratamento eu levava de manha, ia trabalhar, e buscava a noite…

Minha princesa negra, líder da matilha. Todos a respeitavam… até seu mau humor quando ia deitar e não queria ninguém por perto… ou na hora que carregava sua vasilha de ração pra proteger dos mais jovens e ousados peludos.

Palavra mágica: Vamos ao matinho? (era só dar uma volta no passeio do parque aqui em frente…) Era o bastante para os olhos ganharem vida nova! E o dia sempre começava assim. Ela já corria para o portão e saía deixando os outros morrendo de inveja… ela levava só o amigo Cascão. E eles apostavam corrida (ele também é idoso…) e ela sempre podia ganhar… mas boba, parava no meio do morro e esperava ele chegar na frente. Todo dia esta santa rotina. Azar o meu se tinha que sair cedo, ou acordava atrasada, este compromisso era inadiável. Com chuva, frio ou sol. Simples assim…

Afinal a vida é simples e estes pequenos momentos se eternizam. Como uma senhora bem idosinha, uma comidinha quente e sono, dormir, dormir, dormir, vigiar o portão? Tarefa para os mais jovens. Só quando tinha barulhos diferentes e insistentes ela ia la conferir. “_Já fiz isto por muitos anos. Agora é hora deles trabalharem, não acha?”

Ta difícil, minha amiga. Você foi a criatura que mais ficou presente em minha vida em todos os momentos. Passamos por muita coisa juntas. Aqui tudo lembra você. Até a velha vasilha de comida que você elegeu como sua. E a velha coleira verde com pedras coloridas, que está com você desde o resgate.

Não vou pedir pra você me esperar: a vida urge e você quer viver. Tanto que lutou com a insuficiência renal por período maior que a média. Vai voltar rapidinho para um corpinho novo em folha. Te falei isto nos últimos minutos lembra? E também disse que estarei atenta a estes olhinhos de jabuticaba que dão sinal de tudo. Ahhh… ia me esquecendo: se alguém gritar “mosquito”! e ver um serumaninho correndo, dando saltos e bocando no ar… é ela.

Se Nosso Criador entender que a vida fica mais bonita com ela por perto, permitirá sua volta. Espero que meu amor tenha te ajudado na sua evolução, assim como a sua alegria e disposição me ajudaram a crescer. Gratidão, minha neguinha fusô, minha idosinha de 35 milhões de dólares. (Este era o preço minimo se alguém quisesse comprar! kkkk).

O texto da despedida é longo, mas muito pouco perto do que eu queria dizer a você. E pequeno perto da dor e deste vazio que todos nós, inclusive os peludos, estamos sentindo agora. Vou manter sua cama, suas coisas e seu espaço junto à mim caso queira vir nos ver, mas já te entrego, como na hora da passagem, nas mãos do Cristo e dos espíritos amigos que com certeza a conduziram para um lugar lindo, com muito matinho, muito mosquito pra você correr atras, sem dores, sem indisposição e sem medicamentos.

Seja feliz… Gratidão…