Em um amontoado de 10 vidas, tem histórias de toda sorte. A grande maioria foi apreendida em poder de pessoas que ainda compram animais silvestres de traficantes e os mantêm enjaulados, movidos pela vaidade de se dizerem “donos” de um bicho diferente.
Outros se acidentaram em área urbana, foram resgatados e entregues aos órgãos ambientais.
Mas dois deles, em especial, chegaram ao IBAMA ainda dependentes de leite. É possível que as mães tenham sido mortas em acidentes urbanos (atropelamentos e choques elétricos são muito comuns) e os filhotes se desgarraram ainda vivos de suas costas. Foram encontrados por pessoas do bem e levados ao Ibama.
Passaram por uma triagem, receberam tratamento e cuidados médicos e foram socializados até que formassem uma grande família. Enfim, chegou o dia em que poderiam ser devolvidos à natureza.
Não chegaram sozinhos ao nosso território. Junto com eles, outras 238 vidas.
A família de 10 macaquinhos foi preparada para soltura pelos veterinários e biólogos do IBAMA e IEF. Os recém-nascidos foram alimentados na mamadeira, pela Danielle, veterinária responsável, e que os tinha como filhos.
E ela estava lá, para acompanhar bem de perto a soltura dos pequeninos primatas. Queria saber se ficariam em boas mãos.
Preparamos pra eles uma bancada de frutas, em uma casinha que, embora tenha sido uma casa de brinquedos em um tempo remoto, parecia ter sido construída especialmente pra eles.
Fica a poucos metros da casa sede e bem ao lado de uma fonte de água corrente, também preparada para saciar a sede de animais reintroduzidos.
Os atrativos estavam ali, bem diante da porta aberta das gaiolas. Dani e Billy abriram os olhos dentro de uma gaiola e não conheciam outra vida.
O medo do desconhecido estava estampado na expressão daquelas crianças.
A mensagem não poderia ser mais clara: _Tenho medo, mamãe. Aí não tem bicho?
Infelizmente, tem. Tem bicho homem, do qual vocês precisam aprender a se manterem distantes. Tem outros que podem também lhes devorar, e que, instintivamente, vocês saberão evitar.
A angústia de ver seus filhos tão frágeis e livres, vivendo por sua conta e risco, só não era maior que o desejo de que eles encontrem a felicidade e que cumpram, com êxito, sua etapa evolutiva.
Aqueles que um dia conheceram a liberdade ajudaram a incentivar os novatos. Eles se aproximavam das gaiolas, como se convidassem os amigos a saírem.
Se, por parte da mãe humana, a despedida doía fundo, o sofrimento dos pequeninos não era menor.
A insegurança dos primeiros momentos de liberdade se fazia presente em pequenos gestos. Este pequeno abaixo machucou uma mãozinha, talvez no transporte, ou em alguma briga provocada pelo estresse da viagem.
E ele parecia querer mostrar à sua mãe que estava doendo. Chorava e mostrava a mãozinha.
Por sorte, não era nada grave. Em poucos dias ele estará recuperado. Separá-lo do bando e levá-lo de volta seria um prejuízo muito maior, pra ele e para todo o bando.
Algumas dores farão parte da vida que terão agora.
Aos poucos, eles deixaram as gaiolas e foram se posicionando no comedouro, ou mesmo nos galhos das árvores do entorno.
O santuário não é aberto a visitação e o contato humano pra eles será bem restrito de agora em diante.
É possível que sintam falta, pois não sabem o quanto os homens podem ser cruéis. Afinal, por muito tempo, eles foram alimentados por mãos humanas e isso causou uma relação de dependência.
A explicação talvez esteja em algo semelhante à “Síndrome de Estocolmo” (Estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor).
Estes pequeninos precisam agora viver como saguis e esquecer os tempos em que foram apenas “souvenirs”, exibidos como troféus por gente sem coração. Precisam encontrar locais seguros para passarem a noite, precisam encontrar sozinhos o pão de cada dia.
Por um tempo, eles ainda serão alimentados, mas temos uma área reflorestada com frutíferas variadas, que garantirão pra eles suprimento nos 365 dias do ano.
Pelo menos 10 sabores diferentes eles encontrarão em todos os dias do ano, em qualquer estação.
É certo que fome eles não sentirão. É possível que, durante algum tempo, eles fixem morada ao lado da casa sede. Se assim for, serão bem vindos, muito embora eles já dêem sinais de que estão prontos pra distâncias maiores.
A soltura aconteceu no início da tarde. No fim do mesmo dia, eles já haviam encontrado sozinhos alguns novos sabores. Uma árvore de jambo rosa, repleta de frutas, estava a poucos metros da fruteira.
Também flagramos alguns deles se deliciando com mangas, pêssegos, goiabas e figos, todos em franca produção. Outros foram vistos experimentando alguma coisa no alto de uma Embaúba. Besouros e outros insetos também farão parte de sua dieta natural.
Enfim, podemos dizer que hoje eles são micos livres. Os perigos estão por todos os lados, mas eles tiveram uma nova chance.
É possível que tenham vida longa, mas isso não é importante. Eles serão vigiados bem de perto por protetores que atuam em outro plano, e que um dia idealizaram um lugar especial, que pudesse receber essas criaturas tão massacradas.
Hoje esse território existe e é a nova casa dos nossos mais novos protegidos. Eles agora têm onde viver e, ainda mais importante, pra onde voltar.
Lamentamos muito pelo estágio evolutivo em que nos encontramos. Infelizmente, ainda há na espécie humana resíduos primitivos, que fazem com que alguns de nós ainda sintam prazer em manter, em suas casas, animais vivos e em sofrimento.
Isso vale para toda e qualquer forma de escravidão (Gaiolas, aquários, recintos, canis, correntes, etc).
Fica a torcida para que a mudança que queremos chegue logo, que as pessoas compreendam que prender é escravizar e torturar. Nenhuma criatura nasceu pra se subjugar a outra.
Vale lembrar que o CETAS é o lugar para se fazer a entrega espontânea de animais para reintrodução. E muito tem sido feito neste sentido.
Graças aos órgãos ambientais, e também a uma mudança gradativa de consciência, as pessoas estão sendo despertadas e se conscientizando da necessidade de respeitar todas as formas de vida, o que inclui permitir que cada espécie viva de acordo com sua natureza.
Todos, mesmo aqueles que passaram uma vida inteira enjaulados, têm o direito a uma chance de liberdade. Muitos animais que foram mantidos por anos em cativeiro estão sendo libertados. Ainda falta muito, mas estamos no caminho.
Agradecemos ao IBAMA e ao IEF pela parceria e confiança.
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