Psitacídeos são aves trepadeiras, ordem que engloba as araras, papagaios, cacatuas, maritacas e periquitos.

São animais sociáveis, que vivem em bandos. De hábitos diurnos, monogâmicos e extremamente arredios em relação às pessoas.

Têm dieta diversificada e costumam alçar voos em grandes alturas.

Além disso, são extremamente inteligentes, o que significa que estão em elevado estágio evolutivo (espiritual), aproximando-se muito de alguns mamíferos mais elevados.

Por tudo isso, é possível imaginar o quanto de crueldade existe em uma gaiola. Aprisionar aves é congelar sua alma e impedir sua evolução, em anos de sofrimento e angústia.

E que fique claro que isso vale para qualquer espécie escravizada. No caso específico de aves, vale também para espécies exóticas e também para aqueles nascidos em criatórios autorizados. Pode não haver crime ambiental nos dois casos, mas a covardia é a mesma.

O sofrimento do cativeiro é tanto que, em casos extremos, algumas aves chegam a se mutilar, arrancando as próprias penas. Esse comportamento é sinal claro de estresse em último estágio. A versão humana para este nível de estresse pode ser identificada como depressão, automutilação, uso de drogas ou mesmo o suicídio.

E não se iludam aqueles que acham que isso só acontece com as aves dos outros e que os “seus” são felizes.

Nenhuma ave tem vida normal em cativeiro. A automutilação é apenas um estágio extremo, mas a tristeza e depressão começam bem antes. Tudo que não seja natural é motivo de estresse pra eles.

A solidão é o maior de todos os castigos (companhia humana não conta), já que são animais sociáveis e que vivem em bandos. São também monogâmicos e têm uma relação afetiva bem característica, considerada uma forma primitiva de amor. Em termos evolutivos, a capacidade de amar deu os seus primeiros passos nas criaturas monogâmicas.

Psitacídeos têm hábitos diurnos e são fotossensíveis, de forma que as luzes artificiais de nossas residências destroem o sistema imunológico das aves.

A alimentação em cativeiro, por mais diversificada que seja, não é capaz de suprir as necessidades nutricionais dos animais, que, em ambiente natural, têm alimentação variada e instintivamente balanceada. A desnutrição é causada pela alimentação inapropriada. Não é a quantidade que conta, mas a qualidade.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema e da impossibilidade de suprirmos suas necessidades em cativeiro, uma parte da dieta dos periquitos australianos livres, em seu país de origem, é composta de néctar. Nem precisamos explicar que esse néctar seria de plantas nativas australianas.

E que fique claro que não existe ave “domesticada”. Na melhor das hipóteses, existem alguns indivíduos “amansados”, mas a grande maioria só admite a proximidade em razão de condicionamento, onde o contato humano é tolerado em troca de alimento. Psitacídeos são naturalmente temperamentais e não gostam de interação.

Não existe vínculo afetivo entre um homem e uma ave (silvestre ou exótica). A proximidade humana não é natural para esses animais. Basta observar que, na natureza, são animais muito arredios que dificilmente admitem aproximação. Os ornitólogos sabem o quanto é difícil se aproximar de um bando de papagaios e maritacas.

Animais silvestres não são como cães e gatos. O momento evolutivo deles é outro. Precisam ser livres, viver e experimentar as habilidades específicas da espécie. E que não se faça com eles nenhum comparativo em relação ao desenvolvimento do chacra cardíaco dos cães em razão da proximidade humana, este sim um caminho evolutivo natural rumo à humanização.

A facilidade de interagir com os donos e de aprender truques apenas confirma o quanto são inteligentes, mas não significa que têm prazer ou qualquer outro benefício com essa proximidade.

Nem mesmo aqueles indivíduos que aceitam afagos podem ser considerados felizes. São momentos isolados que, nem de longe, suprem a necessidade evolutiva deles. Nenhum prazer proporcionado por mãos humanas se compara ao vento em suas asas.

Aves são muito sensíveis a cheiros e barulhos, de forma que moradias humanas não atendem às suas necessidades. Estima-se que 70% dos psitacídeos em cativeiro sofrem com algum tipo de doença respiratória.

E para completar o rol de torturas e crueldades, as pessoas precisam entender que aparar as asas das aves é o mesmo que arrancar-lhes a alma. Eles não evoluíram pra usar as pernas em sua locomoção. E ainda há criadores, sites e até veterinários que ensinam como fazer.

As pessoas não sabem, mas todo psitacídeo grita muito, principalmente na primavera. Se os donos soubessem que ele está chamando desesperadamente por um companheiro, talvez entendessem o tamanho da sacanagem que é manter um animal sozinho e escravizado.

Em cativeiro, as principais causas de mortalidade de aves são: muita gordura, muito estresse e pouco exercício.

Por sorte, essas práticas de escravizar animais estão com os dias contados. Atentos aos novos valores, muitas pessoas que têm papagaios, maritacas e periquitos em casa estão buscando alternativas para que seus “amigos” tenham um resto de vida mais digno e menos sofrido.

O CETAS Centro de Triagem de Animais Silvestres é o órgão oficial autorizado a receber animais em casos de entrega espontânea (Somente silvestres). A entrega é feita sem burocracia e sem nenhuma consequência ou penalidade aos donos. Não é necessário sequer se identificar.

Os animais recolhidos pelo CETAS passam por uma triagem e são direcionados a áreas de soltura. A missão do órgão é exatamente tentar dar uma segunda chance a estes animais.

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Contaremos aqui a história de três psitacídeos, todos eles resgatados em condições estremas, em uma cidade bem próxima do Santuário Vale dos Sonhos.

Os três protegidos são um papagaio, uma maritaca e um periquito. Todos psitacídeos, mas de tamanhos diferentes (G, M e P), razão pela qual não formaram bando durante a aclimatação.

Dinho, o papagaio, viveu assim por mais de 10 anos. Na verdade, ele vivia em um viveiro um pouco maior, mas ainda assim, pequeno demais para que conseguisse exercitar as asas.

Ainda não somos capazes de perceber sentimentos no olhar de um pássaro, mas a tristeza estava toda ali.

Fora isso, ele era bravo e arredio com pessoas, o que deixava claro que não estava satisfeito com a vida que lhe era proporcionada.

Tirá-lo da gaiola foi uma labuta. Precisamos retirar os poleiros, virar a gaiola e forçar a barra pra ele colocar a cabeça pra fora e tentar olhar o que estávamos tentando lhe oferecer.

Pelo menos naquele primeiro momento, o que oferecíamos era apenas um recinto, ainda distante da liberdade, mas ainda assim, um lugar onde pudesse usar e fortalecer as asas.

Contudo, depois de 10 anos sem exercitar os músculos das asas, o que tínhamos ali era um papagaio fraco demais pra arriscar qualquer voo.

Foram longos e demorados os minutos exigidos pelo Dinho, para cortar o cordão que o prendia àquelas grades.

Não podemos falar em zona de conforto ou segurança. Não há essas coisas em uma gaiola.

A questão aqui é o medo, a dor que ele sente ao usar os músculos das asas depois de tantos anos em atrofia.

Das grades da gaiola para um poleiro de galhos e troncos, posicionado no alto, de onde ele teria a visão de todo o viveiro, inclusive da fonte de água e dos comedouros, mais abaixo.

Ao fundo, os galhos e folhas de uma amoreira, que se esperasse oferecesse a ele algumas frutas temporonas, apenas para que ele começasse a relembrar do quão generosa pode ser a vida.

Depois do Dinho, foi a vez da Judite, uma maritaca que passou os últimos 25 anos trancada em um viveiro, também se exercitar as asas.

Os novos tempos e uma nova consciência das pessoas têm abreviado as penas desses escravos.

No caso da Judite, as penas desalinhadas não haviam sido arrancadas por ela. Ela estava no meio de uma grande muda de penas e, por isso, tantas falhas.

Também deixou o viveiro depois de alguns malabarismos. Mais acima, o mesmo poleiro de troncos e galhos, de onde o Dinho observava sua companheira de recinto.

Não é raro que espécies diferentes formem pares. Assistimos há alguns meses o nascimento de uma família bem diferente.

Mas, neste caso, Dinho e Judite são de tamanhos diferentes e, dificilmente, se aproximarão. Compartilharão o mesmo espaço, o mesmo poleiro e até os mesmos comedouros, mas não esperávamos que se tornassem grandes amigos.

O primeiro voo dela não foi rumo ao poleiro onde o Dinho estava. Ela logo buscou a bandeja de sementes e grãos.

Aquela nova vida estava prometendo. Pra quem tinha passado tempo demais enjaulada, ela até que parecia bem disposta a recomeçar.

O viveiro não estava vazio. Dois trinca-ferros ainda estavam em recuperação. Um deles, quase pronto para voar, mas o outro, que chamamos de Cadu, será morador definitivo de nosso viveiro. Ele tem as asas deformadas, um ferimento muito grave e irreversível.

Além deles, Chico, o Pássaro Preto teimoso, que insiste em manter a amizade humana, em detrimento da liberdade.

O Chico chegou ao santuário pelas mãos de biólogos e veterinários do IEF/Ibama, e levou quase 10 meses, para estar em condições de tentar uma vida livre. Hoje já está livre e sua história vive em nossa galeria.

http://oloboalfa.com.br/chico-um-conto-de-liberdade/?regiao=mg

Judite e Dinho não se tornaram amigos, mas conviveram pacificamente por alguns dias.

Infelizmente, alguns proprietários oferecem a estes animais uma dieta pobre, às vezes, com sabor único. A semente de girassol até que é apreciada por eles, quando em liberdade. Mas é um alimento muito calórico e eles precisam se exercitar muito pra gastar a energia.

Além do mais, eles precisam de variedade.

Por aqui, oferecemos grãos variados e frutas. Usamos o que o mercado oferece, mas sabemos que não é o ideal.

De qualquer forma, em nosso viveiro, eles viverão apenas alguns dias, suficientes para fortalecerem as asas e se sentirem confiantes para ganharem o céu e buscarem os galhos das árvores do entorno.

Até lá, tudo bem comerem as extrusadas. Complementamos com algumas frutas e outras sementes. O Girassol também está na dieta, mas não é exclusivo.

A preparação para a liberdade requer também o contato com frutas nativas da região. Eles precisam reconhecer os sabores que os sustentarão em algumas estações do ano.

Ao final de duas ou três semanas, os dois já estavam voando, mas ainda longe do ideal.

Ainda assim, a liberdade precisaria vir, ainda que precisassem acabar a preparação do lado de fora. Teriam que treinar voos mais altos, habilidades que, no viveiro de aclimatação, não poderiam adquirir.

Dinho, o papagaio, não era muito adepto da aproximação humana. Algumas vezes, chegou a demonstrar hostilidade com o tratador.

Entretanto, isso não era algo que lamentássemos. Pelo contrário, quando mais arredio e quanto mais distante das pessoas ele se mantiver, melhores serão as chances dele se adaptar à vida livre.

A Judite era mais dócil e não temia a aproximação.

Dos dois, ela era a que tinha vivido mais tempo enjaulada e, talvez, tivesse mesmo perdido o medo de gente.

Para nossa alegria, apesar disso, ela usava bem as asas e seu futuro parecia promissor.

Chegamos a flagrá-la brincando com uma vasilha de ração, jogando pro alto. Parecia estar dançando.

Imaginamos que, talvez em algum momento, ela tivesse sido usada em realejos. Não queríamos acreditar em tamanho crueldade.

Ao final de 3 semanas, estavam os dois bem próximos do ponto de soltura.

Em alguns momentos, dividiam o mesmo poleiro, mas sem interação entre eles.

As vocalizações junto à tela do viveiro muito nos alegrava, já que interpretávamos como gritos pela liberdade. Ele parecia saber que o grande momento estava próximo.

Algumas semanas depois, quando já estávamos ensaiando a abertura da janela, o santuário recebia mais um menino de biquinho curvado, que chegou pra completar o time.

Calanguinho era um periquito do encontro amarelo, que foi resgatado depois de se acidentar em área urbana. Talvez tenha se chocado com alguma janela ou algo parecido. Foi salvo e colocado em um viveiro, onde havia outros periquitos exóticos.

Ele se recuperou totalmente, conservando todas as habilidades necessárias para voltar aos ares.

Chegou às nossas mãos dentro de uma caixinha de sapatos e, dela, foi transferido para um viveiro de transporte.

No santuário, deixou o recinto de transporte usando as pernas, caminhando na terra, entre as mudas de milho e de sementes.

Dali, testou o primeiro voo e se prendeu às telas. Foi possível notar que todas as suas habilidades para a vida livre estavam preservadas.

Seus companheiros de recinto estavam ali, curiosos com o novo morador.

Até o negão encrenqueiro fez questão de reivindicar o trono, mostrando ao novo morador que era ele quem mandava ali.

A verdade é que ele manda mesmo, mas só tira onda com os passeriformes menores que ele. Com a turma dos biquinhos fortes ele não se atrevia a mexer.

O Calanguinho, por sua vez, não estava nem aí para os moradores do recinto. Das telas, ele buscou a proteção dos galhos da amoreira, deixando claro que se manteria longe das pessoas.

E isso era tudo o que queríamos ver. O tempo de cativeiro estava ficando no passado. Ele tinha tudo pra voltar à vinda livre. Estava longe de casa, infelizmente, mas a região tem muitos bandos de sua espécie e tínhamos a certeza de que logo ele estaria entre os seus.

Com o passar dos dias, ele deixava claro que já estava pronto.

Seu refúgio preferido durante a aclimatação era mesmo a amoreira e raras foram as fotos que conseguimos dele.

Por isso mesmo, não precisaríamos de uma aclimatação tão longa. Os dois maiores já estavam também prontas e o Calanguinho não precisaria de mais que 15 dias.

Seria apenas o tempo pra ele recuperar a confiança em suas asas. Nem precisaria recuperar as forças, mas apenas a confiança.

E finalmente, 15 dias depois da chegada do Calanguinho, estavam todos preparados para a soltura, com exceção do Cadu, o trinca-ferro de asa deformada, que terminará seus dias dentro do nosso viveiro.

De longe era possível avistar pelas telas do viveiro, os três verdinhos à espera da abertura da janela.

Abrimos o viveiro depois de servir o lanche daquela manhã, que incluía milho verde.

Dinho adora milho e foi proposital a escolha do cardápio. É que, em um pasto mais no fundo do vale, tem uma discreta plantação de milho que vem atraindo algumas famílias de papagaios. Achamos que um bom prato seria uma ótima forma de aproximar o Dinho daqueles que poderiam vir a ser a futura família dele.

Estavam todos prontos para ganhar o céu, mas acabamos por nos frustrar. Um dia inteiro de vigília não foi suficiente.

Eles mantiveram-se firmes em seus poleiros, sem sequer chegar perto da janela que os levaria de volta à vida livre.

O único triste naquele recinto parecia saber que pra ele a liberdade não viria. Cadu viveu o holocausto do tráfico e as sequelas foram graves e irreversíveis. Assistirá a chegada e a partida de muitos de sua espécie, até o dia em que ele próprio decidir partir.

Infelizmente, não será usando as asas.

Tecnicamente, assim que abrimos a janela, aqueles animais já são considerados pássaros livres. Afinal, eles têm agora o direito de escolher pra onde ir e onde ficar.

O primeiro a sair, na verdade o único naquele dia, foi o Chico. Ele passou aquela manhã inteira voando por todo lado.

À tarde, voltou para o viveiro e ali ficou até o dia seguinte, quando saiu novamente e passou a oscilar entre os dois lados da tela.

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Quanto aos verdinhos, naquele dia tivemos que nos contentar em fotografá-los pela janela aberta. Era só essa a liberdade que conseguiríamos registrar.

A liberdade chegou para os três, nos dias seguintes, quando foram monitorados por seu tratador. Calanguinho foi o primeiro a deixar o viveiro, voltou dois dias depois, sozinho, e passou a frequentar diariamente o viveiro para comer.

Depois de uma semana, passou a frequentar os comedouros externos e não mais entrava no viveiro.

Judite deixou o viveiro cinco dias após a abertura da janela, foi vista por mais 2 dias e depois partiu. Ela já estava em ótimas condições e levou consigo a nossa torcida para que tenha se unido a algum bando nativo.

Talvez até esteja por perto, já que aprendeu a se camuflar no verde das folhas.

Dinho foi o que mais sentiu. Demorou quase 10 dias para deixar o viveiro e revelou que faltava muito pra ele se adaptar ao novo mundo.

Conseguiu voar até o milharal onde famílias inteiras de papagaios comparecem todos os dias. Mas ele não tinha força e resistência para seguir um bando nativo.

Precisou ser vigiado e ter facilitada sua alimentação.

Não voltou mais para o viveiro, o que nos permitiu fechar a janela para proteger o Cadu, morador definitivo.

Dinho agora está por sua conta e risco. E que os protetores invisíveis guiem suas asas.

Foi visto próximo à plantação de milho, no novo recinto. Mas parecia estar tendo dificuldade para comer.

Então, o tratador da turminha decidiu levar a comida até onde ele estava. E assim será nos próximos dias.

Ele estará livre, e a comida andará atrás dele, até que não precise mais.

Foi visto também experimentando novos sabores, como uva japonesa e outras frutas nativas. Tentaremos monitorá-lo nas próximas semanas, e que a Vida conduza o destino dele.

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