Foi num lugar assim, com mais de 70 cães machos não castrados, que a pequena Dolly foi arremessada. Na queda, machucou uma perna.

Dolly 1

Os cães, que em razão do estresse, conhecem bem o significado de canibalismo, avançaram sobre ela com ferocidade. Teria sido dilacerada mas, por sorte, o socorro chegou a tempo de tirá-la viva do meio da matilha.

Dolly 2

Seu estado de inanição, em conjunto com o pelo de 3 anos embolado e fétido, a tiravam a mobilidade. Ela já não andava mais.

Talvez fosse pelo pavor de ter caído ali. A pequena tremia muito. Não sabíamos se era de medo, de susto, em razão do desconforto daquele emaranhado de pelo, ou de fome.

Ela não tinha reação e só sabia tremer. Deixava-se manusear sem esboçar qualquer sinal. Parecia uma morta-viva.

Dolly 3

O mau cheiro de urina velha agarrada naquele emaranhado de pelo era algo que se podia sentir a uma quadra de distância.

Assim que a coloquei no banco de trás do carro, ela pulou para o chão do carro e se encolheu. Tinha o olhar mais assustado que já vi. Parecia estar em pânico.

Dolly 4

Ao chegar na clínica, as primeiras fotos davam a dimensão do problema. Ao perceber que estava sendo fotografada, e ouvindo os comentários de quem assistia a chegada dela naquele estado, a Dolly fechou os olhos e baixou a cabeça.

Parecia envergonhada de seu estado. _Somos nós, Dolly, que temos que sentir vergonha.

Dolly 5

Enquanto seu pelo embolado era examinado, ela acompanhava, como se pedisse: _Tira isso de mim?

Dolly 6

E nada era mais urgente que um banho e uma tosa. O tempo frio não recomendava, mas não tínhamos escolha. Sem o pelo, foi possível ver os sinais da avançada desnutrição.

A forma como ela avançou na comida e na água mostrava que ela estava há pelo menos 3 dias sem engolir nada. As costelas e as pontas de ossos saltavam de sua pele.

As feridas provocadas por uma infestação de carrapatos já se espalhavam pelo corpo.

Em casos assim, as marcas de seu passado são muito evidentes. Ela estava esquecida nos fundos de um canil fazia muito tempo. Talvez, desde o dia em que seu cheiro começou a incomodar, ou que seu pelo conheçou a embolar.

Dolly 7

Dolly colheu material para uma série de exames. Babésia era o mais evidente. A quantidade de carrapatos e sua clara apatia e tristeza eram sintomas bem característicos.

Nem precisamos dizer que não vimos um só movimento de seu rabinho. Ele não saia dentre suas pernas. A submissão era meio de vida pra ela.

Dolly 8

Depois dos primeiros procedimentos, era o momento de tentar garantir à Dolly o mínimo de conforto. Seguiu internada por alguns dias e seu estado geral não era bom, mas, mesmo assim, começou a aprender o que é ser um cãozinho estimado. Ganhou uma toquinha com cobertor bem macio. Nos primeiros minutos, ela se encolheu num canto e não demonstrou interesse. Parecia não saber o que era aquilo. Ela nunca teve uma cama.

Esta toquinha eu peguei emprestado de nossa Hanna. Também foi usada recentemente pela Bruninha e por um tal Chipinho que também passou por aqui. O cheiro de muitos cães pode ter incomodado. Afinal, ela já estava pra lá de traumatizada.

Precisou de um empurrãozinho, mas, assim que percebeu que o que oferecíamos era bom, acabou se rendendo.

Dolly 9

Os exames ficaram prontos dias mais tarde. Nada de babésia, nada de erlíchia. Apenas uma branda anemia, que foi solucionada com 15 dias de boa alimentação. Pela ferocidade com que ela avançava na comida, foi possível perceber que o maior de todos os males era a fome.

Tudo que ela precisaria era de muita ração de boa qualidade. E pra isso, ela não precisaria ficar internada. Recebeu alta médica e veio para nosso território.

Dolly 10

Infelizmente, um, canil foi o melhor que tínhamos pra ela. Na casinha de madeira, grande demais para o tamanho dela, coube a toquinha que a Dolly já identificava como sua.

Seus ossos salientes davam a real dimensão do problema. Cobrir tudo isso de carne não foi rápido. A dieta dela foi a base de ração super premium misturada com saches de franco e cordeiro. Pelo tanto que ela comia, estava claro que a recuperação era só uma questão de tempo.

Dolly 11

Como de costume, todo lobinho introduzido em nosso território recebe as boas vindas. Hanna foi a primeira. As duas usavam o mesmo modelo de lã, pra suportar o frio intenso daqueles dias.

Dolly 12

Dolly já estava bem. Começava a se soltar. Percebemos que ela tem pânico de fogos e se assusta com qualquer coisa. O rabinho insistia em se posicionar entre as pernas.

Dolly 13

A Duda é também sociável e recebe muito bem os visitantes, desde que não abusem. Assim que me sentei no chão, Duda se apossou do meu colo. A mensagem era muito clara: _Eu te recebo bem, mas não se aposse do que é meu.

Dolly é uma cachorrinha carente. Parece nunca ter sentido um afago, ou talvez, estes tenham ficado num passado distante que ela nem se lembra mais.

Mas demonstrou que estava pronta pra reaprender o que estivéssemos dispostos a ensinar. Ela se aproximava e aceitava os afagos, chegando mesmo a suspirar. Também experimentou o colo, embora tenha ficado um pouco desconfortável. O tempo seria outro remédio pra ela.

Dolly 14

O caminho dela agora era outro. Já estava traçado e não tinha volta. Você será feliz, pequenina. Em poucas semanas já tínhamos uma cadelinha alegrinha pra mostrar. Os ossinhos já não estavam mais tão aparentes.

Dolly 3

A Dolly passou um tempo em nossa casa e se integrou à nossa matilha. Fez todos os exames de saúde e estava bem, apesar de tudo.

Aprendeu que vigiar o movimento da rua era algo que todo cachorro adora fazer. Latir também é preciso, pois fortalece as cordas vocais.

Dolly 15

O tempo passa mais devagar quando não se tem nada pra fazer, mas isso não é ruim, quando se tem qualidade de vida.

Dolly 16

As brincadeiras de Hanna e Duda eram contagiantes. Não demorou muito para que a Dolly aprendesse a brincar. Se analisarmos a qualidade de seus dentes, daremos a ela uns 3 anos de vida, mas sua agitação e disposição para brincadeiras é ainda de filhote.

A conclusão lógica é que ela está voltando à infância, tirando o atraso pela infância roubada. Ou talvez, ela seja mesmo uma cadelinha jovem, com aproximadamente 1 ano de vida, e os dentes muito sujos eram um sinal de que sua dieta se compunha de restos de comida humana.

Dolly 17

No tempo que passou em nosso território, chegou a se apossar de alguns dos brinquedos da Hanna. Isso sempre é motivo de estresse por aqui. Então, a solução foi comprar alguns brinquedos também pra ela. Assim, cada um tem os seus e não precisam brigar.

Dolly 18

Finalmente, já tínhamos pra mostrar é uma cadelinha muito alegrinha e saudável.

A Dolly ganhou de presente da equipe da UFMG a castração, que transcorreu muito bem.

Fizemos também o exame de leishmaniose, que deu negativo. Com isso, ela teria pelo menos mais três espetadas. Iniciamos a vacinação, com a primeira dose.

Dolly 19

Com resultados assim, tínhamos motivos de sobra pra comemorar. E como de costume, a comemoração é sempre com uma expedição.

As fotos abaixo mostram a chegada de Duda, Hanna e Dolly ao parque. Pelo menos uns 15 minutos de intensa correria.

Dolly 20

Depois era hora de descobrir o mundo, seguir rastros de outros animais e experimentar a liberdade. Ela nunca teve tanta liberdade em toda sua vida.

Dolly 21

Não parou de correr e pular um só minuto. Chegamos a pensar que a Dolly poderia se machucar. Havia dez dias da cirurgia de castração. Tinha acabado de tirar os pontos, mas parecia que nada tinha acontecido.

Dolly 22

As correrias continuaram por todo o dia.

Dolly 23

Das três, a Dolly era a mais animada. Como a Duda está acima do peso, ela geralmente é a que cansa primeiro. Mas mesmo a nossa espoletinha Hanna cansou antes da Dolly.

Dolly 24

Isso nos dava a real noção de seu estado de saúde. Também nos mostrava que ela ainda era filhote, apesar dos dentes.

Entretanto, mais importante que sua idade e seu estado de saúde, era seu estado de espírito. Toda aquela tristeza e apatia tinham desaparecido. A Dolly estava feliz.

Dolly 25

Depois de dois dias de correria, estava também cansada e suja, mas feliz.

Dolly 26

Descobriu que o mundo está cheio de criaturas diferentes. Um esquilo pode até despertar seus instintos de caça, mas a gritaria de um bando de guigós não teve nenhuma graça. Ela tem medo de fogos e de barulhos altos e ficou bem assustada com a algazarra dos macacos.

Dolly 27

Mas como toda expedição um dia acaba, era hora de voltar.

Dolly 28

Imundas e com barro até as orelhas, era hora de se acomodarem no carro.

Dolly 29

A Dolly continuou aqui por mais alguns poucos dias. Partiu numa tarde de sexta-feira, para os braços de sua nova família. Deixou saudade, como todos os outros que por aqui passaram. Mas, o mais importante, é que ela esqueça o passado e que seja feliz.

Na verdade, ela ganhou duas casas. É que a família passa metade da semana em um apartamento em Belo Horizonte e a outra metade em uma casa de campo em Esmeraldas. Esta será a rotina da Dolly. Camila e Sandra foram suas adotantes. Quem a recebeu primeiro foi a Camila e o Bobby, o companheiro com quem ela vai dividir a cama aqui em Belo Horizonte.

Dolly adotada

Sua rotina começou agitada, com passeios, petiscos, colo e muita festa. Ela ganhou roupinha e uma cama só dela.

Dolly adotada 2

Dolly adotada 3

Ela mal tinha se acostumado com sua casa nº 01 e já estava a caminho de conhecer sua casa nº 02. Claro que chegou desconfiada.

Dolly adotada 4

Mas no sítio ela encontrou outros 3 lobinhos, jovens, agitados e brincalhões como ela. O resultado não poderia ser outro. Ela repetiu o dia de festa vivido em nossa expedição no santuário.

Dolly adotada 5

E assim será a vida de nossa menina. Toda semana essa rotina, de descansar 3 dias, correr e pular outros 4. Oh vidinha mais ou menos!

Mas nem tudo são férias. É que, nos dias que passa na cidade, ela tem que ir trabalhar todos os dias.

Dolly adotada 6

No dia que a busquei naquele depósito de cães e a coloquei no banco de trás do carro, ainda assustada, eu disse a ela que a vida iria mudar, que tudo seria diferente, e que ela teria os melhores donos do mundo.

Promessa cumprida.

Dolly adotada 7

Desejamos que sua história tenha a força pra despertar e sensibilizar. Que outros cãezinhos que ainda vivem esquecidos nos fundos de um canil sejam lembrados, sejam cuidados e que tenham as mesmas oportunidades da nossa pequena guerreira.

Agradecemos à Sandra e Camila pela acolhida da Dolly. Que ela seja mesmo tudo o que prometi e que leve alegria e paz para a casa de vocês.

Abaixo, a nova turma da Dolly.

Dolly adotada 8

E mais atualizações, de Janeiro de 2015. Na primeira montagem, Dolly em vários momentos. Na segunda, a turma completa.

Dolly adotada Jan15

 

O Lobo Alfa H 8

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