Entre dez macaquinhos e duzentos e quarenta passeriformes, havia meia dúzia de psitacídeos, de duas espécies diferentes.
Chegaram ao santuário pelas mãos de biólogos e veterinários do IEF.
Psitacídeos são monogâmicos e vivem em pequenos grupos.
É esperado, e mesmo desejável, que animais recém-libertados possam se unir a um grupo nativo. Afinal, se, na nova vida livre, puderem se espelhar em amigos mais experientes, suas chances serão maiores.
Eram seis, sendo cinco periquitos-reis, de topete amarelo, e um único periquiro-de-encontro-amarelo, também chamado periquito-rico.
Ao solitário periquito-de-encontro-amarelo, demos o nome de Driano. Não foi o primeiro espécime libertado sozinho e, como no santuário sempre aparecem bandos numerosos da mesma espécie, sabíamos que ele teria boas chances de encontrar sua turma.
Por alguns dias, ele voou sozinho.
Percorria as plantações de sementes, colhia as frutas, o milho e tudo que estava plantado ali dentro do viveiro, para que eles aprendessem a comer direto da fonte, usando cada vez menos os comedouros.
Entre os periquitos-reis, tudo seria mais fácil. Instintivamente, eles buscam a proteção do bando e, com 5 periquitos, eles poderiam iniciar a vida livre em bando.
Em nosso viveiro de aclimatação, eles ficaram por pouco mais de 30 dias, sendo que o primeiro casal se formou em apenas dois dias.
Mas algo especial estava pra acontecer naquele recinto. Entre canários e sabiás, é claro que o Driano acabaria por preferir a companhia daqueles com quem mais se identificava.
E não demorou a se enturmar com os outros psitacídeos, mesmo que fossem um pouco maiores e de outra espécie.
Ele não deve ter referência de seu antigo bando. Provavelmente, foi arrancado do ninho ainda pequeno e cresceu sozinho. A aproximação a um bando de outra espécie indicava que ele cresceu sem conhecer os seus. Teve vida solitária.
A simples aproximação à turma do topete já seria inusitada, mas algo mais aconteceu.
Dentre as moças solteiras, havia uma chamada Arinúbia, que acabou dando um pouco de trela para o coitado carente.
Conseguimos registrar o início do namoro. Ele pousou no mesmo poleiro e foi se aproximando aos pontos.
A moça se fez de difícil mas o rapaz era bom de lábia. Logo se rendeu e os dois tornaram-se inseparáveis.
O compromisso ficava mais forte a cada dia. Arinúbia se encantou mesmo pelo garoto de duas cores. Defendia seu namorado e não deixava que outras moças sequer olhassem pra ele, embora fizessem parte do mesmo bando.
Viveram o namoro durante todo o período de aclimatação.
Junto com os outros quatro periquitos-reis, formaram um pequeno bando, com pelo menos dois casais já formados.
No dia da soltura, eles já estavam voando com desenvoltura.
Deixaram juntos o viveiro. Um bando de seis periquitos, e a essa altura, pouco importa se são todos da mesma espécie.
Viva a diferença. Não sabemos se Driano e Arinúbia continuarão juntos. O que importa é que se mantenham livres.
Na região, outros grupos cruzarão o caminho deles, tanto de periquitos-reis quando de periquitos-ricos. Talvez eles se separem em algum momento.
Mas, no dia da soltura, lá estavam Driano e Arinúbia, quase de mãos dadas, pra ganharem juntos a liberdade.
Se gerarem filhotes, é certo que não serão avós, pois espécies diferentes não geram descendentes férteis.
Mas nosso desejo é que sejam felizes e que tenham vida longa.
Abaixo está uma galeria de fotos tiradas durante o período de aclimatação, e também no dia da soltura.
O dia da soltura.
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