Drikinha é uma maritaca, nome científico Psittacara leucophtalmus, uma ave da família dos psitacídeos, de porte médio, muito parecida com o Papagaio.

Ela foi capturada da natureza e só não morreu por sorte, já que a maioria dos animais da espécie escravizados morrem de depressão, tristeza e doenças oportunistas.

Foi mantida por alguns anos em um apertado viveiro, onde não podia exercitar as asas. Seus tutores, arrependidos de terem causado tanto mal a ela e dispostos a corrigir o erro, decidiram tentar uma reintrodução.

Drika chegou ao nosso território dentro de um pequeno viveiro e logo foi solta no viveiro de aclimatação.

Ela deixou o pequeno viveiro, empoleirou-se nas telas e ficou observando a nova casa que lhe era oferecida.

Ela estava cansada da viagem, mas ainda assim não se dignou a deixar as telas que lhe serviram de cativeiro por tantos anos. Talvez estivesse insegura.

Decidimos então oferecer-lhe um pouco de água e posicionar seu viveiro perto de um tronco que lhe serviria de poleiro.

Ela bebeu um pouco e entendeu o recado. Empoleirou-se nos galhos de uma pequena ameixeira.

Preferíamos tê-la visto usar as asas, mas cenas tristes assim são as consequências do tráfico e das gaiolas.

Chegamos a pensar que ela não soubesse voar e tivemos receio de não podermos soltá-la.

Mas aí, ela decidiu nos mostrar que os instintos de voo ainda estavam preservados. Dos galhos da amoreira, ela voou até um poleiro mais adiante, deixando claro que poderia se adaptar bem à liberdade.

Muitos dias se passaram, a menina passou por uma completa muda de penas, ganhou cores mais vivas e fortaleceu bastante as asas.

Elegeu como lugar de descanso um poleiro posicionado debaixo da área coberta do viveiro.

Ali permaneceu por muitos meses, e parecia saber que algo especial lhe era reservado. Neste período, ela chegou a receber a visita de bandos nativos, mas eles voavam rápido e alto demais. Tivemos receio de soltá-la e ela tentar acompanhar um bando nativo.

Sabíamos que ela não estava preparada para tanto, e confiávamos na vida para que uma alternativa mais adequada surgisse.

E a alternativa que ela esperava chegou alguns meses depois. Nada menos que 30 maritacas chegariam ao nosso território, com destino a uma segunda chance, em liberdade.

Era a oportunidade perfeita para Drika, que poderia se integrar ao bando e ganhar a liberdade.

Todas aquelas 30 novas hóspedes haviam também passado pelo mesmo histórico de captura, escravidão e cativeiro.

Entretanto, elas já haviam passado por um período de triagem no CETAS e, nas últimas semanas, já estavam em um centro de reabilitação. As notícias eram de que já estavam quase prontas para a soltura definitiva.

Com a abertura da gaiola de transporte, assistimos a uma revoada de encher os olhos.

Drika acompanhava tudo à distância, tentando assimilar tantas novidades.

Chegamos a pensar que teríamos um grande bando único, com 31 indivíduos, mas a vida nos mostraria que não seria bem assim.

A espécie tem vários nomes populares: maritacas, periquitão maracanã, aratinga-de-bando, araguaguaí, araguaí, araguari, aruaí, maracanã, maricatã ou maritaca. O nome científico é Psittacara leucophthalmus.

A algazarra das recém-chegadas contagiava todo o ambiente. Não que faltasse verde naquele território, mas 30 maritacas gritando ao mesmo tempo é algo bem incomum.

Na natureza, elas vivem em bandos, mas não costumam ser tão numerosos.

Aos poucos, o viveiro de transporte foi esvaziando, até que todas estivessem livres e buscando seu próprio porto.

Algumas se empoleiraram nas telas do viveiro, outras buscaram refúgio nos galhos dos arbustos.

E, para a nossa surpresa, logo surgiram maritacas nativas, que se aproximaram para interagir com as prisioneiras.

E desde a primeira semana, foi possível registrar cenas incríveis, de uma maritaca nativa interagir ao ponto de alimentar uma das cativas.

Não sabíamos interpretar corretamente aquela interação. Estávamos na época de produção de mangas, fruta muito apreciada pela espécie e, nessa época, é muito comum recebermos a visita de bandos nativos.

Entretanto, aquela interação era inusitada. Chegamos a pensar que talvez aqueles visitantes fossem duas maritacas que havíamos soltado meses antes, mas ali havia um pequeno banco de 4 ou 5.

Definitivamente, elas eram animais nativos e livres. Como os pequenos bandos são familiares, é possível que aqueles que mais se aproximaram fossem os jovens solteiros, em busca de seu par perfeito.

Psitacídeos são monogâmicos e costumam manter o mesmo casal por uma vida inteira.

Aquele namoro com obstáculos durou dias, tempo necessário para que as prisioneiras se fortalecessem um pouco mais e pudessem ser finalmente libertadas.

Todos ali tinham companhia suficiente, mas encontrar do lado de fora um parceiro mais experiente seria um excelente começo.

E as visitas dos nativos, que antes eram ocasionais, passaram a ser frequentes, ao ponto deles fixarem morada no entorno de nosso viveiro.

Estavam sempre ali, do nascer do dia até o cair da noite, quando buscavam abrigo nas árvores próximas.

Notávamos também uma grande diferença na coloração das penas.

Os pássaros nativos tinham penas mais robustas, mais densas, mais vivas. Essa era a maior demonstração do quanto de sofrimento existe em uma gaiola.

Animais aprisionados morrem um pouco a cada dia.

No período de aclimatação, eles se fortaleceram e começaram a formar laços que durariam o resto de suas vidas.

Seria precipitado falar em casais, mas aos poucos, eles começavam a se unir, buscando os afins.

Não conseguimos notar se a Drika tinha se unido a algum dos recém-chegados, mas se ela não formar casal, que se junte a um pequeno bando.

Nos primeiros dias, ela se manteve sozinha, em seu poleiro preferido.

Entretanto, o período de aclimatação durou um mês inteiro e, nessas 4 semanas, ela já tinha se misturado aos demais, ao ponto de não conseguirmos mais identifica-la.

O dia da soltura chegou. Abrimos o viveiro no início da manhã, no dia 04 de dezembro de 2021.

A soltura consiste na abertura de uma pequena janela. Por ela, eles poderão sair aos poucos, ao longo de vários dias.

Uma soltura dura de 10 a 15 dias. E neste período, é esperado que os animais saiam e entrem várias vezes, pois a vida livre precisa ser introduzida aos poucos, respeitando a condição de cada um.

Embora os comedouros do lado de fora estejam também abastecidos, eles acabam frequentando os pontos de alimentação já conhecidos e, por isso, é comum o entra e sai.

Como regra, o viveiro permanece aberto, dia e noite, por muitos dias, até que o último deixe o recinto e percebemos que os retornos se tornam esporádicos.

Entretanto, maritacas fazem algazarras demais e chamam muita atenção, inclusive de predadores.

E pra evitar acidentes indesejados, decidimos então impor ao nosso fiel ajudante um trabalho a mais. O viveiro seria fechado todos os dias ao cair da noite e aberto junto com os primeiros raios do sol.

Isso evitaria uma chacina noturna dos que ainda estivessem dentro do viveiro.

Teríamos que aguardar a saída gradativa e observar.

Depois que os retornos começarem a diminuir, nós diminuímos a quantidade de comida do lado de dentro do viveiro e aumentamos nos comedouros externos.

Isso fará com que continuem tendo um ponto de alimentação, sem a necessidade de voltarem para as telas.

Entretanto, pelo andar das coisas, tudo indica que a soltura definitiva vai demorar um pouco mais de tempo.

Afinal, eles passaram tempo demais engaiolados e vão demorar um pouco a se adaptar à vida livre.

Daquelas 30 vidas, muitas delas ainda não haviam se aventurado do lado de fora do viveiro, mesmo depois de 15 dias de soltura.

De qualquer forma, a estratégia agora é deixar os comedouros externos sempre mais caprichados, com maior variedade de frutas.

Os dias se passaram e eles começaram a se espalhar, em pequenos bandos. No lugar de um único grande bando com 30 indivíduos, o que notamos foi o surgimento de vários pequenos bandos, às vezes em duplas (casais), às vezes em 3 ou 4.

As vocalizações vinham de longe, às vezes do interior da mata. Em seguida, notávamos que aqueles que gritavam longe voltavam aos comedouros.

Eles já conseguiam voar grandes distâncias e grandes alturas, sem perder o “caminho de casa”. Tudo caminha bem, muito bem.

Os próximos dias serão importantes e precisaremos monitorá-los pelos próximos 3 meses, até fecharmos o relatório da soltura.

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