Os cães nasceram pra nos ensinar e ajudar em nossa evoluçãoAlguns vieram pra provar que isso é verdade.

Posso ser Duque, Zulu ou Joca. Não importa, porque sei que os três nomes foram escolhidos por pessoas que me estimavam.

Tenho preguiça de começar a contar minha história, talvez porque preferisse começar tudo de novo, mesmo sabendo que não tenho a garantia de ser recebido aqui por pessoas boas, como as que me protegem hoje.

Mas, se não for por mim, que seja pelos tantos de minha espécie que ainda estão por aí.

Quando estava pra nascer, sabia que minha mãe tinha um dono, que vivia em uma casa confortável, feliz e amparada. Achei que teria uma vida feliz. Afinal, sempre soube que nossa espécie evoluiu e somos hoje os melhores amigos dos homens, aqueles que tudo podem.

No início, tudo ia muito bem. Eu era um cãozinho saudável, esperto e brincalhão, como meus irmãos. Precisávamos apenas esperar a idade certa para que pudéssemos partir para uma nova vida, com outra família e talvez até com outros amigos caninos.

Eu nasci pra ser amado, pra ter bons donos.

Mas um acidente me tornou paralítico ainda pequeno. Não me lembro bem se me deixaram cair ou se pisaram em mim. Não importa de quem é a culpa. Não me importa não poder andar. Os humanos são bons e eles certamente vão cuidar de mim.

Um dia, fui colocado em uma caixa de papelão, no carro. Fiquei feliz com aquele passeio. Achei que estivesse indo ao médico. Quem sabe conseguem me consertar. Afinal, os humanos podem tudo.

Assim que chegamos, fui retirado do carro, ainda dentro da caixa, e fiquei esperando o atendimento. Não entendia muito de clínicas veterinárias, mas esperava algo melhor. A caixa foi colocada no sol, sem água ou comida.

Esperei por horas e quase desidratei naquele calor. Finalmente fui atendido. Alguém chegou pra me pegar. Ouvi alguém dizer:

___ Coitadinho. Como pode ter gente ruim nesse mundo!

Ouvindo isso, percebi que não estava em nenhuma sala de espera de uma clínica. Estava em uma calçada, jogado na rua. Não pude acreditar que tivesse sido abandonado. Não era este o destino que esperava e merecia.

Fui levado a um lugar chamado Cão Viver. Eu era um Cão e queria Viver. Devia ser o lugar certo pra mim.

Lá eu conheci o Doug, um cãozinho com uma história parecida com a minha. Tive a certeza de que estava no lugar certo, ainda que fosse pra terminar minha história de forma digna.

Conheça a história do Doug: http://oloboalfa.com.br/doug-sem-palavras/?regiao=sp

Como eu não andava e era ainda filhote, fui levado para a casa de uma das diretoras da ONG.

Passei a ser cuidado como merecia. Faltava-me a consciência da gravidade de meu caso e, por isso, continuava feliz, bagunceiro e brincalhão. Passei por vários médicos, exames que não acabavam, até que o diagnóstico foi fechado. Eu nunca mais voltaria a andar.

Nem tampouco teria forças nas pernas dianteiras para empurrar uma cadeira de rodas, já que eu ainda cresceria muito e não teria tempo nem oportunidade de fortalecer minhas pernas boas para os quase 30 kilos que viria a pesar, depois de adulto.

Eu não teria um final feliz, não nesta vida. Agora, vou dormir e esperar pelo meu próximo nascimento. Quero voltar com a certeza de que serei bem recebido, que cairei em boas mãos. Eu mereço uma boa vida.

Sei que a vida sempre dá uma segunda chance a todas as criaturas. Gostaria de poder dizer aos meus protetores que vou voltar e eles terão nova chance de me receber.

Eu queria viver, mas não assim.

Quanto aos meus primeiros donos, não entendo porque agiram daquela forma. Mas espero que minha história chegue até eles, que me reconheçam nas fotos e que possam ser tocados. Quem sabe não melhoram como humanos? Quem sabe eu não nasci para ajudar na evolução deles? Não é essa a missão de todos os cães?

Conheça neste site o TESTAMENTO DE UM CACHORRO. Para quem já perdeu um amigo, saiba o que ele te deixou: http://oloboalfa.com.br/testamento-de-um-cachorro/?regiao=sp

Mensagem da protetora que recebeu em casa o pequeno Duque.

DUQUE,

Você surgiu do nada. Como tantos outros, foi parar na Cão Viver. Logo vimos que era ESPECIAL!

Quando nos olhamos, sentimos que precisávamos um do outro.

Você precisava de mim para atender suas necessidades básicas, como comer, beber água, administrar medicamentos, limpar xixi e cocô, etc…

Eu precisava de você para me pôr à prova, saber que poderia ajudá-lo. Saber que teria coragem e persistência para enfrentar a batalha que nos aguardava. Precisava de você para saber que é possível o amor entre um cão e um ser humano.

Fomos para casa, de mala e cuia, fraldas, vasilhas, medicamentos, pois, na Ong, não teria quem cuidasse de você à noite.

Aprendeu a andar na cadeira de rodas, a comer e beber água sozinho, desde que eu colocasse as vasilhas bem à sua frente. Comia muito e tomava uma vasilha de água, quando lhe era oferecida, isto se estivesse com sede, pois do contrário, empurrava com a pata.

Quanto ao cocô, foi incrível, merece ser lembrado!

Nos primeiros dias, só descobri que estava sujo algum tempo depois.

Mais alguns dias e você fazia cocô, me chamando com latidos de filhote, para avisar que queria ser limpo.

Uma semana depois, você latia para avisar que iria fazer cocô. Eu corria e segurava você pela barriga, para fazer cocô em pé, como fazem todos os cães que não são paraplégicos.

Pasmem, leitores! Você latia para avisar. Era um latido diferente que aprendi a entender. A partir daí, foi possível a comunicação verbal entre nós.

Já não podia ficar muito tempo longe de mim, mesmo que deitado ao longe, me observando trabalhar.

Eu já não conseguia ficar uma noite sem largar todos e compromissos e levá-lo ao colo para dormir.

Era algo mágico, confortante. Uma relação que só fez bem a nós dois. Uma cumplicidade de olhares e latidos, pois quando eu estava absorta em afazeres, você rasgava as fraldas e virava as vasilhas, para me dar a entender que precisavas de atenção.

Foram muitos exames, consultas e medicamentos. Várias pessoas colaborando com as despesas, veterinários que não cobravam consultas, afazeres deixados de lado para correr atrás de uma chance para você.

Mas foi tudo em vão. Seu caso era irreversível.

Você seria um belo cão, todo preto, de porte grande e numa cadeira de rodas.

Quem iria adotá-lo? Não adotam nem os totalmente normais! Ainda os abandonam!

Que vida teria? Sem correr, brincar, passear, pular nas pessoas, banhos de mangueira, sem brincadeiras… Suas patas dianteiras não conseguiriam segurar o peso do corpo. Eu não conseguiria colocá-lo na cadeira de rodas e nem segurá-lo para fazer cocô, quanto menos levá-lo ao colo para apanhar sol e dormir.

Estarei com você até o último instante. Ficarei segurando sua pata em compromisso de amor eterno aos cães.

Com certeza, está sendo mais difícil para mim do que para você, já que vai para um lugar aonde poderá correr e brincar sem depender de mim. Nunca mais será abandonado em uma caixa de papelão, com fome, sede e frio. Não mais será levado para um abrigo.

Eu continuarei aqui sofrendo, conhecendo e tendo a oportunidade de ajudar outros Duques que virão.

Você foi um anjinho preto que passou na minha vida. Viveu muito pouco, mas o tempo suficiente para ensinar o amor.

“Se, quando os cães morrem não vão para o céu, quando eu morrer quero ir para onde eles vão.”

MC – Uma protetora e voluntária apaixonada por esses seres maravilhosos. Os cães.

Agradecimentos dele e meus:

À minha família;

Aos doadores;

Aos funcionários e voluntários da Cão Viver;

Ao Dr. Mario da Vetmaster;

Ao Dr. Marcos da Cães e Amigos;

Ao Dr. Euler da Due – Diagnóstico por Imagem.

Belo Horizonte, 24 de novembro de 2011.

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