O primeiro anúncio que fizemos dela foi em Março de 2011.

Lá se vão dois anos sem que ela tivesse a alegria de receber um único pretendente.

Sua história não é das mais felizes, claro. Foi atropelada e teve fratura exposta. Ficou agonizando na rua um dia inteiro, até que alguém resolveu pegar.

Não sabemos o que aconteceu, se este primeiro protetor não conseguiu ajuda, se não encontrou uma clínica que a atendesse ou se desistiu mesmo porque o orçamento não comportava. O fato é que, horas depois do socorro, ela foi devolvida ao mesmo lugar.

Foi resgatada pela segunda vez e levada para a Cão Viver, que a recebeu muito bem. Nesta época, ela ainda era uma filhotinha de 8 meses.

Ela é uma cadelinha especial, muito dócil, carinhosa e carente. A julgar pela forma como pede colo e carinho, concluímos que ela nasceu em corpo errado. Deveria ter nascido como Poodle, Lhasa ou qualquer outra coisinha de colo.

No abrigo, recebia muito bem os visitantes, mas já apresentava sinais de cansaço e desesperança.

Estava pronta para adoção, mas esta nunca chegava.

Aí, um dia alguém leu a história da Emily e achou que o tempo de espera dela precisava chegar ao fim. Escreveu para a Cão Viver e manifestou interesse de adotá-la. Assim que recebeu o sinal verde, foi correndo à ONG, na primeira oportunidade, com o firme propósito de conhecê-la. E como não se encantar por uma criatura assim?

A Emily sempre foi uma típica vira-lata de porte médio, igual aos montes. Em um abrigo com mais de 100 animais, pequenas seriam suas chances de ser escolhida. Mas ela era tão especial que merecia uma adoção assim. Tinha que ser alguém que fosse ao abrigo com o propósito de buscá-la.

E assim foi. A Karla viu a história e decidiu mudar o rumo dela. E mudou, exatamente como a Emily merecia. A sensação que fica é de que valeu cada minuto a longa espera.

Abaixo, o depoimento da Karla, logo após a adoção, no qual ela conta como foi o “encontro”, ou quem sabe, “reencontro”.

Então, pessoal.

A Emily está, graças a Deus, muito feliz. Quando entramos no carro, coloquei ela no meu colo e logo percebi nos olhares dela, o quanto ela estava pensativa.

Eu, com tanto sentimento por ela, conversei até chegarmos em casa. Expliquei a ela como seria sua nova vida junto a nós. O tempo todo ela me olhava e, quando eu menos esperava, ela me deu uma lambina no rosto.

Nossa! Pra mim foi um ato de agradecimento. Na hora fiquei emocionadíssima e falei pra ela:

__filha, agora sua vida conosco será muito linda tá. Mamãe vai cuidar de você, te levar pra passear, te dar banhos semanais e te deixar cheirosa. Sua ração vai ser muito gostosa e se der, vamos adotar mais um amiguinho pra brincarmos juntos.

Enfim, agradeço a Cão Viver por ter me proporcionado esta experiência tão maravilhosa em minha vida, e claro, dizer que este foi o melhor presente de aniversário que já ganhei até hoje.

Um dia iremos voltar aí, a passeio.

Um grande abraço a todos.

Karla Cristina

Nós é que agradecemos Karla. Pra nós, voluntários e protetores, a espera deles é mais angustiante que pra eles mesmos. E conhecendo os abrigos por dentro, sabemos os tesouros que lá se perdem. Muitos deles, disfarçados no corpo de vira-latas de porte médio, pretos, marrons de boca preta e por aí vai. A vida parece querer testar nossa sensibilidade e nossa capacidade de reconhecer anjos.

Queríamos gritar aos quatro ventos pra abrir a cabeça das pessoas, e fazê-las entender o que estes animais representam e do que são capazes.

Tenha a certeza de que sua interpretação não estava errada. Aquela lambida foi sim um agradecimento. Mas foi também pra selar um vínculo que só o tempo vai te permitir compreender. Eles são muito mais inteligentes e sensíveis do que podemos imaginar. Sabem quando estão sendo abandonados, sabem quando vão ser abandonados, sabem quando estão sendo negligenciados, quando são preteridos.

E mesmo assim, conservam a paixão pelos donos. A evolução programou o DNA deles pra nos idolatrar. O Porquê, nunca vamos saber. Afinal, não merecemos tanto.

Quando resgatados, formam um vínculo com seu protetor que só quem já resgatou é capaz de entender. E, pra um cão de abrigo, uma adoção é um resgate. Por tudo que já vi e acredito, não creio que esta adoção tenha sido um “reencontro”, porque a Emily esperou tempo demais.

Mas não tenho dúvida de que o vínculo que se formou naquela tarde de sábado, e que será construído nos próximos anos, não será para uma só vida.

Que a história da Emily e o seu depoimento possam ajudar a sensibilizar mais algumas pessoas, pra mudar o destino dos outros lobos especiais que lá ficaram.

Desejamos que sejam mesmo “felizes para sempre”.

Obrigado por tudo.

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