Verão de 2017, final do mês de janeiro, mais uma turminha a caminho da liberdade. Antes, uma curta parada em nosso recinto de aclimatação.
Viagem longa, gaiolas apertadas e cheias, que refletem a triste sina de animais silvestres vítimas do tráfico.
O IBAMA e o IEF, através do CETAS, fazem em média 25 solturas por ano, com aproximadamente 250 vidas em cada soltura. (Números apenas para a região central de Minas Gerais. Existe outras unidades do CETAS no País inteiro).
As pessoas que trabalham no Centro de Triagem do Ibama e IEF, além das prerrogativas das funções que exercem, entendem o tamanho da responsabilidade que assumem. Antes da profissão, vem a compaixão e o idealismo, de fazer algo por um mundo melhor.
E nada mais adequado para coroar um trabalho onde se lida com tanto sofrimento e morte, do que participar da recuperação e proporcionar a liberdade a alguns deles. Fica o lamento por aqueles que se perderam no caminho, que morreram nas mãos dos traficantes, ou que passaram uma vida inteira trancados.
Abrir as gaiolas é o troféu para um trabalho árduo e, por vezes, ingrato.
No momento da soltura, cenas como esta abaixo dão a noção da agressão que estes animais sofreram, subjugados e obrigados a empoleirar-se em ombros e braços humanos.
Não é compreensível que eles se sintam mais confortáveis empoleirados nas costas de sua protetora, a usar as asas e buscar um arbusto logo à frente.
Mais angustiante ainda é ver muitos deles agarrados às telas, com medo de pousarem no capim alto, nos arbustos ou mesmo no chão de terra.
Os poleiros das gaiolas são horizontais e fixos, no diâmetro exato de seus dedos. Em nosso viveiro, eles pousarão em galhos de variadas espessuras, em diferentes ângulos de inclinação.
Precisam aprender a se equilibrarem em galhos que se movimentam com o vento, que cedem ao peso das próprias aves.
Aos poucos, eles começam a se adaptar. Apenas alguns minutos depois de chegarem ao nosso viveiro, já começam a se sentir livres. A descoberta da fonte de água é sempre uma grande festa.
Experimentar os arbustos e galhos inclinados é um exercício. Precisam fortalecer a musculatura das asas, das pernas, e também ganhar mais equilíbrio.
Comer dependurados e se equilibrando também é parte do treinamento.
E, como sempre, recebemos alguns que tornam-se os personagens de nossas histórias, sempre com objetivo de “despertar e sensibilizar”.
Entre os grandões, havia um Bem-te-vi solitário, a quem demos o nome de Mulambo.
http://oloboalfa.com.br/mulambo-o-bem-te-vi-acidentado/
Os pássaros pretos são aves que vivem em bandos e, sempre que possível, o Cetas forma pequenos bandos durante a triagem, o que permite a eles iniciar a vida livre em família.
No santuário, são muitos os bandos da espécie que estão sempre por ali, na maior algazarra. Então, não faltará a oportunidade dos novatos se unirem a um bando maior, e contarem com o exemplo e os ensinamentos dos mais experientes.
E tínhamos uma família bem grande pra começar uma história. Dez aves, entre machos e fêmeas, já dava um bando razoável.
Nos primeiros dias, eles formavam duplas, depois trios e, ao final do período de aclimatação, já tínhamos um bando unido, formado por 10 aves ligadas por fortes laços, senão afetivos, pelo menos instintivos.
E nada pode ser mais gratificante que vê-los adquirindo, ou relembrando, habilidades de vida livre.
O prazer da vida em bando foi, na maioria das vezes, arrancado deles. A maioria dos pássaros pretos que vive em gaiolas é solitária.
Será possível que as pessoas não entendem o tamanho da crueldade que cometem?
A espécie não tem dimorfismo sexual e não é possível saber quantos machos e quantas fêmeas, mas foi possível registrar famílias nascendo ali.
E cenas assim dão a real dimensão da crueldade que é manter um animal desse isolado, sozinho em uma gaiola.
E lembrando que o CETAS está de portas abertas para receber animais de pessoas que os mantenham presos e que queiram dar aos seus “amigos” um resto de vida mais digno.
A entrega espontânea não gera qualquer penalidade. O animal será recebido, passará por uma triagem e será encaminhado a áreas de soltura.
Não é justo mantê-los em cativeiro. Os tempos são outros e as pessoas hoje querem um mundo diferente.
Entre os sabiás, havia 3 espécies diferentes. Ao todo, 5 aves muito especiais.
O Sabiá Laranjeira é o mais conhecido, e também o mais aprisionado. De sua espécie, o Raí foi o único, dessa vez.
Mas os sabiás têm hábitos solitários, sendo também muito encontrados em pares. Ele passou bem pelo período de aclimatação e, ao sair, já se encontrou com outro da espécie, libertado em uma soltura anterior.
Ironicamente, em Tupi, Sabiá significa “Aquele que reza muito”. E é exatamente por causa de sua reza melodiosa e longa que ele é tão escravizado.
Eles adoram ciscar o chão em busca de pequenos bichinhos.
Nas gaiolas, este é outro grande prazer que lhes é tirado.
O Sabiá poca é menos comum, mas foi o que chegou em maior número. O Gargantinha era, claramente, o mais belo.
Embora sejam territoriais, nunca tivemos nenhum confronto envolvendo sabiás durante períodos de aclimatação.
Talvez porque eles não se sentem livres em nosso viveiro. Às vezes rola um “bate-boca” com vizinhos na hora da comida, mas nada que chegue às vias de fato.
De modo geral, eles se comportam muito bem, convivem em harmonia e comemoram, juntos, a liberdade que se aproxima.
Alguns troncos secos compõem a decoração do viveiro, mas também servem para atrair insetos, que ao final acabam servindo para que eles aprendam a buscar a própria comida.
O Gargantinha branca era mesmo o mais enfezado dos sabiás. Mesmo assim, não era brigão, apesar de algumas pequenas rusgas.
A convivência com outras espécies também se mostrou bem tranquila.
Os Trinca ferros vêm sempre em maior número. A espécie caiu no gosto de gente sem noção e por isso eles são capturados país afora.
Eles vivem em matas e são muito ariscos. A captura pra eles é traumática ao extremo e poucos sobrevivem aos primeiros dias de cativeiro, muitas vezes mutilados por se debaterem contra as grades.
Dessa vez foram mais de 30 pássaros, muitos deles com sinais claros de uma longa espera em cativeiro.
Embora territoriais, eles convivem muito bem, até mesmo com os pequeninos.
Dessa vez não tivemos nenhum incidente de briga durante a aclimatação. Os mais debilitados se aprumaram, fortaleceram as asas e, em poucos dias, já estavam prontos para ganharem o céu.
Os canários são sempre os mais numerosos. Recebemos nesta grande soltura exatos 43 amarelinhos.
Pra eles a adaptação é sempre mais tranquila. Recuperam-se muito rápido e logo estão prontos para ganharem a liberdade.
E sempre temos ótimas histórias de reprodução da espécie já em liberdade. Na época de reprodução eles são os que mais facilmente ajudam a povoar o território.
E é muito bom assistir famílias se formando ainda no período de aclimatação.
Estes dois, que chamaremos de Freizinho e Nina, estão a caminho de uma história de reintrodução bem sucedida.
E, com tantas vidas, temos também aqueles que se perdem no caminho. Belinha tinha uma deformação em uma das asas e não teria condições de voar.
Sabíamos, desde o dia em que ela chegou, que pra ela a liberdade não viria, pelo menos nessa vida.
Poderíamos desejar que ela tivesse vida longa e que ali ficasse por alguns anos, mas a vida sempre tem planos melhores pra todos eles.
Objetivamente, nosso viveiro é rústico demais e animais debilitados nunca têm vida longa ali. E nem seria bom que tivessem.
Afinal, com tanta abundância de vida do lado de fora. Com tantos nascimentos, por que se enterrar dentro das telas?
Mais que um lugar pra viver, eles precisam ter pra onde voltar. E esse é o sentido de um trabalho de reintrodução: colocar almas de volta aos trilhos.
A Belinha não teve vida longa. Terminou sua história ainda no período de aclimatação. Sua morte aconteceu por causas naturais.
Numa outra perspectiva, ela foi libertada antes dos outros, certamente se preparando pra voltar em um dos muitos ninhos no entorno do viveiro.
Apesar de algumas baixas, sempre doídas quando o foco é proteção animal, a soltura foi um grande sucesso.
Entregamos ao território novos moradores, em ótimas condições, prontos para povoarem as matas e colorirem o céu.
Entre os azulões, havia 16 aves, entre machos e fêmeas.
Ele é também conhecido como azulão-bicudo ou bicudo-azulão, azulão-do-nordeste, azulão-do-sul, azulão-verdadeiro, guarundi-azul, gurandi-azul, gurundi-azul e tiatã.
São aves territoriais, mas nunca tivemos problemas de brigas durante a aclimatação. Não foi a primeira vez que recebemos animais da espécie mas, em tão grande quantidade, ainda não tinha chegado.
Ele se alimenta de sementes, frutas e insetos. As sementes e frutas nós garantimos durante os treinamentos, mas os insetos ele terá que esperar para experimentar quando estiver livre.
Alguns das solturas anteriores continuam por lá. Ainda não conseguimos encontrar ninhos, mas acreditamos que já estejam se reproduzindo e povoando um território onde já foram abundantes.
Como a espécie é territorial, é mais difícil ser vista, pois nunca estão em bandos.
A apreensão, dessa vez, foi maior porque estavam em poder de traficantes e em condições bem precárias. Pelo menos 5 deles perderam a vida durante a aclimatação, com sintomas de um mal conhecido como “peito seco”. Não é uma doença, mas sim uma consequência de múltiplos fatores relacionados aos hábitos alimentares, tratamento e acondicionamento.
O nome é dado pelo fato do pássaro ficar magro na região abdominal, porém o nome correto é “Caquexia”, caracterizada por um estado de fraqueza progressiva, principalmente pela falta de apetite, mal estar e desgaste. Nem é preciso ser especialista pra ligar o problema às condições de estresse e maus-tratos aos quais esses animais são submetidos por traficantes.
Entretanto, apesar de algumas baixas, a grande maioria chegou em ótimas condições ao dia da soltura.
Dentre os médios, recebemos dois Bicos-de-veludo (Schistochlamys ruficapillus), também conhecidos como bicudo-do-tabuleiro, sanhaçu-tabuleiro (Natal/RN), figueira, figueira-bico-de-veludo, sanhaço-do-campo, sanhaço-pardo, sanhaçu-caboclo (Minas Gerais), saí-veludo, zorro, tiê-veludo e papa-laranja (Minas Gerais).
É granívoro e alimenta-se também de frutos e pequenos insetos. Embora nunca tivéssemos recebido uma ave da espécie para soltura, ela é bastante comum na região.
Não apresentam dimorfismo sexual e, por isso não é possível diferenciar machos e fêmeas.
Os nossos meninos ganharam o nome de Zorro, como aliás são conhecidos em algumas regiões do País.
Os dois estavam muito bem e logo deixaram claro que estavam prontos para a liberdade.
Eles convivem muito bem, não apenas entre eles, mas também com outras espécies. Dividem o coxo e os poleiros sem nenhum sinal de agressividade.
Embora seu nome faça referência ao bico, ele tem outros atributos que chamam muito mais atenção.
A máscara negra é bem característica e as costas azuladas também, contrastando com o peito laranja.
O Zorro, ou os Zorros, são belos passarinhos. Precisam e merecem a liberdade. Eles terão uma segunda chance e esperamos ter notícias deles no período pós soltura.
Em liberdade, as cores são sempre mais vivas mas, apesar disso, os nossos hóspedes pareciam muito bem.
De dentro do viveiro chegamos a nota-los vocalizando e se comunicando com outros nativos.
Talvez haja uma disputa de território, ou talvez um convite pra um encontro no futuro.
Entre os pequeninos, aproximadamente 60 vidas de 3 espécies diferentes. Estrelinha, Coleiro e Pretinho.
O Estrelinha, também conhecido como Cigarrinha, é o mais raro. Já foi abundante em muitas regiões, onde hoje não são mais vistos.
Habita clareiras arbustivas, plantações, bordas de capoeiras e áreas com gramíneas altas, principalmente nas proximidades da água.
Devido ao canto, o tráfico e o comércio ilegal são o principal fator para o declínio de sua população. Alterações ambientais também contribuem para o desaparecimento deles em muitas regiões.
Dos seis Estrelinhas que chegaram, um, em especial, nos chamou atenção. Toquinho tinha uma coloração diferente, com manchas pardas que quebravam o contraste natural entre o preto e o branco.
A explicação era muito simples. As fêmeas e os jovens são pardos. Somente os machos, quando adquirem a maturidade sexual, mudam de cor e passam a ter a coloração preta e branca característica.
O Toquinho era um machinho jovem, ainda na transição entre a adolescência e a fase adulta.
E que pena constatar que, apesar de toda a movimentação planetária, ainda tenha gente capturando passarinhos pra serem escravizados!
Para o Toquinho, a liberdade chegará a tempo. Ainda está forte e em ótima forma, pronto pra viver a liberdade que lhe foi roubada.
Temos no santuário muito pasto de capim alto, que produzem sementes quase o ano todo. Eles encontrarão o habitat perfeito, e que possam ajudar a repovoar a região.
Na região do santuário, eles não estavam totalmente desaparecidos, mas seus números caíram muito ao longo do tempo.
O Toquinho passou os trinta dias como se estivesse em uma colônia de férias. Na verdade, eles são animais que adoram cursos d’água e nossa lagoinha de água corrente era tudo que eles precisavam para se sentirem em casa.
Do lado de fora do viveiro, outras lagoinhas e cursos d’água os esperam. É certo que vão se adaptar.
Os Pretinhos estavam em maior número, com aproximadamente 40 crianças.
As três espécies são muito parecidas e evoluíram a partir de um ancestral comum. Todos têm a mesma característica, da cor parda nas fêmeas e jovens.
Por isso, nas fêmeas e nos jovens, é impossível até mesmo diferenciar as espécies. As moças são sempre loirinhas e lindas.
Dentre os Coleiros, havia apenas uma dúzia, entre machos e fêmeas.
Um deles, entretanto, que chamamos de Vermelho, tinha um aparente ferimento no peito. Parecia que suas penas haviam sido arrancadas.
Não sabíamos o que era e nem teríamos como capturá-lo para um possível tratamento. Foi impossível não imaginar a possibilidade de ele morrer durante a aclimatação.
Mas, ao contrário do prognóstico ruim, ele parecia bem. Voava com desenvoltura e rompeu muito bem os 30 dias de preparação. Talvez fosse apenas uma muda de penas.
Os pequenos são aves que vivem muito bem em pequenos grupos e convivem bem entre eles. Em liberdade, costumam ser vistos juntos, em um mesmo bando, dividindo os mesmos comedouros.
Até a banheira eles dividem sem nenhum estresse.
Passado o período de preparação, finalmente chegou o dia da soltura. Os pássaros estavam tranquilos e de barriguinhas cheias, quando a janela do viveiro foi aberta.
Muitas saídas puderam ser registradas.
Flagrar o primeiro voo livre de um pássaro é algo verdadeiramente especial.
Levam nas asas a torcida para que sejam felizes, para que tenham vida longa e cumpram a etapa evolutiva para a qual vieram ao mundo.
E claro que passamos o dia da soltura e as semanas seguintes tentando avistar os recém-libertados, já em sua nova casa.
Vermelho e Toquinho foram vistos, no primeiro dia, já do lado de fora, misturados aos nativos a aos libertados em solturas anteriores.
Freizinho e Nina também saíram e já começaram a investigar ninhos artificiais pendurados no entorno do viveiro.
Porcão é um sabiá poca que nos deu uma grande alegria.
Vimos quando ele pousou na janela, ficou um bom tempo olhando o mundo, até tomar a coragem de partir rumo ao desconhecido.
E, para a nossa surpresa, o desconhecido, pra ele, não existia.
Pousou em um comedouro próximo de onde estávamos e ficou ali por um tempo, beliscando as sementes e nos olhando com desconfiança.
Dali, partiu para ciscar no terreiro, entre folhas secas. Parecia estar o tempo todo nos observando, como se esperasse alguma ação de nossa parte no sentido de tentar recaptura-lo
Pegou alguma coisa debaixo de uma folha e veio trazer até onde estávamos sentados com a câmera.
Era uma centopeia. Ele a trouxe no bico e a colocou no parapeito, como se depositasse sua conquista ao alcance de nossas mãos.
Nós nos limitamos a registrar aquele momento. Ele então pegou de volta sua presa, soltou-a mais uma vez, nos olhou como se nos oferecesse o presente e, diante de nossa indiferença, ele a pegou de volta.
Não tivemos a competência de tentar interpretar a mensagem que ele tentava passar, mas seja qual for, ficamos muito felizes.
Um coleiro também fez questão de caçar bem na frente de nossas lentes. Pousou em um ninho artificial pendurado no beiral do telhado do viveiro e ficou ali pegando alguns bichinhos e larvas.
Seu interesse ali era puramente os bichinhos, pois a espécie não utiliza ninhos artificiais.
Mais tarde, aquele mesmo ninho passou a ser inspecionado por uma fêmea de tico-tico, esta sim com grande potencial de preparar ali a chegada da futura geração.
Aquele ninho já foi usado uma vez, por uma sanhacinha reintroduzida chamada Chimbinha. Seus filhotes cresceram fortes e ganharam o mundo.
Quem sabe servirá novamente para trazer ao mundo a futura geração de tico-ticos?
Os pássaros pretos, aves que vivem em bando e que já haviam formado uma grande família durante a aclimatação, foi também um espetáculo à parte.
Eles também deixam o viveiro aos poucos, mas não partem de imediato. Os primeiros que saem ficam por ali, nos galhos mais altos das mangueiras, vocalizando e chamando pelo resto da turma.
E, atendendo ao chamado da vida, um a um eles deixam o viveiro. Voam de encontro aos primeiros e começam a reunir o bando do lado de fora.
Todo este processo durou um dia quase inteiro.
Em alguns momentos, um dos que deixaram o viveiro voltava pra chamar os atrasados, como se mostrasse o caminho.
E quando o último saiu, eles se reuniram em uma mangueira mais à frente, em uma algazarra de incomodar a vizinhança.
Dali, partiram para um pasto mais à frente.
Raí, embora fosse o único sabiá laranjeira, parecia ter deixado algo pra trás quando deixou o viveiro.
Da janela do viveiro, ele voou até o caibro do telhado e depois para os galhos de uma goiabeira.
E bastou olhar pra baixo pra avistar algo bem mais interessante. No terreiro, ele ficou um bom tempo, ciscando entre folhas secas.
Depois voltou, pousou rente à tela do viveiro e ficou ali, esperando por algo que não entendemos bem o que era.
Pela tela, ele parecia se comunicar com os que ainda estavam do lado de dentro, mas nenhum era de sua espécie. Talvez estivesse apenas se despedindo do lar temporário e agradecendo a hospedagem.
O mesmo aconteceu com Tonho, um trinca ferro sem rabo.
Ele parecia estar na metade de uma muda de penas.
No caso dele, era compreensível o comportamento, pois dos 33 da espécie, havia ali uma moça com quem ele acabou formando um belo casal.
E ele ficou ali um bom tempo esperando por ela, piando e chamando.
Mais tarde, depois que ela saiu, os dois foram vistos juntos em um arbusto perto da mata. Foi possível reconhece-los graças à silhueta cotó.
Entre os azulões, também registramos cenas memoráveis.
Algumas saídas, ora discretas, ora bem espetaculosas.
Idas e vindas foram notadas. Casais se formaram dentro do viveiro, o que nos enche de esperanças de, num futuro próximo, ouvirmos o piado característico dos filhotes pedindo comida aos pais.
Um fenômeno bem interessante pôde ser também notado. Toda ave muda de cor quando ganha a liberdade.
Suas cores ficam mais vivas e ganham mais brilho. As pessoas deveriam pensar nisso antes de aprisionar um animal.
Outras cenas foram também captadas por nossas lentes. O momento do primeiro voo livre é mesmo algo emocionante pra quem se propõe a libertar vidas.
E assim, iniciamos mais algumas histórias. Não são finais felizes, mas recomeços felizes.
Nos próximos 3 meses nós os monitoraremos. Procuraremos observá-los, fotografá-los e, na medida do possível, protege-los.
E nenhuma proteção pode ser mais eficiente que, através de suas próprias histórias, ensinarmos às pessoas alguns valores dos novos tempos.
Se formos capazes de ensinar compaixão às pessoas, talvez outros escravos sejam alforriados, talvez traficantes sejam denunciados ou ainda, o que seria muito melhor, pássaros livres serão respeitados e mantidos em liberdade.
Fica a mensagem.
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