Esta cadelinha foi encontrada em uma tarde de Domingo, vagando em plena Via Expressa, entrando na frente dos carros, em direção ao CEASA. É pequena (menor que um cocker), muito dócil. Embora um pouco arredia e assustada, mostrava-se muito sociável e receptiva à companhia de pessoas. Trazia em volta do pescoço uma grossa e pesada corrente.
Era uma mestiça de Cocker com Basset. Tinha as perninhas curtas do Basset e o pêlo longo e liso do Cocker. Pêlo e olhos da mesma cor. Uma cadelinha alegre, cheia de vida, que em poucos dias foi adotada por uma família. Acreditávamos que ela havia tirado a sorte grande. Foi o presente do dia das crianças de um garoto de 8 anos, que há muito reivindicava um melhor amigo.
A Estrelinha era a cadelinha ideal para aquela família. Bastava que alguém se aproximasse dela que a pequena Estrela se deitava e virava a barriga pra ganhar carinho.
Achávamos que aquele seria mais um final feliz. Ledo engano.
Quando contamos a história da Estrela pela primeira vez, demos à matéria o título: “Quando a adoção é pior que as ruas”. Claro que o título refletia um exagero. Primeiro, porque rua não poderia ser melhor que um lar. Além do mais, a Estrela não era o melhor exemplo de cão abandonado. No dia de seu resgate, estava alegre e bem cuidada. Quando lhe oferecemos água e ração, ela cheirou sem muito interesse e deitou-se, mais interessada em ganhar carinho na barriga que na comida e água que lhe oferecíamos.
Isto indicava que ela não estava nas ruas há muito tempo. Parecia ter se perdido, ou sido abandonada, naquela hora. Apesar de alguns sustos, não chegou a experimentar o sofrimento porque passam tantos de sua espécie, quando descartados e jogados pra fora das casas.
Algum tempo se passou e tivemos notícias da completa adaptação dela aos novos donos. Acreditamos que tínhamos acertado na escolha do adotante. É gratificante finais assim.
Um dia, recebemos uma mensagem da adotante, querendo devolvê-la. Para um cão adulto, cada mudança de casa é um abandono. Pra evitar este sofrimento, e a necessidade dela ficar confinada, pedimos à adotante que permanecesse com ela alguns dias, até que conseguíssemos um novo adotante.
Em mais alguns dias, uma nova família se interessou por adotá-la. Torcíamos que desta vez, a mudança fosse definitiva. Mais um engano.
Uma semana foi suficiente para que este segundo adotante decidisse devolvê-la, ainda com mais insistência.
A recebemos de volta numa noite de terça-feira. Estava escuro, oferecemos-lhe comida e a colocamos para dormir em um canil provisório. Ela parecia cansada e precisando de descanso. Dormiu muito bem à noite, depois de se alimentar.
No dia seguinte, foi possível ver o estrago que uma sequência de erros pode causar.
Recebemos de volta a mais triste de sua espécie. Muito inchada, sem disposição pra brincadeiras. Não parecia nem sombra daquela que resgatamos. De fato, estas duas adoções lhe fizeram mais mal que as ruas. Esta é a triste verdade, muito embora as ruas não tenham tido tempo pra fazer o estrago que costumam fazer.
Foi levada às pressas a uma clínica veterinária. Uma ultrasonografia revelou a causa de sua tristeza e apatia. 58 dias de gestação. Em mais 3 ou 4 dias, a Estrelinha estaria parindo uma ninhada de 6 filhotinhos. Entendemos imediatamente a urgência de sua devolução. Ela havia ficado pouco mais de 3 meses com a primeira adotante, e mais uma semana com o segundo, antes de voltar à nossa casa.
Infelizmente, a gravidez era o mínimo. Uma infecção no ouvido e outra na cauda, que se agravou ainda mais depois que os filhotes nasceram, o que impôs a ela uma caudectomia (amputação).
Logo após o parto, uma hemorragia na vulva também indicou infecção uterina. Mesmo amamentando, e tendo passado por uma amputação da cauda, precisou se submeter a um tratamento com fortes antibióticos, na tentativa de retardar uma nova cirurgia, pra curar a infecção uterina.
Apesar disto, a pequena Estrela mostrou uma força que poucos acreditariam que ela teria. Mesmo durante o tratamento, ela já se mostrava mais animada. Na Clínica, contava com os cuidados da equipe médica. Sabia que estava novamente amparada. Finalmente tinha motivos pra voltar a abanar o rabo, ainda que fosse agora apenas um toco de rabo.
Cuidou de seus filhos como uma autêntica fêmea alfa. Dedicada e cuidadosa. Aquela cena serviu pra nos mostrar que não tínhamos qualquer controle sobre o que aconteceu. Todos os “ses” perderam o sentido: Se ela tivesse sido castrada… Se tivéssemos escolhido melhor o adotante… Se… Se… Se… Nada disto importava.
Os pequenos tinham nascido fortes, saudáveis, e tinham a melhor mãe que a vida poderia lhes dar.
Aqueles filhotes tinham que nascer. Filhos de uma Estrela, nasceram pra brilhar. E não demorou muito pra percebermos isto.
Com 15 dias de vida, já estavam fortes e saudáveis, começando a abrir os olhos.
Permaneceram na Clínica por aproximadamente 30 dias, em razão dos tratamentos pelos quais a Estrelinha estava passando.
Depois de recuperada, duas cirurgias e um sem número de outros procedimentos, estava a Estrela em ótima forma. Quando chegaram em nossa casa, foram todos recebidos por uma matilha agitada e carinhosa.
Assim que chegaram, ganharam nomes. Deixavam de ser “filhotes da Estrelinha” e ganharam uma identidade. Agora seriam individualizados e conhecidos. Era uma família muito especial.
Os três machinhos foram chamados de Bart, Magoo e Alex.
As três meninas são a Danna, Alana e Gaya.
Depois de adotados, entendemos o porquê aqueles pequenos tinham que nascer.
O Magoo seria a companhia de dois garotinhos que haviam perdido o pai há poucas semanas. Aquelas crianças haviam aprendido, da pior maneira possível, a dor da separação. O Magoo chegou pra ajudar a curar uma ferida profunda. Receberia destas duas crianças o amor que não poderiam mais dar ao pai.
A Gaya também tinha uma missão. Encher de alegria o lar de uma família muito especial.
Danna e Alana foram adotadas por Lara e Izabella, duas primas que não se desgrudavam e estavam constantemente juntas. As duas assumiram o compromisso de se encontrarem todos os dias, pra que as duas irmãs crescessem juntas. Infelizmente, uma grave doença, altamente contagiosa e fatal, atingiu as duas pequenas. Tudo foi feito mas elas não puderam ser salvas. Hoje são duas estrelinhas. Se preparam pra voltar e terminar a missão para a qual vieram ao mundo, mas que não tiveram tempo de concluir.
Veja em Saudade, a homenagem às duas menores estrelas.
http://oloboalfa.com.br/alana-e-danna-as-menores-estrelas/
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