Durante mais de 10 dias, esta Cadelinha vinha sendo alimentada por uma protetora, que lhe oferecia comida, água e algum afago. A pequena, carente de tudo, aceitava com gratidão aquele suprimento e seguia seu caminho.
Pela quantidade de leite nas tetas, era certo que ela estava amamentando. Mas ninguém sabia onde ficava o ninho. Nem permitia a Amarela ser seguida.
Em um sábado, decidida a encontrá-la, sua protetora saiu à sua procura, rondando todos os lotes vagos da região, lugares mais prováveis para uma toca de lobos.
Foi ela avistada de longe, saindo de seu esconderijo. Tudo indicava que o ninho estaria naquele lote.
Foi necessária uma busca minuciosa em todo o território, pra que o tesouro fosse finalmente encontrado.
Bem ali, embaixo de uma laje de concreto, em um ninho escavado na terra, infestado de pulgas, alguns dos mais preciosos seres deste planeta. “Filhotes de Lobos”.
Ah! Se fôssemos capazes de enxergar o grande presente de Deus que existe em cada filhote!
A busca estava, em parte, concluída. Infelizmente, o resgate não poderia ser imediato. Todas as clínicas, hotéis e abrigos já estão superlotados. Eles teriam que continuar ali por mais algum tempo. Passariam a receber os cuidados e o carinho de sua protetora, mas continuariam provisoriamente ali.
O lugar não era adequado. Muito mato seco impunha risco de queimadas. Chuva alagaria o ninho, sem falar dos perigos de uma rua movimentada, há poucos metros da entrada da toca.
Mas de tudo isto, o maior risco para os pequenos continuava sendo, infelizmente, aqueles que deveriam protegê-los: humanos.
Vizinhos incomodados com a presença daquela família, decidiram dificultar um pouco mais a vida deles, como se precisassem disso.
Chamaram a carrocinha. Foram todos recolhidos e levados para o Centro de Controle de Zoonoses.
No dia seguinte, seguiu para o Centro uma protetora local, para buscar aquela família. Afinal, eles mereciam um final feliz.
Lá chegando, estavam todos bem e, na medida do possível, bem acomodados. Mas por muito que a Prefeitura pudesse fazer por aqueles cãezinhos, a casa de um protetor será sempre melhor, principalmente para uma família tão numerosa. Onze vidas ao todo.
Finalmente, chegaram onde deveriam estar. As marcas do abandono ficaram no passado. Os pequenos foram disponibilizados para adoção, assim como a mãe. A Amarela mostrou-se a mais dedicada de todas as mães. É uma cadela grande e forte, mas ao mesmo tempo delicada e dócil.
Demostra afeição por qualquer pessoa que se aproxima, mesmo que ela ainda não conheça. Parece ser ainda jovem, e disputa carinho e atenção com os filhotes, como se fosse um deles.
Já os pequenos, estão crescendo muito rápido, indicando que ficarão grandes e fortes como a mãe. São descendentes diretos dos lobos cinzentos, do leste asiático.
Para os apaixonados por lobos, eles não têm preço.
Mas ainda assim, foram doados.
As fêmeas são Bia e Mila
E os quatro machinhos são Tonho, Bené, Luigi e Rick
Mas como já se esperava, a fila de pretendentes foi grande, e os pequenos foram rapidamente adotados.
Como descendentes de lobos, têm os caninos desenvolvidos, e prontos para serem usados em chinelos, vassouras, panos de chão, móveis, brinquedos, orelhas de outros lobos, dedos humanos e tudo o que estiver a seu alcance. São predadores eficientes. Foram entregues aos novos donos com garantia de satisfação e felicidade por 10 anos, se bem cuidados.
Após a partida dos filhotes, restou à Amarela fazer de cama a mesma bacia que serviu de “play graund” para os pequenos. Se encolhia pra caber na pequena bacia, como se buscasse o cheiro de seus filhos, ou algum contato residual remoto com eles. Estas separações são muito tristes, sobretudo para as mães.
Mas nada podíamos fazer. Este foi o preço que pagaram os lobos por sua aproximação à nossa espécie. Enquanto tinham vida livre, os filhotes cresciam e se mantinham na mesma matilha. Mas neste novo estágio evolutivo, os pequenos precisavam partir mais cedo. Sempre que doamos uma ninhada, nos esforçamos pra que a mãe seja também adotada junto com uma de suas filhas, mas nem sempre isto é possível. A tristeza da Amarela nos cortava o coração, mas tínhamos que nos conformar.
Cada um levou na bagagem um futuro diferente. Aos protetores que os ampararam, restava apenas torcer pra que tivessem acertado na escolha dos adotantes. Daí em diante, novas histórias teriam início.
Mais tarde foi a vez da Amarela encontrar seu lugar. Foi adotada por uma ótima família.
Mais um final feliz, digno de ficar registrado.
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