Joaquim apareceu em uma avenida movimentada no Bairro Cidade Jardim. Estava magro, assustado e visivelmente debilitado. Desconfiado em relação às pessoas, não permitia a aproximação.
Por muitos dias foi monitorado pela Flávia que, além de alimentá-lo, buscava um lar temporário ou adotante, para que pudesse ser resgatado.
As primeiras fotos divulgadas mostravam o Joaquim ainda nas ruas. Ele não tinha experiência e refletia a tristeza de ter sido abandonado.
Estava claro que ele já teve uma casa. Um cão como aquele não poderia ter se criado nas ruas.
Mas a resistência dos lobos não costuma ser muito rígida. A carência, o frio, a fome e o medo impõem a eles a proximidade humana, mesmo que, para um cão abandonado, pareça ruim.
Ele até que resistiu muito. Suas protetoras levaram mais de 30 dias para conseguirem resgatá-lo. Ele já dava sinais de cansaço e não tinha mais forças pra continuar lutando. Precisava de resgate, ou seria mais uma baixa provocada pelo abandono.
Mas o destino dele já estava traçado. Ele havia cruzado o caminho de protetores e isso nunca acontece por acaso.
Mesmo resistindo e rejeitando a aproximação, a persistência de suas salvadoras só poderia resultar em um resgate bem sucedido. Em um dia comum, mais um salvamento acontecia no meio da rua, pra quem quisesse assistir.
Naquele dia, ainda no porta-malas do carro, ele refletia a angústia que aquele momento lhe causava. Como confiar em estranhos, se aqueles a quem ele aprendeu a amar o abandonaram?
Já na casa da Rosana, foi recebido pelo Sr. Gerardus, que o recebeu no colo, proporcionando-lhe cuidados de rotina, mas que ele talvez não conhecesse. A situação ainda era tensa, mas aquele banho marcou o início de sua socialização. Aprendeu, enfim, que humanos não são todos iguais.
De todos os envolvidos, ninguém mais que o Joaquim queria esquecer e sepultar de vez o passado. A sorte é que eles não precisam de muito pra isso. Esquecem muito fácil. Apegam-se a novos donos também com a mesma facilidade. A vida não poderia lhe dar presente melhor que a sorte de uma adoção rápida. Se cada mudança de casa é um abandono, ele não merecia viver mais um.
E, como se ouvisse as preces de suas protetoras, os novos donos chegaram, com tudo que ele merecia. Uma casa grande em um condomínio, com direito a espaço, companhia humana e canina, jardins e colo.
Afinal, quem disse que vira-lata de porte médio não é cachorrinho de colo?
O Joaquim olhava tudo desconfiado. Seria um sonho? Será que morri e aqui é o Céu?
Talvez seja amigo. Mas nada que você não merecesse. Afinal, todos os cães merecem o céu.
E que esta história abra os caminhos para outros lobos errantes, para que encontrem o Céu que merecem.
A nós, resta abrir as portas de nossas casas. Cada sala, cada quarto, cada jardim, é um Céu para lobos que esperam pelo milagre da adoção.
As últimas fotos já mostram um lobo negro completamente adaptado e feliz.
Um resgate de Flávia Lima e Rosana Schepop: flavialimayorks@gmail.com / rosanaschepop@hotmail.com
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