Ele foi torturado, antes de ser abandonado. Quando encontrado, estava com uma ferida em cada uma das patas dianteiras. As feridas eram idênticas. Os dois polegares foram arrancados, provavelmente a faca ou alicate.
Nos primeiros meses após o resgate, recebia as pessoas com a cauda escondida entre as pernas, demonstrando o pavor que a proximidade humana lhe causava. Aos poucos, foi cativando os voluntários da ONG, aceitando a aproximação e redescobrindo o que lhe vai na alma.
Basta ser retirado do canil para um passeio, ou mesmo para um bom banho quente, que ele se transforma. Levanta a cabeça, mostrando-se orgulhoso de sua estirpe. Adora ser escovado e pede colo sem nenhuma cerimônia. Desconfiamos que tenha sido um Poodle na outra vida. Por isso tem comportamento de cachorrinho de colo.
Depois de alguns meses na ONG, já estava totalmente recuperado, vacinado, castrado e com exame negativo para Leishmaniose. Adora companhia de crianças e de outros cães. Parece mestiço de Border Collie. Tem o tamanho, o porte, a energia e a vitalidade da raça. Apenas os dedinhos nunca mais cresceram. Mas ele carrega aquelas falhas como um troféu, um atestado de sobrevivência de quem conheceu o inferno e voltou, mais forte e feliz.
Infelizmente, esta volta do inferno não foi a única. Um dia, chegou a ser adotado em uma das feiras da Cão Viver mas, quatro dias depois da adoção, foi devolvido, muito debilitado, sendo transferido para a enfermaria.
Depois deste episódio, parecia que estava com medo de adoção, a ponto de não querer mais ser adotado. Era natural que tivesse medo. Afinal, as experiências foram sempre as piores.
Esperou-se a poeira abaixar e os voluntários voltaram a cuidar de sua socialização. Em um sábado, uma protetora resolveu proporcionar a ele momentos de cãozinho de estimação. Bastou colocá-lo na coleira para um passeio que ele voltou a ser o garoto alegre e sociável de antes. Lobos se recuperam muito rápido e têm uma espantosa capacidade de esquecer e perdoar.
Depois do passeio, foi ele devolvido ao canil. E, mais uma vez, seus olhos expressaram a mais profunda decepção. Ele parecia pedir: Não me deixe aqui.
Este lobinho era mesmo muito especial. Os voluntários da Cão Viver prometeram a ele que encontrariam uma família especial para adotá-lo. Pessoas que o merecessem e com quem ele pudesse contar em todas as horas.
Esse dia chegou, coincidentemente, também em uma manhã de sábado. Não muito longe do abrigo, alguém, através do site SOSBICHOS (www.sosbichos.com.br), ficou conhecendo a história do Leo e se sensibilizou, tomando a decisão de dividir com ele o território conquistado.
Na nova casa, além de muito espaço, jardins, terreiro e o direito de conviver dentro de casa, ele ganhou ainda a companhia do Polar, um Poodle tão sociável quanto o Leo.
Joana e Bruno são os nomes de seus adotantes, ou melhor, salvadores.
O relato de como foi a chegada e os primeiros momentos do Leo na nova casa, nos foram enviados pela Joana, tal como postado abaixo.
Assim que chegamos na orla da Lagoa, o Léo levantou a cabeça para poder sentir o cheiro a sua volta. O Polar (nosso Poodle) fica sempre agitado em viagens de carro. O Léo não. Ficou deitado o tempo todo, como se estivesse completamente acostumado com a situação.
Quando chegamos em casa, nos certificamos que tudo estava fechado para não ter chance dele fugir e o Bruno o carregou até o caminho de entrada da casa, que são umas plataformas. Ele não sabia o que fazer e demorou um pouco até subir para a casa. Eu o carreguei até a entrada, pois ele ficou um pouco receoso diante das escadas.
Aqui dentro, ele cheirou tudo e foi se aconchegando. O Polar não entendeu nada e avançou nele algumas vezes. Depois de beber água, fazer dois xixis e um coco no corredor de entrada (hehehe… ele vai se acostumando com o fazer lá fora!), ele deitou na caminha dele que fica na sala e dormiu de quase roncar.
Foi relaxante e um alívio ver como ele se sentiu confortável aqui. Ele até levantou o rabo depois de duas horas.
No dia seguinte, logo cedo, levantei para ver como ele havia passado a noite. Ele ainda estava deitado na caminha e não havia nenhum “acidente” pela casa. Ele usou a areazinha dos fundos para um xixizinho noturno.
Depois de tomar café, esquentei água para lhe dar um banho. Ele ficou tenso e louco para eu acabar. Eu também fiquei tensa e fiz o mais rápido que pude para que ele não ficasse nervoso. Deixei ele aninhar na toalha que coloquei no chão e sequei um pouco do excesso de água com um secador, deixando que secasse o resto ao sol.
Ele estava feliz e até correu um pouco com o Polar. O mais interessante foi que o Polar tentou brincar com ele – acho que o cheiro novo foi cativante – e para meu espanto o Léo latiu de volta! Até o Polar levou susto.
Duas coisas que eu percebi que ele adora: ficar aninhado na caminha dele e colado em mim na cozinha para ver o que estou fazendo e se darei alguma coisa que não seja ração.
Mas o mais interessante é ver na carinha dele: “Estou em casa, finalmente!”
Tão importante quanto o relato, são as fotos. As duas primeiras mostram o momento do encontro do Leo com sua nova família: Bruno, Joana e Polar. Todos fizeram questão de ir até a Cão Viver para buscá-lo.
Depois, já em casa, reconhecendo o território, que lhe foi apresentado pelo Polar, é claro. Afinal, nada melhor que as boas vindas de outro lobinho.
À noite, aconchegou-se em uma caminha que lhe foi preparada com muito carinho. No dia seguinte, foi percorrer todo o território, junto com o Polar, é claro. Temos a certeza de que, em poucos dias, eles se tornarão os melhores amigos de infância.
Cuidados assim ele ainda não conhecia. Talvez tenha experimentado conforto igual, enquanto ainda não podia ver o mundo e se aquecia nas tetas de sua mãe.
Mas desse tempo, ele não vai se lembrar. Conheceu o pior de nossa espécie. Foi resgatado e tratado com dignidade, enquanto esteve sob os cuidados da Cão Viver. Infelizmente, dignidade e um pouco de carinho é o máximo que um abrigo pode proporcionar. Mas eles merecem muito mais.
A triste história do Léo é agora uma página virada. Claro que temos ainda muitas outras páginas a virar.
Mas, uma página de cada vez. Agora, foi o Léo. Sua história recomeça aqui. Pra ele, o passado não existe mais. Ele é feliz e não se lembra mais dos ex-donos, das ruas, das maldades que sofreu.
Talvez até esqueça o abrigo, os funcionários e voluntários. Mas isso não nos magoa. Importante, é saber que ele está onde deveria ter nascido. Está bem, feliz e equilibrado, como jamais esteve em toda a vida.
Este é o final que desejamos a todos os que cruzam nosso caminho.
A você Léo, desejamos que seja muito feliz, o mais que você conseguir.
À nova família que o recebeu, Joana, Bruno e Polar, nosso muito obrigado. Que vocês sejam um exemplo pra outras famílias. São muitos, tão especiais quanto o Leo, que precisam e merecem uma nova chance.
De fato, parecia sina. Mas, na verdade, era destino.
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