Os lobos modernos (domésticos) evoluíram pra dividir a vida conosco. São dependentes e precisam ser amparados e protegidos para que tenham uma vida digna e de qualidade. Não sobrevivem se maltratados. Não sabem se proteger, não conseguem encontrar comida, não são resistentes a doenças e dependem de vacinas e remédios para crescerem felizes e saudáveis.

A vida sempre equilibra as coisas, mas nós, humanos, parece que evoluímos para desequilibrá-las. É certo que o mundo seria melhor quanto maior o número de cães sobre ele. Isso é lógica simples de quem ama lobos, de quem tem ou teve o privilégio de conviver com eles, de quem sabe o quanto são especiais.

Exatamente por isso, para que o mundo melhore, é que os lobos se reproduzem tão rápido. Infelizmente, ainda não percebemos que cada lobinho que vem ao mundo é um presente de Deus pra nos melhorar.

O número de cães sobre a terra, entretanto, precisa ser proporcional à nossa disponibilidade de ampará-los e protegê-los. Ou melhor, invertendo as coisas, a nossa capacidade de ampará-los e protegê-los deveria ser proporcional ao número de lobinhos que vêm ao mundo.

Qualquer que seja a ordem do raciocínio, o desequilíbrio está aí pra quem quiser ou puder ver. Se todos os amantes de cães despertassem para essa triste realidade, conseguiríamos bons lares para todos.

Há algumas semanas, alguém que não teve a capacidade de ver o tesouro que tinha nas mãos, jogou três filhotinhas, com poucos dias de vida, às margens de uma estrada rural, longe de tudo, sem casas por perto, sem comida, sem abrigo, sem água.

Estavam há 80 quilômetros de Belo Horizonte, em uma estrada de terra onde poucos veículos conseguiriam chegar.

Como eram muito novinhas (aproximadamente 60 dias), a morte viria em questão de dias. Morreriam de fome, se não fossem comidas vivas por larvas em feridas infeccionadas, ou mesmo por parasitas.

A eutanásia teria sido menos cruel.

Viveram nessas condições por cerca de 30 dias, bebendo água da chuva, quando chovia, e comendo capim e os restos de uma carcaça de um bezerro, disputada com urubus.

As fotos da carcaça do bezerro não são bonitas, mas devem ser mostradas. Se o coração não sente o que os olhos não veem, é preciso mostrar o que acontece depois do abandono, depois que se viram as costas.

Os urubus sequer resistiam às investidas das lobinhas, como se soubessem que elas viriam, em breve, a fornecer a eles mais suprimento de comida.

Por algum motivo, que não é difícil imaginar, elas eram também arredias. Não permitiam a aproximação de pessoas, o que impossibilitava o resgate. Embrenhavam-se na mata ao menor sinal de gente, indicando claramente não serem agradáveis as lembranças que guardavam dos primeiros contatos humanos.

Um dado também chamava atenção. Eram três filhotes fêmeas, mestiças da raça Americano.

São cães usados como caçadores ou mesmo para vigiar fazendas. As características das pequenas indicavam sua origem. Não foi difícil saber quem tinha cães daquela raça. Estranhamente, somente as fêmeas de uma ninhada inteira foram descartadas e abandonadas para morrer. Essa foi, sem dúvida, a forma mais desumana, covarde e cruel de se “controlar a população”.

Os procedimentos para o resgate teriam que ser iniciados. Um senhor chamado Irineu, que trabalha em uma fazenda a certa distância, dispôs-se a resgatá-las. Precisaria antes conquistar a confiança delas e nada poderia ser mais eficiente e urgente que alimentá-las.

Assim, elas passaram a ser alimentadas diariamente, ora com ração, ora com biscoitos e pães. Qualquer coisa serviria pra tirá-las daquele estado avançado de desnutrição e fome. Avançavam sobre a comida, chegando a engolir pedaços enormes, sem nem mesmo mastigar, demonstrando claramente estarem famintas e desnutridas. As costelas estavam salientes, assim como os caroços dos bernes que já as comiam vivas.

Em alguns dias, elas já demonstravam confiança em seu tratador. Finalmente, o resgate viria. Foram levadas para a fazenda onde trabalha seu salvador. Receberam comida, senão de qualidade, pelo menos em quantidade suficiente. Também receberam tratamento contra bernes, com misturas caseiras usadas para bovinos.

E, para socializar uma matilha de lobos selvagens, nada melhor que outra matilha equilibrada e sociável.

A Lua havia acabado de se despedir de suas duas filhotinhas e ainda trazia o cheiro de mãe.

Sem contar ainda as eternas babás oficiais, Pintada e Estopa.

As filhotes se aproximavam da Lua e da Pintada, demonstrando submissão, posicionando a cauda entre as pernas e deitando-se, virando a barriga.

Também lambiam-lhes a boca, numa postura típica dos filhotes de seus antepassados que usavam esse mesmo gesto para estimular os adultos que chegavam de uma caçada a regurgitar alimentos sólidos.

É fascinante ver as características evolucionárias dos lobos se manifestarem nos cães domésticos. Pena que, neste caso, em condições tão tristes.

Passados os primeiros momentos e superada a fase de apresentação, todos já formavam uma grande e equilibrada matilha.

A Lua já se dispunha a brincar com os filhotes, relembrando as brincadeiras com a Suzi e Sany, não tão distantes no tempo.

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As pequenas seguiam a nova matilha, buscando a proteção dos adultos que há muito haviam perdido e que tanta falta lhes fez. Observavam tudo como se buscassem aprender como se tornar adultos equilibrados e saudáveis.

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Elas não entendem que não conseguirão isso sozinhas. Dependem de humanos.

Somente amparadas e protegidas serão tão bem sucedidas quanto aquelas que lhes serviam de espelho.

Mas a história das pequenas lobinhas terá um final feliz.

No fim do dia, precisávamos partir. Deixaríamos as pequenas, que ainda não têm adotantes.

Esta é a imagem que levamos da Mila, a mais debilitada das três, e também a que mais se afeiçoou à nova matilha.

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Mas elas estão alimentadas, abrigadas e protegidas. Foram também desparasitadas, vermifugadas e vacinadas.

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Já estavam livres das pulgas e, em poucos dias, não haveria nem sinal dos bernes.

Restava apenas esperar pelos adotantes, ou por um abrigo mais seguro e mais próximo, para que pudéssemos buscá-las.

Vamos às apresentações.

A Mila é a mais submissa das três. Muito dócil, carinhosa e carente. É também a mais fraquinha e mais debilitada. Foi a mais afetada pelos bernes.

Deve ficar de porte médio.

Beth é a líder desta pequena matilha. É a típica fêmea alfa. É a única que, na mistura, nada herdou da raça. É uma vira-lata legítima. Deve ficar de porte pequeno a médio.  Pretinha com as orelhas de pé, típicas de um lobo guará, de um cão pastor, ou de cão sem raça mesmo.

A Fany é também clara, focinho afinado, orelhas grandes e pendentes, pernas compridas, características da raça Americano.

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Elas passaram a viver em uma fazenda, sendo alimentadas e cuidadas por seu salvador, Sr. Irineu, o mesmo que as alimentou enquanto ainda viviam em estado selvagem e que, agora, era o responsável por sua socialização. As três não saíam do rastro de seu salvador. Seguiam-no por todos os lados, até debaixo de chuva.

Viveram na Fazenda por 3 semanas, quando então surgiu a oportunidade de serem trazidas para Belo Horizonte. Três vagas no canil dos adolescentes da Cão Viver seria o lugar ideal. Ali estariam mais protegidas, seriam acompanhadas de perto por médicos e receberiam os últimos retoques para que fossem entregues para adoção.

Quando chegamos na Fazenda para buscá-las, a partida iminente foi sentida. Era visível que elas queriam continuar ali. Mas o local não era seguro. Ali, elas estavam expostas a muitos perigos e com a Cão Viver, suas chances de adoção eram melhores.

A Beth, a menorzinha das três e também a mais apegada ao Sr. Irineu, deixou claro a saudade que sentiria e a insegurança que aquela despedida lhe provocava. Afinal, nasceram de novo e não sabiam o que a vida lhes reservava.

Estavam bem cuidadas. Assim que chegaram à Cão Viver, foram castradas e deixaras no ponto para a adoção.

Em algumas semanas, foram as três adotadas e partiram para escrever uma nova história. Esperamos que tenham caído em boas mãos, que sejam os adotantes pessoas de bem, responsáveis e carinhosas. Elas mereciam o melhor.

Agradecemos à Cão Viver a acolhida das meninas.

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