Não sei que nome dar a isso. Também não consigo definir os sentimentos que me tomam.
Esta foi a visão que as protetoras tiveram, quando chegaram ao local de uma denúncia. Falava-se de um cachorro que vivia amarrado nos fundos do quintal.
Até aí, nada diferente do que encontramos por aí. Tem muita gente que não entende que corrente é instrumento de tortura.
De longe se via um cachorro preto, deitado, olhando a aproximação de pessoas estranhas, sem esboçar reação. Será que vai latir? Será bravo?
Bastou aproximar um pouco mais pra se perceber que o problema era muito maior do que o que o denunciante contou.
Não era apenas um cachorro que vivia em corrente. Era um cachorro que tinha sido esquecido na ponta da corrente. Não havia água, comida e o Lobinho, nome que recebeu de suas salvadoras, já não se levantava mais.
Não tinha mais carne entre os ossos e a pele.
A pele, por sinal, estava fina e ferida, pela desidratação e desnutrição, mas também muito queimada pelo sol e por assaduras, já que ele não levantava mais e já começava a se sujar com os próprios excrementos.
Ele não tinha abrigo. A caixa de papelão que havia no lugar, um dia deve ter sido um abrigo, mas fazia muito tempo que ela tinha se desmanchado, talvez desde a última estação chuvosa.
Em resumo, ela estava mais morto do que vivo, e a causa era fome, apenas fome. Gritava de dor quando manuseado, pois sentia os ossos. Foi transportado em uma caixa de papelão, que, já na clínica, veio a ser aberta para evitar ao máximo ser manuseado.
O exame clínico foi conclusivo, sendo-lhe receitado vitaminas e muita, muita ração. Ele devorava qualquer coisa que fosse colocado em sua frente, confirmando o que estava estampado em suas costelas.
Exames ele só pôde fazer dois dias depois, porque não havia sangue pra ser retirado. O pouco que saísse na seringa iria lhe fazer falta.
Os dias se passaram e o Lobinho devorava qualquer quantidade de ração que lhe oferecessem. Ele passou a fazer muitas receições ao dia.
O recado que ele dava às suas protetoras era de que queria viver, e que faria a sua parte. Não que fosse muito sacrifício encher o bucho. Aliás, ele aprendeu da pior maneira possível que precisa comer como um lobo numa carcaça em tempos difíceis.
Ele levou uma semana pra conseguir se levantar. O coração ainda batia, mas seus olhos não brilhavam.
Os cães morrem primeiro pelos olhos, e o lobinho já não tinha mais vida.
Mas havia uma coisa em especial que o fazia lutar pela vida. Pra ser mais preciso, um colo.
Ali ele se aconchegava, suspirava, revirava os olhos e demonstrava todo o afeto que ele tinha pra dar e que nunca ninguém se dispôs a aceitar.
Sua paixão por sua protetora é tanta que até de banhos ele gosta. Afinal, quanto mais demorado o banho, mais tempo ele pode passar com as pessoas, e mais toque de dedos ele terá.
Este foi o começo da história. Muitas coisas foram vencidas e, em tempo recorde, ele estaria prontos para adoção. Sabíamos que, ao final, restaria vencer o mais difícil: o preconceito contra um SRD médio, preto de pelo curto.
Resgatá-lo e recuperar sua saúde é muito menos do que ele merece.
Mas ele agora já sabe que as pessoas se importam com ele. E já é capaz de sorrir.
Sua recuperação foi mesmo muito rápida e, em poucos dias, teve alta médica. Da clínica, foi direto para a casa de sua protetora, onde passou a viver como um lobinho de apartamento.
Só falta agora o Lobinho encontrar alguém verdadeiramente especial na vida dele.
O Lobinho se mostrava medrosinho, curiosinho, comilãozinho e obediente. Ele gostava de brincar e era muito carente. Aprendeu a ser um cachorrinho de estimação, e deixava claro o tempo inteiro que nasceu mesmo pra isso (Na verdade, a espécie dele evoluiu pra isso).
Depois de castrado e com todas as vacinas em dia, inclusive a vacina contra leishmaniose, só faltava esperar pela adoção.
E ela chegou com tudo. Helena e Romeu decidiram mudar a vida dele. Na casa, uma melhor amiga de infância chamada Pretinha, também retirada recentemente das ruas. Os dois deram-se muito bem.
Corrente e fome, nunca mais.
Publicaremos aqui as atualizações e fotos que nos forem enviadas. Obrigado a Helena e Romeu, pela acolhida do garoto.
Um resgate de: Patrícia Mckey: patriciamd@globo.com
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