Pra contar minha história, preciso falar da minha mãe. Afinal, há pouco mais de dois meses, eu ainda me desenvolvia em seu ventre.

Minha mãe foi abandonada e depois ignorada por muita gente que passou por ela. Entrou no cio e foi fecundada pelo meu pai, que também foi abandonado e ignorado, mas que só entrou nessa história por força de circunstâncias.

Ninguém notou que eu e meus irmãos crescíamos dentro daquela cadela magra e faminta. Ninguém sequer pensou que talvez precisássemos de ajuda.

Nascemos enfim, em algum lugar sujo, escondido, precário. Por milagre, cheguei vivo até aqui. Meus irmãos ficaram pelo caminho.

Minha mãe também não teve forças. Não sei bem o que aconteceu com ela. Há muitos dias deixou de nos alimentar.

Eu também estava morrendo. Já não tinha mais forças e já me preparava para fechar os olhos e dormir para sempre, como meus irmãos. Foi aí que percebi que um anjo pousou ao meu lado. Eu não podia vê-lo, mas sabia que estava ali, me chamando pra caminhar.

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Então, eu saí caminhando sem destino. Na verdade, eu tinha um destino. Esse anjo me conduziu até a metade do meu caminho, quando cruzei com alguém disposto a me ajudar.

Ainda não era a minha mãe, mas era alguém que ficaria comigo até a minha mãe chegar. E também cuidaria de mim, já que sozinho, eu não chegaria muito longe.

Eu estava com muita fome e sede. Estava desidratado, desnutrido, anêmico e muito doente. Não teria durado muito se continuasse sozinho.

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Meu amigo me levou para uma clínica veterinária, onde fiquei por uma semana inteira, tomando soro e muitos remédios.

Eu chorava muito, de dor, de medo e de tristeza. É que nós não conseguimos perceber que o sofrimento é apenas um processo. Vivemos apenas o presente e, se algo está ruim, queremos o fim daquilo.

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As agulhas doíam muito. Furaram três das minhas perninhas, pra colocarem agulhas. Ainda pior que as agulhas, era aquele colar.

Foram dias tristes, porque eu não sabia se um dia eu teria uma vida feliz. Afinal, para um filhote ficar internado por uma semana inteira, era porque meu estado não era bom.

E a luta foi mesmo grande pra me manterem vivo.

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Sei que fizeram o melhor, mas não tenho nenhuma razão pra sentir saudade. Tia Nívea cuidou de mim, como cuida do Chipinho. Até travesseiro ela colocou pra mim.

Eu ainda não sabia quem seria a minha mãe, mas queria a mesma sorte do Chipinho.

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Depois de uma semana, eu ainda não estava bem, mas já podia continuar o tratamento em casa. Só esqueceram que eu não tinha casa.

Eu não tinha pra onde voltar. Minha família inteira já tinha morrido e eu ainda nem conhecia a minha mãe. Acho que ela também ainda nem sabia que eu existia e que estava esperando por ela.

O lobinho que deixou a clínica já era outro. Eu ainda estava doente, mas já me sentia melhor. Ainda estava triste, pois me sentia sozinho e a incerteza quanto ao futuro doía muito. Fiquei imaginando se não teria sido melhor se eu tivesse seguido para o céu, junto com os meus irmãos.

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Minhas pernas traziam ainda as feridinhas das tantas agulhas. O lugar raspado e a quantidade de furinhos mostravam o quão doída foi aquela semana.

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Descobri, enfim, que eu tinha um lugar pra morar, até a minha mãe me achar. Ganhei uma toquinha que parecia ter sido feita especialmente pra mim.

Uma boneca de corda me foi emprestada por uma cachorrinha da casa, para que eu não me sentisse tão sozinho.

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Valeu a tentativa, amigos. Enquanto minha mãe não chega, eu vou ficar brincando. Quando ela chegar, me chamem.

Para o que se devia esperar de um filhote de dois meses, eu estava bem desanimado. Até esboçava algumas brincadeiras, mas sempre com medo.

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Dormia muito. É que os vermes e a giárdia haviam mesmo esgotado minha força e energia.

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Quando na varanda, gostava de ficar deitado em uma toquinha, vendo o movimento da rua. Os outros cães latiam, mas eu ainda não estava pronto pra soltar minha voz.

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Também continuava tímido com as pessoas. Afinal, minhas referências não eram boas.

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Levou um tempo até que aprendi a pedir carinho para as pessoas. Diziam que eu tinha carinha de pidão, e acho que tinha mesmo, porque ninguém resistia às minhas orelhinhas baixas e aos olhinhos repuxados.

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Com o passar dos dias (No meu caso, das horas), toda aquela tristeza e medo começavam a desaparecer. Eu era um filhote de apenas 2 meses e é claro que em pouco tempo já estaria correndo e pulando, como todos esperam.

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Eu até que tentei fazer amigos entre os outros cães da casa, mas eu tinha medo de tudo. Todos os cachorros aqui eram maiores que eu e as brincadeiras poderiam me machucar. Eu ainda estava fraquinho demais.

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Então, eu não tinha muito com quem brincar. Sentia saudade dos meus irmãos.

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Um dia, meu padrinho chegou com mais um amiguinho. Fred era o nome daquele ursinho vermelho.

Naquele dia, eu conheci meu melhor amigo.

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O Fred não me faz mal. Ele é amigo bonzinho e fica o tempo todo quietinho, igual os meus irmãos depois que morriam.

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Ele nem reclamava quando eu puxava suas orelhas. Acabei me afeiçoando ao Fred. Tornamo-nos inseparáveis.

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Eu ainda esperava pela adoção, mas sabia que minha mãe viria me buscar. O caso é que, pra me adotar, ela terá que levar o Fred também.

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Já aviso que o meu amiguinho Fred é bonzinho, não faz bagunça, fica todo o tempo quietinho, não precisa de vacinas e nem de remédios.

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De vez em quando, ele poderá tomar banho, mas só se for banho rápido, porque eu não gosto de ficar muito tempo longe dele.

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Eu tive alta do hospital na sexta-feira, dia 04 de março. Nas recomendações médicas, eu tinha ainda mais 10 dias de antibióticos e vitaminas.

Só depois dos remédios poderei iniciar a vacinação.

Estávamos para adoção, eu e meu amigo Fred. Estava escrito nas estrelas que seria uma adoção conjunta.

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Eu dormia muito, e sempre abraçado com o Fred. À medida que eu melhorava, começava a me soltar e interagir com os meus novos amigos.

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Eu gostava de correr atrás da Hanna. Ela estava sempre na varanda, fazendo bagunça.

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A Estopinha também era legal. Ela estava sempre ali conosco, nas brincadeiras.

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Conheci o Cuqui, um lobo muito legal e que teve muita paciência comigo, desde o primeiro dia.

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O Cuqui também passou por poucas e boas e estava ali naquela casa também esperando por adoção.

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Aos poucos eu começava a me soltar. Ainda um pouco tímido e menos bagunceiro do que meus amigos gostariam, mas eu estava no caminho certo.

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Conheci também a Pintada. Ela aceitou ser minha mãe por uns dias, até que a minha mãe de verdade chegasse.

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Com ela eu podia me soltar, pular e morder. Eu podia tudo, feito criança sem limite.

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Claro que depois de umas boas artes, todo lobinho precisa saber a hora de se mandar.

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Mas era só por uns segundos, pois logo eu estava lá, provocando de novo.

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A cauda da Pintada era grande e gorda. Além de um ótimo brinquedo, servia também de travesseiro. Dava até pra dormir.

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Eu já estava mais confiante quando tudo aconteceu. Eu estava tranquilo, me preparando pra dormir, quando ouço vozes na varanda.

Era ela. Minha mãe tinha vindo me buscar.

Eu me lembrei daquele anjo que me fez caminhar. Ele disse que eu teria uma mãe e que a reconheceria.

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Ganhei de uma só vez uma mamãe, um papai, dois irmãozinhos de verdade e até uma tia muito legal. Um dos meus irmãozinhos chama-se Fred, igual o meu companheiro de toca.

Ganhei muitos abraços e apertos. O Fred também ganhou muitos apertos. Ele foi adotado junto comigo.

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Até selfie nós tiramos, pra mamãe poder enviar minha foto pro papai. Acho que ele vai gostar de mim.

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Sabem o que eu acho? A vida poderia ser mais simples. Não precisava de tantos caminhos tortos. Eu podia ter nascido de você, né mamãe?

Luidi 39Registramos aqui nosso mais sincero agradecimento à Valéria, por tão especial acolhida de nosso pequeno guerreiro.

Vá ser feliz, Luidi.

Este era o seu destino. Fomos apenas um pequeno pedaço do caminho, e somos muito gratos à vida, pela oportunidade de tê-lo encontrado.

Foi uma alegria tê-lo em nossa casa, mesmo que por tão pouco tempo.

 

 

 

ATUALIZAÇÃO

As atualizações da história do Luidi, que agora será Luigi, ficarão a cargo da Valéria, que mais que adotar o Luigi e transformar a vida dele, dará sua contribuição para abastecer nosso site, com o exemplo que esperamos seja seguido por muitos.

As narrações mudam de redator, mas são mantidas em primeira pessoa.

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Eu tinha um amiguinho, o Fred, que era bem legal, só que meio quieto demais. Estava morando na casa do Tio Crispim, que foi mais, bem mais que um tio pra mim. Ele me salvou.

De repente, apareceu a Valéria. Ela veio aqui, me levou pra passear de carro e a gente chegou num lugar muito grande com “grama”? Nem sabia que isso existia (Fazer cocô e xixi na grama é tudo de bom!). Aqui eu tenho muito carinho, muito amor, caminha quentinha e comidinha natural orgânica (não sei o que é isso, mas é uma delícia!)

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Além de tudo isso, ganhei um AMIGÃO, o Fredão. Só que ele não tem nada de quieto. Mas, acho que vamos ser grandes amigos.

Só tem uma coisa meio esquisita: ela pôs uma roupa em mim. Depois de um tempo, eu percebi que não é tão ruim porque aqui faz frio. É, acho que aqui é o que vocês chamam de lar.

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PS acabei de comer arroz integral, abobrinha, berinjela, tomate, couve, alface, carne moída, moela de galinha, casca de ovo, alho fresco e azeite extravirgem.

Ah! Tomei coalhada no café da manhã.

Beijos a todos que me ajudaram e tornaram essa história possível!

Luigi

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Oi, tio Crispim. É só pra te dizer que estou ótimo, Não tenho como te agradecer por tudo que você fez por mim.

Achei muito esquisito aquele negocio de agulhas (acupuntura). Achei que ia doer, mas não doeu.

Gostei mesmo foi da tal da massagem. Uma delícia! Aqui tem um negócio que eles chamam de quentinho. Eu tava c frio e esquentei rapidinho.

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Só mais uma coisa:

Tem um negócio chamado música que eu curti demais. Um tal de Nat King Cole.

Tem um outro cara que eu não gostei muito não, um tal de Élvis alguma coisa, é barulhento demais.

Então, vou te dando notícias da minha nova vida. Um beijo do sobrinho que sempre vai te amar, Luigi.

CARTA DO LUIGI – ABRIL/2016

Oi, tio. Que saudade!

Não pense que te esqueci, nem por um minuto. Mas tem tantas coisas novas a cada dia que quando vejo: o dia passou e eu não te escrevi.

Aqui em casa (adoro falar isso!), tá tudo ótimo. Tivemos uma visita por uma semana, a Atena. Os pais dela viajaram e ela ficou aqui com a gente. Ela é meio doidinha, mas é legal. A gente brincou até cansar, ela me disse que a raça (?) dela é Greyhound italiano (???). Fingi que entendi e mudei de assunto porque ela me perguntou qual era a minha raça (?) e não soube responder, não quis parecer ignorante.

A Malu me explicou depois que existem cachorros iguais entre si e que isso é uma raça e que eu sou um pouquinho de todas que existem. Eu fiquei super feliz, afinal de contas, sou todas as “raças” em um só. Passei a me sentir muito importante.

A Atena fala de um jeito estranho, diferente do nosso, ela me disse que nasceu em São Paulo (?), num canil (?), e que já andou de avião. Mas, mesmo sendo assim tão fina, ela não é metida não, queria que ela ficasse aqui pra sempre.

Eu já estou pesando 4,800kg e, graças a Deus, as roupinhas estão começando a não servir mais.

Eu e o Fred somos os melhores amigos. É muito bom brincar com ele, posso dar a minha super mordida que ele não liga, e juntos, exploramos o quintal todos os dias em busca de novos tesouros. Mas, cá entre nós, o melhor de todos pra morder são as havaianas da mamãe e as orquídeas claro.

Tio, não sabia que podia existir um lugar tão, mas tão bom de dormir: entre meu pai e minha mãe. Mas, aqui: porque ela tem que acordar tão cedo? E pior, me tirar da cama quentinha e me levar lá fora pra fazer xixi? Tem dia que aqui de manhã e de noite é gelado , ela fica dizendo que eu sou friorento e que eu não vou gostar do inverno. Que será isso?

Bom, vou te mandar algumas fotos , mas quero mesmo é te ver pessoalmente.

Prometo não ficar tanto tempo sem dar notícias ok? Grande beijo do se sobrinho que te ama.

Luigi

OS: Meu pai me chama de Pitoco. Mamãe fica brava e fala que é Luigi, mas ela sem querer me chama de Pitoquinho também. Então, eles combinaram que vai ser Luigi Pitoco.

Luidi Abr16 1 Luidi Abr16 2 Luidi Abr16 3 Luidi Abr16 4

E vale também assistir em vídeo um pouco da rotina do Luigi Pitoco. Haja fôlego.

E, só pra registrar, passa um filme pra nós, por lembrar o estado deste lobinho quando o encontramos, e a transformação que se operou na vida dele. Este é o verdadeiro sentido da vida.

https://youtu.be/VskkSj0U_hg

https://youtu.be/1mkKoHWlNTo

https://youtu.be/dSvsFuwPxTM

Três anos depois

Três anos se passaram, quando recebemos umas fotos bem legais. Nem deu pra reconhecer de cara, mas era ele mesmo, o nosso Luidi, aquele mesmo filhote que sobreviveu por milagre.

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O Lobo Alfa H 10

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