Alguns resgates são verdadeiros presentes da vida.
Esta coisinha cheia de pelos longos e dourados foi avistada próximo ao cruzamento da Av. Cristiano Machado com o Anel Rodoviário. O território é inóspito e nenhum cachorro dura mais que alguns minutos ali. Ela estava com a lateral tosada, indicando uma castração recente, e visivelmente desorientada.
O trânsito intenso não permitia uma parada brusca. Fiz o retorno quase um quilômetro à frente e voltei, apenas pra desencargo de consciência, já sem esperanças de reencontrá-la. Pior, com receio de encontrá-la já atropelada.
Chegando próximo de onde ela estava, entrei em uma rua lateral, estacionei e olhei em volta, na esperança de encontrá-la. Geralmente, em resgates assim, costumo pronunciar um mantra: “Seja feita a Vossa vontade”.
Talvez seja a forma de não me sentir culpado quando o resgate é mal-sucedido. Mas prefiro acreditar e confiar na intervenção de outros protetores.
Consegui avistá-la de longe, se preparando para atravessar a avenida. Não havia tempo hábil pra chegar a ela antes da travessia. Correr somente pioraria as coisas.
Então, fiz a única coisa que restava: assobiar bem alto.
Ela ouviu o assobio quando colocava a primeira patinha na pista, parou e olhou pra trás. Mais um assobio, com tom mais amistoso, fez com que ela deixasse a pista e voltasse pra calçada. Então, me sentei no meio da calçada e abri os braços, na esperança de que ela entendesse o sinal.
Ela entendeu e veio correndo em minha direção, pulando em meu colo, como se tivesse encontrando os donos.
Ela estava castrada e muito bem clinicamente. Foi direto para um lar temporário, onde ficaria aos cuidados da Giovanna. Estávamos com viagem marcada para o dia seguinte e só voltei a reencontrar a Luna 4 dias depois. Neste intervalo, ela foi vacinada e vermifugada.
E assim ela me recebeu. Pulando, fazendo festa e pedindo atenção. Seria exagero dizer que ela se lembrou de mim. Aquele era apenas um comportamento natural dela.
Depois de um tempo de atenção, disse a ela que precisava fazer fotos de outros cães e que ela precisava esperar um pouco.
Ela entendeu, mais uma vez, se afastou e deitou num canto, como se dissesse? Vou ficar aqui. Quando puder dar atenção me dê um sinal.
Como a Giovanna também entende os sinais dos lobos, se apressou a dar o que ela pedia.
__Fazer cara de coitadinha já é demais né Luna? Não precisa disso. Abre um sorriso aí, ou você não vai conseguiu um bom adotante.
Alguns dias se passaram desde o resgate, o que nos permitiu descobrir algumas características dela. Luna é uma cadelinha ainda jovem e muito ativa e bagunceira. Tem ainda energia de filhote e disposição para brincadeiras, tanto com cães, gatos ou crianças.
Durante as brincadeiras, o que representa 90% do tempo, ela corre, brinca, pula e late como qualquer filhote.
Quando para, entretanto, ela levanta levemente uma das pernas traseiras, como se a poupasse. Este era um sinal estranho, já que não demonstra sentir dor. Corre e pula normalmente.
Um exame médico constatou que ele tem um osso de uma perna mais fino que o outro. Não é sequela, não é trauma ou nada conhecido. Apenas uma deformação, possivelmente de nascença, mas nada que retire dela a alegria e agilidade.
Ela é uma cadelinha feliz e muito oferecida. Adora um colo. Precisa de donos sim, mas só será doada se tiver em casa pelo menos mais um cãozinho e se for para conviver com a família dentro de casa. Não é cadelinha de terreiro ou área externa.
É pequena, deve pesar uns 8 quilos, e pode viver muito bem em apartamento, embora seja um tanto bagunceira. Parece ser mestiça de York com Lhasa, ou qualquer outra coisa de pelo mais longo.
Foi adotada em uma tarde de quarta-feira. Avisamos para a Rose que ela era muito bagunceira e que precisaria de companhia em tempo integral.
Para cada pé torto tem um sapato velho que se encaixa. Era exatamente o que a família estava procurando. Ela terá o privilégio de dormir e conviver com a família dentro de casa. Para uma lobinha carente como ela, ganhou o paraíso.
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