Um dia, este cãozinho apareceu em uma mina de minério, na região da Mutuca, na BR 040, próximo ao BH Shopping. Estava abatido, muito magro, faminto e com uma das pernas dependurada, indicando um grave, mas antigo, acidente/atropelamento.

Embora não apoiasse essa perna, pois estava completamente bamba, demonstrava mobilidade suficiente para correr e pular, indicando que, apensar da gravidade da ferida, já estaria cicatrizada.

Tudo indicava que foi gravemente atropelado e se curou sozinho.

Dormia ao relento, debaixo dos caminhões de minério. Comia, durante 4 ou 5 dias por semana, apenas restos que sobravam das marmitas, quando algum operário mais sensível conseguia driblar os superiores e quebrava as regras, alimentando um cão sem dono que por lá chegou ou foi deixado.

A sorte dele mudou quando uma protetora de animais esteve na mineração para um trabalho que duraria apenas alguns poucos dias. Claro que um animal necessitado de amparo não passa desapercebido aos olhos de protetores.

Por uma semana, foi ele bem alimentado por sua, até então, apenas promessa de salvadora. Além de comida em quantidade suficiente para não passar fome, ganhou também uma caixa de papelão que lhe servia como casinha. Ele se aninhou na “casinha”, sentindo-se o mais protegido de todos os lobinhos. Isso poderia ser demonstração de que já teve uma casinha, ou apenas resíduo de seu passado selvagem, já que os cães, instintivamente, adoram casinhas.

Quinta feira, dia 22/12/2011, seria o último dia de sua protetora naquela mineradora. Ou o Neguinho seria resgatado ou continuaria por lá, passando o Natal sozinho e com fome, já que nos finais de semana ninguém o alimentava.

Mesmo morando sozinha em um apartamento e não tendo onde deixá-lo, cá veio o Neguinho na bagagem. Iniciaram aí as surpresas. 

No carro, durante todo o trajeto, demonstrava, o Neguinho, a experiência de um cãozinho de estimação. Ficava nas janelas, procurando o pouco de vento que entrava pela fresta, buscando com o olhar as pessoas, indicando estar procurando algum conhecido.

Chegando em casa, mostrou a todos que conhecia aquela vida. Comeu ração pura com a gulodice de quem estava com saudade daquele sabor.

Percorria cada cômodo, como se procurasse por alguém. Latia e pulava nas pessoas, mesmo naquelas que acabara de conhecer, indicando adorar a companhia humana.

Demonstra agitação quando alguém se aproxima da porta, pulando e latindo, como se pedisse pra sair e, quando de volta à rua, mesmo em curtos passeios, não para de olhar as pessoas.

Não é exagero de protetor, mas ele aproveitava cada oportunidade pra procurar alguém que pra ele fosse especial. Agia assim em todos os momentos. Mesmo demonstrando gratidão e grande afinidade com sua protetora, indicava, em tempo integral, a urgência de sair e procurar por alguém.

Não parecia ter sido vítima de maus-tratos, já que não tinha qualquer receio de pessoas estranhas. Estava acostumado a conviver dentro de casa, sabia andar de carro, de coleira, adorava ração e era muito dócil e carinhoso.

Na primeira noite na casa de sua protetora, dormiu como um anjo, como se pudesse, pela primeira vez, em meses, relaxar, sabendo que nenhum susto lhe roubaria o sossego de uma noite inteira de sono.

O tempo passou, o Neguinho não encontrou pretendentes à adoção, ou talvez sua protetora tenha sido rígida demais. As razões são óbvias. Nem precisamos continuar narrando. Deixamos para a Luciana a tarefa, de explicar o porque se apaixonou e decidiu ficar em definitivo com o menino.

“Leva vida de rei, dorme em caminha de silicone, passeia duas vezes por dia, durante a semana, porque o final de semana é dele. Dorme e acordo com muitos beijos, o que fez dele muito auto-confiante.

A cada dia se familiariza mais com tudo e entende novas palavras. Às vezes, estou na sala mexendo no meu computador, sem nem olhar para ele e, quando observo, ele está encarando em mim, sem nem piscar. ELE ME DAMORA!!! kkkk

A gratidão no olhar e nas atitudes dele é notória. Todos comentam que ele tem cara de feliz. E tem mesmo.

Me faz também muito feliz e me arranca boas gargalhadas.

Até os sonhos devem ser muito felizes, porque mesmo dormindo um sono profundo, de boca aberta, ele parece estar correndo, movendo as patinhas e mais, abana o rabinho com força e rapidez, tudo isso DORMINDO.

A vida dele mudou de fato e isso me enche de alegria.”

Como ele está? Que graça pode ser maior para um lobinho que ser adotado por seus protetores?

Um resgate de Luciana Peluci [lucianapeluci@ig.com.br]

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