Só mais um absurdo. Esta cadelinha nasceu pra dividir a cama com os donos. Pesa aproximadamente 4 Kilos (tamanho de um Pincher)
É ainda jovem e aparenta ter aproximadamente 1 ano. Ainda tem dois caninos de leite, que não caíram quando do nascimento dos dentes permanentes.
Tudo indica que chegou a dar uma cria, tendo contraído um tumor venéreo. A ferida cresceu, ficando exposta, atraindo moscas.
Acreditamos que por este motivo, foi descartada e jogada na rua sem piedade ou o mínimo de consideração e respeito. Não se sabe por quanto tempo ela vagou sozinha, comendo lixo e tentando se manter viva. Estava muito magra, abatida e triste.
Felizmente, cães não pensam. Seguem apenas o instinto de lutar pela vida. Afinal, se ela pensasse, talvez cuidasse de sua própria eutanásia, usando as rodas de algum carro.
O fato é que ela chegou em uma rua do bairro Milanez, onde seu estado sensibilizou algumas pessoas. Ela ganhou uma caminha seca e dois potinhos, com água e comida. Lobos não deveriam viver assim, mas depois de tudo, aqueles aposentos eram um luxo.
Vez ou outra, alguém trocava a ração e lhe oferecia comida de gente. Mas tudo bem. Afinal, naquele estado não se podia pensar em “ração balanceada”. Mais importava mantê-la viva, e se possível, deixá-la ganhar algumas gramas, pra que se tivesse a vaga noção de que estaria se recuperando, embora por dentro, um grave tumor a consumisse.
Onde encontrou comida e água, fixou morada. Viveu naquelas condições por mais de 10 dias. Apesar de todo o sofrimento, ela não parecia culpar ninguém. Abanava o rabinho e se deitava pra ganhar carinho, pra qualquer um que se aproximasse.
Deve se lembrar da família que teve um dia. Embora não valessem o que consomem, continuam sendo idolatrados e amados. Afinal, a Nina, como foi chamada por quem a alimentava, é uma legítima representante dos mais fiéis e compreensivos seres do planeta.
Apesar de tudo, a pequena Nina teria, finalmente, uma segunda chance, ainda que fosse pra se despedir da vida de forma digna. Foi resgatada e levada a uma clínica veterinária.
Chegando à Clínica, recebeu um tratamento para livrá-la das pulgas e carrapatos, e colheu sangue para exames de saúde.
A primeira etapa daquela luta pela vida estava vencida. O Exame de Leishmaniose deu negativo, contra todas as mais otimistas expectativas.
Partiu-se então para mais uma etapa. Foi vacinada, passou por uma cirurgia e um sem número de outros procedimentos.
Passou por quatro sessões de quimioterapia, uma limpeza de tártaro, extração de dentes de leite que insistiam em não cair.
Ficou internada por dois meses, enfrentando dificuldades de cachorro grande, muito embora ela não pesasse mais que 4 Kilos.
Não queríamos apenas que ela fosse adotada. Não procurávamos um dono qualquer. Esperávamos encontrar pra ela novos protetores. Esperaríamos o tempo que fosse preciso, mas queríamos as pessoas certas. Pessoas que se dispusessem a esperar por ela na saída da Clínica, ou ainda melhor, que a visitasse durante o tratamento, pra que ela soubesse que não estaria mais sozinha.
A vida nos ensinou que não há limites pra sonhar, e que podemos sempre esperar o melhor.
Ela ainda estava em tratamento, se recuperando de uma cirurgia, quando recebeu uma visita inesperada.
A Marcela se sensibilizou com a história da Nina, e nos enviou uma mensagem, dizendo que ela e Nina precisavam uma da outra. Achamos que poderia ser ela a adotante que estávamos procurando.
Em uma manhã de Sábado, Marcela chegou à Clínica pra conhecer a Nina. Logo de início, demonstrou que entendia e gostava de cachorro. Levou alguns agrados, e parecia até que já conhecia as preferências da Nina.
A recepção não poderia ser diferente. Afinal, todo cachorro é meio interesseiro. Nada melhor que um lanchinho pra começar uma amizade.
Era tudo o que esperávamos.
Após encher a barriguinha, a Nina fez questão de nos mostrar que havia aprovado a Marcela. Se aninhou em seu colo, roçando a cabeça em suas pernas, e distribuindo lambidas.
Esta sequência selou um pacto de amizade que nada poderá apagar.
Alguns lobos têm mesmo muita sorte. Nasceram pra ser felizes.
Mas aquela era apenas uma visita. A Nina continuaria internada, em tratamento.
Alguns dias depois, ele teve alta médica e veio passar um dia no mais hospitaleito território de lobos.
Foi recebida por uma matilha equilibrada, mas muito agitada. Ali pudemos testar a socialização da Nina. Ela era mesmo perfeita. Tanto com crianças quanto com outros animais. Em que pese ter ela se relacionado bem com outros cães, enquanto esteve na Clínica, a socialização precisava ser colocada a prova num ambiente doméstico. Em tratamento, sob efeito de remédios, os cães são naturalmente mais passivos e submissos.
Aprovada com louvor, ficou à espera da Marcela, que viria buscá-la em breve.
Além de sociável, mostrou que gosta de conforto. Cama macia, um banho de sol pela manhã, brincadeiras e muito colo.
Nem parecia aquela cadelinha debilitada e doente da época do resgate. Em questão de horas já era parte da matilha, correndo e latindo como se tivesse nascido e crescido naquele território.
Mas o melhor, foi a recepção que teve a Marcela, quando chegou para buscá-la.
Ela gostava sim de companhia canina. Mas se pudesse escolher, preferia um colo humano. Ela havia nascido pra isso.
Além da alegria de receber a Marcela, podíamos ler em seus olhos a gratidão, por proporcionar aquele encontro.
_Não há de quê Nina. Não fomos nós. Já estava escrito.
Dias depois, recebemos as primeiras notícias, de que a Nina havia sido recebida por todos na casa, de braços abertos, como já sabíamos que seria.
Ela ainda se recupera. É uma cadelinha de saúde frágil. Embora jovem, não sabemos se terá vida longa. Se carinho ajudar, ela baterá o recorde de longevidade canina.
Mas isto não importa. Ela terá a vida que todo lobo merece.
Algumas semanas mais tarde, recebemos estas fotos da pequena Nina, em sua casa. Ela tem uma casinha, como todo lobo precisa, mas não dispensa uma cama. Tem convivência estreita com os donos, dentro de casa. É o final que sonhamos pra todos os nossos protegidos.
Três longos anos se passaram desde a adoção da Nina. Já estamos em Abril de 2014. Recebemos estas fotos da Marcela, com a notícia de que a Nina está ótima e que o tumor nunca mais voltou.
A Nina foi atendida na Veterinária Alípio de Melo, onde fez todo o tratamento e permaneceu internada por dois meses.
Ela não sabia que estava internada. Durante os dois meses que esteve na Clínica, teve um lar de verdade. Experimentou cuidados que ainda não conhecia.
Nosso agradecimento à Dra. Cíntia e toda a sua equipe.
Comentários / Mais informações sobre o anúncio devem ser obtidas com os anunciantes, no telefone ou e-mail indicados acima.