Já falamos muito desse fenômeno, que vem se repetindo mundo afora. Temos agora a oportunidade de mostrar, passo a passo, como ocorre.
Há um dever moral, de toda a humanidade, de reverter isso. Alguns já entenderam e assumiram essa responsabilidade, mas, sem uma mobilização mais ampla, eles se afastarão de nós.
Falamos dos lobos (os domesticados) e de uma tendência de alguns deles de renunciarem à amizade humana e retomarem a vida selvagem de seus antepassados. De quem será a culpa por uma decisão tão insana, que só produz sofrimento e morte?
Quando eles deixaram a vida selvagem e aceitaram nossa amizade, ainda no tempo das cavernas, tornaram-se dependentes e ali se consolidou um pacto de amizade e proteção. Nascia ali a mais intensa relação de afeto e amizade entre espécies, jamais vista em toda a existência desse planeta.
E agora, por pura covardia, desistimos deles e os deixamos soltos no mundo, à própria sorte, ao sabor da “evolução” (Aquela mesma de Charles Darwin).
A história de Tica e Teca é um relato perfeito do que chamamos de “O caminho inverso”.
Não temos muitas informações do passado, mas bem tratadas elas nunca foram. Suas referências humanas são as piores, a ponto deles preferirem renunciar à proteção e ao abrigo que tinham (ou que nunca tiveram), optando por uma vida selvagem, sem nada, no meio do nada.
O local escolhido é uma área de mata, local ermo, próximo de um grande centro urbano, de onde elas saíram, depois de não suportarem mais o sofrimento e a indiferença daqueles que prometeram (evolutivamente) protege-las e ampará-las.
E, se não buscaram o alto das montanhas ou locais verdadeiramente remotos e afastados da humanidade, é porque ainda dependem do lixo humano pra encontrarem o que comer.
Não são capazes de sobreviver por sua conta e risco. Não têm, ainda, a habilidade de caça de seus antepassados e, sem revirar lixos, acabariam sucumbindo à fome.
Mesmo vivendo em isolamento, elas ainda vasculham as ruas das vilas e cidades, à procura do que comer e, nesse território hostil, encontram outros lobos, também abandonados. Em alguns momentos, chegam a formar matilhas, ainda que temporárias, na época do cio.
E é aí que tem início a parte mais triste e angustiante desse caminho inverso. Os filhotes nascerão em ambiente natural, hostil, crescerão sem contato humano, aprendendo com as mães a evitarem os homens.
A grande maioria sucumbirá à fome, às doenças, aos predadores e até aos vermes. Aqueles poucos (raros) sobreviventes formarão matilhas e passarão suas experiências às futuras gerações, que se tornarão mais arredias e hostis, com o passar do tempo. Em alguns anos, teremos na região cães selvagens, totalmente adaptados à vida livre, capazes de sobreviver sozinhos, com habilidade para caçar e matar.
Eles se distanciarão tanto dos irmãos domesticados que, alguns mais ferozes, verão seus iguais como presas, podendo atacar e matar outros cães, pra saciarem a fome.
Esse fenômeno já é uma realidade em algumas regiões do Planeta. E, se eles, os lobos, têm esses dois caminhos a seguir (Lembramos que eles não têm livre arbítrio, mas apenas instinto de preservação), nós também temos nossas escolhas a fazer: Podemos deixar a “evolução” seguir seu curso ou intervir e reconquistar os amigos que perdemos.
Oferecer, diariamente, comida e água, dia após dia, é um bom começo. Se todo este esforço não for suficiente para um resgate rápido, que seja bastante para mantê-las vivas e fortes, pelo menos até que a amizade seja restabelecida.
Tica e Teca nas fotos acima, já estavam prenhas e precisavam comer por dois, ou por dez.
Meses se passaram desde que elas começaram a ser alimentadas. E foi que se pôde assistir, em tempo real, o surgimento de uma matilha selvagem.
Um novo pacto se firmou e todos os dias, na hora marcada, elas apareciam para aceitar as oferendas, que rigorosamente precisavam ser deixadas no mesmo local. Elas dependiam daquela ajuda, pra se manterem vivas. Elas não permitiam qualquer aproximação e, ao menor sinal de tentativa de resgate, embrenhavam-se nas matas.
Então, a solução foi não se impor e respeitar o tempo delas. Lentamente, muito lentamente, a proximidade permitia as primeiras selfs, e as primeiras cicatrizes.
A angústia cresceu depois que elas apareceram com as tetinhas cheias de leite, recém-paridas, não havendo por perto nem sinal dos filhotes.
Eles nasceram em algum buraco escavado, longe do alcance dos olhos e dos cuidados humanos. Não era possível saber onde estavam, se estavam bem, se estavam aquecidos ou se sucumbiam ao frio das montanhas de Nova Lima.
Claro que, àquela altura, elas já tinham abrigos improvisados, preparados por mãos humanas.
Mas as duas preferiram desprezar aquela ajuda, como se soubessem que ali elas facilitariam o resgate dos filhotes. Preferiam ver seus filhos mortos a entrega-los a mãos tão cruéis.
Foram meses, mais precisamente três, desde o dia do suposto nascimento dos filhotes, até o momento em que foi possível avistar a matilha completa.
Os pequenos já estavam com 2 para 3 meses de vida e viveram, até ali, como cães selvagens. Não aceitavam a aproximação e já tinham habilidade suficiente para não se deixassem capturar.
Embora isolado, o local não era totalmente ermo e as novas amigas dos lobos decidiram então sinalizar, para que a presença deles não passasse despercebida aos humanos que por ali passassem.
As placas foram colocadas antes mesmo que os filhotes fossem avistados pela primeira vez. Era de se imaginar que logo eles estariam por ali, correndo pela estrada, com o risco de serem atropelados, ou apenas solenemente ignorados.
A intenção das placas era de chamar a atenção para a presença deles naquele território. Quem sabe o resgate poderia chegar, senão para todos, pelo menos para alguns deles.
Depois de algumas semanas, eles passaram a ser vistos, ora escondidos no mato, ora se refugiando no abrigo improvisado e até visitando as vasilhas de ração e água sempre à disposição.
Não foram raras as vezes que suas salvadoras precisaram comparecer no final do dia, já anoitecendo, porque lobos selvagens também têm hábitos noturnos.
Aos poucos, as aparições ficaram mais frequentes. As mães são alimentadas ali desde muito novinhas e nunca permitiram o resgate ou a aproximação.
O histórico de maus-tratos que elas viveram não deve ser pequeno e o medo das pessoas é grande.
Mas nada pode ser mais angustiante que notar a transmissão dessas características à geração futura.
Na foto abaixo, nota-se o perfil corporal da mãe, se esticando pra chegar à ração, sempre com o rabinho entre as pernas e se preparando para disparar em direção à proteção da mata, ao menor sinal de aproximação humana.
Ao lado dela, os filhotes, que deveriam estar mordendo dedos e chinelos, com o mesmo comportamento arredio e assustado.
A fome ali fala mais alto que o medo, mas é graças a essa ração servida todos os dias, que a resistência começa a se desmanchar.
Aos poucos, eles passaram a dormir nas casinhas deixadas pra eles. E foi por isso que o resgate foi possível.
Num primeiro momento, somente os filhotes, mais ingênuos, foram resgatados. Eram ao todo 13 filhotes, das duas mães, mas com muito esforço, todos foram recolhidos no mesmo dia, depois de muito espernearem.
As mães continuam refugiadas na mata, agora sem a geração futura do que seria uma matilha selvagem.
Ficará a torcida para que sejam capturadas antes do próximo cio. O trabalho com elas vai continuar.
Já os filhotes, esperam agora por adoção. Ainda são arredios e assustados, mas com afeto e muito carinho, já estão se rendendo. Afinal, a docilidade ainda está impregnada em seu DNA.
Estão saudáveis e serão entregues com todos os cuidados iniciados.
São eles: Boris, Lobinho e Argos são os trigêmeos pretinhos. Frodo é tigrado e Silvana é uma mocinha malhadinha. Eles estão crescendo e ainda são um pouco assustados. Precisam de donos dispostos a dar continuidade à ressocialização.
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