Ele foi visto por umas 4 semanas, acompanhando um andarilho que empurrava um carrinho de sucatas.
O cãozinho não parecia maltratado. Não havia cordas ou nada que o forçasse a estar na companhia daquele homem.
Mas também estava claro que ele não era um cãozinho adaptado para a vida dura das ruas. O mais provável é que tenha se perdido e foi encontrado pelo homem que lhe ofereceu uma pseudo segurança.
Pra quem não tinha nada, ou melhor, pra quem tinha perdido tudo, aquela mão estendida pode ter sido a diferença entre a vida e a morte.
Não sabemos o que aconteceu ao certo, mas no fim da tarde do dia 06 de maio, avistamos o menino, sozinho, sentado em um ponto de ônibus, procurando puxar conversa com algumas pessoas que ali estavam.
Estava molhado pela forte chuva que havia caído, muito sujo e com o pelo bastante embolado.
Nós nos aproximamos com cuidado, nos agachamos há uns dois metros e chamamos por ele.
E como aquele menino precisava de um afago! Ele veio ao nosso encontro, se aproximou, aceitou os afagos e a coleira que lhe foi passada em volta do pescoço.
Depois permitiu ser pego, sem esboçar nenhuma reação.
Tinha fome, muita fome, mas, apesar disso, a carência de afagos era maior. Estava gordinho, embora as fezes indicassem a péssima qualidade da comida que o manteve vivo nos últimos tempos.
Passado o primeiro momento e saciada a necessidade de carinho, era hora de encher a barriga.
Depois, precisávamos escolher pra ele um nome bem legal. Achamos que Paulinho combinaria bem com ele. E assim, de nome novo e barriguinha cheia, ele dormiu aquela noite, isolado em um canil.
No dia seguinte, precisávamos iniciar a faxina. Pet Shop e consulta médica, só pra começar.
Livre das pulgas, dos carrapatos e dos dreds, ele se mostrou um mocinho alegre e cheio de energia, com disposição até para brincadeiras.
Já em nosso território, foi recebido pela Hanna, por quem o menino ficou bem empolgadinho.
A paquera continuou por um bom tempo.
Ele estava bem soltinho e deixando clara sua disposição de chamar para si a responsabilidade e tornar-se o grande macho alfa daquele território.
E como rei do novo território, seria preciso eleger também uma rainha, e ele já tinha escolhido a sua, com direito a fungada no cangote.
Quando resgatado, seu estado de apatia e tristeza indicavam um possível problema a ser resolvido, mas, na verdade, o que doía nele era só mesmo o abandono.
Os exames de sangue mostraram que ele estava bem. Estava negativo para leishmaniose, mas uma babésia imporia a ele alguns dias de medicamentos.
Mesmo assim, ele estava longe da tristeza que a doença costuma provocar. Isso indicava que a doença estava ainda no início e não tinha provocado estragos.
Paulinho é um menino do bem. Ele é dócil e muito sociável com pessoas, com crianças ou outros cães.
Mostrou também ser bastante equilibrado, pois não se rendeu às provocações e implicâncias de um certo Fredinho que, assim como ele, reinou aqui nessas terras.
Paulinho é um mestiço de Lhasa com Maltês, pesando apenas 7 quilos, de barriga bem cheia. Segundo o veterinário que o examinou, ele não tem mais que 3 anos.
Estava pronto pra começar uma nova história, apesar de alguns remedinhos ainda por tomar. É cãozinho de companhia, para conviver com a família dentro de casa.
A passagem do garoto por nossa casa foi bem rápida. Ele estava feliz e bem relaxado.
O tempo mostrou um lobinho cheio de vida, esperto, que não passou a vida acompanhando um andarilho. E nem teria saúde pra isso. O tempo dele nas ruas venceu e, não tivesse sido resgatado, não teria durado muito mais.
Tudo indica que um dia ele teve uma família. Já teve uma casa e, possivelmente, uma casinha macia.
Não sabemos quais foram as voltas da vida que o levaram até o amigo que cuidou dele nas ruas. Talvez o abandono, talvez tenha apenas se perdido. Mas isso já não importava mais.
A sorte dele acabou chegando na forma de uma mãe muito carinhosa chamada Simone. O encontro dos dois, com direito a lambidas no focinho e nas orelhas, foi o sinal que esperávamos para entregá-lo com o sentimento de dever cumprido.
Mas as melhores notícias viriam mais tarde. Além da melhor mãe do mundo, ele ganhou também um irmãozinho chamado João, um garoto de 4 anos, que recebeu o Paulinho com a alegria de quem sabe que acabou de encontrar o melhor amigo de sua vida.
Seja feliz, amigo. É só o que você merece.
Comentários / Mais informações sobre o anúncio devem ser obtidas com os anunciantes, no telefone ou e-mail indicados acima.
Comentários / Mais informações sobre o anúncio devem ser obtidas com os anunciantes, no telefone ou e-mail indicados acima.