Eles são territoriais e, por vezes, agressivos na disputa por território ou fêmeas. Na natureza, raramente os machos se machucam. O mais fraco busca outro território e assim a vida segue.
E essa característica natural, que apenas contribuiu para o sucesso da espécie, tem sido instrumento da selvageria humana.
Trica-ferros são aprisionados e estimulados a brigarem, em rinhas, enquanto seus tutores, orgulhosos, apostam dinheiro. Em espaço reduzido (gaiolas) as lutas são sempre fatais. Não tendo pra onde fugir, o mais fraco é ferido até a morte.
Ainda mais covarde é o processo de amansar esses animais. Quando retirados da natureza, eles se debatem tanto contra as grades que acabam se ferindo gravemente, quando não morrem.
Por isso, os escravizadores os mantêm por mais de uma semana em total escuridão, com a gaiola coberta por um pano. Durante este período, eles não sentem o dia e a noite e têm a visão comprometida. Ao final, estão destruídos, sem forças pra continuarem vivendo e terminam se sujeitando às vontades humanas.
Na soltura de Agosto de 2015, entre animais do IEF e do IBAMA, chegaram mais de 40 trinca-ferros.
Esta espécie não tem dimorfismo sexual. Não sabemos exatamete quantos machos ou fêmeas, mas é certo que algumas famílias se formarão ali.
Podem ser agressivos com outros de sua espécie, mas relacionam-se muito bem com outros pássaros, principalmente quando não há competição pelo mesmo alimento.
A espécie alimenta-se de frutos, insetos, sementes, folhas e até flores. Nosso território está bem preparado para recebê-los, mas o tratamento na fase de aclimatação precisa ser o melhor possível, para que queiram ficar por ali após a soltura.
Infelizmente, nessa remessa, havia um rapaz que, tudo indica, foi treinado ou criado para rinha.
Apenas um, que por vezes mostrava-se muito agressivo. Chegou a agredir com muita violência dois outros machos, que somente não foram mortos porque o funcionário do santuário interviu e os separou.
Os machos que foram feridos precisaram de tratamento. Foram isolados e tiveram a soltura adiada.
Temos um viveiro pequeno, dentro daquele de aclimatação, que é usado para quarentenas ou isolamentos, quando necessários.
E assim, os dois foram tratados e colocados no viveiro de quarentena, onde tiveram que ficar, esperando a saída dos demais, para iniciarem novo período de aclimatação.
O período de aclimatação foi bem tranquilo para todos eles.
Se alimentaram, se fortaleceram, treinaram bem o voo e, no final, estavam todos em condições de voltar à natureza.
Serão, enfim, aves livres, como nunca deveriam ter deixado de ser.
Finalmente, o dia da soltura chegou. Chegamos a registrar algumas saídas. Eles pousavam na beira da janela do viveiro e olhavam o mundo externo, sem uma tela entre eles e a liberdade.
Pareciam não acreditar no que viam. Alguns olhavam a liberdade, voltavam a olhar o viveiro, como se comparassem.
Mas não demoravam a perceber que havia algo mais do lado de fora.
Chegamos a flagrar alguns voos.
Eles não tinham motivos pra escolher ficar no viveiro. O mesmo banquete servido na madrugada, dentro do viveiro, estava também do lado de fora, como sempre esteve, com um tempero a mais.
Muitas daquelas frutas eles teriam que colher diretamente na fonte.
Assim que todos os pássaros saíram, mantivemos o viveiro aberto. Eles iam e vinham todos os dias, por pelo menos uma semana.
Com o tempo, o retorno ao viveiro torna-se menos frequente, até que notamos que já não voltam mais. Continuam ali, no entorno, mas agora sem voltar a pisar as telas.
Assim que notamos que eles não mais precisavam daquela janela aberta, decidimos então fechá-la e retomar duas histórias, que estiveram suspensas.
Os dois trinca-ferros que foram isolados, agora já recuperados da surra, poderiam, finalmente, retomar o caminho da liberdade. Foram novamente soltos no viveiro de aclimatação e serão ao final libertados, 30 dias depois da soltura dos companheiros.
Os novos amigos agora são outros e os dois retardatários, que chamaremos de Pena branca e Xavantinho, seguem esquentando as asas.
A liberdade os espera.
O trinca-ferro-verdadeiro é um típico onívoro, alimentando-se de frutos, insetos, sementes, folhas e flores (como as do ipê). Aprecia os frutos do tapiá ou tanheiro (Alchornea glandulosa). Na infância, seu regime alimentar é predominantemente animal. O macho costuma trazer alimento para sua fêmea.
O ninho, construído em arbustos a 1 a 2 metros de altura, é uma tigela espaçosa, com cerca de 12 centímetros de diâmetro externo, feita com folhas grandes e secas seguras por alguns ramos, resultando uma construção frouxa; no interior são colocadas pequenas raízes e ervas. Os 2 ou 3 ovos, alongados, medem cerca de 29 por 18 milímetros e são azul-claros ou verde-azulados, com manchas pequenas e grandes no polo rombo, formando uma coroa. Durante o período de reprodução, vive estritamente aos casais, sendo extremamente fiel a um território.
Vive em capoeiras, bordas de matas e clareiras. Está sempre associado às matas, ocupando o estrato médio e superior.
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