PEPÊ

Um cão herói

Uma história que temos prazer de contar.

O Pepê é um mestiço de Cocker com Goldem Retriver, de porte médio. Pertencia a uma senhora idosa que o estimava e o tratava como um filho.

Às vezes, a vida inverte a ordem natural das coisas. Como os filhos jamais deveriam morrer antes dos pais, também os donos não deveriam partir antes de seus cães. A dona do Pepê faleceu e os filhos dela, para consolarem o Pepê, jogaram-no na rua. Viveu nas ruas por aproximadamente 7 meses, experimentando uma situação de sofrimento e extremo abandono.

Logo nos primeiros dias de abandono, por causa de sua inexperiência com a vida livre, foi atropelado por uma moto e, não recebendo atendimento médico, se curou sozinho. Passou a mancar de uma das pernas.

Depois de 3 meses na rua, já em pele e osso e com o corpo coberto de feridas, chegou na porta de um mercadinho, na cidade de Betim.

O dono do mercadinho, sensibilizado com a situação daquele cachorro, passou a alimentá-lo, ministrando-lhe remédios para combater as doenças de pele que nele haviam se instalado.

Carente de afeto, passou a morar debaixo da marquise do mercadinho, sendo alimentado todos os dias, o que permitiu que se recuperasse e ficasse novamente apresentável. Ele era mesmo um cão muito bonito.

Mais 4 meses se passaram e o Pepê foi novamente atropelado, desta vez por um carro em alta velocidade, que passou sobre ele e sequer parou pra socorrê-lo. Com inúmeras escoriações e hematomas por todo o corpo, refugiou-se na porta do mercadinho, onde recebeu uma caixa de papelão que lhe proporcionasse uma superficial sensação de amparo e proteção.

Sem condições de ser socorrido no mesmo dia, o Pepê passou a noite tremendo e chorando de dor, deitado em uma caixa de papelão. Naquela noite, choveu bastante, o que aumentou ainda mais a sua sensação de abandono. O socorro veio somente no dia seguinte. As fotos abaixo foram tiradas um dia depois do resgate. Mesmo debilitado, ainda deitado e sem disposição para se levantar, já se mostrava altivo. Orgulhoso de sua linhagem.

Levado a uma clínica veterinária, foi medicado e tratado, sendo disponibilizado para adoção. Muita gente atendeu ao apelo. O Pepê conquistou muitos pretendentes. Mas, depois de uma seleção prévia, a insistência do Reynaldo pela preferência na adoção nos fez acreditar que ele era o adotante ideal.

Ficamos com a sensação de ter escolhido o adotante, quando na verdade, a vida se encarregou de unir os dois. Não sabíamos qual dos dois havia ganhado mais com aquele encontro, mas isto não importava.

Algum tempo mais tarde, recebemos muitas notícias do Pepê, já adaptado à sua nova casa. Tornou-se o dono do pedaço, dividindo a cama com o dono e aproveitando banhos de piscina. Se o Pepê tiver mesmo alguma descendência Golden, ele encontrou seu lugar no mundo. Nenhuma outra raça de cão gostaria mais de uma piscina.

Agradecemos ao amigo Reynaldo pela maravilhosa acolhida do Pepê em sua vida. A escolha do adotante é a parte mais importante de todo o processo. Nenhum trabalho de resgate terá valido a pena se o animal vier a cair, novamente, em mãos erradas.

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Mais que uma segunda chance, o Pepê encontrou seu lugar no mundo, como se tudo que viveu tivesse um único propósito: Reencontrar o Reynaldo.

                                    ***FIM***

Este deveria ser o final da história, mas há muito mais pra contar.

Há alguns dias, passeando calmamente, como de costume, com o Reynaldo, o Pepê decidiu atacar ferozmente uma pessoa que vinha em sentido contrário.

Um cão de pequeno a médio porte, manco, incapaz de rosnar pra quem quer que seja, encontrou forças pra derrubar um homem com quase 80 kilos, sem nenhum motivo aparente. Nem mesmo o Reynaldo teve forças para segurá-lo. O Pepê somente terminou o ataque depois que conseguiu desarmar e afugentar o homem. Tratava-se de um assaltante, que havia escolhido o Reynaldo como sua próxima vítima.

Não é possível imaginar como o Pepê conseguiu prever o que estava prestes a acontecer. Salvou a vida de quem lhe deu uma segunda chance? Talvez.

Alguns diriam que é gratidão, outros nomeariam de heroísmo e muitos considerariam esta história incrível, admirável e por aí vai.

Mas não é nada disto. Não tem nada de extraordinário no que ocorreu.

Afinal, o Pepê é um cão. E, cães são assim mesmo.

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História boa não pode ter fim, mas vários começos. Então, lá vai:

Já havia se passado oito meses desde a adoção do Pepê. Embora feliz em sua nova casa, o Pepê estava prestes a se mudar (com o Reynaldo, é claro). Os dois trocariam o apartamento na cidade por uma casa encravada nas montanhas, daquelas em que todo cão gostaria de morar.

Alguns dias antes da mudança, o Reynaldo ficou sabendo que o Pepê teve um companheiro canino, na época em que esteve nas ruas. O Hulck era um vira-lata de pouca conversa. Um lobo de três cores. Um cão forte e rústico, típico lobo alfa, que defendia seu território e seu amigo comandado, o Pepê.

Os dois viviam juntos e não se desgrudavam. Dividiam a marquise do mercadinho e a ração que lhes era oferecida. A marquise era precária e mal os protegia da chuva.

Precária ou não, era ali que os dois moravam. Ali era o seu território, o qual era defendido com unhas e dentes, tal como seus antepassados. Afinal, se não haviam presas em abundância, havia comida suficiente e, tal qual uma matilha de lobos defendia o território no qual caçavam, Hulck e Pepê defendiam a marquise, afugentando qualquer cão que por lá chegasse.

Com as funções bem definidas, o Hulck era o primeiro a se levantar e partir pra cima do invasor, sempre seguido de perto pelo Pepê.

Hulck era o Lobo Alfa dos dias atuais. O líder de uma matilha de dois, mas ainda assim, o Alfa.

Após o atropelamento e resgate do Pepê, o Hulck ficou sozinho e continuou nas ruas. Como um cão rústico que era, sabia se virar sozinho e ainda encontrava pessoas que vez ou outra o alimentavam.

A informação sobre a existência do “amigo do Pepê” nos chegou numa conversa informal. Imediatamente, contamos ao Reynaldo que, a essa altura, já estava há poucos dias de se mudar.

Como já era de se esperar, o Reynaldo logo se interessou em saber mais detalhes, demonstrando o desejo de adotar o Hulck e proporcionar ao Pepê um reencontro com seu companheiro dos tempos difíceis.

Enquanto estiveram nas ruas, muitas vezes o Hulck defendeu o Pepê da agressão de cães maiores. Seria muito bom para o Pepê receber o Hulck e dividir com ele o paraíso que havia descoberto. Agora sim eles teriam um território de verdade.

Mas aquele resgate não seria fácil. Depois que o mercadinho fechou, há alguns meses, o Beto se mudou e não teve mais notícias do Hulck. Ainda assim, decidimos tentar. Pedimos ao Beto que oferecesse recompensa no bairro, a quem nos ajudasse a encontrar o Hulck. O próprio Beto decidiu dedicar-se àquela busca, chegando a procurar por ele quase todos os dias.

Sua última busca foi no dia do Natal de 2010. Não o encontrou, mas deixou recado com várias pessoas que poderiam dar notícia do paradeiro do Hulck. Muitos no bairro o conheciam.

Encontrá-lo já seria um milagre. Não sabíamos se ele ainda estava vivo, se teria permanecido no mesmo bairro, nem o estado em que seria encontrado. Poderia estar ferido ou muito doente.

No dia seguinte, em 26 de Dezembro de 2010, o Beto recebeu uma ligação de alguém que havia avistado o Hulck. Segundo a informante, ele havia sido atropelado e se arrastava por uma avenida movimentada.

Contatados pelo Beto, seguimos imediatamente à caça daquele cachorro. Não sabíamos se lamentávamos pelo atropelamento ou se comemorávamos a possibilidade de resgatá-lo. Seria a primeira vez que fazíamos um resgate por encomenda. Algo inusitado, mas igualmente satisfatório.

O Beto conhecia os lugares onde o Hulck costumava ficar e teve o palpite de que, ferido, poderia buscar asilo nos lugares conhecidos. Palpite certo, Hulck localizado. O atropelamento lhe abriu uma ferida na pata traseira, mas não se tratava de um acidente recente. Pela infecção da ferida, o atropelamento teria ocorrido há uns 4 ou 5 dias, no mínimo.

Mas não importava. Tínhamos motivos suficientes pra comemorar. Apesar do ferimento, ele parecia saudável. A ferida, embora infeccionada, não era grave.

Uma consulta médica foi suficiente pra confirmar o que já suspeitávamos. O Hulck estava em ótima forma. Com boa alimentação e o carinho de seu novo dono, a recuperação seria rápida.

Parece ironia que os dois tenham sido resgatados nas mesmas condições, feridos por um atropelamento, e que teriam a oportunidade de voltar a se encontrar, em uma situação muito diferente. O destino destes dois cachorros deve mesmo estar ligado.

Assim que o Hulck foi atendido e liberado da Clínica, informamos ao Reynaldo sobre o resgate do “amigo do Pepê”. Ele já esperava pela notícia, e prontificou-se a recebê-lo imediatamente. Nossa expectativa também era grande.

O encontro de Pepê e Hulck não foi exatamente o que esperávamos, ou desejávamos. Enquanto estiveram nas ruas, o Pepê era o seguidor, mas, depois do resgate, passou a ocupar o trono da casa. Havia oito meses que o Pepê tinha assumido a liderança daquela nova matilha e a chegada do Hulck não deixava de ser uma ameaça ao seu reinado.

Mas os dois tinham uma história juntos, e certamente escreveriam mais alguns capítulos capazes de emocionar.

Apesar de alguns rosnados, eles demonstravam que iriam voltar a se entender como antes. Não lhes faltaria a dedicação e os cuidados do Reynaldo pra conduzir aquele reencontro.

Para levar o Hulck até o Reynaldo, contamos com a ajuda do Beto e da Jully, ex-donos daquele mercadinho de Betim, onde os dois buscaram e encontraram apoio. Além da alegria de ajudar a salvar mais uma vida, puderam matar a saudade do Pepê, que os recebeu com festa e lambidas, como velhos amigos que se estimavam de longa data.

Ao chegar, Hulck ainda se mostrava abatido e triste. Mas ainda assim, encontrou ânimo pra demarcar todo o território. Percorreu cada canto deixando seu cheiro, seguido de perto pelo Pepê, que fazia questão de deixar o seu próprio cheiro nos mesmos pontos. O Recado era claro:

__ Agora, eu sou o lider.

Não há dúvidas de que a adaptação seria instantânea. Um cão rústico como ele, nascido e criado na rua, jamais experimentou uma vida sequer perto daquela que estava ali se iniciando. Relento não fazia mais parte de sua vida. Seu lugar preferido foi logo eleito.

Não precisou de muito tempo pra que o Pepê se sentisse mais a vontade e disposto a mostrar ao Hulck as delícias da vida de um cão de estimação.

Na despedida, ainda tivemos a oportunidade de registrar esta última foto, pra coroar um resgate verdadeiramente emocionante pra todos nós. O Hulck, deitado na varanda, e ao fundo, atrás do vidro da sala, a imagem do Pepê, e o reflexo das montanhas.

Alguns dias mais tarde, recebemos a notícia da completa adaptação do Hulck, e do verdadeiro “reencontro” entre os dois amigos. Os momentos que esperávamos fotografar vieram dois dias mais tarde. Como tudo na vida, as coisas se ajeitam e tomam as suas posições.

O Hulck lutava por necessidade de se manter vivo. Com comida escassa, às vezes é conveniente e necessário ser lider. Mas agora, podia relaxar. Pra qualquer cão, um lider confiável é a garantia de uma vida feliz e equilibrada. Ele estava mesmo cansado, e aceitou o comando do Pepê. Entre lobos, não é rara a mudança da condição de macho alfa. Mas naquela matilha de dois, a mudança surpreendeu.

O Pepê não era exatamente o que se podia chamar de Lobo Alfa. Mas ainda assim, ele merecia ocupar este posto. Os dois se entendiam e se respeitavam. Nasceram para aquela vida.

Além do espaço e do conforto da nova casa, ainda tinham algumas montanhas de mata virgem à sua volta, para as quais costumavam correr, sempre juntos, vivendo as delícias da vida selvagem.

Talvez venham a ser felizes para sempre. Torcemos por isto, mesmo sabendo que pra sempre é tempo demais. Não sabemos até onde a vida os deixará ir. Mas é certo que eles encontraram seus lugares. São lobos sim, mas lobos dependentes. O fato é que, onde quer que possam ir, e qualquer que seja o tamanho do território que venham a conquistar, eles sempre terão pra onde voltar.

Teremos que sempre agradecer ao Reynaldo por estas duas acolhidas, e ele, como bom cachorreiro, continuará afirmando que foi ele, o maior beneficiado.

Deixando a diplomacia de lado, e assumindo as nossas mais sinceras convicções, também acreditamos nisto.

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Não sabemos quantos outros capítulos esta história terá, mas é certo que teremos muito prazer em contar todos eles. E que sejam muitos e duradouros.

Quase um ano após a chegada do Hulck, as histórias envolvendo esses dois ladinos (como o Reynaldo costuma se referir a eles), um novo membro chegava pra fazer parte da matilha. Pepê e Hulck viveram juntos muitas aventuras, deixaram alguns descendentes, fizeram muitos amigos, experimentaram, ou melhor, relembraram, os tempos de vida livre e já começavam a colocar em risco as próprias vidas.

O Hulck chegou a ser capturado em um bairro vizinho, tendo o Pepê cuidado de chamar o Reynaldo, levando-o até o local onde Hulck estava amarrado.

Mais alguns dias foi a vez do Pepê desparecer, ficando mais de um mês sumido, até que fosse encontrado pelo Reynaldo, em uma casa de um bairro vizinho.

Chega um momento na vida em que todo boêmio precisa sossegar. E não seria diferente com Pepê e Hulck. Cansados da vida livre e até assustados com os perigos que correram nos últimos tempos, era hora de assumirem uma nova postura.

Precisavam de uma fêmea para lhes aquecer nas noites frias das montanhas. Essa fêmea chamava-se Lua, uma cadela de porte grande, mestiça de Akita. Ela foi resgatada uma semana depois do atropelamento de uma de suas filhas. Após a adoção das pequenas, foi a Lua castrada, vacinada e disponibilizada para adoção.

Conheça a história completa da Lua:

http://oloboalfa.com.br/suzi-uma-historia-de-reencontro/

Vendo o anúncio da Lua, percebeu o Reynaldo que era ela a fêmea que viria a sossegar os dois rapazes. A Lua era uma cadela muito especial. Esteve conosco por alguns meses, oportunidade em que se mostrou a mais dócil e sociável cadelinha já resgatada por nosso Projeto.

Quando chegou, Lua encontrou Pepê e Hulck comportados como cãezinhos de colo. Eles haviam tomado banho para recebê-la. Hulck usava uma gravata azul e o Pepê, um lenço vermelho. Afinal, se a primeira impressão é a que fica, não poderiam eles se apresentarem como cães de rua.

Assim que chegou, foi ela muito bem recebida, cuidando de percorrer o território, onde viria a reinar.

Pepê era o mais animado dos dois. Corria e rolava, como se quisesse mostrar à Lua os encantos daquele território.

Em menos de uma hora, as cenas a seguir mostravam o que viria a ser a vida naquele território. Pepê tinha disposição para brincadeiras e a Lua, igualmente, era ainda uma filhotona grande.

pepe hulck e lua 3

Restava-nos comemorar mais um final feliz. A despedida da Lua foi triste. Ela deixou por aqui muita saudade e uma cadela triste e abatida, chamada Pintada. Mas, sua estada em nossa casa era apenas provisória. Desejamos que a Lua seja muito feliz em sua nova casa e que leve alegria aos dois ladinos. Mais uma vez, agradecemos ao Reynaldo essa maravilhosa acolhida. Nada pode ser melhor para um protetor que a certeza de ter acertado na escolha.

Algum tempo se passou e a Lua já estava completamente adaptada e feliz, sendo a rainha de uma matilha pra lá de especial. Mas, pra cachorreiro é assim: quanto mais melhor. Em algum lugar vivia um baixinho chamado Lourinho. De todos os lobos recebidos pelo Reynaldo, talvez fosse o mais sofrido. Ele já esteve no corredor da morte, sendo resgatado no último dia do prazo, já foi dado como morto depois de um atropelamento, sentiu angústias e tristezas com separações, com sentimento de abandono.

Conheça a história completa do Lourinho:

http://oloboalfa.com.br/lourinho-e-pretinha/

Enfim, é um daqueles casos de lobos que merecem encontrar um Reynaldo na vida. E encontrou. As fotos que conta a chegada do Lourinho e sua adaptação são do próprio Reynaldo. O Lourinho agora é parte de uma matilha selvagem (quase isso). Lourinho não era o melhor nome pra cãozinho rústico como ele. Recebeu novo nome e hoje se chama Lobinho, também conhecido como Baixinho Folgado.

Ele passou um tempo dentro de casa, até se acostumar com o Reynaldo. Encontrava sua nova matilha, quando saia pra passear, na coleira.

Mas, o que se poderia esperar de uma matilha tão especial, senão uma recepção à altura de um Lobinho como ele.

A completa adaptação veio algumas semanas depois e foi assim narrada pelo Reynaldo:

“Lobinho (novo nome do Lourinho) já é senhor e dono do pedaço, como os outros tres. Sai de casa e volta antes dos outros. É “vigiado” pela Lua, que é a mentira do Lobinho (Foi quem pegou-o na Cão Viver). Hulck ainda dá uns couros no baixinho, para mostrar quem é o Alfa. Nada de sério. Alegre, pela em mim quando vê, a ponto de quase me derrubar (O baixinho é desajeitado pra burro! hehehe). Enfim, adaptado. Foi aos poucos, mas, cada dia, ganhando mais coragem. Abraços.

Falar o que? Valeu Reynaldo.

Primeiro o Pepê, depois Hulck, depois Suzi, Lua e Sany e, por último, Lourinho. Todos os personagens dessa história foram atendidos na Veterinária Alípio de Melo, onde receberam os cuidados médicos necessários para que pudessem nos presentear com tudo isso.

Nosso agradecimento à Dra Cíntia e sua equipe.

Continua …

O melhor de tudo, é que sempre recebemos notícias destes dois. Não apenas por gentileza do Reynaldo, mas porque ele tem mesmo sempre muitas histórias incríveis pra contar. Assim é a rotina de quem fez a opção por viver entre lobos. Abaixo, algumas das histórias envolvendo estes dois cachorros.

Pedimos licença ao Reynaldo para incluí-las no site, não só porque são incríveis, mas porque nos ajudam em nosso propósito, de mostrar às pessoas as delícias que cães sem raça podem também proporcionar.

Logo após a adoção do Pepê, recebemos estas primeiras notícias:

Estamos aqui, nos conhecendo. Eu dando o tempo necessário para que ele esqueça o que passou e se acostume comigo, com a casa e com a nova vida.

Está ótimo! Extremamente carinhoso e dócil, se alimentando bem (embora revele preferência por “comida de gente” rsss.. resquícios da rua, certamente) e sendo medicado.

Está à vontade em casa. Tive cuidados ontem com janelas e área da piscina. Afinal, moro no 10/11 andar e qualquer descuido pode ser desastroso. 

Já tem os locais de preferência (ventilados).

Sinto que o melhor para ele seria, pelo comportamento, estar em uma casa com crianças ou mais pessoas. Enfim, espero que ele se acostume.

Tem sido muito carinhoso e companheiro. Mas, creio que ainda pela recuperação, costuma dormir bastante!

Hoje pude ver o quanto o Pepê deve ter sofrido! Peguei uma vassoura para limpar a área aqui de cima, e ele imediatamente se escondeu, tremendo. Deve ter sido agredido com isto… Abandonei a vassoura e coloquei-o no colo até acalmar-se. 

Aos poucos ele vai perder estes receios.

Tenho dado a ele o tempo de confiar e se aproximar mais de mim. Ele sabe a hora e saberá que sou amigo e companheiro dele.

Agradeço a oportunidade de tê-lo aqui. 

Espero – e me empenho! – que haja uma excelente adaptação.

Em poucos dias, as notícias da completa adaptação do Pepê:

Crispim, como você me pediu notícias do Pepe, aqui vai!

A coisa está entre séria e divertida, como devem ser as boas histórias…

Pepê já é o dono da casa. Me segue onde for, me avisa da fome, chora pedindo carinho e se mostra o grande manipulador que é! 

Prá lá de inteligente! Fiel, carinhoso e – descobri agora! – CIUMENTO! Rsss

Meu apto é cheio de janelas, todas com um certo grau de “baixa transparência”!

Para o Pepe, isto tem sido um martírio!

Desde ontem, ele DESCOBRIU-SE no reflexo dos vidros das janelas (da escada e da sala de cima, que tem um pequeno jardim de inverno). Só que ainda não entendeu que é ELE MESMO!

A revolta é intensa! Que p. é este cachorro que insiste em ficar do lado de fora, só a noite ? (explico: com a iluminação indireta do apto, as janelas se transformam em um “espelho” onde – de modo meio indireto – se reflete não só o “cão” externo, como pedaços do próprio ambiente!).

A vigília é constante! Na escada, senta-se ao meio dela e fica olhando a própria imagem, e rosna baixinho!

Na sala de cima, fica quase que numa posição de ataque, observando atentamente qualquer movimento que possa ser suspeito!

(No vidro da sala, o reflexo se confunde com as plantas do lado de fora, no jardim de inverno!!) 

Teso, reto, de patas sob o corpo, de orelhas fixas e quase em pé! Não rosna (fica deitado ao meu lado, no computador) mas não desgruda os olhos do “cão” externo!

Vamos ver se ele consegue conviver com este fantasma e adquirir a confiança que o dito só habita o espaço externo! Que o espaço é dele!

No mais, quase não manca mais, já me recebe com pulos, sobe nos sofás!

Amanhã é banho de mangueira! Com shampoo, etc. 

Como ele escolheu dormir aqui na sala de cima (acho que por que a área da piscina é do lado e venta!) vou apagar as luzes. 

(Estava deixando uma luz de abajur acessa!)

Acho que assim o fantasma do Pepe desaparece!

E mais …

Pepê está ótimo. Já se sente além de dono da casa (que é mesmo!), dono do assento dianteiro direito do carro, deslocando até minha filha quando saímos juntos! hehehe… O “carona” é dele!

Espanta a todos que o conhecem, pela inteligência. É mesmo impressionante, mesmo você descontando a “corujice paterna”! 

Exemplos: pega a coleira e “fala’ (misto de choro e latidos), quando quer ir para a rua; come a ração QUANDO estou olhando, numa “troca” proposta por comida de sal… (“estou comendo esse negócio aqui: tá liberado o que eu gosto mesmo??”) ; 

Deita no sofá e fica olhando de soslaio quando eu limpo a área onde ele elegeu como WC; cativa as pessoas (minha ex-esposa e minha filha são apaixonadas por ele); e por aí vai… É o mascote do prédio. Passeia na rua de modo obediente, mesmo mancando (mas quem diz que isso atrapalha algo da vida dele! Pepê? NUNCA!)

Por fim, saiba que o final de seu texto é a perfeita exatidão dos fatos. Desde que o vi na Internet, sabia do caráter do meu novo companheiro de jornada: da fidalguia, da retidão, da amizade, da inteligência. 

Só um reparo: não fui eu que salvei Pepê. Ele veio mostrar que o Divino se manifesta na pureza dos animais!

Assim é Pepê.

Abração e eternamente grato por ter-me proporcionado esta dádiva!

Mas lobos são assim. Cada dia uma surpresa (Sempre boa).

Quero te falar de uma atitude do Pepê que me intriga e a todos que já viram. Todos ficam surpresos com o que passo a relatar.

Pepê adora uma música específica. Sério, sem exageros. Há testemunhas.. rsrsrs.

Ouço muito jazz, MPB e música experimental (argentina, celta, portuguesa, etc.)

Um dia destes – já há algum tempo – estava ouvindo (e vendo um DVD) da Elis Regina.

Pepê estava no andar de baixo, em um sofá… Como sempre, de patas abertas, com as vergonhas expostas e usufruindo do merecido descanso.

De repente, ao iniciar uma música específica, ele sobe em desabalada carreira, até ficar sentado entre as caixas de som, na sala do segundo andar.  Sentado e claramente, ouvindo! De orelhas tesas e imóvel, até o fim da música!

Após a música terminar, ele relaxou… Coloquei-a de novo! E de novo, Pepê ficou atento e imóvel, ouvindo… De lá para cá, sempre o mesmo comportamento.

A coincidência é que a letra é mesmo quase que uma história do Pepê. 

Óbvio que – ainda – não enlouqueci, para crer que Pepê entende a mensagem do mestre Gonzaguinha. 

Creio que esta música marcou o Pepê. Há uns dois anos atrás, ela foi tema de uma novela da Rede Globo (não sei qual é ao certo), mesmo sendo da década de 70. Acredito que Pepê a ouvia na casa da carinhosa dona anterior, ou mesmo no mercadinho que o acolheu e permitiu-lhe sobreviver. E isto marcou a lembrança “musical” do Pepê. Mas não deixa de ser a marca do Pepê.

Segue o link para você. E mais uma vez, hoje especialmente, vou deixar o Pepê ouvir e lembrar-se de algo que obviamente é de alguma forma, especial para ele.

Para ouvir a música do Pepê, clique no link abaixo.

http://www.youtube.com/watch?v=IFx2T1D-FcA&feature=related

Elis Regina- Redescobrir ( Tema da novela Ciranda de Pedra).

O episódio do assalto foi assim narrado pelo Reynaldo:

Não posso deixar de te contar algo que julgo extraordinário!

Hoje, sábado, é dia do segundo banho semanal do Pepê. Que ele gosta muito! (acho que Pepê adora ser escovado e ficar perfumado. Coisas deste ladino cão…).

Votando da clínica, já aqui em casa, notei o desconforto (ganidos, idas até as áreas externas, etc) que indicava claramente que queira  para a rua. Já aprendi a entender os pedidos dele…

Fomos! De coleira e alegre como sempre, lá foi o Pepê rua afora.

Na rua paralela a que moro, na rua Estados Unidos aqui no Sion,  costumo deixá-lo solto (solto a coleira) e ele sempre vai ao meu lado, marcando o território como ser livre que é!  

Hoje, de repente, um MONSTRO se revelou! Pepê PULOU nos peitos de um transeunte que vinha em sentido contrário! NUNCA Pepê HAVIA sequer rosnado para alguém! É sempre o cordato, o carinhoso, a paz em pessoa!
Tomei um susto e fui tirá-lo de cima do sujeito. Tentando agarrar-me na guia da coleira para retirá-lo de cima do cara! Só pensava: “enloqueceu!” “Este cachorro surtou!”

Consegui retirá-lo após Pepê ter balançado o braço do cidadão caído no chão. (IMPRESSIONANTE” Pepê – você conhece – é um cão de pequeno/médio porte! Com o pulo no peito do sujeito, derrubou-o! Só vendo para crer!);

Pois bem: quando consegui fazê-lo parar de morder o braço do cara, vi a FACA que o mesmo portava no chão! Uma faca com cabo envolto em fita isolante! 

Eu ia ser assaltado! De onde Pepê soube? COMO? O que o fez antecipar-se ao assalto?

Tive que acalmar o nobre Pepê por uns dois minutos, enquanto o ladrão corria rua acima, no sentido da BR. 

Crispim, há explicação? Se há, sequer necessito dela!

Só sei que o dono da casa agora olha prá mim com a certeza, no olhar, que precisa mesmo cuidar de mim! Ao contrário do que todos pensam! Difícil… Esses sujeitos caninos,quando querem, sabem ser irônicos e presunçosos. Vida que segue!

Hoje, ele come uma porção de carne fresca. E vai ter (mais) colo.

Amanhã minha filha vem agradecer ao Pepê, que mostrou que não era um monstro, como pensei.

Era, como sempre soube, um corajoso companheiro!

Após a mudança para a nova casa, e a chegada do Hulck, continuam as histórias.

Há algumas semanas, o Pepê sofreu um atentado. Alguém que não gosta de cães, e que não deveria estar neste mundo, contratou um bandido para dar fim ao Pepê. Um rapaz chegou de bicicleta, dentro do condomínio, chamou pelo Pepê e começou a acariciá-lo. De repente, sem nenhum motivo, tira uma faca e a enfia no peito do Pepê.

Foi socorrido e salvo pelo Reynaldo. Alguns dias de antibióticos, muitos pontos e um punhado de petiscos e agrados extras, o valente e indomável Pepê já era o mesmo.

Este triste episódio faz parte do passado. É só mais um capítulo desta história.

Depois de completamente adaptados à nova casa, os dois têm o hábito de passear livres, pelas ruas do condomínio onde moram. São conhecidos e apreciados pelos vizinhos. A última história é tão incrível quanto todas as outras.

Se as coisas continuarem assim, “Pepê e Hulck” vai acabar virando nome de filme.

Pepê e Hulck estão mais que adaptados. Tomam conta da casa, passeiam pelo condomínio, estão alegres, FORTES (muito bonitos!) e felizes.

O ciúme deles para comigo é engraçado! Pepê virou mesmo o Lobo Alfa! Assumiu esta característica que surpreendeu a todos, acho mesmo que até a você. 

“Toma conta” do Hulck! E, se faço carinho no Hulck, ele tenta mostrar que é o chefe do modo mais descarado (e falso!) possível!

“Monta” atrás do Hulck, que sequer liga, pois é só mesmo encenação! É como se dissesse: “Tá vendo? O MACHO sou eu! Hilário! O Hulck, como um cão de boa cepa, MACHO e decidido, ignora solenemente a pantomina do Pepê. Coisas de cães… Já o Hulck, quando faço agrados no Pepê, se deita ao lado e rosna com que esperando a hora do afago e do cafuné na cabeça!

Hoje, pela manhã, Hulck não estava em casa! (Eles ficam soltos à noite, e por acordo deles (depois envio fotos!) cada um fica em uma porta (aquelas de vidro) da casa! 

E Pepê, absolutamente fora de si. Achei que era coisa de “noites de esbórnia”, hehehe..

Lá pelas 12 horas, nada do Hulck e Pepê continuava agoniado!

Resolvi tentar entender o que (e por que) Pepê estava daquele jeito. 

Abri o portão e Pepê disparou para a rua em frente da casa e não parou de latir.

Fui lá na rua ver o que era. Pepê disparou rua afora!!!! Voltei para casa achando que Pepê queria brincar ou estava indo namorar, sei lá..

Em poucos minutos, Pepê voltou e continuou a latir em frente da casa. Me preocupei. Fui novamente à rua e mais uma vez, Pepê, manco como sempre (mas mais ágil que nunca!) disparou rua acima no condomínio!

Não dava para acompanhar. Pepê voltou a fazer esporro em frente à casa;. Peguei o carro e fui para a rua!

Aqui o INACREDITÁVEL!

Pepê foi subindo as ruas do condomínio e foi em direção a um bairro vizinho, limítrofe ao Condomínio. Uns 2 km de corrida, onde me esperava chegar perto e continuava a correr!

Depois de uns 5 minutos, Pepê parou em frente a uma casa, perto (ao lado) de uma escola municipal e começou a latir feito um louco, correndo de um lado a outro.

Desci do carro! OUVI OS LATIDOS DO HULCK, que estava preso em uma corda numa casa mais próxima a um barracão!

Me identifiquei como dono dos cachorros. Hulck foi solto, e disparou, com Pepê junto, rua acima!

Quando cheguei em casa (deve ter sido uns 3 minutos após os dois!) estavam ambos no portão!

(Delírios de cachorreiro, MAS É VERDADE!) Pepê estava pagando o maior esporro no Hulck que só ouvia!!! Era um gemido do Hulck e rosnados e mordidas do Pepê! Uma zorra!!!)

Abri o portão e os dois foram diretos pro “canil”.

Crispim, mais uma vez OBRIGADO pelos dois! Eles são SIM mais do que um presente para mim!

Por favor re-envie este e.mail aos amigos de Betim (o Beto e esposa).

Ainda não acabou. Pepê e Hulck têm hoje a mais estranha e diversificada matilha da história. Além de outros amigos caninos que os visitam, e são sempre muito bem recebidos pelo Reynaldo, eles convivem “em harmonia” (Essa harmonia toda fica por minha conta) com outros antigos moradores (donos) de seu território.

Abaixo, as fotos dos novos integrantes da grande família, e a preciosa narração do Reynaldo, sobre o caso.

Como sempre, as histórias são reais e – creio- deliciosas! Você sabe que o macaco-chefe pulou um dia nas costas do Pepê, que “escolheu” um dos filhotes para correr atrás! Foi um salseiro! O macaco em cima do Pepê, eu atrás dos dois e a macaca-mãe atrás de mim! Quase que o processo de aproximação foi por água abaixo!

O problema é que a família original deste espaço vem aqui, obviamente, buscar comida! A início, os abacates. (Aliás, o macaco-pai tem uma mira péssima! Graças a Deus! Já tentou acertar a mim e a a minha auxiliar com pedaços de abacates, mas sempre erra!)

Depois, com a ração que sobra dos cachorros. Já me roubaram umas quatros vasilhas! Roubam a ração (misturada com “comida de gente”) e não devolvem. Um dia vou ao mato resgatar… E com as bananas (aí, entendo…) que deixo no jardim para os miquinhos. (Sim, eles são muitos.. hehehe…). Idem os amendoins dos esquilos.

Vá explicar isso para a dupla invencível!  Quase os ouço dizer (latir); “Aqui não! Já não basta a gente ter que conviver com o símio de grande porte e ter que protegê-lo (ou seja, EU!) agora aparece uns assemelhados que são acima de tudo, LADRÕES???”

Enfim, a guerra – como já disse – está declarada! O que me impede, enquanto diplomata, tentar um armísticio. Como a macacada é solta e livre, tenho que prender os vigilantes da roça quando os vejo aproximarem-se.

Assim foi hoje. O telhado PREFERIDO dos macacos é do do CANIL! Espertos esses caras… Vigiam os “inimigos”. Observam os perigos (eles sabem que EU não sou perigo! Pepe e Hulck, a início, sim!). E pior, irritam os dois! De propósito! Não só ficam em cima do telhado, como aparecem nas janelas de vidro para se mostrarem a ambos!

A coisa complica… O Hulck ainda vai conseguir quebrar uma vidraça! E quem “paga o pato” sou eu!

Depois da visita – de barriga cheia! – da macacada, me resta suportar o mau-humor de ambos os ofendidos quando os solto. Percorrem cada canto do terreno, latindo e deixando o cheiro, como a determinar que estavam PRESOS e por isso não mostraram o valor de cada um!

Pepê parece ter esquecido o macaco nas costas e a corrida portão a fora, só voltando umas duas horas depois… (Nunca vi o Pepe tão apavorado. Mas, como bom lobo alfa, ele insiste que vai dar conta… veremos!!).

Hoje, o macaco-pai abusou! Não só pegou o biscoito como o comeu ao lado da vidraça, na paz dos santos, vendo o Pepê e Hulck pularem na mesma tentando alcançá-lo. O sacana comia o biscoito mostrando aos dois o feito heróico! Não é à toa que a gente tem algo a ver com eles…

Como problema adicional, quando da “visita” dos macacos os esquilos se mandam para a mata e idem os miquinhos. Voltam sempre…

Só ficam (aliás aparecem em maior número, deve haver alguma relação) os jacús fazendo um barulho infernal.

Peço que me exima de classificar esta roça como hospício! Eu sei que é.

Mas, creia-me, é divertido!

Desconfiamos que esta matéria jamais estará pronta. Estaremos sempre à espera dos próximos capítulos. E como nossa audiência é sempre alta, torcemos que esta novela se estenda por muitos anos, e que nos traga muitos outros motivos pra rir e comemorar.

*****

Há algum tempo, o Reynaldo vem sendo aconselhado a escrever um livro, contando a história dos dois cães ladinos.

E como se estivesse se preparando para esta nova empreitada, decidiu nos presentear com mais este texto, que precisa ser compartilhado. Ficaremos na espera dos próximos textos, já falando de um trio perfeito.

Sempre fui acompanhado vida afora pelos cães. Desde pequeno.

Meu maior amigo, na infância, era um Cooker que morreu aos 14 anos, dormindo.

Depois dele, outros.

Leão, Perigoso, Linky, Pretinho, etc. Todos em um sítio no Sul de Minas.

Mas eram cães que eu via – e convivia – por dois dias por semana. Quando dos feriados, podia ter a companhia por mais tempo.

Eles sempre foram importantes. Tanto que minha casa neste sítio – ao contrário das outras, de cunhados e cunhadas – foi feita com lajotas em todos os ambientes.  Se eles não podiam entrar nas outras casas, na minha eram convidados de honra!

Mesmo molhados ou sujos de barro!

Óbvio que eram amigos fiéis que sabiam que eu era um pouco (ou muito) diferente dos outros que impediam o convívio que desejavam.

Como minha separação, esta casa é hoje de minha ex-esposa (uma grande amiga!) e de minha filha. E perdi os cães. Ou ao menos o convívio.

Pepe e Hulck são, para além de companheiros, professores e amigos. Pela convivência diária e intensa.

Como bons SRD´s que são, sabem viver, propor acordos e estar em harmonia.

Sabem sobreviver, valorizando cada pequena conquista. E acima de tudo, sabem demonstrar o que sentem.

Qual a lição, como um “psi-canino”  que não tenho competência para ser, posso compartilhar?

A liberdade e auto-respeito de um SRD desconhecem limites!

A mistura de raças, o mix de genes e passados, os faz especiais.

Sem acrescentar um grama na balança desta história, relato o que aprendi – eles são bons mestres! – com ambos.

Pepê quando me foi dada a chance de conhecê-lo, já era um SRD com história dividida.

Conhecia o aconchego de uma casa e de um protetor. No caso, protetora. Depois vivenciou a rua, a sobrevivência a qualquer preço, a maldade humana e – sorte dele! – o carinho de pessoas (como o Beto e a July) que sabem do valor de um amigo fiel.

Era (e é) um misto de vira-latas com alguma raça. Que aprendeu o valor de um abrigo e a liberdade da rua.

O quanto bom é ser alimentado e o quanto efêmero é a situação que vive. Mesmo, como ele, não sendo mais.

Porém isto aguça o sentido da liberdade, da independência e da ousadia que os SRD´s parecem ter como característica endógena.

Hulck? Esse é o autêntico “cão de rua”! Nasceu nela, lá viveu e aprendeu a sobreviver.

Desconfiado e arredio, atento e valente, orgulhoso e humilde, carinhoso na medida em que não revele uma fraqueza, alegre e pensativo.

Este é o retrato que faço do Hulck. Um cão especial!

E seria – e foi – necessário um aprendizado. Dos três. Que respeitasse minhas decisões e ao mesmo tempo, não agredisse as características dos dois.

Fiquei muito triste por ter “perdido” um cão que  me seria dado a cuidar, por receio desta liberdade controlada que apostei e que julgo, ainda, é o caminho para entender estes seres especiais. Se forem SRD´s de rua.

Por receio da protetora, não me foi entregue. Uma pena.

Eles são especiais e, portanto, tem necessidades diferenciadas. Não dá para colocar na rua o spitz alemão anão (o maravilhoso Bono!) que minha filha tem como quase um filho desde quando tinha 30 dias (meu neto?) ou prender dentro de uma casa com quintais e matas à frente dois SRD´s como os ladinos donos desta roça.

Não funciona.

Qual a fórmula? Creio que antes de qualquer coisa, estabelecer uma relação de confiança.

De independência dependente… Uma incongruência necessária.

Sem agressões, sem maus-tratos, sem gritos ou castigos. Carinho é essencial.

Trate um cão com carinho e ele responderá na mesma moeda… Trate-o com agressividade e espere o troco do mesmo modo.

Imaginem uma casa de frente a uma mata (a do Jambreiro), com um riacho, em um condomínio com ruas de pedras e centenas de cães nas casas do mesmo. Seria possível manter dois SRD´s egressos das ruas mantido nos limites da casa, mesmo esta tendo quintais, matas próprias e espaço bastante extenso?  Creio que jamais…

Se ambos, Pepê e Hulck, se adequassem a esta situação – de isolamento – eu creio que teria conseguido eliminar deles a maior qualidade: a liberdade e o direito de serem lobos!

Eles precisavam desta liberdade. E ao mesmo tempo, precisavam me mostrar  que saberiam usá-la!

Loucura de cachorreiro? Pode ser. Mas, real.  E eu precisava deles.

Enquanto Hulck não chegou, as saídas do Pepê eram poucas e bastante fora de qualquer padrão.

Com a chegada do “dono das ruas”, o que era passeio passou a ser necessidade dos dois.

Pepê já fugia, mesmo com o portão fechado! Pulava de um platô de mais de 2 metros até a rua!

Depois, como não conseguia entrar, ficava latindo na rua para que eu abrisse o portão. Só aí sabia da fuga do sacana…

Este foi o “detalhe” que me fez propor o “trato” com eles!

Eles sabiam (Pepê sabia!) sair e sabiam voltar! Me chamava para entrar na casa que era dele que estava fechada!

Ele saberia ensinar isto ao Hulck?

Só a experiência real diria! Eu preparei-me para buscá-los em todo o condomínio e segurei a ansiedade, caso desse errado.

Mas era necessário arriscar!

Passei a deixar um espaço de 20cm no portão, fechado com corrente e cadeado, para que pudessem sair e… entrar!

No primeiro dia, ambos saíram pelo espaço. (Ao invés de pularem no muro!).

Pararam na rua. Olharam para mim e para casa! A pergunta era: “o que quer dizer isto?”

Não os chamei. Não fiz nada. Só olhava. Foram até a esquina e…. voltaram!

Experimentaram a oportunidade de entrar. O portão aberto! Foi  – juro! – uma festa!

Naquela noite, saíram e entraram umas dez vezes, como que para garantir que a coisa era “de vera”, para valer.

A partir de então, JAMAIS tive preocupações. Nem eles!

E – só os cachorreiros entendem! – explico porque.

Aprendi que cães PRECISAM de rotina! (Humanos também).

A rotina dá uma sensação de segurança, previsibilidade e conforto que permite não temer tanto o “futuro”, seja ele qual for.

Hulck é o exemplo CLARO – pelo passado! – desta necessidade. Mais que o Pepê.

A rotina de ambos é: soltos das 17 horas até às 10-12 do dia seguinte, presos no canil entre este horário e as 17 horas.

Exceções em dias de chuva intensa, etc.

NOTA: o canil , na verdade., é um espaço de 5m x 10m que era um … stúdio de dança das filhas do dono anterior da casa.

Não achei ocupação melhor! Nem haveria!

Após as 17 horas (no máximo 18), solto ambos.

Eles SABEM que é a hora da comida “diferente”: ração misturada com pedaços de carne cozida, pedaços de churrasco,  ou frango (restos de refeições). No canil, há água e ração pura.

Qual o comportamento dos dois a serem soltos? Invariável!

Pepê corre para a porta externa da cozinha e espera a comida!. Late, chora, gane, etc.

Como bom manipulador parece ter saído de uma guerra sem nenhum alimento!

Depois, se manda para a rua!

Hulck? Este é especial neste aspecto. Desce para o portão e fica latindo no mesmo até que eu apareça na varanda para olhá-lo!

Neste momento, alegre como em uma festa, se esgueira na abertura do mesmo e… vai para as ruas que ele é dono!

Ou seja: faz questão de me avisar: “Ô cara! Tô indo! Já volto! Preocupa não! Segura aí o rango!”

Depois de NO MÁXIMO 15 minutos, quando Pepê está em funções com a comida, volta o Hulck! E come na paz dos justos…

Depois os dois voltam para a rua! Mais uma meia-hora de passeios e namoros!

Crispim, é real!

Esta rotina é a garantia deles e MINHA do cumprimento do trato feito!

Simples assim: eu não tolho a liberdade que um SRD preza mais que a própria vida e eles me demonstram que querem estar aqui, protegidos e amparados.

Um ser humano também precisa de rotina. Que seja saudável e prazerosa. Um prisioneiro (legal ou sequestrado) nunca terá na rotina o conforto que precisa.

Nossos amigos, idem.

Se a rotina atende a alegria e a vivacidade deles, estarão sempre felizes. E manifestam nas saídas noturnas, nas corridas pela mata da casa e do condomínio, pelos banhos semanais (latem quando OUVEM o carro da veterinária chegar! Eles adoram!), os passeios de carro com a cara do lado de fora da janela… A rotina que os fazem felizes.

E o melhor, a mim também!

Abraços,

Reynaldo.

Alguns dias depois da adoção da Lua, recebemos as primeiras notícias:

Quanto a Lua, já está inteiramente adaptada.

Passeia somente na rua em frente de casa, indo no máximo uns dez metros para cada lado.

O resto do tempo, fica brincando em casa nos jardins. Muito,mas muito mesmo, carinhosa!

O Pepê perdeu a parada para o Hulck! Parece que o amigo preferido é o Hulck. Ele a protege e a acompanha em todos os lugares. Quando o Hulck vai um pouco mais longe, ele espera o dito cujo por aqui.

E o Pepê – eita cachorro maniado!! – adquiriu uma novidade! Arranjou um córrego em frente de casa onde o porcalhão resolveu ir todos os dias. Volta sempre imundo. Barro da orelha às patas! Tem que ser lavado na mangueira, como um carro no lava-jato. Parece que se acostumou com isto e até gosta, o ladino!

Só ele vai até lá! Lua e Hulck evitam.

Com estas tempestades tenho deixado os tres presos no canil à noite. É mais seguro, seco e confortável.

Bem, era isso.

Em mais alguns dias, novas notícias do trio fantástico:

O cupido canino chegou cá por estas bandas.

A Lua não foi seduzida pelas graças do Pepe, que tentou insistentemente. (Você deve se lembrar do dia a trouxe aqui). O Hulck, com aquele jeito desconfiado e arredio, foi fisgado definitivamente. Lua faz gato e sapato do coitado. Hehehe… Ele obedece e a protege. Dormem juntos, com a Lua apoiando a cabeça no pescoço do Hulck. Andam juntos pelo condomínio e retornam juntos.

Até a comida – coisa de louco! – que o Hulck sempre fez questão de ser o primeiro, agora foi alterada a “ordem de acesso”.

Primeiro a Lua, em segundo a Lua de novo e por fim, ela mais uma vez!

Esplico: Hulck deixa que a Lua coma antes (e Lua empurra o Hulck e bota a pata em cima da vasilha!) e o Hulck vigia o Pepe para que deixe a Lua se banquetear. Só após Lua permitir e que os dois se servem…

Brincam (Lua e Hulck) o dia todo quando no canil.  Comprei uns aretfatos de borracjha macia (halteres, ossos, etc) de tamanho GG e os dois se divertem.

Mas – sério mesmo – sinto um pouco de pena do Pepe. Parece meio alijado das brincadeiras. Embora ainda creio que faça parte da matilha, naturalmente.

E o Pepe continua louco de pedra, nadando no riacho, correndo o terreno todo, etc. Nesta hora a Lua o acompanha.

Mais uma da dupla! (No caso, os machos). O “consumo” de coleiras de couro de ambos é intenso. Sempre achei que roubavam a coleira – quando iam à rua – pois estavam somente com o nome e telefone. Hoje, descobri a mágica.

Aparecei as duas coleiras que comprei ONTEM partidas… no canil! Fúlvia viu a mágica: Pepe roí a o Hulck e vice-versa. Um liberta o outro do incômodo.

É ou não coisa de SRD? Acho que vou dar um banho do tal líquido amargo nas coleiras.

Pepê. O fim da história.

REQUIÉM PARA UM CÃO

Pepe Requiem 1

Cadê meu companheiro que apareceu em minha vida quando eu era, sem nenhum exagero, o mais solitário que já havia sido?
Cadê meu amigo que entrou na minha vida como uma lição, um ensinamento e uma esperança de futuro?

Um cão aleijado. Ele nunca se deu bem com carros e motos. Nasceu em uma casa com todo o conforto. Foi posto para viver na rua quando a dona que o pegou filhote, morreu. E sobreviveu, com dois anos de vida, ao desafio de ser – agora – um cão de rua.

Duas vezes atropelado. Por um carro e por uma moto. Coberto de feridas foi “adotado” por seres humanos plenos de grandeza, donos de um mercadinho, que o acolheram (mesmo que do lado de fora) trataram e o alimentaram.

E eu o descobri por uma reportagem do Estado de Minas informando do infortúnio dele. Dezenas de adotantes apareceram no O Lobo Alfa.
Mas ele era meu. Ou melhor, eu era dele.

Ainda triste por mais um atropelamento e abandono, o conheci triste e cansado. Mas foi absolutamente passageiro! No mesmo dia em que convenci ao amigo Crispim que ele ERA MEU (sem saber que na verdade eu sempre fui dele), já estava alegre e pronto para reiniciar mais uma etapa da vida. Uma amiga me levou até lá (na época estava sem carro) e adotei o Pepê.

Foram quatro anos maravilhosos!

O Pepê ainda no apartamento, me ensinando que a vida recomeça. Que a alegria vence o desânimo. Sendo o cara que me ouvia, entendia (mesmo em silêncio, mas observando cada palavra como se entendesse!) e me acarinhando!
Defendendo-me de assaltos.

Quando vim para cá morar em uma mata, poucos sabem, mas Pepê foi fundamental para esta escolha.

E aqui, desde o primeiro dia (quando pulou na piscina sem saber que esta nova piscina era muito maior que a piscina do apartamento, que ele usava e abusava!), foi o dono da casa! (só voltou à piscina no meu colo, quando a Maya do Thiago mostrou que era bom! Mesmo assim, no colo!).

Quando estive em hospitais, estava o tempo todo à espera. Sempre o primeiro a me receber.

NUNCA se importou em dividir o espaço e carinho meu com outros lobos. Sejam os que vieram e ficaram, sejam os que me visitavam, como a Maya e os cães do condomínio que brincavam com ele aqui em casa.

Pepe Requiem 2

Era especial

Amado pelos jardineiros! Não sei por que, amava jardinagem. Acompanhava atentamente, pulando e fazendo carinho, nos jardineiros aqui de casa, da rua e até dos vizinhos.

Recebia visitas com a cara mais alegre e os carinhos mais explícitos possíveis. Adorava idosos. Os acompanhavam pelo condomínio em troca de um afago na cabeça.

Era especial.

Cadê o falso vigia que ficava no muro de minha casa, latindo para quem passava e indo correndo, abanando o rabo, se estes passantes dessem a menor chance de contato? E passavam a ser os amigos (mais uns) do vigia que não vigiava: tentava ser amigo!

Assim, aqui na rua, são muitos os que passavam e sabiam que um mestiço de cocker com sabe-se lá o que, iria acompanha-los, lamber as mãos, fazer “gracinhas” e JAMAIS ser agressivo.

Mancava. Por vezes, muito. A dor dos atropelamentos anteriores cobrava o preço. E tomava o comprimido sem precisar sequer estar “embrulhado” em qualquer coisa que o enganasse. Ele sabia o que era e já sabia que fazia bem!

Aceitava os novos companheiros (ou antigos, como o amigo das ruas, o Hulck) sem sentir ciúmes ou disputar espaços. Sabia-se o preferido e não rejeitava os outros: antes, os acolhia.

Deixou de ser o cão que vivia dentro de casa – com a chegada do Boninho – sem demonstrar rancor ou dor. Aceitou e continuava feliz. (Bono é um spitz alemão muito pequeno e a convivência entre ambos poderia ser perigosa. Embora eu soubesse que jamais seria, tive que optar: ou Pepê seria mais um da matilha de 4 do lado de fora (com os companheiros de rua) ou seria um cão de companhia! Ela não havia nascido para isto).

Teve mais de 12 filhotes no condomínio (todos adotados) até ser castrado. E continuava namorador! Sempre foi.

Manco, corria mais que os outros! Uma vez me chamou para libertar o Hulck (que é o Lobo Alfa) de uma casa em um bairro ao lado do condomínio. Me levou até lá!

Quando eu ficava mais triste, soltava os cães à noite. Eles (os outros) saiam e voltavam. Pepe ficava com a cabeça no meu colo, no banquinho do jardim, até que eu melhorasse.

Cadê Pepê? Está ali, em frente a minha janela. Na terra, que sempre cavava para se refrescar.

Mas não late mais. Não coloca a cabeça na janela para receber o afago e ir brincar. Não irá mais pedir a carne do churrasco. Não irá mais latir para a rua, como se fosse o guardião que nunca quis guardar nada: só alegrar quem passava pela rua.

Cadê o lobo que tomou uma facada aqui no condomínio e sobreviveu? Que em uma semana já estava, de novo, nos jardins e pracinhas do pedaço? O caroneiro que pegava carona com o Thiago?

Este condomínio, para mim, está mais triste. Lua não para de ganir/chorar.

Hulck, em pleno dia, está por si mesmo no canil.

Lourinho está deitado no mesmo lugar onde Pepê ficava vigiando a rua.

Pepe Requiem 3

Sabia-se o preferido e não rejeitava os outros: antes, os acolhia

E eu estou sem lugar como se fosse um cara sem rumo, criança de 55 anos, idiota para quem não sabe o que é amar estes peludos e com uma saudade que é maior – que se haja um Deus, que me desculpe! – do que senti de alguns humanos.

Pepê, não tava combinado! Eu iria antes. E você já tinha até com quem ficar!

Reynaldo, Um recado do Pepê para você:
(Do amigo Moacir)

Presta atenção!
Eu expliquei tudo para o Senhor,
Que preferia ficar aqui,
Do lado de fora do Portão.
Jurei para Ele, por todos os cafunés,
Que não vou dar trabalho nenhum.
Não irei cheirar as pernas alheias,
Nem sequer vou latir ou correr.
Aqui,pacientemente, vou esperar por você,
Mastigando um osso celestial.
E não importa quanto tempo você levar,
Não arredarei daqui as minhas patas.
Pois se entrasse aí sem você,
Para mim, isso lá por trás do portão,
Não seria o Céu, não.

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Um novo começo…

Eles sempre nos permitem isso.

Tunico chegou depois. Não é o mesmo espírito. Nem o Reynaldo e nem o resto da matilha teriam equilíbrio pra esperar. Mesmo assim, ele volta, e será reconhecido. Vai encontrar um lugar onde lobos são felizes.

Tunico

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