Domingo, dia 06 de Maio de 2012, às 14:00 h, avistamos um montinho de pelo branco em um canto de uma praça. Em conversa com pessoas no local, descubro que ele foi deixado ali antes das 06:00 h da manhã e que, desde aquele horário, continuava ali, no mesmo lugar.
Quando me aproximo, encontro um Poodle de apenas 3 pernas, muito sujo. Ele estava assustado e me exibindo os dentes, demonstrando a total ausência de consciência de seu próprio estágio evolutivo.
Ainda assim, não tentou fugir. Assim que me abaixei próximo a ele, com o toco de rabinho entre as pernas, se aproximou e cheirou a mão que lhe estendi, como se perguntasse: Você vai me machucar?
Assim que o peguei, ele me mastigou os dedos, mostrando que não confiava em ninguém. Continuou assustado quando o coloquei no carro e voltou a me morder, quando o tirei do carro, já na segurança de minha casa.
Quem tem um lobinho desse em casa, sabe que eles não falam, mas entendem tudo. Costuma-se dizer: “ele só falta falar”.
A explicação é muito simples. Quanto mais frágeis e dependentes, maior o grau de evolução. Cãezinhos assim estão em avançado estágio de humanização. Nasceram e evoluíram pra dividir o ninho com os donos. De fato não falam, mas entendem tudo o que se fala perto deles. Sabem quando os donos estão tristes, quando estão felizes, são capazes de expressar sentimentos e de despertar o melhor em nós.
Esse comentário acima é pra explicar o pior desta história. O Pingo sabia que foi abandonado. Sabia que seus donos não mais o queriam. Sabia que estava sendo negligenciado nos últimos dias. Ouviu (e entendeu) as conversas de seus donos, quando se decidia o seu destino.
Não lhe foi dado o direito de opinar, de argumentar, dizer que preferia ficar ali, que não precisavam gastar dinheiro levando-o ao médico, que comeria qualquer coisa.
Sua sorte, Pingo, foi não saber falar. Já pensou se você tivesse conseguido convencer seus donos? Ali não era o seu lugar. Eles não te mereciam. Foi um grande favor que nos fizeram, deixando-o naquela praça. Deram-nos a oportunidade e a alegria de encontrá-lo, de recebê-lo em nossa casa, de crescer um pouco mais.
Não foi preciso muito tempo pra descobrirmos o real motivo do abandono. Pingo estava urinando sangue e demonstrando sentir muita dor. Ele precisava de cuidados médicos. Seus donos não souberam diagnosticar (e nem se poderia exigir isso deles), mas também não quiseram levá-lo para alguém que soubesse. Afinal, veterinários custam dinheiro. Por que gastar com um cachorro?
Mas os cuidados médicos poderiam esperar até o dia seguinte. Era domingo à tarde e havia outras dores maiores a curar.
A primeira providência seria mostrar a ele que ali era um território de lobos e que estaria seguro. Nada melhor pra isso que contar com a ajuda de outros lobos. O poder da matilha opera milagres.
Chamamos a Hanna e deixamos que ela lhe desse as boas-vindas.
Oferecemos a ele uma boa ração, que ele comeu com a gulodice de quem estava o dia todo sem nada no estômago. Também bebeu muita água.
Assim que percebeu que estava em um bom lugar, conseguiu se soltar. Ficou à vontade conosco e veio esfregar o pescoço em meu colo, como se pedisse desculpas pelas mordidas de minutos antes. Parecia que a tristeza do abandono havia ficado pra trás. Depois da Hanna, outros lobos vieram saudá-lo, mostrando que estavam felizes pela chegada dele.
Na manhã seguinte, o Pingo foi levado a uma clínica veterinária, onde fez vários exames. Ele estava mesmo doente e precisava de tratamento médico, mas nada que alguns poucos remédios e uma dieta especial não resolvessem.
Ele tinha alguns cristais na urina, causados por alimentação deficiente. Ou ele comia restos humanos, ou ração de péssima qualidade. O quadro não era grave, mas estava evoluindo para cálculo. Como estava muito no início, não foi necessária intervenção cirúrgica.
Ele precisou tomar alguns remédios e comer uma ração especial por 2 meses. Só isso e ele estaria novo, pronto para o melhor da vida.
Assim que recebeu alta médica, voltou para nossa casa. Foi recebido com festa e demonstrava estar feliz por voltar. Já se achava o lobo alfa do pedaço. Em uma matilha só de fêmeas, estava ele à vontade pra marcar o território e apagar as marcas de outros machos que por aqui passaram antes dele.
Aliás, ele não tem qualquer dificuldade para marcar o território, conseguindo se equilibrar sobre apenas 2 pernas.
Ele é da turma dos pequenos. Acompanha a Hanna e a Estopa por todo canto. Mas também fica à vontade com a Pintada e a Mari. Em dois dias ele já estava adaptado, correndo como se tivesse as 4 patas e latindo na porta da rua, deixando claro que aquele território já tinha um novo macho alfa.
Ele não sabe que está em um lar temporário. Já nos reconhece como seus donos e reivindica colo e atenção com autoridade, chegando mesmo a saltar como qualquer Poodle inteiro. Gosta de colo, se acomodando com desenvoltura, pra ficar observando o movimento da rua. Também costuma deitar a virar a barriga pra ganhar carinho, chegando a resmungar quando paramos ou diminuímos a intensidade dos afagos. É capaz de ficar horas imóvel, encostado em alguém, recebendo carinho.
Também se mostra muito sociável e adora companhia de outros cães. Por aqui, elegeu a Mariana (também para adoção) como sua melhor amiga. Os dois brincam e pulam juntos o dia inteiro.
Esperávamos que o Pingo fosse adotado rapidamente, mas acabou ficando mais tempo. Com isso, acabou ganhando alguns privilégios. Vez ou outra, organizamos uma expedição para os lobos, como forma de proporcionar a eles momentos de vida livre. Como o Pingo estava bem adaptado ao resto da matilha, decidimos levá-lo como convidado especial. Em uma sexta-feira, ainda de madrugada, os lobos eram acomodados no banco de traz do carro, seguindo viagem. Pintada, Estopa, Mariana e Pingo, estes dois últimos experimentariam a aventura pela primeira vez.
Desnecessário tentar descrever. As fotos dizem tudo. A conclusão que chegamos é de que nenhum cachorro precisa de quatro patas. Três são mais que suficientes.
Como ele era o único macho da turma, decidiu deixar claro aos lobos que por lá chegassem, que aquele território tinha um novo macho dominante. Pingo é agora o novo lobo alfa de nosso Projeto, pelo menos até a adoção.
Depois de um dia inteiro de aventura, assim terminam as nossas expedições: com cães imundos, exaustos mas, felizes.
Quando chegaram, passaram o resto do dia dormindo, emendando com a noite e acordando somente no outro dia, pela manhã, ainda cansados da aventura do dia anterior.
Mas o dia seguinte ao dia de expedição, é sempre dia de faxina. O Pingo precisou de ajuda profissional. Só mesmo um bom PetShop pra dar conta dele. Voltou pra casa branco, com gravatinha vermelha e cheirando perfume, nada parecido com o lobinho selvagem da véspera.
E, pra quem não acredita no desempenho do menino, os vídeos mostram que ele de fato não precisa de quatro pernas. Três são mais que suficientes para que ele seja feliz e tenha uma vida saudável e equilibrada. No primeiro vídeo, o Pingo nos primeiros dias, ainda se adaptando à nossa matilha. No segundo, as primeiras corridas pelo santuário, experimentando a liberdade. No último vídeo, já adaptado, ajudando de igual pra igual os outros lobos na lida com o gado. Para a sorte dele, o território dos lobos e dos grandes herbívoros são separados por telas.
http://youtu.be/UPYIEMhlotY
http://youtu.be/YC-K2FrjMXI
http://youtu.be/FPm_lXJ4lTQ
Este lobinho era mesmo tudo de bom. Parecia já ter esquecido o passado. Ainda assim, prometemos a ele que, daquele momento em diante, tudo seria diferente. Procurávamos pra ele os melhores donos que pudermos encontrar.
Já estava em plena forma. Havia feito todos os exames, que confirmaram estar ele em ótima forma. Não estávamos à procura de um adotante qualquer. Ele precisava de alguém especial. Estávamos dispostos a esperar o tempo que fosse necessário. O que ele havia vivido estava esquecido, com exceção para o suposto acidente que lhe arrancou um pedaço. Jamais saberemos ao certo o que lhe tirou a perna.
Mas esse problema estava superado. O abandono também. Restava apenas esperar pela ligação do anjo que foi escolhido pra ele.
Essa ligação chegou em uma manhã de segunda-feira. A Luciana nos ligou dizendo que havia lido sua história e estava se candidatando à adoção do Pingo. Após alguns minutos de conversa, achamos que ela era a adotante que estávamos esperando.
Agendamos então a visita do Pingo para conhecer a nova casa e os novos amigos. Foi mesmo um encontro, daqueles que vibramos quando conseguimos assistir. Daquele momento em diante, o Pingo tinha uma nova família.
Em sua nova casa, além de muito colo e o direito de dormir dentro de casa, em caminha e cobertores macios, encontrou uma turma especial, de ótimos amigos.
Théo e Amelie são os tigres. Théo foi comprado no Mercado Central e levado pelo novo dono a uma clínica veterinária, já muito doente. Mas esse dono achou a conta muito cara e recusou-se a pagá-la. Então, o proprietário da Clínica decidiu mantê-lo como refém, até que a conta fosse paga. Ele viveu um ano e meio, dentro de uma gaiola, sem ver o sol.
Assim que soube da história, a Luciana conseguiu resgatá-lo, depois da ameaça de denúncia por maus-tratos.
A Amelie tem também um histórico de abandono. Foi adotada pela Luciana, através da Cão Viver. Os dois felinos mostravam-se desconfiados quanto à presença do Pingo, deixando claro que não queriam aproximação.
Já o Pingo, mostrou-se indiferente à presença dos gatos e soube respeitar e manter a distância. Mas isso foi só nos primeiros minutos. Pouco depois, os tigres deixaram o posto de descanso e vieram até a sala, conhecer o novo lobinho da casa. Mantinham-se distantes, sem se aproximar, mas já se mostravam curiosos. Claro que iriam se entender ou, no mínimo, conviver em harmonia.
Mas aquele território não era só de tigres. Uma lobinha especial chamada Belinha também esperava por ele. Embora ciumenta e arredia com a novidade, ela é uma cadelinha muito sociável com as pessoas e mostrou-se receptiva ao Pingo. Não os vimos brincar, mas tínhamos a certeza de que seria só uma questão de tempo. O ciúme será superado, porque o colo da Luciana é suficiente para os dois.
Além da Belinha, devemos também falar da Ágata, uma Schnauzer que, embora não esteja mais entre nós, fez e sempre fará parte daquela família. Sua energia ainda está naquela casa. Ela foi a companheira da Belinha, antes da chegada do Pingo.
Estava claro que Belinha e Pingo, em poucos dias, se tornariam melhores amigos de infância. Quem sabe até Amelie e Théo também se rendem aos encantos do garoto?
Mas, para o Pingo, o melhor de tudo seria a Luciana. Ele é um cãozinho sociável e adora companhia de outros cães. Mas nada pra ele é melhor que um colo.
Prometemos a ele que somente sairia de nossa casa para um lugar ainda melhor. Talvez ele sinta saudade de nossas expedições, mas para um Poodle, um bom e permanente colo é muito mais importante que momentos de vida livre.
Se ele gostou? Estes seres são mesmo especiais. Ele mesmo fez questão de nos mostrar que sim, se acomodando no colo da Luciana e abrindo um largo sorriso para a câmera. Pra nós, os lobos são muito claros. O Pingo sabia que eu precisava daquele sinal. Foi como se me dissesse: __Pode ir tranquilo que eu vou ficar bem. Obrigado por tudo.
Obrigado Pinguinho. Foi mesmo um grande presente ter você em nossa casa. Mas o seu anjo chegou e é hora de iniciar a nova vida.
Precisamos agradecer muito à Luciana por esta acolhida, embora tenha a certeza de que a escolha não foi dela, nem nossa. Esse encontro começou a ser planejado assim que os antigos donos decidiram abandoná-lo. Eles nunca estão sozinhos.
Desde o resgate, o Pingo recebeu os primeiros cuidados e as vacinas iniciais na Clínica Veterinária Amigo Fiel, onde também deixou saudade. Quando passamos por lá, a caminho da casa da Luciana, para a segunda dose da óctupla, alguns funcionários vieram se despedir dele e desejar boa sorte na nova casa.
Nosso muito obrigado à Dra. Telma e aos funcionários.
Não só o Pingo percebeu que precisávamos de sinais. A Luciana, nos dias que se seguiram, fez questão de nos enviar as histórias e fotos de como foi a adaptação dele. Os primeiros presentes, as primeiras visitas, o primeiro passeio, a implicância com os tigres (que está com os dias contados).
Ficamos mesmo sensibilizados com as notícias e fotos, tendo a certeza de que encontramos para o Pingo os melhores donos do mundo. Resta-nos compartilhar as fotos e histórias, tal como nos chegaram.
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