Um cão adulto leva de 4 a 7 dias para se acostumar a um novo ambiente. Quem já adotou ou resgatou um animal de rua entende bem essas regras.

Mas sabe também que, para um cão adulto, cada mudança de dono é um abandono. Eles não sabem que estão vivendo com um protetor, que sua estada é temporária e que em breve encontrarão donos definitivos.

Eles se afeiçoam muito rápido a cada protetor, a cada funcionário de clínicas, a médicos e a qualquer um que lhes estenda a mão ou lhes afague a pele.

Melhor que clínicas ou abrigos, são os lares temporários. Neles, eles sentem-se em casa, amparados, protegidos e amados. Como não sabem a diferença entre lar temporário e definitivo, acreditam estarem sendo adotados.

Até aí, dos males o menor. Que dure meses o tempo de espera por uma adoção, mas que seja esse um tempo de qualidade e de vida digna a cada um deles.

O problema ocorre quando os lares temporários têm prazo de validade. Um mês, 15 dias, uma semana. Nesees casos, o lobinho mal se acostuma e vem a seguir mais um abandono. Cada mudança é um abandono. Ele não tem tempo nem sequer de acostumar e lá vem outra mudança. Tornam-se inseguros e perdem a confiança em gente.

Como explicar a um lobinho que aquelas pessoas que o receberam tão bem, com carinhos e mimos, não o querem mais, sem nenhum motivo? Ele estava feliz, era obediente, sociável, carinhoso, todos gostavam dele e, agora, mais uma troca de dono.

Tudo isso é pra contar uma história muito triste, de uma cadelinha minúscula, mestiça de Pinscher, chamada Pintada.

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Começa com um acidente, ou melhor, com a suspeita de acidente. Ela foi encontrada na avenida próxima ao Mineirinho, se arrastando na rua, sem conseguir se firmar nas pernas traseiras. Os sinais eram de um atropelamento.

Foi resgatada e levada a uma clínica veterinária, onde tirou radiografias, que não diagnosticaram fratura alguma. Suspeitou-se então de espancamento recente, que tivesse afetado apenas tecido mole (muscular).

Mais alguns procedimentos para tratamento muscular e nada. Ao final de mais alguns exames, a recomendação de cirurgia, sem, entretanto, muitas expectativas de que ela voltasse a andar.

Mas ela ainda sentia as patinhas traseiras e mostrava muita vontade de viver.

Passou pela cirurgia e teve início sua luta pela vida. Assim, se passaram 4 meses na clínica, precisando de ajuda para necessidades fisiológicas (colocá-la em pé, apertar a bexiga….), acupunturas, fisioterapias e nada. Como a Pintada estava ficando deprimida, sem o carinho merecido, foi sugerido que ela tivesse alta e continuasse o tratamento fora dali.

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Foi levada a um lar temporário, onde ganhou mais que uma guardiã. Ganhou uma protetora, um anjo da guarda ou sei lá que nome dar a essas pessoas. Sra. Guiga a recebeu em outubro de 2011, dispondo-se a cuidar dela, ajudando não apenas em sua socialização, mas também em sua recuperação.

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Ela dependia de cuidados diários e intensos (fisioterapia 3 x ao dia, limpeza da caminha com tapetinho higiênico, passar hidratante nas dobrinhas, etc). Ela teve tudo isso e um pouco mais.

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Em dezembro, a pequena Pintada deu seus primeiros passos, que foram registrados em vídeos.

http://www.youtube.com/watch?v=zwzdD6o1SZg&feature=youtu.be

http://www.youtube.com/watch?v=4L2Ug39W32Y&feature=youtu.be

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Mais que isso. Aprendeu o que era carinho. Aprendeu que tinha uma dona, pensou que tivesse sido adotada e que seria feliz para sempre.

De fato, ela foi adotada por sua benfeitora. Quem a amaria mais que a Sra. Guiga? A Pintada experimentou uma vida que não conhecia sequer em sonhos. Dormia na cama com sua protetora. Era tudo o que ela precisava.

Mas, infelizmente, não seria para sempre. Em janeiro, uma grave complicação familiar impediu que a Sra Guiga continuasse com a Pintada.

Quando sua primeira protetora chegou para buscá-la (a mesma que a visitava com frequência e que a buscava sempre para as idas ao veterinário), ela tentou se esconder. Esticou as perninhas para não entrar no carro.

Ela nunca havia esboçado tanta reação. Parecia que sabia o que estava acontecendo. Olhava para sua algoz, com os olhos de súplica, pedindo que não a roubasse de sua família. Chegou mesmo a chorar (quase uivando) e olhou para trás ao arrancar o carro. Foi o abandono mais triste já assistido por um protetor de animais.

Desde então, ela passou por outros três lares temporários, parando de se alimentar e perdendo peso nos primeiros dias, e se recuperando depois de ambientada e acostumada aos novos donos. A última mudança foi agora em abril. Nem precisamos narrar o que têm representado estas mudanças em sua vida.

Não queriamos mais lares temporários. Ela já estava “pela tampa” com isso.

Precisava de um lar definitivo. Mas, a essa altura, não poderia ser qualquer um. Tinha que ser especial, alguém que seja pra ela o mais próximo possível do que foi a Sra. Guiga.

A Pintada não mais dependia de tantos cuidados. Corria, pulava, brincava, subia escadas, tudo normalmente.

Restava esperar pelo final que, tínhamos a certeza, já havia sido escrito pra ela. Se não fosse pra ser o melhor, ela não teria cruzado o caminho de uma protetora tão dedicada.

O final feliz chegou no dia seguinte ao anúncio. Sem comentários. Segue a primeira foto que recebemos da Pintada, em sua nova casa, ou melhor, em seu novo colo. Além dos melhores donos do mundo, ela ganhou uma amiga canina tão especial quanto ela, chamada Aretha. Aliás, o passado está definitivamente enterrado. Ela agora se chama Tina Turner.

Chegou à nova casa desconfiada, arredia e com medo de tudo. O que se poderia esperar? Em questão de horas já estava brincando com sua nova amiga, reivindicando o colo dos donos e mostrando a todos que estava feliz ali.

Parabéns a todos os envolvidos: Corina, sua protetora, Guiga Siffert, sua guardiã, e principalmente ao Carlos Felipe e sua família, que a receberam como devem ser recebidos todos os lobos.

A história da Pintada, atual Tina Turner, ficará registrada em nosso site, pra ensinar às pessoas o quão gratificante pode ser uma adoção.

Um resgate de Corina Oliveira: corinamakeup@gmail.com

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