“Mãe, olha lá! O cão pula o portão daquela altura! Que legal! E ele sai correndo e a dona atrás… e ele nem liga!”

Este era o Pintado. Nada podia mantê-lo preso. Andava por todo o bairro, conhecia todos os bares e as pessoas, cheirando e abanando o rabo e, claro, queria namorar todas as gêmeas como um bom lobo alfa, mesmo após ser castrado.

Assim que ele veio nos adotar, pulando o portão pra dentro para namorar a Xexeu, e por aqui ficou, tornou-se indiscutivelmente o lobo alfa da matilha. Era a alegria das crianças do Colégio em frente, que chamavam só pra ver ele pular e saiam correndo, com ele atrás. Afinal, crianças são um saco! rss

Até que tivemos que aumentar a altura do portão, receosos com as ameaças dos motociclistas cheios de levar susto com ele (Afinal, motos também são um saco! É divertido correr atrás delas!)

“Ou vocês aumentam este portão ou vamos fazer maldade a este cachorro!” E assim ele viveu, por mais de 17 anos conosco. Já no final, sem aguentar pular o portão pelos quilos a mais que ganhou pelo ócio e pela diabetes, tinha seu cantinho, seu colchão e sua comida. Ahhh!… a comida! Como era guloso e queria comer a de todos, principalmente a que vinha da Dindinha Eni Marques. Não sobrava nada. Bolos, biscoitos e pão de queijo na hora de aplicar a insulina eram muito benvindos.

Tinha amigos humanos também: Giovanna Gama, Adriana Malta, Jorge, Matheus Malta, Eni e Fred, Sr. Oto, Lena e uns caras legais que sempre lhe davam uns petiscos. Não gostava de abraços e nem de beijos. Era resmungão. Nunca dormiu fora de casa. Quando hospitalizado, tinha que voltar no mesmo dia pra casa.

Tinha seu quarto, seu canto, seu colchão e seu travesseiro, e ali ficava deitado na escuridão da cegueira que a diabetes lhe impôs, e sonhava em quando era livre, e pulava o portão pra liberdade.

Vá meu velho… “a hora do coroa”. Vá pular os portões da eternidade, vá onde os animais são amados e respeitados, vá ao encontro do seu Criador, pois sei que é ali que vocês ficam quando fazem a passagem, uma breve passagem, pois sabemos que tem que voltar…

Então, vai um aviso: se aparecer um filhotinho, com orelha em pé, rabo pra cima, pulando pequenos degraus, fingindo que ninguém chamava por ele e liderando toda a ninhada, e com as patinhas cruzadas, já sabem… Estará ai de volta o nosso guerreiro!

Te amo muito e nunca te esquecerei! Um dia, quem sabe, estaremos todos juntos. Lambidas da sua matilha (11 irmãozinhos), que tanto te respeitavam (exceto a Maria que roubava bem sorrateiramente seu bolo e pão de queijo) e especialmente da Cléo, sua irmã mais velha, que vai sentir muito a sua falta.

Pintado (2001 / 2018).

Por Eliana Malta

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