Não precisávamos de um adotante qualquer.

A Pitchula era uma das cadelinhas resgatadas do Campo de Concentração.

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Tinha idade aproximada de 2 anos, porte pequeno (tamanho de um Cocker), peludinha, saudável e muito sociável com outros cães.

Já estava castrada, vermifugada, já havia tomado as 3 doses da óctupla e duas da Leishtec.

Enfim, poderíamos esperar uma fila de pretendentes.

Entretanto, ela precisava de mais que um adotante comum.

Era muito arredia. Em 2 anos vivendo naquele inferno, ela nunca teve colo e nunca recebeu carinho. Nem mesmo nome ela tinha. Vivia mendigando uma atenção que nunca chegava nela. Afinal, eram 24 cães no local, quando iniciamos os trabalhos.

Os sinais indicavam que, nestes 2 anos de vida, ela apanhou muito. Chegou a ter duas crias, fecundada pelo próprio pai, mas perdeu todos os filhotes. Era a cadelinha mais medrosa que já resgatamos. Abanava o rabinho, aceitava e gostava de carinho e até se arriscava a subir no colo, mas, ao menor sinal (ou mesmo sem motivo), ela corria, se escondia e gritava de pavor.

Por isso, precisávamos de alguém verdadeiramente especial, que já tivesse pelo menos mais um cão em casa e que se dispusesse a ajudá-la.

Em um domingo, recebemos uma ligação de uma pretentente. A transparência e a verdade é nossa palavra de ordem. Contamos à adotante que a Pitchula era muito arredia, que mordia e gritava se alguém tentasse pegá-la, que levaria um tempo pra ser socializada. Contamos ainda que ela havia mordido duas pessoas na clínica, e que minhas mãos estavam todas furadas de dentes, por ter tentado segurá-la para as últimas vacinas.

Com tantas recomendações contrárias, a resposta que recebemos foi: __ Tenho algumas cicatrizes nas mãos. Minha última adotada era assim. Eu quero a Pitchula porque é ela quem precisa mais de mim. Vou cuidar dela.

Pra cada pé torto tem sempre um sapato velho que se encaixa. A Cláudia talvez fosse o sapato velho que procurávamos.

No dia da adoção, a Pitchula ainda tomaria mais uma vacina e precisaria retirar os últimos 3 pontos da castração. Colocar a mão dela, só com cambão e sedação. Que seja então.

Foi sedada, vacinada e teve os pontos retirados. Caixa de transporte era essencial. Chegamos na casa da Cláudia com a Pitchula ainda tonta, em razão da sedação que não havia passado totalmente. As imagens mostram como foi o encontro e a recepção.

Depois de uma conversa particular, com muito jeito, da Cláudia e da Ana Clara, vieram os lobos. Os gestos falam:

__ Seguinte galera. A moça está insegura. Sejam educados. Não quero gestos bruscos.

A Pitchula ainda estava insegura. Sentimos, assim que chegamos, que a energia daquela casa operaria milagres na vida daquela lobinha. Afinal, o que poderíamos esperar depois de presenciar uma cena desta? Mesmo com todos os alertas, a Ana Clara se deitou no chão pra interagir com os lobos. Daquele momento em diante, tivemos a certeza de que não chegamos àquela família por acaso.

Depois da recepção dos donos, foi a vez de deixá-la interagir com os demais lobinhos. Bodão foi o primeiro a se aproximar e dar as boas vindas. Depois Pretinha e Floquinho. Em minutos já estava a Pitchula totalmente adaptada e a vontade entre os novos amigos.

Desse dia em diante, nossa Pitchula passaria a se chamar Susi. Ela nunca teve nome e Pitchula era nome provisório. Escolhemos com carinho, mas ela vai se acostumar com o novo nome.

No mesmo dia, à noite, recebemos um telefonoma da Cláudia:

__ Aqui é a mãe da Susi. Estou ligando pra dizer que ela não é nada daquilo que vocês nos disseram. Está aqui no meu colo, em cima da cama. Já a carreguei no colo pra todo lado. Deita e vira a barriga, já comeu, brincou e dormiu. Não vi nenhum sinal de agressividade.

A Susi foi curada. Tivemos o privilégio de assistir essa cura, ao vivo e a cores. Falamos tanto que o poder da matilha opera milagres, mas esta história veio pra nos mostrar que existem pessoas com energia e sentimentos capazes de também operar milagres. A Susi tem agora uma casa e uma família abençoada, no sentido mais intenso da palavra.

No dia seguinte, recebemos as primeiras fotos. Não há mais nada a ser dito.

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