A primeira vez que fotografei este Poodle grande, foi em Janeiro deste ano, quando estive pela primeira vez na SMPA. Ele estava lá, perdido entre outros lobos.
Vi logo que aquele cachorro tinha algo de especial, ainda que fosse apenas um passado desconhecido, mas que me atrevo a desvendar.
Como um Poodle de 15 quilos pode ter ido parar em um abrigo superlotado? Por que alguém abandonaria um cachorro como ele? São muitas as possibilidades, mas a mais provável pode ser definida com apenas duas palavras: “cresceu demais”.
Ele é um Poodle e, como tal, está um pouco mais adiantado no caminho evolutivo. Sabia que foi abandonado, sabia que estava em um abrigo e que dali, dificilmente sairia vivo.
Sua sorte começou a mudar no dia em que o grupo SOS Bichos decidiu organizar lá na SMPA um mutirão de tosa.
Um Poodle tosado não é mais belo que um Poodle limpo, escovado e perfumado, mas mesmo assim, ele agora teria melhores chances. Pelo menos era o que o próprio Brancão passou a acreditar. A tristeza parecia ter terminado assim que a tosa foi concluída. Aquele pelo todo devia estar incomodando.
Mas aí, ele ganhou confiança até demais. Dias mais tarde, voltei a fotografá-lo. Ele estava cheio de auto-confiança. Se achava o rei do canil. Latia e fazia cara de mau.
Isso tudo era apenas auto-afirmação, já que ele é o tipo de cachorro que é incapaz de encostar os dentes em quem quer que seja. Eu mesmo tive a oportunidade de testar isso e forçar a aproximação. Afirmo que não há criatura mais carente e ciumenta.
Em uma sexta-feira, recebemos uma ligação de alguém que nos oferecia algumas vagas para animais da SMPA, em uma feira de adoções que aconteceria na Clínica Veterinária TintiVet, no Bairro Castelo.
E lá foi o Brancão, cheio de esperanças. Finalmente ele estava deixando o abrigo. Esperava conhecer seus novos donos, e dedicar-lhes lealdade, amizade e devoção.
O tempo passou e o dia chegou ao fim. Três dos cinco animais da SMPA foram adotados, mas o Brancão foi um dos que ficaram. Combinado não é caro. Se a adoção não acontecesse, eles voltariam para o abrigo.
Sabíamos que aquele retorno seria doído demais, talvez mais do que quando foi abandonado. Da primeira vez, ele não sabia o que o aguardava. Mas agora, ele tem a experiência de quem conhece o inferno. Passou anos naquele abrigo e viu muitos de sua espécie sucumbirem, ou por doenças, ou mortos nas brigas que acontecem durante as madrugadas.
Viu canibalismo, presenciou muito sofrimento e tudo o que é tão comum em um abrigo superlotado, também chamado de “depósito de cães indesejados”. Essa é uma triste realidade que precisa chegar ao conhecimento daqueles que um dia pensaram em entregar um animai de estimação em um abrigo de animais.
As pessoas precisam saber o mau que estão fazendo a seus cães, quando agem assim. Mas sigamos com a história do Brancão.
Na verdade, desse dia em diante, ele passaria a ser chamado de Pitter. A Lucinédia havia recebido a criança no dia anterior, deu-lhe um bom banho e tentou, na medida do possível, deixá-lo em condições de causar boa impressão na feira.
Também foi responsável por cuidar deles durante todo aquele dia. E aí, não teve coragem de deixá-los voltar para o abrigo, levando-os para sua casa.
Logo depois, ele chegou a ser adotado, mas foi devolvido 4 dias depois. Os adotantes eram ótimas pessoas, se sensibilizaram com a história dele, tentaram por todos os meios conquistá-lo, mas o não tão pequeno Pitter não se soltava.
Triste chegou na nova casa e triste permaneceu, sem comer um grão sequer de ração por quatro longos dias. Foi devolvido, com a desconfiança de que talvez estivesse muito doente.
Assim que chegou na casa da Lucinédia, fez a maior festa com o Cabeludo, correu, pulou e engoliu quase um quilo de ração, sem nem mastigar direito.
A conclusão é, mais uma vez, óbvia. Ele é um lobo de matilha. É sociável, muito dócil e adora companhia humana. Mas, antes de tudo isso, ele precisa de outros cães. Sozinho não será feliz.
Alguns dias depois, o Pitter estava participando de outra feira. Novamente adotado. Cabeludo e Raposo também foram adotados.
E ficamos novamente na torcida para que cada um deles tenha encontrado seu lugar. Vida nova amigo.
Um resgate de Lucinédia Figueiredo: lucinediaf@r7.com
Comentários / Mais informações sobre o anúncio devem ser obtidas com os anunciantes, no telefone ou e-mail indicados acima.