As cenas do resgate são fortes, mas não há outra forma de mostrar a realidade. Metade do rosto, inclusive um olho, havia dado lugar a um buraco de carne apodrecida, cheia de bichos, escondido atrás de grossa camada de pelo embolado e sujo.
Pra piorar, em suas tetas, já quase sem leite, 4 lobinhos com uma semana de vida, ainda de olhos fechados, insistiam em se agarrarem no que deveria ser pra eles uma chance de vida.
Não sabiam as condições em que sua mãe se encontrava.
Somente após o primeiro atendimento, com remoção do pelo e da carne morta, foi possível ver o tamanho do estrago. Os médicos sugeriram eutanásia, pois o sofrimento da mãe era intenso.
Mas a própria Poly não aceitou o prognóstico e deixou claro que faria a parte dela. Se alguém se dispusesse a lutar por ela, ela também lutaria. Suportaria o que tivesse que suportar, pra continuar aqui mais um tempo.
Não era possível, naquele momento, sequer estimar sua idade. As tetas indicavam muitas ninhadas.
Salvar a mãe era prioridade, mas outras 4 vidas estavam ali, começando uma história e precisando muito do que a Poly não poderia mais oferecer.
Foi então que uma outra mãezinha, chamada Baby, também assustada e abandonada, que já cuidava dos seus próprios filhos com a mesma idade e tamanho dos orfãozinhos de mãe viva, aceitou acolher mais quatro filhotes, mesmo sabendo que seus filhos teriam que dividir leite escasso.
A história se dividiu em duas frentes. De um lado, os filhotes cresciam fortes e saudáveis, até que, finalmente, desmamaram e puderam partir, escrevendo uma história muito diferente daquela de sua mãe.
Durante o tratamento, a Polly chegou a reencontrar seus filhos em algumas ocasiões, mas ela não tinha mesmo condições de ser mãe. Os pequenos, por sua vez, não a reconheciam como mãe. Quando abriram os olhos, era a Baby que estava ali, aquecendo-os e alimentando-os.
Talvez tenham se lembrado do cheiro, em um passado distante, onde até fome passaram. Na verdade, eles sobreviveram por milagre, pois das tetinhas da Poly não saia a quantidade de leite que eles precisavam.
E ela já nem conseguia mais procurar comida. Tudo indica que o abandono aconteceu por detrás dos muros.
O tratamento foi longo e muito doído. Todos os dias tinha curativos, e sempre muito doídos.
As ataduras lhe cobriam a cabeça inteira, o que não faria diferença, pois tudo indicava que ela estava definitivamente cega.
Ainda assim, havia a esperança de que ela se adaptasse à nova realidade.
Ela chegou a ter muitas recaídas, inclusive uma piometra que lhe impôs uma cirurgia de emergência, no auge da dor. Ela não tinha sequer saúde para suportar a cirurgia, mas não operar não foi uma opção.
Os dias foram bem longos. No início, isolada em uma caminha macia, num canto, onde ela não interagia com outros cães, e nem tinha disposição pra qualquer demonstração de afetividade com aqueles que tentavam salvá-la.
Não era possível sequer ver sinais de tristeza ou de alegria. Ela era uma coisinha estática. Respirava, comia e fazia suas necessidades, mas não interagia. Não dava sinais que permitissem aos seus salvadores sequer conhece-la.
Contra todos os prognósticos, ela sobreviveu à cirurgia da piometra, oportunidade em que foi também castrada.
O tempo passou, o tratamento evoluiu, a enorme ferida, como por milagre, cicatrizou totalmente. Também venceu a anemia.
Após alguns meses de tratamento intenso, e com a ferida quase fechada, ela já não precisava mais de curativos.
Um dia, como por milagre, ela abriu o olho que sobrou e passou a dar sinais de que a visão estava voltando. Muitos testes foram feitos e foi possível confirmar. A Poly voltou a enxergar.
Talvez não seja a visão perfeita. É possível que ela enxergue apenas vultos, mas seja como for, é o suficiente para que ela possa correr e brincar.
Claro que as correrias e brincadeiras demoraram um pouco. No início, passeios pelo pátio eram o máximo que ela poderia experimentar. E demonstrava gostar muito.
Adora colocar roupas e parece até escolher as peças a serem usadas. Não sabemos se ela escolhe pela cor ou pela textura, mas o fato é que ela escolhe o que quer vestir.
O tempo foi generoso pra ela e trouxe grandes conquistas. Aliás, no caso da Poly, cada dia era uma grande conquista. O vídeo abaixo dá uma noção de como ela está hoje.
Descobriu-se que a Poly, apesar de todo o sofrimento, é uma cadelinha jovem, muito jovem, quase filhote. Voltou a correr, brincar e, acreditem, fazer muita bagunça.
Chega a ser uma cadelinha arteira, daquelas que precisam de vigilância. Hoje está castrada, vacinada, vermifugada e com exames perfeitos.
Polly passou algum tempo esperando por adoção, mas foi amada e teve uma vida bem facilitada no lar temporário.
A adoção, finalmente, chegou com tudo que ela merecia. Teria uma mãe/avó só dela, com direito a convivência estreita coma família, dentro de casa. E fica registrado nosso muito obrigado à nova família da Polly. Vá ser feliz, mocinha, como um dia seus anjos da guarda planejaram.
No primeiro vídeo abaixo, o início do tratamento, quando a Poly voltou a comer depois de muitos dias lutando pra viver.
Nos próximos vídeos, já quase recuperada, brincando de se esfregar nas cobertas, depois de vestir a roupinha escolhida.
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