Quando encontrado, já estava com todos os sintomas da Leishmaniose, e em estado muito avançado da doença. Os exames confirmaram, e ele não resistiu. Mas no pouco tempo em que esteve na Clínica, experimentou um carinho e dedicação que ainda não conhecia. Pena que foi por tão pouco tempo.
Ele ainda voltaria a este mundo, e quem sabe com a sorte de encontrar bons humanos pra lhe conduzir. Algumas histórias é melhor que sejam mesmo sepultadas. Sua segunda chance viria, mas numa outra vida. De sua curta e sofrida passagem, ficaram algumas fotos, tiradas na esperança de serem usadas no cartaz em que mostrasse o antes e o depois. Tristes fotos. O depois não viria. Por ironia, a sujeira que lhe rodeava os olhos dava a impressão de uma espessa lágrima, emoldurando um olhar de súplica, como se pedisse uma trégua à vida.
A trégua veio, mas não da forma como desejávamos. O Querubim despediu-se da vida sozinho. Nenhum amigo chorou sua morte ou lhe prestou homenagens. Ninguém sentiu saudade. Ninguém esteve ao seu lado nos momentos finais.
Bom seria se as fotos que ficaram, um dia, chegassem àqueles que o jogaram na rua de forma tão covarde. E que bom se o reconhecessem. Mas talvez isto nada adiantasse. Humanos assim não devem saber o que é remorso.
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