Ele ainda era bem jovem. Chegou filhotinho ao abrigo, já com um olho furado. Ninguém sabia o que tinha acontecido, mas tudo indicava que foi agressão, possivelmente pedrada.
Era um cachorro de porte grande, carente, muito carente, brincalhão e dócil até não querer mais. Não servia pra guarda. Ele era um cãozinho de companhia, de colo mesmo.
Desde que iniciamos os trabalhos no abrigo, em cada matéria que soltávamos, lá estava o Rubinho, nunca como destaque, mas sempre dando o ar de sua graça.
Às vezes triste, desconfiado, mas bastava um aceno pra ele correr pra reivindicar a parcela de carinho que lhe cabia por direito.
O tempo nos fez amigos. Ele já não mais esperava meus sinais. Corria ao meu encontro e pulava, como se dissesse: _Lembra de mim?
_Claro, amigo. Todos os dias.
E suas manifestações de afeto eram cada vez mais enfáticas.
Se precisasse, disputava a atenção, mas nunca senti nele qualquer sinal de agressividade. Pelo contrário, era um cãozinho alegre que topava brincar em grupo.
Ele estava vacinado e castrado, mas a adoção pra ele nunca chegou.
Rubinho foi um bom amigo. Recusamo-nos a anuncia-lo como adoção especial só porque faltava-lhe um olho. Isso não fazia nenhuma diferença na vida dele. Nas fotos, estava sempre alegre, pulando em mim e fazendo festa, chamando pra brincar.
Em nossa última visita, fomos, como de costume, muito bem recebidos pelo Rubinho. Ele veio fazer a festa de sempre, demonstrando a alegria que nossa chegada proporcionava.
Quando de saída, já do lado de fora do portão, voltei a câmera para dentro, e o que vi foi um menino triste, decepcionado, angustiado, sem saber quando nos encontraríamos de novo.
Minha esperança, Rubinho, é que a adoção pra você não demore.
Ele tentou uma nova vida em um apartamento, mas não deu certo, pois ele ficou estressado demais e ficava tentando pular a janela. Precisa de uma casa segura e com espaço.
Infelizmente, interrompemos os trabalhos no abrigo onde ele vivia e, aquela triste despedida foi a última vez que o vimos.
Quatro anos se passaram e recebemos a notícia de que ele tinha adoecido, que estava morrendo. E a partida veio alguns dias depois. Ele morreu triste, mais um dentre os milhares que passam a vida em um abrigo de animais, sem nunca ter conquistado uma família.
Desculpe, amigo. Sei que falhamos, mas esperamos que sua história ajude a chamar a atenção para aqueles tantos que ainda estão esquecidos nos abrigos.
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