LEISHMANIOSE NÃO É SENTENÇA DE MORTE.

Já faz algum tempo que veterinários renomados vêm declarando, escrevendo, palestrando, propagando e insistindo na tese de que Leishmaniose não é sentença de morte.

A doença é grave, mas tem tratamento eficaz, capaz de manter o animal assintomático e sem qualquer risco de transmissão.

A própria fabricante da vacina Leishmune possui um protocolo diferenciado, já testado e aprovado em vários países da Europa, específico para animais com resultado positivo.

Claro que alguns casos são de fato irreversíveis, impondo um grande sofrimento ao animal, podendo aí haver a recomendação de eutanásia.

Entretanto, na maioria dos casos, animais sem qualquer sintoma são sacrificados, às vezes até por imposição do poder público, que não aceita o tratamento e o controle da doença.

Os veterinários que defendem essa bandeira não são levianos e inconsequentes. São profissionais sérios e respeitados, que tiveram a oportunidade de experimentar resultados satisfatórios, obtidos em anos de experiência e trabalho sério prestado em suas clínicas.

Há algum tempo, planejávamos dar uma contribuição a tão nobre causa. Não temos o conhecimento técnico (pra isso confiamos nos melhores), mas temos a paixão por lobos e a vontade de salvar a todos. Para seguir a mesma linha de ação de nosso Projeto, precisávamos de um caso concreto, acompanhado em tempo real, do início ao fim do tratamento. Restava-nos esperar que a vida nos desse a oportunidade perfeita.

A oportunidade que esperávamos chama-se Sasha e nos chegou em uma manhã de domingo. Não sabemos quantas, mas esta não foi a sua segunda chance. Talvez a terceira ou quarta. Mesmo assim, não perdeu a docilidade e a adoração por pessoas.

Sasha foi encontrada na Avenida Abílio Machado, sem nenhuma experiência com a vida livre, entrando na frente dos carros e seguindo as pessoas.

Abanava o rabinho e pulava em qualquer um que passava, como se estivesse pedindo para brincar. Estava claro que havia se perdido ou fugido. Não havia nenhum sinal de maus-tratos. Pelo muito bem cuidado, bem alimentada, pele hidratada e sem parasitas.

Estava também castrada, o que indicava que estava em boas mãos ou que já passou pelas mãos de algum protetor ou ONG.

Normalmente, quando recolhemos um cão, ele já está com marcas visíveis do abandono, machucado e ferido, arredio e com medo das pessoas, às vezes muito doente e por aí vai.

A Sasha não era nada disso. Continuava aparentemente saudável, apesar de alguns pequenos machucados, pelo brilhante e macio, bem alimentada e, o melhor, muito sociável com pessoas e outros cães. Mas as ruas são cruéis e não demoraria muito para roubarem dela essa doçura.

Nós a recolhemos em uma manhã de domingo e a levamos para casa, onde ficou em companhia de vários outros cães, com os quais a pequena Sasha se enturmou em menos de 5 minutos.

As fotos abaixo foram tiradas minutos após o resgate.

No dia seguinte ao resgate, foi levada à clínica, onde ficou três dias, para os procedimentos de rotina.  Foi vacinada, vermifugada e colheu sangue para exames.

Quando chegaram os resultados dos exames, sua história de luta pela vida começou. Um primeiro diagnóstico positivo para Leishmaniose, embora sem nenhum sintoma aparente.

Não era possível que uma cadelinha tão alegre estivesse condenada. Decidimos aprofundar os exames, o que indicou a possibilidade de Erlichia. Trinta dias de tratamento intenso e novos exames, confirmando o diagnóstico positivo para Leishmaniose.

A opção recomendada seria a eutanásia, seguindo-se a linha de raciocínio que pretendíamos combater.

Eutanásia, em nossa concepção, é para evitar o sofrimento do animal e, nesse caso, não havia sofrimento. Ela era uma cadelinha esperta, ativa, brincalhona, carinhosa e queria muito viver.

Ficamos imaginando qual seria o seu destino, se ela fosse um cãozinho de estimação e tivesse uma família que a amasse. Claro que, nesse caso, ela receberia o melhor tratamento, teria à disposição todos os recursos que a medicina veterinária pudesse oferecer e que seus donos pudessem pagar.

Mas ela era uma cadelinha vira-lata, porte médio, daquelas que ninguém quer. Estava nas ruas. Seus donos não procuraram por ela, ou talvez a tenham abandonado.

O fato é que aquela era a oportunidade perfeita que estávamos esperando. Decidimos usá-la em nossa campanha. Não foi por acaso que ela pulou em meu colo sem qualquer aviso e sem que eu a chamasse (e alguns ainda duvidam que eles são guiados).

Ela teria o melhor. Ela teria o tratamento digno e todos os recursos médicos possíveis. A Sasha era muito carinhosa, brincalhona e tinha todas as atitudes de filhote. Já estava vacinada, vermifugada e castrada. Relacionava-se muito bem com outros cães e também com crianças. Merecia um desfecho diferente.

Iniciou o tratamento com uma enorme quantidade de medicamentos, chegando a tomar até 10 comprimidos por dia. Medicamentos e protocolos já testados e aprovados em alguns países da Europa. Tinha que funcionar. Afinal, ela merecia.

O tratamento foi longo e o confinamento também. A Sasha já dava sinais de cansaço, de estresse, de tristeza. Mas a luta pela vida estava apenas começando.

Em uma manhã, percebendo a necessidade da Sasha mudar de ares e esquecer um pouco o difícil tratamento, decidimos dar a ela um dia de cão, ou melhor, um dia de lobo. Passaria um dia inteiro em uma expedição canina, junto com companheiras já conhecidas.

Assim que se viu em liberdade, ela corria, pulava, cheirava, cavava, latia, deitava, rolava, às vezes lembrava que precisava beber, comia um pouco, voltava a pular, correr, brincar…

Depois de um dia de muita atividade, claro que ela prepararia uma cama bem confortável, na terra mesmo, exatamente como faria uma loba. Por apenas um dia, ela esqueceu a doença e o tratamento. Desfrutou das delícias da vida de um cão saudável, feliz e amparado.

Ela sabe o que é ser um cão de estimação. Sabe que nasceu pra isso e não vai desistir fácil.

Ao final do dia, perguntada se gostou do passeio, foi esta a resposta que tivemos.

Do resgate até o resultado final do tratamento foram 6 meses muito intensos. O resultado saiu em uma tarde de sexta-feira, indicando resultado NEGATIVO para Leishmaniose.

LEISHMANIOSE NÃO É SENTENÇA DE MORTE.

Claro que a Sasha precisará de cuidados especiais. O fato é que, tomados esses cuidados, ela estará IMUNE à doença, sem qualquer risco de contraí-la ou de transmiti-la.

A comemoração foi com mais uma expedição, daquelas que todo lobo adora. A Sasha já tem se mostrado experiente quando o assunto é vida livre.

Desta vez, ainda pudemos testar seus instintos primitivos. Um macaco prego resolveu afrontar os lobos, jogando gravetos em suas cabeças. Claro que ficaram curiosas, mas sem qualquer sinal de agressividade.

A Sasha passou mais de 9 meses sob a proteção do Projeto O LOBO ALFA. Nesse período, conviveu intensamente com os lobos da matilha principal, viveu com eles as melhores e mais intensas aventuras. Mas ela estava apenas de passagem em nossas vidas. Estava à espera de um dono, tão especial quanto ela.

Não tínhamos pressa. Prometemos a ela que, de nossa casa, ela somente sairia se fosse pra um lugar muito melhor.

Em uma tarde de sábado, chegava em nossa casa a Flávia. Ela já conhecia a Sasha por fotografias e já havia se encantado com sua história. Claro que a decisão da adoção já estava tomada, mas precisava conhecê-la. Trouxe no carro o Lirou, o lobo dominante de sua matilha. Afinal, se a Sasha se entendesse com o Lirou, seria aceita pelo resto do grupo.

A adaptação foi instantânea. Mas não podemos dizer que nos surpreendemos. Não esperávamos nada diferente, em se tratando da Sasha. Uma lambida bem molhada selava a amizade que ali se iniciava.

Dali, a Sasha seguiu viagem para sua nova casa. Ela terá como novo território uma casa de campo, onde terá espaço, muita proteção, um companheiro especial, também resgatado e curado da Leishmaniose, além de companhia humana em tempo integral.

Nos finais de semana, a matilha aumenta, com a chegada de outros três minúsculos lobinhos. Temos certeza de que cada final de semana será uma grande festa. Ficaremos à espera das fotos que a Flávia nos prometeu, da Sasha em sua nova casa, com seus novos amigos.

Nem precisamos dizer quanta saudade ela deixou. A Pintada, como sempre, dentre os lobos, foi a que mais sentiu. Pra nós, mais uma triste despedida, com uma enorme alegria de termos sido capazes de cumprir a promessa que fizemos a ela, de somente permitir a adoção, se ela fosse para um lugar melhor que nossa casa.

Esta matéria ainda será atualizada muitas e muitas vezes. Queremos mostrá-la feliz e saudável daqui a 5 ou 10 anos. Ela terá saúde pra isso e muito mais, já que tem idade estimada de aproximadamente um ano e meio. As primeiras fotos chegaram no dia seguinte, já mostrando a Sasha em sua nova casa, em companhia do novo amigo Leão.

Uma semana após a adoção, novas fotos mostravam a completa adaptação dela ao seu novo território.

Tão gratificante quanto o final feliz para a Sasha, é saber que sua história contribuiu e vem contribuindo para salvar muitos outros cãezinhos. Desde que publicamos a campanha “Leishmaniose não é sentença de morte”, com a história da Sasha, temos recebido muitas mensagens de pessoas interessadas em saber mais sobre o tratamento.

Muitas dessas pessoas, a partir da história da Sasha, decidiram na última hora descartar a eutanásia e tentar o tratamento. Não sabemos quantos lobos a Sasha ajudará a salvar, mas temos convicção de que o mundo ficou um pouco melhor depois dela.

Seja muito feliz amiga. Sentiremos saudade.

ATUALIZANDO: No mês que completava 3 anos de seus resgate, mais de dois de sua adoção, recebemos notícias e foram as melhores possíveis. Ela continua linda e loura.

Sasha adotada fev15

O Lobo Alfa H 6

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http://oloboalfa.com.br/fale-conosco/

Sasha

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