A mais perfeita combinação da natureza
entre o preto e o amarelo.
Em uma manhã de segunda-feira (22/08/2011), esta cadelinha foi atropelada em uma avenida movimentada no Bairro Serrano.
Mas o motorista não ficou indiferente. Fechou os vidros do carro pra não ouvir os gritos e acelerou, como um malfeitor fugindo da cena de seu crime.
A pequena, mancando muito e chorando de dor, refugiou-se na calçada, buscando apoio com todos que passavam, como se esperasse que alguém fizesse alguma coisa.
A primeira pessoa com quem buscou abrigo foi uma senhora que passeava com outros dois cãezinhos. Ferida, era de se esperar que buscasse apoio entre os de sua espécie, ou então, sabia que poderia confiar em humanos que passeiam com cães.
Passávamos na hora e vimos aquela filhotinha mancando e chorando na calçada.
Foi resgatada e colocada no banco do carro, sendo levada às pressas para uma clínica veterinária.
Por sorte, não houve nada de grave. Anti-inflamatório e analgésico foram suficientes pra ela. No final do dia, já estava correndo e brincando, sem nem mesmo mancar.
Teve alta médica no mesmo dia, sendo recebida por uma hospitaleira matilha. É ainda filhote (3 meses) e adora brincar. Gosta de chinelos, almofadas e também de ração. Come até ficar redonda, pra depois dormir o sono dos justos.
Recuperou-se completamente, foi vacinada e vermifugada. Restava então selecionar algumas fotos e esperar por uma fila de pretendentes. Afinal, ela era simplesmente perfeita. Precisava e merecia o melhor dono que pudéssemos encontrar pra ela.
Algo deu “errado”. A fila de pretendentes não veio e a Suzi foi ficando. Não precisávamos ter pressa, já que ela estava bem e amparada. Já era parte de uma equilibrada matilha. Podíamos esperar o tempo que fosse necessário.
Acreditamos que, nesses casos, os protetores que atuam do outro lado conduzem as coisas, para que o anúncio seja visto pelas pessoas certas. O adotante já foi escolhido, antes mesmo do resgate. Restava-nos confiar e esperar. A vida sempre nos mostra as suas razões.
Os dias se passaram e chegou o sábado, sem que a adoção acontecesse.
Estávamos a caminho da clínica, pra visitar outra cadelinha que estava internada. Ao passarmos pelo local do resgate da Suzi, nos deparamos com esta cena:
O tamanho e a idade da filhotinha nos levava a acreditar que pudessem ser a mãe e irmã da Suzi.
Elas estavam deitadas na calçada, no mesmo ponto onde recolhemos a Suzi. Uma semana havia se passado e ainda não as havíamos visto por ali.
Não há dúvida. Elas foram guiadas e se deitaram naquele exato lugar e momento, pra nos mostrar quem eram. Não cruzaram nosso caminho por acaso.
Precisamos fazer alguns contatos, até conseguir um canil improvisado onde pudessem ser abrigadas.
Quando do resgate, peguei no colo a pequena Sany e fui em direção ao carro. A Lua, nome que demos à mãe, saiu feito doida pulando em mim. Não tentava me impedir, embora tivesse dentes pra isso. Seus movimentos eram delicados e cuidadosos. Estava claramente pedindo pra ir junto.
Nem por um momento cogitamos na possibilidade de resgatar apenas a filhote. Claro que a mãe também viria conosco. Fui andando e chamando por ela, que não parava de pular em mim. Agarrava-se àquela filhotinha, como se fosse sua última oportunidade de um desfecho bem sucedido para aquela ninhada. Uma cadela como aquela tinha porte pra mais de 10 filhotes.
Mas, na rua, seria improvável que sobrevivessem. Presumimos que os outros não vingaram. Com o desaparecimento da Suzi, havia restado apenas uma, e esta ela não poderia perder. Para um lobo, uma ninhada somente será bem sucedida se pelo menos um filhote sobreviver. E aquela era sua última filha.
O resgate aconteceu no sábado, oportunidade em que foram levadas a uma clínica, tomaram todas as vacinas e vermífugos e foram deixadas em um canil minúsculo, confinadas. Foi o melhor que pudemos fazer naquele momento.
No dia seguinte, as pegamos e levamos para casa, onde estava a Suzi. Precisávamos confirmar se elas eram mesmo uma só família.
Não seria possível descrever o que foi aquele reencontro, mas tivemos a certeza de que tudo aquilo havia sido planejado e conduzido.
No vídeo a seguir, Lua brincando com Suzi, matando a saudade.
Não conseguimos registrar os primeiros momentos, porque a Lua não sabia se pulava na Suzi ou se pulava em mim. Na linguagem corporal dos lobos, aquela manifestação devia ser um agradecimento. De tão enfática, claro que entendemos cada gesto.
Ela corria, latia, segurava a Suzi com a boca, deitava sobre ela, depois corria e pulava em mim. Precisei dar tempo pra que se acalmassem, pra depois começar a tirar as fotos.
A Sany também não sabia o que fazer. Corria e latia, pulando na irmã, como se não se vissem há 5 dias.
Depois de um tempo, elas se acalmaram e finalmente pudemos registrar alguns momentos.
Depois vieram as apresentações. Afinal, a Suzi precisava apresentar a sua família aos seus novos amigos. Ela estava muito bem cuidada e a Lua percebeu isso. Alguém cuidou dela em sua ausência.
A primeira a conhecer a família da Suzi foi a Hanna, sua inseparável companheira de bagunça.
Depois vieram a Estopa e a Pintada. As duas são as nossas babás oficiais. Elas são as responsáveis por cuidar de filhotes órfãos.
Dando-me o direito de exagerar nas interpretações, é como se a Suzi dissesse: “Mãe, foram elas que cuidaram de mim.”
Mas o dia foi curto. Ao final, as duas novas protegidas de nosso Projeto precisavam partir. O canil onde estavam era muito pequeno e não tivemos coragem de deixar a Suzi ir com elas.
No dia seguinte, fomos cuidar de preparar aposentos para receber mais duas lobas, como se já não houvesse lobos suficientes por cá.
Uma casinha nova, vasilhas, cobertores novos e uma caminha vermelha já conhecida da Suzi e das demais. Afinal, introduzir o cheiro de nossa matilha em tão agradáveis aposentos era estratégico, pra que as amizades se estreitassem.
Trouxemos a Suzi pra que conhecesse os novos aposentos. Ela se aninhou na caminha, como se soubesse que estava prestes a receber sua família.
Tudo preparado, era a hora de buscar Lua e Sany. Qualquer um que tenha um pouco de sensibilidade é capaz de enxergar gratidão nestes olhos. Os lobos são mesmo criaturas especiais. Não há privilégio maior que conviver com eles.
Casa nova combina com visitas. A primeira a chegar foi a Hanna. Não fosse a Lua uma ótima anfitriã, isso não teria dado certo. A Hanna é uma daquelas visitas que ninguém gosta de receber. Se sente em casa, sobe nos móveis, pisa na cama dos anfitriões. Age como se a casa fosse dela.
Depois vieram as demais, cada uma mais folgada que a outra. Estopa, Pintada e até a Sasha, outra cadelinha que tem passado uns dias por aqui, até encontrar novos donos.
Aqueles aposentos viraram uma espécie de playground para lobos. Todas queriam ficar lá, cheirando tudo e mais alguma coisa. É bom explicar que lobos gostam de enfiar o nariz onde não são chamados.
Nem precisamos dizer que gostaríamos que continuassem juntas.
Mas devemos entender que são animais de grande porte e, por isso, poderão ser doadas separadamente. A Lua é uma das cadelas mais dóceis que já resgatamos. Ela é grande, forte e tem cara de brava, mas chega a ser sonsa. Brinca com os filhotes como se fosse um deles, indicando não ter mais que um ano. Também adora crianças.
É incapaz de rosnar, nem mesmo pra disputar a comida e, se outro cão rosna pra ela, se afasta sem discutir, mesmo que seja um cão com um décimo do seu tamanho. É a companhia ideal para crianças ou outros cães.
Até hoje, só resgatamos um cão tão dócil quanto ela. Foi a Pintada que, de tão especial, decidimos ficar com ela.
A Lua pesa aproximadamente 25 Kilos e tem as orelhas enormes. Parece uma mistura de pastor com Dog Alemão. Já foi vacinada, vermifugada e castrada.
A Suzi dispensa novas apresentações e a Sany é outra cadelinha muito especial. Também está vacinada e vermifugada. Devem ficar de porte grande.
Elas mereciam finais felizes. E a vida se encarregaria. A primeira a partir foi a Sany, sendo adotada por uma família grande. Ela chegou para amenizar o sofrimento de todos na casa pela perda de uma cadelinha parecida com ela, que viveu mais de uma década.
Dias depois, foi a vez da Suzi encontrar seu caminho. Ela foi adotada pela Carlota e ganharia, além de uma numerosa família, com muitas crianças, um companheiro canino chamado Lourenzo. De início eles se estranharam um pouco, mas como já era de se esperar, o poder da matilha teria a força de operar milagres. Era só uma questão de tempo para que os dois formassem a mais equilibrada matilha. Não faltaria carinho e cuidados dos donos.
As fotos abaixo mostram a recepção da Suzi pela Marlene, e também pelo Lourenzo que, apesar do ciúme inicial, demonstrava alegria com a nova amiga.
Já a Lua, permaneceu conosco ainda algumas semanas, oportunidade em que decidimos testar sua adaptação a uma vida mais livre. Ela foi levada a passar um dia junto com nossa matilha, no território de nosso Projeto. Os vídeos dizem tudo.
Mais alguns dias se passaram e foi a vez da Lua partir para sua nova casa. Ela merecia um final assim. Foi adotada pelo Reynaldo. Ela faria parte de uma das matilhas mais felizes do mundo. Pepê e Hulck estavam sentindo a falta de fêmeas na matilha, e por isso, saindo muito e correndo riscos. Claro que precisaram ser castrados, e ganharam, como consolo, uma bela fêmea, também castrada.
Para a Lua, aquela casa não era apenas grande. Ela teria um território por onde poderia reviver as delícias da vida livre, já experimentada na oportunidade mostrada nos vídeos acima.
A chegada dela na nova casa e a recepção dos novos companheiros nos davam a certeza de termos feito o melhor por ela.
Conheça a história de Pepê o Hulck, os novos amigos de Lua:
Suzi, Lua e Sany foram atendidas na Veterinária Alípio de Melo, onde foram avaliadas, receberam os primeiros cuidados e toda a vacinação. Nosso muito obrigado à Dra. Cíntia e sua equipe, por mais este salvamento.
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