A história deste cachorro é muito triste. Ele foi comprado há aproximadamente 8 anos e, ainda filhote, começou a ser treinado para rinha (Briga de cães).
Quando tinha pouco mais de 6 meses de vida, alguém descobriu a história e, vendo as agressões que sofria e os treinamentos brutos aos quais ele estava sendo submetido, decidiu intervir e o comprou a peso de ouro.
Por sorte, ele ainda era filhote e não havia chegado a experimentar a selvageria das rinhas. Nem mesmo sua orelha chegou a ser operada. Enfim, o socorro veio a tempo.
Ele foi hospedado em um lar temporário, onde passou a receber o tratamento que todo Pit Bull merece. Mas a adoção nunca veio. Ele tem vida de príncipe. Toma café todos os dias com sua anfitriã, uma senhora de mais idade, que o trata como filho. Mas, infelizmente, ela estaria se mudando para um apartamento de 65 m2 e não teria como continuar hospedando o Treze.
Oito anos depois, o quase Pit Bull de rinha se transformou em uma máquina de fazer carinho. Era o melhor companheiro que alguém poderia ter. E seus anfitriões sabiam disso, ou melhor, descobriram isso. Foi uma hospedagem longa, mas o Treze foi muito amado.
O nome Treze foi dado pelo antigo dono. Simbolizava má sorte para os outros cães adversários. Era também uma alusão ao filme Sexta-Feira 13, onde o protagonista Jason assassina as vítimas.
O nome foi mantido para que sua triste história não fosse esquecida e servisse pra conscientizar as pessoas da triste realidade dos animais usados em rinhas.
A verdade é que ele é exatamente o que deveria ser. Humanos ignorantes quiseram dar-lhe um destino indigno de sua linhagem, mas sua sorte foi mudada na última hora. Ele é um cãozinho de colo e nem imagina o que é a vida de um cão usado em rinhas.
Quando soltamos o anúncio, chamamos a atenção para a grande mancha branca em seu peito. Sugerimos que ali estava a prova da grandiosidade do anúncio.
Recebemos muitas mensagens. Alguns diziam que não tinham conseguido ver nada. Uma pessoa disse ter visto a imagem de um Cristo estilizado. Outra achou que o “segredo” não estava na forma, mas na cor. Enxergou ali uma grande bandeira branca que significava paz.
Na verdade, tanto no peito do Treze, quanto nos olhos de qualquer outro lobo, existe o que cada um de nós é capaz de enxergar. Que esta história sirva de exemplo, que nenhum animal seja usado em rinhas, que nenhuma vida se perca em razão da insanidade humana.
Mas este é um final feliz. O Treze foi adotado. Mas pra contar como foi, melhor publicar o depoimento do Raphael, tutor do Treze por 8 anos.
“Ontem estava desconectado, estava completamente fora da Realidade Urbana. Ontem, conforme eu havia lhe dito, era o último dia para retirar o Treze do Canil e, realmente, foi o último dia.
Encontramos um Lar. Um Lar não, um Céu, se é que posso definir como seria o Céu dos Cães. Encontramos um Céu de Lar para ele. O confinamento, a solidão e a tristeza acabaram. As manhãs dele, tomando café ao lado da sua maior e mais especial admiradora (Minha Mãe) voltaram, não com ela, mas com novas pessoas, com uma nova família que despejará todo amor e carinho que ele merece.
Neste momento parece que posso ver, posso imaginar sua alegria, seu pêlo dourado, correndo pela grama. Parece que aqueles olhos verdes voltaram a brilhar, sua alegria descontrolada, aquela que joga a gente no chão se não firmar o pé, voltou. Parece que aquele Canil, foi apenas um pesadelo, coitado.
Ele agora está bem, está Feliz, está correndo, está solto, está com a língua pra fora de tanto saltar, um misto efusivo de euforia e contentamento no último nível.
Nessa Fazenda, ele pode tomar leite de vaca. Que cachorro não gosta de Leite de Vaca? Ali, ele pode espantar galinhas, pode comer frutas que caem das árvores, pode fazer coisas de cachorro, de cachorro feliz, de cachorro que parece cachorro, não de cachorro que parece gente. Gente não se parece com Cachorro, quem me dera, poder parecer um pouco com meu grande e eterno amigo. Meu Amigo, meu Grande Companheiro, ele me fez companhia, me trouxe alegria na tristeza, aquelas conexões que a gente não entende, mas na verdade sente.
Não poderei mais ouvir seus latidos no portão, mostrando o mundo que era minha segurança, meu protetor. Ele jamais me abandonou, nunca vi em toda minha vida tanto amor, tanta euforia, só por saber que eu havia chegado. Ele não merecia aquele canil, frio, escuro. Não merecia aquela prisão, mas, merecia e merece muito mais.
Sabe, já tô morrendo de Saudades daquele monstrão. Se o Shrek tivesse um cachorro, seria ele. Eu acho que os nossos cães são um elo com o Paraíso. Eles não conhecem e não importam com dinheiro, com inveja e as vezes, sofrem a nossa maldade.
Hoje ele está bem, está melhor que em qualquer lugar que um dia eu imaginei. Nesse momento ele deve estar sentindo o cheiro do café, misturado com a lenha que queima no fogão. Tudo novidade, o barulho do grilo, o coaxar dos sapos, e naturalmente o silêncio habitual da natureza.
Hoje ele poderá cavar buracos, esconder o osso, correr atrás dos passarinhos, ameaçar uma emboscada, mesmo parecendo um elefante se equilibrando em uma perna só. Hoje ele está feliz. Espero que ele nunca me esqueça, espero sentir o seu cheiro por toda a minha vida, e se fechar os olhos, posso ouvir seu latido poderoso, posso ver aqueles olhos verdes e posso sentir o seu pulo desastrado em mim.
Mesmo ele nunca tendo ido à Igreja comigo, mesmo sem eu nunca ter lido para ele uma passagem bíblica sequer, ele deixou para mim o maior exemplo de paciência, fidelidade e amor. Minha vida foi mais alegre, pelo fato dele estar ao meu lado. Ele me transformou numa pessoa melhor, mais sensível e solidária. Se todas as pessoas do mundo tivessem um cão como o Treze ao seu lado, descobririam o verdadeiro significado das palavras amor e fidelidade. As pessoas seriam mais tolerantes.
E todo esse espaço vazio, que hoje enche meu peito, um dia será preenchido por outro anjo que late, mas jamais para substituí-lo (O Treze é insubstituível), mas, para continuar tendo minhas aulas particulares de amor.”
Um resgate de Raphael Oliveira: raphaeloliveira2008@gmail.com
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