Waguinho e Érika foram resgatados pela Polícia Ambiental, encontrados em área urbana, nos terreiros ou garagens de moradias humanas. Esses encontros são consequências da destruição de seu habitat.
São animais de hábitos solitários e apenas se unem em casais na época do acasalamento. Por isso, foram mantidos em recintos separados.
O transporte também precisava ser feito em gaiolas separadas, e as razões saberemos mais adiante.
Foram encontrados em locais muito diferentes, de forma que podemos afirmar que eles não se conheciam.
Como não foi caso de acidente e eles demonstravam estar em ótima forma, o protocolo é soltá-los o mais rápido possível, longe de áreas urbanas.
Waguinho parecia mais calmo, ou talvez mais conformado. Não esboçava qualquer sinal de agressividade, como se soubesse que sua vida estava em boas mãos.
O local escolhido para a libertação das crianças foi o Santuário Vale dos Sonhos, um braço do Projeto O Lobo Alfa.
O pé da montanha, no final do vale, foi o melhor lugar.
Assim que a portinha da gaiola foi aberta, Waguinho cuidou de sair, calmamente, sem sobressaltos.
Esperávamos que ele subisse na ameixeira logo à frente, mas ele preferiu o refúgio do bambuzal.
Dali ele cuidou de seguir seu caminho, buscando os pontos onde a vegetação bloqueava mais a luz do dia. Tendo hábitos noturnos, era de se esperar que ele buscasse a escuridão da mata.
Depois do Waguinho, foi a vez de libertar a Érika.
Ao contrário do garoto, ela não estava nem um pouco agradecida por estar ali. Mostrava os dentes e deixava claro que atacaria quem quer que se aproximasse além da conta.
Até mesmo a abertura da gaiola precisou ser feita com maior cuidado.
E antes mesmo de deixar a gaiola, ela cuidou de deixar o ventre à mostra, como se tentasse nos explicar as razões de seu comportamento tão agressivo.
Bem ali debaixo, na abertura do marsúpio (Os marsupiais constituem uma infraclasse de mamíferos, cuja principal diferença com os placentários, é a presença, na fêmea, de uma bolsa abdominal, conhecida como marsúpio, onde se processa grande parte do desenvolvimento dos filhotes), era possível avistar rabinhos brancos e até perninhas que pendiam pra fora.
Não era possível saber quantos, mas pelo menos dois gambazinhos, já grandinhos e perto de deixarem o aconchego da bolsa, esperavam pra conhecer a vida.
A irritação da mãe estava justificada: Ela protegia os filhotes. Estava muito estressada, talvez temendo pelo futuro daquelas crianças que mal tinham conhecido a luz do dia e já estavam condenadas à prisão.
Esperávamos que, ao deixar a gaiola, ela encontrasse um “Dom Juan” à sua espera, mas o Waguinho cuidou de cair no mato. Partiu rumo ao alto da montanha onde o sol se põe.
Afinal, ele não é o pai das crianças e não tem que pagar pensão.
Talvez, depois que os pequeninos deixarem a barra da bolsa da mãe, eles voltem a se encontrar, em outras condições.
Érika estava mesmo uma fera, muito estressada e disposta a defender a cria contra tudo e contra todos.
Deixou a gaiola sem tirar os olhos de quem a observava. Não deu as costas e rosnava com agressividade.
Registramos os primeiros passos da moça em seu novo habitat.
Não ficou muito tempo por ali. Parou aos pés de uma ameixeira e ali ficou, como se buscasse recuperar o fôlego perdido com os desaforos que contou.
Depois, seguiu seu caminho, rumo ao interior de uma moita de bambus.
Dali ainda nos olhou uma última vez, antes de seguir seu caminho.
Uma hora mais tarde, ela foi vista novamente, deitada em uma toca escavada aos pés de um cupinzeiro. Ali ficará até o cair da noite, quando então poderá, já recomposta do susto e do estresse da viagem, reconhecer e delimitar o novo território.
É possível que, no próximo cio da Érika, o Waguinho decida marcar presença. Para a sorte dele, a vida sempre dá aos gambás uma segunda chance de causar uma primeira boa impressão.
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