Algumas histórias são tão especiais que não conseguimos encontrar o “fio da meada”. Normalmente, mesmo com poucas informações, conseguimos, com base na experiência e observação, preencher as lacunas com fatos presumidos, muito próximos da verdade.
Mas a Yasmim é um mistério. Cadelas prenhes procuram abrigo em terrenos baldios, lotes vagos, entulho de obras e por aí vai. Constroem ninhos para receber os filhotes e continuam cuidando deles até que estejam desmamados e possam se virar sozinhos.
Na prática, cuidam deles até que sejam todos resgatados por algum protetor de animais, ou até que o último dos filhotes dê o último suspiro. Isso porque, sem amparo humano, eles não sobrevivem.
O resgate de fêmeas e seus filhotes em construções é muito comum. Era pra ser apenas mais uma história corriqueira de lobinhos, não fosse por um detalhe muito simples. A Yasmim é cega.
Só pra esclarecer, o principal sentido do cão é o olfato. Cães cegos conseguem levar vida normal. O Baltazar, poucos dias depois da adoção, já corria pela casa, desviando dos móveis. Sobia e descia do sofá e da cama, encontrava sozinho a comida e água e já sabia onde era o primeiro lugar no terreiro a receber o sol da manhã.
Voltando à Yasmim, eis o mistério. Ela foi resgatada em uma construção, com três lobinhos já bem grandinhos. Como chegou ali? Como sobreviveu nas ruas? Como conseguia comida? Como conseguiu cuidar dos filhotes?
Quando encontrada por protetores, os pequenos já estavam crescidinhos. Eram 3 lobinhos, parecidos com bichinhos de pelúcia. Já começavam a andar para a rua, estando a Yasmim sempre atenta para pegá-los e trazer de volta ao ninho, como se lhes dissesse. __Aí não. É perigoso.
Logo à frente, uma Avenida muito movimentada, pela qual não conseguimos imaginar como a própria Yasmim teria passado. Ela é uma lobinha muito pequena, do tamanho de um Pinscher.
Há a desconfiança de que ela enxerga vultos com um dos olhos, mas isso importa pouco.
Não há lacunas a serem preenchidas. Não temos experiência suficiente pra sequer tentar adivinhar o que aconteceu. Não conseguimos nem mesmo pegar emprestado a história de outra família, pra tentar inventar qualquer coisa que sirva para a Yasmim.
O fato é que sua segunda chance começou a ser escrita quando foi encontrada e levada para a Cão Viver. Lá os filhotes cresceram, desmamaram e seguiram, cada um, o seu caminho. Foram todos adotados muito rápido. A Yasmim, depois de um período de descanso, passou pelos procedimentos de rotina, sendo vacinada, vermifugada e castrada.
Quando chegou, estava muito assustada. Era das mais arredias cadelinhas do abrigo e não se sentia a vontade com as pessoas. Neste caso, não é difícil adivinhar o porquê.
Mas o tempo passou e a Yasmim se transformou. Passou a viver em um canil muito apertado, em companhia de uma amiga chamada Francisca, também cega. Quando alguém entrava no canil, ela recepciona o visitante com cheirinhos e uma cauda sempre inquieta, se esfregando nas pessoas, num pedido desesperado de carinho.
Demonstrava confiar “cegamente” (não é trocadilho) nas pessoas. Na verdade, ela nasceu e evoluiu pra isso.
Depois de pedir e ganhar carinho, acontecia o mais surpreendente. Ela dava lambidinhas nas mãos dos visitantes e corria para a grade, como se mostrasse o caminho. O recado era muito claro: __Vamos embora. A saída é ali.
Quando percebia que ainda não será dessa vez, deitava-se em seus cobertores e ficava quietinha.
E quietinha permanecia até que a próxima visita acendesse, de novo, a esperança de ser adotada.
Dias depois que fizemos estas fotos e contamos a história, a Francisca foi adotada e a Yasmim continuou no abrigo. Permaneceu sozinha ainda algumas semanas, até que, em uma manhã de sábado, uma família muito especial lá esteve, com o objetivo único de buscá-la.
Não se tratava de um adotante ocasional que a escolheu entre os outros. Alguém verdadeiramente especial ficou conhecendo sua história e decidiu mudar seu destino. Ficaremos na espera das fotos do pós adoção, e das histórias da Yasmim em sua nova casa, com sua nova família.
Mais uma vez, nos encontramos sem palavras pra agradecer uma acolhida verdadeiramente especial.
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